Por Alencar Maia
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Por Aderbal Nogueira
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Publicado por Túlio Queiroz
Cabanagem foi
como ficou conhecida a revolta que ocorreu entre 1835-1840 na antiga província
do Grão-Pará (não confundir com a Cabanada, que ocorreu em Pernambuco e
Alagoas em 1832). Após D.
Pedro I abdicar do trono do Brasil, em 07 de abril de 1831, seu
filho, Pedro
II, sucessor direto, tinha apenas cinco anos e quatro meses de idade,
enquanto a Constituição de 1824 determinava que, para assumir o cargo, o
imperador precisaria ter pelo menos 21 anos completos.
Inicia-se, assim, o Período Regencial (1831-1840), marcado por agitações políticas e diversas revoltas motivadas por interesses distintos. A Cabanagem foi uma dessas revoltas regenciais e corresponde a um dos conflitos mais violentos e duradouros do período.
O que motivou
a Cabanagem?
Com o início
do Período Regencial, o Brasil encontrava-se em uma situação econômica
muito fragilizada e politicamente conturbada. Desde a Revolução
Industrial, no século XVIII, os países da Europa passavam por uma série de
transformações de ordem política e econômica, e o Brasil, ainda no século XIX,
mantinha-se como uma economia extrativista, apesar dos esforços em modernizar o
país durante o Império.
O Brasil não
conseguia manter uma balança
econômica favorável, na medida em que importava mais produtos
manufaturados do que exportava, aumentando o déficit comercial em suas
contas públicas. Elites econômicas locais disputavam entre si um projeto
de nação, bem como noções próprias de patriotismo, fazendo com que o grau de
descontentamento com o governo central aumentasse cada vez mais.
Junto a
isso, setores populares (escravos alforriados, indígenas, quilombolas
e pobres livres) começam a surgir de forma mais decisiva no cenário
político, em reação à situação de miséria em que viviam. A Cabanagem faz
parte de uma série de outras revoltas regenciais que, cada qual a seu modo,
correspondem a esse turbulento contexto histórico em que o Brasil
encontrava-se.
Antes mesmo
da independência
do Brasil, e do Grão-Pará deixar de ser capitania para tornar-se província,
em 1821, a administração central, estabelecida no Rio de Janeiro, possuía um
certo isolamento de outras regiões, considerando também as dificuldades de
comunicação e acesso ao extenso território brasileiro já naquele período.
Esse isolamento do Grão-Pará fazia com que, na ocasião, as atenções
políticas estivessem mais voltadas para Portugal do que propriamente para o
Brasil litorâneo.
Nesse
contexto, surgem duas forças políticas importantes, pois, a partir de uma
delas, emerge-se uma das principais lideranças que deram origem à Cabanagem.
A primeira
delas assumia um caráter mais conservador, representando os movimentos
reacionários, em defesa do absolutismo,
e pregando uma maior aproximação com a monarquia portuguesa.
A segunda
representava forças modernizadoras liberais na
defesa do constitucionalismo, aos moldes dos embates travados em Portugal no
episódio da Revolução
Liberal do Porto em 1820, mas, também, de uma maior autonomia da então
província do Grão-Pará. Os componentes dessa segunda força autoproclamavam-se
Patriotas. Desse movimento mais autonomista e liberal, destacaram-se Batista
Campos, Eduardo Angelim e Félix Clemente Malcher.
Quando
ocorreu, em setembro de 1822, a independência do Brasil, esse embate na
província do Grão-Pará entre as forças lusitanas, representando o movimento
reacionário, e as forças liberais, cuja maior expressão acabou sendo Batista
Campos, estava a todo o vapor. Isso ao ponto de que o reconhecimento oficial da
independência na província só se deu em agosto de 1823, após o envio de uma
missão militar, chefiada pelo mercenário inglês John Pascoe Grenfell, para
debelar os revoltosos e manter o Grão-Pará como parte do então Império do
Brasil.
A partir de
então, instalou-se um Governo Provisório na província do Grão-Pará.
Batista Campos — que, após suas pregações e publicações no jornal O
Paraense, recebeu o apoio de parte da elite e também de uma grande massa de
pessoas pobres que viviam em cabanas à beira dos rios, composta também por
indígenas e ex-escravos, os cabanos —, juntamente com as outras
lideranças de seu grupo, foi marginalizado da nova administração implantada na
província.
