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domingo, 6 de junho de 2021

MARIA BONITA ERA TÃO MÁ QUANTO O PRÓPRIO LAMPEÃO.

 Por José Mendes Pereira


Este recorte de jornal pertence ao acervo do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros. https://tokdehistoria.com.br/2012/03/09/familiares-narram-a-imprensa-sobre-a-maria-do-capitao-lampiao/


Vamos lá. 

Quando entrevistado por um repórter de um jornal do Rio de Janeiro, em 7 de setembro de 1958, o pai da rainha do cangaço Maria Bonita, o José Gomes de Oliveira, mais conhecido por Zé Felipe, teria dito que sua filha era tão má quanto o próprio Lampião. Mas será que ela era assim mesma como afirmou o seu pai Zé Felipe? 

Óbivio que eu não posso afirmar, mas acho que seu Zé Felipe exagerou um pouco a sua afirmação, mas eu imagino que disse isso, apenas como um desabavo pelos sofrimentos que passou juntamente com toda sua família, quando a filha o desobedeceu e foi de uma vez por toda morar nas caatingas com o capitão Lampião

Segundo o Zé Felipe, afirmou ao jornalista que em consequência daquela união passou oito anos andando pelo norte do país, verdadeiramente como um “cão escorraçado e sem sossego”. (No blog Tok de História - Rostand Medeiros).

A minha dúvida é que não se tem informações de escritores e pesquisadores sobre crueldades feitas por Maria Bonita contra alguém. Podem existir, mas com poucas credibilidades.

Há quem diga que Maria Bonita às vezes não deixava Lampião fazer crueldades com as suas vítimas. Uma delas aconteceu no coito do próprio Lampião. 

Clique no link e conheça o que ele quis fazer com um dos seus coiteiros que se chamava Adauto. Se o link não funcionar, leve-o ao google.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com/2015/07/revendo-o-amado-coito-de-lampiao-foi.html

http://blogodmendesemendes.blogspot.com

A FEIRA DAS CABEÇAS

 Por:Aurélio Buarque de Holanda

Ivanildo Silveira administrador da Comunidade Lampião Grande Rei do Cangaço

De latas de querosene mãos negras de um soldado retiram cabeças  humanas. O espetáculo é de arrepiar. Mas a multidão, inquieta, sôfrega, num delírio paredes-meias com a inconsciência, procura apenas alimento à curiosidade. O indivíduo se anula. Um desejo único, um único pensamento, impulsa o bando autômato. Não há lugar para a reflexão. Naquele meio deve de haver almas sensíveis, espíritos profundamente religiosos, que a ânsia de contemplar a cena macabra leva, entretanto, a esquecer que essas cabeças de gente repousam, deformadas e fétidas, nos degraus da calçada de uma igreja.

Cinco e meia da tarde. Baixa um crepúsculo temporão sobre Santana do Ipanema, e a lua crescente, acompanhada da primeira estrela, surge, como espectador das torrinhas, para testemunhar o episódio: a ruidosa agitação de massas que se comprimem, se espremem, quase se trituram, ofegando, suando, praguejando, para obter localidade cômica, próximo do palco.

Desenrola-se o drama. O trágico de confunde com o grotesco. Quase nos espanta que não haja palmas. Em todo caso, a satisfação da assistência traduz-se por alguns risos mal abafados e comentários algo picantes, em face do grotesco. O trágico, porém não arranca lágrimas. Os lenços são levados ao nariz: nenhum aos olhos. A multidão agita-se, freme, sofre, goza, delira. E as cabeças vão saindo, fétidas, deformadas, das latas de querosene - as urnas funerárias -, onde o álcool e o sal as conservam, e conservam mal. Saem suspensas pelos cabelos, que, de enormes, nem sempre permitem, ao primeiro relance, distinguir bem os sexos. Lampião, Maria Bonita, Enedina, Luiz Pedro, Quinta-Feira, Cajarana, Diferente, Caixa-de-Fósforo, Elétrico Mergulhão...


