*Rangel Alves
da Costa
Amor, amor,
amor. Uma palavra demasiadamente conhecida e pronunciada ou a essência da vida
em seu nome? Amor, amor, amor. Um sentido de afeto, de fraternidade, de união,
de enlace, de comunhão, de compartilhamento, ou a expressão real de tudo isso
quando gestado no ser de forma verdadeira?
O amor é tudo.
Ninguém vive sem amor, ninguém existe sem amar, ninguém pode fugir do seu
abraço e do seu afago. O amor humano, entre pessoas, mas também o amor perante
outros seres. Zezé amava seu pé de laranja lima, a bela Remédios amava as
borboletas que entrava sobre sua janela e ficavam esvoaçando sobre sua cabeça.
Diz o poeta
que João amava Teresa, que amava Raimundo, que amava Maria... Já outro poeta
diz que o amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é
um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. Como arremate, ainda
outro diz que quero vivê-lo em cada vão momento, e em seu louvor hei de
espalhar meu canto, e rir meu riso e derramar meu pranto, ao seu pesar ou seu
contentamento.
Drummond,
Camões, Vinícius, três poetas, três feições de amor em versos. Mas também o
amor nas cartinhas com letras trêmulas, nos bilhetinhos rimando amor com dor,
nos beijos lançados à ventania, nos corações desenhados nos troncos dos
arvoredos. Ai aquele amor parecendo impossível, e por isso mesmo mais amado,
mais querido, mais desejado. E também aquele amor tão insistente em amar que
nem a distância diminui a certeza no coração.
Amar os pais,
amar os irmãos, amar a família. Amar o próximo, amar até o desconhecido, pois
tudo amor sempre retribuído com mais amor. Amar o pobre, o desvalido, o
excluído, aquele que nem todos recordam da existência. A este humilde um amor
redobrado, pois um afeto tamanho que depois de usufruído possa ser
recompensado. E não há retribuição maior do que saber que o outro valoriza o
sentir-se amado.
Não há coração
que desconheça a força do amor, que não tenha necessidade de amar e ser amado.
O silencioso intimamente implora, grita, pede. O entristecido busca encontrar a
alegria no seu encontro. Não há olhar que não se encante com as singelas
belezas da vida, com uma flor, um alvorecer, um pôr do sol, e em tudo uma
demonstração dessa força atraente que somente o amor possui.
Por que o
garoto pula o muro para roubar a flor, pula o quintal para afanar goiaba
madura, atira bilhetinhos pela janela, escreve nomes ao vento? Por amor. Por
que o olhar não se cansa de olhar os velhos retratos na parede, com aquelas
feições que também são as suas? Por amor. Por que a lágrima no adeus, na
despedida, no luto e por toda a vida, depois da partida de uma pessoa? Por
amor.
Tudo por amor
porque o amor é tudo. Ama-se a Deus pela fé, pela obediência, pelo que serve de
alimento no templo erguido no coração. Ama-se outra pessoa pela confiança, pela
necessidade de compartilhamento das coisas boas da vida. Ama-se o filho, o
neto, o bisneto e toda a geração familiar, porque o amor é raiz que necessita
ser fortalecida com a mesma seiva do primeiro pai ao último filho.
A expressão
máxima do amor está no primeiro livro de Coríntios, capítulo 13: Ainda que eu
falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o
metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e
conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé,
de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E
ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda
que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me
aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não
trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não
busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a
injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo
suporta...
Eu amo. Amo a
mim e amo a você. Não viveria sem amar o mundo, a vida, o meu sertão, os meus
conterrâneos. Não sei o tamanho do amor. Só sei que é imenso.
Escritor
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