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Essa direção
que o Governo Provisório havia tomado provocou uma revolta local com
adesão, inclusive, das camadas mais populares, os cabanos, exigindo a
participação de suas lideranças. Como forma de conter as agitações, Grenfell, o
mesmo mercenário inglês, foi enviado para Belém. Dessa vez, Batista Campos
acaba sendo preso, diversos nativos são fuzilados, além de tantos outros
prisioneiros torturados.
Os cabanos
organizam-se e resistem às forças de Grenfell, que deixa o Pará, e também se
colocam em oposição às autoridades locais. Batista Campos volta para a
capital da província e já se destaca como uma das principais lideranças. O
governo central, então, nomeia Machado de Oliveira como presidente da província
do Grão-Pará, que passa a ter sua autoridade questionada pelos cabanos.
Buscando
estabilizar a situação, a Regência
Trina Permanente, autoridade central, nomeia um novo governo para
substituir Machado de Oliveira, que chega à capital, Belém, em dezembro de
1833, com Bernardo Lobo de Sousa. Inicia-se, assim, uma política
repressora contra os agitadores que, ao invés de conter a situação,
conseguiu agravá-la.
O que se
sucede a partir de então é uma série de confrontos, que, no total, teriam
deixado mais de 30 mil mortos, além de um agravado quadro de instabilidade
política. Batista Campos e outras lideranças também se destacaram, como
Clemente Malcher, os Irmãos Vinagre (Francisco Vinagre, Antônio Vinagre e
Manoel Vinagre) e Eduardo Angelim.
Eduardo Angelim foi uma das lideranças do movimento cabano, além de também ter sido o terceiro e último presidente cabano da província do Grão-Pará.
O discurso de
transformação institucional (ligado às ideias liberais, à situação de
miserabilidade que grande parte das pessoas ali vivia, sobretudo os cabanos, e
à crise de credibilidade que o período da Regência sofreu após a abdicação de
D. Pedro I) foi o motivo principal para o clima de agitação que
marcou uma das revoltas mais violentas e marcantes desse período.
Como forma de
tentar amenizar as revoltas regenciais, o governo central procurou
reformar a Constituição
de 1824, de caráter autoritário e centralizado, por meio do Ato
Adicional de 1834, prevendo, inclusive, mais autonomia para as
províncias. Contudo, durante o período regencial, os conservadores impuseram
sua hegemonia, e eram eles que indicavam os presidentes de cada província.
Sendo assim, o Ato Adicional não teve forças suficientes para, ao menos,
amenizar as sublevações políticas que estavam ocorrendo.
Leia também: Cinco
curiosidades sobre D. Pedro I
Principais
líderes da Cabanagem
Batista Campos
Uma das
figuras centrais responsáveis pelo momento inicial das revoltas na província
foi o cônego, jornalista e advogado João Batista Gonçalves Campos, ou
apenas Batista Campos, como ficou conhecido. Ele foi o principal mentor
intelectual do movimento revoltoso, sobretudo a partir de suas publicações no
primeiro periódico da província, O Paraense.
Em 1834,
Batista Campos faleceu devido a uma infecção provocada, supostamente,
por um corte feito enquanto cortava sua própria barba. Outras bibliografias
atribuem a sua morte a uma doença contraída enquanto se refugiava, na floresta,
da perseguição promovida por Bernardo Lobo de Sousa.
Félix Clemente
Malcher
Foi presidente
da província do Grão-Pará de janeiro a fevereiro de 1835, após um levante,
promovido pelos cabanos em Belém, ter dominado toda a cidade e nomeado-o ao
cargo.
Contudo, após
chegar ao poder, Malcher teria traído os cabanos reprimindo o próprio
movimento, tramando contra outros líderes e declarando fidelidade ao imperador
D. Pedro II, prometendo manter-se no poder até a sua maioridade. Tendo
governado poucos dias e sido acusado de traição, foi deposto pelo próprio
movimento e executado por uma das lideranças cabanas, Quintiliano Barbosa.
Francisco
Vinagre
Fez parte do
primeiro governo cabano como comandante de armas, com o presidente Félix
Clemente Malcher. Foi também um dos executores de Bernardo Lobo de Sousa,
presidente enviado em 1832 pelo governo central a Belém, com o objetivo de
debelar as agitações.
Após a
deposição de Malcher por ter traído o movimento (inclusive conspirando contra o
seu próprio comandante de armas), Francisco Vinagre assume a presidência com
o apoio dos revoltosos, tendo permanecido no cargo entre fevereiro e abril de
1835. Contudo, assim como Malcher, Francisco também trai os cabanos colocando-se
à disposição da Regência.