O escritor Alcino Alves Costa no seu livro: "Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistério de Angico" cita os mortos na chacina de Angico, sendo: Lampião, Quinta-Feira, Maria Bonita, Luiz Pedro, Mergulhão, Alecrim, Enedina, Moeda, Elétrico, Colchete e Macela. Segundo vários escritores afirmam que a lista dos mortos na madrugada de 28 de Julho de 1938, na Grota de Angico, no Estado de Sergipe, a mais correta é a do escritor Alcino Alves Costa.

- As cabeças!
- Quero ver as cabeças!
Há uma desnorteante espontaneidade nessas manifestações.
- As cabeças. Não falam de outra coisa. Nada mais interessa. 
As cabeças.
- Quem é Lampião?
Virgulino ocupa um degrau, ao lado de Maria Bonita. 
Sempre juntos, os dois.
- Aquela é que é Maria Bonita? Não vejo beleza...

O soldado exibe as cabeças, todas, apresenta-as ao público insaciável, por vezes uma em cada mão. Incrível expressão de indiferença nessa fisionomia parada. Os heróis de tantas sinistras façanhas agora desempenham, sem protesto, o papel de S. João Batista...

Sujeitos mais afastados reclamam: - Suspende mais! 
Não estou vendo, não!
- Tire esse chapéu, meu senhor! - grita irritada uma mulher.
O homem atende.
- Agora, sim.
A pálpebra direita de Lampião é levantada, e o olho cego aparece, como elemento de prova.Velhos conhecidos do cangaceiro fitam-lhe na cabeça olhos arregalados, num esforço de comprovação de quem quer ver para crer.
- É ele mesmo. Só acredito porque estou vendo.
Houve-se de vez em quando:

- Mataram Lampião... Parece mentira!

Virgulino Ferreira, o rei do cangaço, o "interventor do sertão", o chefe supremo dos fora-da-lei, o cabra invencível, de corpo fechado, conhecedor de orações fortes, vitorioso em tantos recontros, - Virgulino Ferreira, o Capitão Lampião, não pode morrer.

E irrompe de várias bocas:

- Parece Mentira!
No entanto é Lampião que se acha ali, ao lado de Maria Bonita, junto de companheiros seus, unidos todos, numa solidariedade que ultrapassou as fronteiras da vida. É Lampião, microcéfalo, barba rala, e semblante quase doce, que parece haver se transformado para uma reconciliação póstuma com as populações que vivo flagelara.

Fragmentos de ramos, caídos pelas estradas, durante a viagem, a caminhão, entre Piranhas e Santana do Ipanema, enfeitam melancolicamente os cabelos de alguns desses atores mudos. Modestas coroas mortuárias oferecidas pela natureza àqueles cuja existência decorreu quase toda em contato com os vegetais - escondendo-se nas moitas, varando caatingas, repousando à sombra dos juazeiros, matando a sede nos frutos rubros dos mandacarus.

Fotógrafos - profissionais e amadores - batem chapas, apressados, do povo, e dos pedaços humanos expostos na feira horrenda. Feira que , por sinal, começou ao terminar a outra, onde havia a carne-de-sol, o requeijão de três mil-reis o quilo, com o leite revendo, a boa manteiga de quatro mil reis, as pinhas doces, abrindo-se de maduras, a dois mil-reis o cento, e as alpercatas sertanejas, de vários tipos e vários preços.

Ao olho frio das codaques interessa menos a multidão viva do que os restos mortais em exposição. E, entre estes, os do casal Lampião e Maria Bonita são os mais insistentemente forçados. Sobretudo o primeiro.

O espetáculo é inédito: cumpre eternizá-lo, em flagrantes expressivos. Um dos repórteres posa espetacularmente para o retratista, segurando pelas l=melenas desgrenhadas  os restos de Lampião. Original. Um furo para "A Noite Ilustrada".

Lembro-me então do comentário que ouço desde as primeiras horas deste sábado festivo: -"Agora todo o mundo quer ver Lampião, quer tirar retrato dele, quer pegar na cabeça...Agora..."

Há, com efeito, indivíduos que desejam tocar, que quase cheiram a cabeça, como ansiosos de confirmação, por outros sentidos, da realidade oferecida pela vista.