Temendo os
rumos que a revolta poderia tomar no Grão-Pará, o governo central envia Manuel
Jorge Rodrigues, que, após conflitos abertos com os cabanos, assume o poder em
Belém, colocando fim ao Segundo Governo Cabano, em acordo com o
próprio Francisco Vinagre.
Eduardo
Angelim
Natural da
província do Ceará, Eduardo Angelim teria chegado no Grão-Pará na década de
1820, e, durante as agitações, lutou ao lado dos Patriotas pela autonomia da
província do Grão-Pará ficando ao lado dos cabanos. Foi também o terceiro
e último presidente cabano da província do Grão-Pará aos 21 anos de idade,
de novembro de 1835 a abril de 1836, após os cabanos retomarem o poder e
deporem Manuel Jorge Rodrigues.
Quintiliano
Barbosa
Uma das poucas
lideranças efetivamente cabanas cujo nome ainda sabemos, contudo pouco ainda se
sabe sobre a sua vida. Foi ele que executou Félix Clemente Malcher, após
este ter perseguido líderes e reprimido o próprio movimento.
Saiba
mais: Três
grandes abolicionistas negros brasileiros
Movimento do
cabanos
Os cabanos,
em sua grande maioria, eram formados por indígenas (tapuios,
entre outras nações), pobres livres e negros que se revoltavam com a
situação de miserabilidade em que viviam somada à crise política que se
instalou no Brasil após a abdicação de D. Pedro I.
Batista Campos encarnava
os ideais liberais no movimento ao prometer o fim da escravidão, maior
autonomia da província, a defesa de um regime republicano, entre outras coisas
que foram convergindo com as demandas políticas dos cabanos.
Enquanto Bernardo Lobo de Sousa assumia
a presidência da província em 1833, reprimindo e perseguindo os revoltosos, na
capital Belém e nas zonas rurais, os cabanos e lideranças, como
Eduardo Angelim, Clemente Malcher, Batista Campos, os irmãos Vinagre, entre
outros, preparavam um levante que pudesse depor o governo estabelecido. Do
dia 06 para o dia 07 de janeiro de 1835, os cabanos conseguem tomar facilmente
a capital e executam Lobo de Sousa juntamente com outras autoridades.
A partir de
então, formou-se o Primeiro Governo Cabano (1835), com Félix Clemente
Malcher como presidente da província e Pedro Vinagre como comandante das armas.
Contudo, Malcher passa a ser considerado traidor quando se alinha ao
Governo Regencial declarando, inclusive, lealdade ao Império. Francisco Vinagre
passava a ganhar a simpatia dos cabanos que se sentiam traídos.
Malcher,
então, tenta um golpe contra Vinagre, porém malsucedido, sendo deposto e
executado. O ex-comandante de armas passa a assumir então o cargo de presidente
da província do Grão-Pará, sendo esse o Segundo Governo Cabano (1835).
Francisco Vinagre não
se mostrou muito diferente de seu antecessor e tentou, inclusive, negociar
diretamente com o Governo
Regencial, desagradando completamente os cabanos. Mesmo assim, ele se
manteve no poder. As elites econômicas da região viam-se cada vez mais
preocupadas com a radicalização crescente no movimento.
Temendo os
caminhos que isso poderia tomar, a Regência envia o marechal Manuel Jorge
Rodrigues que, ao chegar em Belém, derrota facilmente as frágeis
embarcações utilizadas pelos cabanos, tendo ao seu lado uma esquadra imperial,
e torna-se o novo presidente da província em novembro de 1835, negociando a
transição com o próprio Francisco Vinagre.
As batalhas no
interior não cessaram com a chegada do marechal Manuel Jorge Rodrigues,
contando com o apoio do comandante naval inglês Taylor. Os cabanos voltaram a
organizar-se com o objetivo de retomarem Belém. Tendo como líderes de destaque
Antônio Vinagre e Eduardo Angelim, marcharam em direção à capital, conseguiram
repelir as forças regenciais ali instaladas, chegaram a proclamar um regime
republicano, e Angelim torna-se, então, o presidente do Terceiro
Governo Cabano e último, ainda em novembro de 1835.
A investida
definitiva do Império chegou em Belém em maio de 1836, sob o comando do
brigadeiro Francisco José de Sousa Soares de Andréa. Do dia 13 de
maio, após enfrentar as resistências que encontrou pelo caminho, ele consegue tomar
Belém, e os cabanos, já enfraquecidos, são derrotados e duramente reprimidos.
Em agosto do
mesmo ano, Eduardo Angelim é preso pelas forças regenciais.
Mesmo dispersos e sem muita força, os cabanos continuam lutando até o
ano de 1840, quando são eliminados os focos de resistência, colocando fim,
assim, ao movimento da Cabanagem.