Desce a noite, imperceptível. A afluência é cada vez maior. Pessoas do interior do município e de vários municípios próximos, de Alagoas e Pernambuco, esperavam desde sexta-feira esses momentos de vibração. Os dois hoteis da cidade, literalmente entupidos  Cheias as residências particulares - do juiz de direito, do prefeito, do promotor, de amigos dessas autoridades. Para muitos, o meio da rua.

Entre a massa rumorosa e densa não consigo descobrir uma só fisionomia que se contraia de horror, boca donde saía uma expressão, ainda que vaga, de espanto. Nada. Mocinhas franzinas, romanescas, acostumadas talvez a ensopar lenços com as desgraças dos romances cor-de-rosas, assistem à cena com uma calma de cirurgião calejado no ofício. Crianças erguidas nos braços maternos espicham o pescoço  buscando romper a onda de cabeças vivas e deliciar os olhos castos na contemplação das cabeças mortas. E as mães apontam:

- É ali, meu filho. Está vendo?
Alguns trocam impressões;
- Eu pensava que ficasse nervoso. Mas é tolice. Não tem que ver uma porção de máscaras.
- É isso mesmo.

Os últimos foguetes estrugem nos ares. Há discursos. Falam militares, inclusive o chefe da tropa vitoriosa em Angico. Evoca-se a dura vida das caatingas, em rápidas e rudes pinceladas. O deserto. As noites ermas, escuras, que os soldados às vezes iluminam e povoam com as histórias de amor por eles sonhadas - apenas sonhadas... Os passos cautelosos, mal seguros sobre os garranchos, para evitar denunciadores estalidos, quando há perigo iminente. Marchas batidas sob o sol de estio, em meio da caatinga enfezada e resseca, e da outra vegetação, mais escassa, que não raro brota da pedra e forma ilhotas verdes no pardo reinante: o mandacaru, a coroa-de-frade, a macambira, a palma, o rabo-de-bugio, facheiro, com o seu estranho feitio de candelabro. A contínua expectativa de ataque tirando o sono, aguçando os sentidos.

O sino toca a ave-maria. Dilui-se-lhe a voz no sussurro espesso da multidão curiosa, nos acentos fortes do orador, que, terminando, refere a vitória contra Lampião, irrecusavelmente comprovada pelas cabeças ali expostas.

Os braços da cruz da igrejinha recortam-se, negros, na claridade tíbia do luar; e na aragem que difunde as últimas vibrações morrediças do sino vem um cheiro mais ativo da decomposição dos restos humanos.Todos vivem agora, como desde o começo do dia, para o prazer do espetáculo. As cabeças!

A noite fecha-se. Em horas assim, seriam menos ferozes os pensamentos de Lampião. O seu olhar se voltaria enternecido para Maria Bonita. Que será feito dos corpos dissociados dessas cabeças? O rosto de Maria Bonita, esbranquiçado a trechos por lhe haver caído a epiderme, está sinistro.

Onde andará o corpo da amada de Lampião? A cara arrepiadora, que mal entrevejo à luz pobre do crescente, não me responde nada.E Lampião? Sereno, grave, trágico. O olho cego, velado pela pálpebra, fita-me. (1938).

(*) Autor do mais importante dicionário da língua portuguesa publicado no Brasil neste século. Texto do livro esgotado "O chapéu de meu pai, editora Brasília, 1974.

Fonte: Diário Oficial -Estado de Pernambuco - Ano IX- Julho de 1995
Material cedido pelo escritor, poeta e pesquisador do cangaço: Kydelmir Dantas e publicado em www.blogdomendes.blogspot.com

Sugerido por: Ivanildo Alves da Silveira
Colecionador do Cangaço
Sócio da SBEC
Conselheiro Cariri Cangaço 

https://cariricangaco.blogspot.com/2013/06/a-feira-das-cabecas-porivanildo-silveira.html?fbclid=IwAR1RbvSqRUvtUB0kb_VUbZOPQpHrErLXthE4kKy3UyMbtPyZDXmbDeNVmVg

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O LOMBISOMEM DA MISSÃO DO SAHY! VERDADE OU LENDA???

 Por Guilherme Machado


A comunidade do povoado de Missão do Sahy está fechando suas portas mais cedo, depois que comentários surgiram sobre um possível bicho que foi visto por moradores da Fazenda Grota, naquela localidade.

Nossa reportagem esteve visitando o povoado nessa terça-feira(26), depois que alguns telefonemas foram realizados para a redação do Programa Pega Fogo, da Rádio Rainha FM de Senhor do Bonfim e algumas pessoas na sede do povoado disseram desconhecer o caso, porém outros moradores informaram que de fato uma criatura estranha foi vista nas imediações da Grota próximo a Fazenda Varzinha, e com características de homem na face com o corpo enorme e peludo, na qual teria sido perseguido por alguns moradores daquela localidade.

 https://www.facebook.com/josemendespereira.mendes.5/

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MÚSICO SIDNEY DIAS

 Por Guilherme Machado

Rara fotografia do músico Sidney Dias tocando com a sanfona que ganhou do Rei do Baião Luiz Gonzaga. Fotografia foi feita nos anos 80 no bar do vagão do popular Chicão que aparece ao lado do músico... Hoje a Sanfona Silvio Marotto 120 baixos faz parte do acervo do Museu do Gonzagão de Serrinha.

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O MASSACRE DA FAZENDA PATOS

 Por Helton Araújo

O bando de Corisco presente no dia da chacina na fazenda Patos.

Sem dúvidas o massacre da fazenda Patos onde a família Ventura foi barbaramente massacrada por Corisco e seu bando é um dos mais terríveis da sangrenta história do cangaço.

O fato se deu no dia 02 de Agosto de 1938.Corisco revoltado com as mortes de Lampião, Maria Bonita e mais 9 cangaceiros, decidiu encontrar o culpado pela traição. Assim ele chegou até seu coiteiro Joca Bernardes, o mesmo que ja havia entregado Pedro de Cândido coiteiro de Lampião para as volantes, resultando no cerco de Angicos e no eventual fim do lider mor dos cangaceiros.

Joca, usando de malícia, desta vez para se livrar da fúria de Corisco, insinua que Domingos Ventura seria o delator de Lampião, Corisco tomado de ótimo e o insaciável desejo de vingança parte até o lar do honesto sertanejo, e lá como todos bem sabem acontece uma das maiores chacinas da história do cangaço.

Ali foram mortos 6 pessoas, todos da mesma família. Domimgos e sua esposa Guilhermina, além dos filhos foram todos decapitados. O carrasco da família sob ordem de Corisco foi o cangaceiro Velocidade.

O massacre só não foi maior por Dadá mulher de Corisco não ter permitido a morte das crianças. Com o chefe Corisco estavam presente naquele terrível dia :

Sua companheira Dadá, Pancada e seu mulher Maria Jovina (Maria de Pancada), os irmãos Velocidade e Atividade, Jandaia, Peitica, Vinte e Cinco, Gitirana e Caixa de Fósforo.

Corisco mandou por João Crispim, as cabeças endereçadas ao tenente João Bezerra. O prefeito João Correia Brito recebeu o macabro presente e providenciou um enterro cristão para os inocentes.

Por : Helton Araújo

Obs : A foto na montagem é do suposto cangaceiro Caixa de Fósforo.

Conversando com o amigo Aderbal Nogueira ficou claro que Vinte e Cinco não estava presente no momento da chacina. Pesso desculpas pelo erro.

Fonte : João De Sousa Lima e Ricardo Nascimento

Fotos : Benjamin Abrahão

Edição : Helton Araújo

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NOTA DE PESAR!

Por S´lavio Siqueira

Amigo Valdir José Nogueira, nós que fazemos o grupo Ofício das Espingardas, lhes prestamos uma homenagem de pesar pela "viagem" de sua amada mãe para outra dimensão. Sabemos que a separação é temporária, porém, é muito dolorida.

Adendo - O blog do Mendes e Mendes também lamenta a viagem da sua mamãe, mas ela irá para bem juntinho de Deus!

Nossos sentimentos meu amigo.

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O CANGAÇO MACABRO (OU AS CABEÇAS COMO TROFÉU DE SANGUE)

 Por Rangel Alves da Costa

No percurso do cangaço, principalmente no reinado de Lampião, cabeças humanas simbolizaram os mais terríveis e bestiais troféus de conquistas. Um festim de morbidez e iniquidades. Cabeças de cangaceiros foram degoladas, cabeças de volantes foram decapitadas, cabeças de sertanejos foram decepadas. Tudo significando uma coisa só: ter o membro mutilado como prova da morte pela morte, sem importar muito que fosse de um inocente ou de um terrível inimigo.

Uma doentia satisfação em passar a lâmina afiada sobre o pescoço e depois regozijar-se daquele troféu macabro. Mórbido prazer em posar ao lado ou segurando aqueles restos mortos e tantas vezes desfigurados. Mas também uma desumanização tão aflorada que nem se respeitava o morto enquanto ser humano, senão como um resto imprestável ou um ser tão abjeto que precisasse ser esquartejado. Uma vez atingido, uma vez desfalecido, então não havia nem resquício de piedade nem qualquer senso de respeito aos defuntos. Um verme estirado ao chão, um reles corpo jazendo sem serventia sequer aos urubus ou outros carnicentos.

Então corta a cabeça! Coisa linda é uma cabeça apartada do corpo! Tronco de um lado e a cabeça de outro! Pra quê? Apenas para o comprazimento de egos insanos e doentios. Mesmo que a entrega da cabeça significasse salvo-conduto ou que uma pena fosse amenizada pelo terrível ato, ainda assim uma prática tão deplorável quanto a própria violência de cangaceiros e volantes contra inocentes sertanejos.

O restante do corpo não tinha nenhum valor, não servia como troféu algum, pois a alucinada satisfação estava apenas em ter respingando sangue a parte superior com olhos esbugalhados, boca troncha, cabelos desgrenhados e tez dos que tiveram um terrível fim. Ser fotografado segurando uma cabeça cortada era o máximo da perversa ostentação. Ser retratado ao lado de uma cabeça enfiada numa estaca era deleite maior para os íntimos mais perversos.

E que cena aquela onde as cabeças dos mortos em Angico foram colocadas numa calçada para os flashes fotográficos, para os olhares ávidos de terror e as íntimas e animalescas alacridades. Qual a finalidade em matar pelo degolamento? Qual o objetivo de separar a cabeça do corpo depois da morte? Qual motivação em cortar a cabeça e depois seguir com o membro sangrento e desfigurado pelas estradas?

Em muitas ocasiões, a cabeça cortada simbolizava a vitória frente ao inimigo. Era a prova inequívoca de ter ceifado uma vida. Noutras ocasiões, o membro decepado servia como passaporte de liberdade ou de amenização de penas mais duras. Acaso um cangaceiro arrependido chegasse perante um comandante de volante levando a cabeça de um ex-companheiro, então sua entrega seria sem grandes padecimentos e comemorada com se a própria soldadesca tivesse dado fim ao degolado.
Depois de fotografada, entraria para as estatísticas das baixas e das honrarias. Mas diferentemente do que ocorria com a volante, que se deleitava em tirar retratos com as cabeças expostas de cangaceiros, estes não eram tão recorrentes em tais práticas. Os registros fotográficos não deixam mentir. A grande maioria das cabeças cortadas é de cangaceiro morto pela volante.

Quando, no ano de 32, o grupo comandado pelo cangaceiro Gato empanturrou os sertões de Poço Redondo de sangue e o inocente Zé Bonitinho foi forçado a deitar sua cabeça num batente, o tronco ficou de um lado e o restante de outro. A cabeça não foi levada como comprovação da chacina. Quando Penedinho, em 38, matou Canário à traição, seu companheiro de cangaço, a cabeça deste só foi cortada depois, e por Zé Rufino. Foi este comandante da volante baiana que passou o punhal no corpo já putrefato e retornou a Serra Negra levando sua honraria apodrecida. Em 37, quando o comandante pernambucano Odilon Flor deu cabo ao subgrupo de Mané Moreno em Sergipe, na região de Porto da Folha, as cabeças deste, de sua companheira Áurea e de Cravo Roxo também foram cortadas e expostas.

O cangaceiro Zepelim (morto em 37 pela volante de Zé Rufino) não só teve a cabeça cortada como teve seu membro superior fotografado com apetrechos, armas e vestimentas do cangaço (e os olhos forçadamente abertos para serem melhor fotografados). Já o cangaceiro Barreira, numa das fotos mais famosas, posa ao lado da cabeça dependurada de seu ex-companheiro Atividade, por ele mesmo assassinado em 38. Barreira já havia se bandeado para a volante e cumpriu juramento às forças de perseguição matando e cortando a cabeça do cruel e famoso “capador”.
Muito mais cabeças foram cortadas, degoladas, extirpadas dos corpos. Um ritual macabro de um mundo não só macabro como aterrorizante. E as cabeças cortadas na Gruta do Angico em 38? Onze troféus de aniquilados que acabaram causando efeito contrário. O cangaço perdeu, mas saiu vencedor. A História assim confirma.

Rangel Alves da Costa, Pesquisador e Escritor
Conselheiro Cariri Cangaço, Poço Redondo-SE

https://cariricangaco.blogspot.com/2021/06/o-cangaco-macabro-ou-as-cabecas-como.html

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O ATAQUE DE LAMPIÃO À MOSSORÓ – A HISTÓRIA DO MOTORISTA “GATINHO”

 Autor – Rostand Medeiros 


Quando Lampião e sua horda de cangaceiros estiveram no Rio Grande do Norte, entre os dias 10 e 14 de junho de 1927, com o objetivo de atacar Mossoró, um personagem deste drama entrou na história quase sem querer, tornando-se por algum tempo um estafeta do “Rei dos cangaceiros”. Este personagem foi o motorista Francisco Agripino de Castro, conhecido em Mossoró como “Gatinho”.

11- Após a derrota em Mossoró, o bando em Limoeiro do Norte-CE

Francisco Agripino de Castro,o “Gatinho”
Francisco Agripino de Castro,o “Gatinho”Nascido em 1905, “Gatinho” era um jovem de boa índole, simples, que buscava na profissão de motorista uma nova perspectiva em sua vida. Estava ainda na fase de aprendizado, sendo seu mestre o motorista João Eloi, conhecido como “João Meia-Noite”. A prática ocorria em um Chevrolet 1925, cujo proprietário era o Sr. Francisco Paula, para quem “João Meia-noite” trabalhava.

Seja por esperteza, medo ou desinformação, naquele dia 12 de junho de 1927, um domingo, João cedeu o veículo para “Gatinho” fazer o serviço que surgisse e ganhar mais perícia na condução.

“Gatinho”, como todos em Mossoró, estava apreensivo com a notícia da invasão do bando ao Rio Grande do Norte, os boatos sobre o tiroteio ocorrido no dia 10 de junho, no lugar Caiçara (próximo ao atual município potiguar de Marcelino Vieira), as muitas informações desencontradas, a movimentação para a defesa da cidade, a fuga dos moradores e outras situações que alteraram aquela inesquecível semana na “Capital do Oeste”. Mesmo assim “Gatinho” estava pronto para realizar qualquer viagem.

O fazendeiro Antônio Gurgel e framiliares
O fazendeiro Antônio Gurgel e framiliares

Na tarde daquele dia, o carro de Francisco Paula foi contratado pelo comerciante e fazendeiro Antônio Gurgel do Amaral, um rico proprietário que possuía uma fazenda no lugar “Brejo do Apodi”, próximo a então vila de “Pedra de Abelha” (atualmente município de Felipe Guerra). Gurgel estava preocupado com sua esposa, pois a mesma se encontrava na sua fazenda e desejava trazê-la a Mossoró.

Por volta da uma da tarde, os dois seguiram direção sul.

A viagem prosseguia tensa, como não poderia deixar de ser diante da situação reinante. O veículo trafegava por uma estrada irregular, não mais que um caminho estreito, que mal dava para um carro pequeno seguir.

Por falta de conhecimento ou nervosismo, “Gatinho” errou o trajeto e levou seu passageiro para o lugar Apanha Peixe, a 13 léguas da vila de São Sebastião (hoje município de Governador Dix-Sept-Rosado). Nas proximidades se localizava a fazenda “Santana”, de propriedade de Manoel Valentim, que neste momento tinha a sua residência invadida e era prisioneiro do bando de cangaceiros de Lampião.

Eram mais ou menos quatro horas da tarde quando “Gatinho” ouviu tiros que não sabia de onde vinha. O motorista se protegeu como pode, Antônio Gurgel ordenou a parada do veículo. Nove balaços de mosquetão teriam atingido a carroceria do veículo.

Estado de abandono da antiga casa grande da Fazenda Santana, para onde o fazendeiros Gurgel foi levado pelo cangaceiro Sabino e ficou frente a frente com lampião.
Estado de abandono da antiga casa grande da Fazenda Santana, para onde o fazendeiros Gurgel foi levado pelo cangaceiro Sabino e ficou frente a frente com lampião.

Ao levantar a cabeça, “Gatinho” viu um cangaceiro com um fuzil apontado para ele. Era um moreno forte, de estatura elevada, que por esta razão tinha a alcunha de “Coqueiro”.

Este cangaceiro, junto com outros membros do bando, mandou o motorista e o passageiro renderem-se e passou a rapinar os seus pertences. Do fazendeiro Gurgel foram arrecadados uma aliança, um par de óculos, uma caixa com cinquenta balas de rifle Winchester calibre 44, um conto de réis e uma pistola tipo “mauser”. Provavelmente uma pequena pistola com calibre 7,65 m.m., das marca “FN” ou “Colt.

O cangaceiro “Coqueiro” exultava a todo o bando de facínoras a prisão de um “coronelão de muito dinheiro”.

Depois da “coleta”, os dois prisioneiros foram levados à presença de Massilon Leite e Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”.

Imagem1

Junto ao líder dos bandidos estava José Tibúrcio e Fausto Gurgel, irmãos de Antônio Gurgel, que tiveram seus resgates estipulados em um conto e quinhentos mil réis. O bandido Sabino, depois de uma rápida palestra com o novo prisioneiro, estipulou a vultosa quantia de quinze contos de réis para a sua liberdade. Sem condições dos prisioneiros ponderarem, ficou decidido que o irmão Fausto retornaria Mossoró com “Gatinho”, para buscar a dinheirama.

1- Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião

E era realmente muito dinheiro.

Para se ter uma ideia deste valor, vamos observar como exemplo a edição de 18 de junho de 1927, do jornal “A Republica”, onde se encontra um balanço financeiro, listando as rendas postais apuradas em cada uma das agências dos correios existentes no Rio Grande do Norte em 1926. Na progressista Mossoró de então, que possuía Banco do Brasil, um forte comércio de algodão e até funcionava uma Alfândega, os Correios e Telégrafos apuraram em todo aquele ano 10.255$300 (dez contos, duzentos e cinquenta e cinco mil e trezentos réis).

Diante da quantia pedida, Antônio Gurgel preparou uma carta para ser entregue a seu cunhado Jaime Guedes, então gerente da agência do Banco do Brasil em Mossoró e pessoa certa para lhe salvar desta situação.

Neste meio tempo, “Gatinho” realizava pequenas voltas pela propriedade, com o veículo cheio de bandoleiros. Muitos destes cangaceiros estavam tendo o seu primeiro contato com um automóvel. A brincadeira acabou quando a chamado de Lampião, o motorista e Fausto Gurgel receberam a missão de levar a carta de Antônio Gurgel para Mossoró.

O “Rei do cangaço” exigia dos dois “estafetas” a maior discrição sobre o caso, se não Antônio Gurgel pagaria com a vida.

No retorno, “Gatinho” e Fausto encontraram dois conhecidos que pediam condução na beira do caminho. Eram Alfredo Dias e Porcino Costa, que se dirigiam a Mossoró.

Buscando informações com os sertanejos, procurando a memória da passagem do bando de lampião pelo Rio Grande do Norte em 1927.
Buscando informações com os sertanejos, procurando a memória da passagem do bando de lampião pelo Rio Grande do Norte em 1927.

Achando estranho o fato de Fausto estar àquela hora de retorno a “Capital do Oeste”, Dias inquiriu-o sobre o que estava fazendo? De onde viam? Se sabiam notícias dos cangaceiros? Fausto no inicio desviou o assunto, mas diante da insistência cedeu e narrou o ocorrido e o suplício por que passava seu irmão.

Um exemplo de como a cidade de Mossoró preserva a memória do ataque de Lampião a esta cidade.
Um exemplo de como a cidade de Mossoró preserva a memória do ataque de Lampião a esta cidade.

Ao chegarem à vila de São Sebastião, atual município de Governador Dix-Sept-Rosado, os dois viajantes pediram para descer do veículo e seguiram para a estação ferroviária, onde deram um alarme para Mossoró através de um telefone existente neste local.

“Gatinho”, para desespero de Fausto, saiu a divulgar pela vila a notícia alarmante; “-Se prepare todo mundo que os cangaceiros vão invadir”. Cinquenta anos depois, em um depoimento prestado ao jornal dominical natalense “O Poti” (edição de 13 de março de 1977), Francisco Agripino afirmava que poucos em São Sebastião lhe deram crédito.

O motorista e Fausto seguiram para Mossoró. Por volta das oito e meia da noite, encontraram-se com Jaime Guedes e o prefeito Rodolfo Fernandes, onde foram narrados os fatos e entregue a carta de Gurgel. O prefeito só ficou satisfeito em relação à veracidade da notícia quando viu a lataria do Chevrolet perfurada de balas.

Nota de jornal sobre o ataque de Lampião a Mossoró.
Nota de jornal sobre o ataque de Lampião a Mossoró.

Nesta mesma noite de 12 de junho, “Gatinho” ainda ajudou na defesa de Mossoró, transportando fardos de algodão de depósitos existentes na cidade, para pontos que seriam utilizados como baluarte de defesa.

“Gatinho” não estava em Mossoró no dia do assalto, fora contratado para seguir para Fortaleza, às nove da manhã de 13 de junho, com a esposa e dois filhos do médico Eliseu Holanda. Segundo o motorista, depois deste episódio, não mais teve notícias se este médico e sua família retornaram a Mossoró, “nem a passeio”.

Igreja de São Vicente de Paula, histórico palco de resistência dos mossoroenses aos ataques dos cangaceiros de Lampião. Anualmente neste local acontece uma encenação do fato dentro do calendário cultural do município.
Igreja de São Vicente de Paula, histórico palco de resistência dos mossoroenses aos ataques dos cangaceiros de Lampião. Anualmente neste local acontece uma encenação do fato dentro do calendário cultural do município.

Em Fortaleza, o “estafeta de Lampião” passou alguns dias esperando a situação se acalmar.

Muitos anos depois, em sua residência na Praça Redenção, 183, na tranquilidade de sua velhice, “Gatinho” narrou ao repórter Nilo Santos, de “O Poti”, as suas inesquecíveis lembranças da meia hora que passou entre o bando de Lampião. Para ele, muitos dos cangaceiros eram demasiado jovens para aquela vida, “umas crianças” ele afirmava. Na sua memória Massilon marcou como um sujeito feio, carrancudo, grosseiro, ignorante, “que dava até medo em olhar para ele”. Lampião lhe deixou uma impressão positiva, apesar da fama, “parecia um sujeito educado, pelo menos neste dia não estava furioso”. Sobre “Coqueiro”, o condutor o considerava um moreno forte, bem disposto e “bastante alto para justificar o apelido”. Quando o cangaceiro “Mormaço”, foi detido, informou as autoridades que “Coqueiro” havia deixado o bando no Cariri e seguira para o Piauí, entretanto, segundo o pesquisador Raimundo Soares de Brito, este cangaceiro foi morto pela polícia cearense, no lugar “Cruz”, aparentemente no município de Maranguape.

Francisco Agripino de Castro se tornou um profissional do volante respeitado, era conhecido como uma pessoa calma, amigo de todos e faleceu em 16 de março de 1991.

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