Leia
também: Revolta
dos Malês: contexto, características, líderes, consequências
Consequências
e desfecho da Cabanagem
Estima-se
que mais de 30 mil pessoas foram mortas durante os confrontos, o que,
na época, representava algo em torno de mais de 30% da população local. Aldeias
indígenas inteiras teriam sido dizimadas e desaparecidas. O desfecho do
conflito, no ano de 1840, marcava também o fim do período mais crítico de
instabilidade do Império, e, com o Golpe da Maioridade, D. Pedro II, aos 14
anos, torna-se o segundo imperador do Brasil.
A Cabanagem
ainda é um tema pouco trabalhado na história do Brasil, contudo o nível de
violência em que a capital da província foi submetida marca fortemente a
história e imaginário locais.
Curiosidades
A Cabanagem é,
muitas vezes, referida também como a primeira sublevação popular que
conseguiu de fato tomar o poder na história do Brasil.
Em 1985 foi
inaugurado em Belém do Pará a obra Memorial da Cabanagem, projetada pelo
renomado arquiteto Oscar Niemeyer, em homenagem ao movimento dos cabanos.
Leia também: Brasil Império: os acontecimentos marcantes desse período
https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/cabanagem.htm
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Por Frederico Pernambucano de Melo
O pesquisador Alcino Costa, a quem respeito como investigador dos fatos do cangaço, assistiu à entrevista que acabo de dar à Globonews sobre meu novo livro, Estrelas de couro: a estética do cangaço, São Paulo, Escrituras Editora, 2010, prefácio de Ariano Suassuna, e manifesta três indagações, ou objeções, a que respondo abaixo, na ordem em que foram expostas:
Quando me levantei, ainda em 1985, no livro Guerreiros do sol, contra o
simplismo dos marxistas em considerar o cangaço filho exclusivo da luta de
classes envolvendo coronéis e cangaceiros, identifiquei no divórcio
litoral-sertão as verdadeiras placas tectônicas que aqueciam os conflitos na
região. E mostrei que os grandes cangaceiros, Lampião à frente, foram sempre os
queridinhos dos coronéis sertanejos, com exceções difíceis de identificar.
Nesse sentido, o cangaço sai à luz como uma espécie de conspiração tácita
sertaneja, irmanando coronéis e cangaceiros na luta surda contra inimigo comum:
o poder litorâneo, fonte de toda repressão. A mais não fui. Nem disse na
entrevista.
2 – sobre a importância da costura e do bordado no cangaço, tenho a esclarecer
que jamais ampliei o domínio destas em critério único de prestígio hierárquico
no bando de Lampião. Seria uma tolice afirmá-lo. Alguma coisa como equiparar o
bando de Lampião ao ateliê parisiense de Christian Dior. Em história não há
causalidade única, até as pedras o sabem. Disse claramente na entrevista – e
desenvolvo no livro que espero venha a ser lido por Alcino - que a valentia e a
capacidade de urdir planos vinham na cabeceira dessa criteriologia de ascensão
hierárquica no bando, da qual passou a fazer parte, de início timidamente, e
depois como concausa cada vez mais relevante, especialmente no meado dos anos
30, a habilidade com as agulhas e as linhas, assim como o domínio da máquina
Singer de mesa.
É claro que não estamos falando de norma escrita. De ato de Lampião publicado no Diário Oficial do Estado. Não chegamos a tanto, nem mesmo em Sergipe. O preceito há de ser inferido pelo historiador a partir da observação de uma prática reiterada, reveladora de tendência que finda por se consolidar em norma não-escrita. Estamos falando de indução lógica, procedimento abonado largamente pela ciência, segundo o qual, de várias situações singulares comprovadas, se extrai uma proposição de caráter geral. Se Lampião costurava e bordava de maneira exímia, no pano e em couro, fazendo-se fotografar alegremente em meio à prática por Benjamin Abrahão (ver Estrelas de couro, p. 83); se o mesmo acontecia com Luís Pedro (ver foto deste, também na Singer, ladeado por Juriti que, atento, parece querer aprimorar-se no ofício, no livro do padre Maciel, 1976, v. III, p. 160), o poderoso lugar-tenente do bando; se Virgínio fazia outro tanto com habilidade (ver depoimento detalhado de Moreno ao cineasta Wolney Oliveira, para filme em preparo); se Zé Sereno, Português e Pancada não ficavam atrás, segundo Barreira e Adília, de que mais necessitamos para inferir a norma? Estão aí os maiorais do cangaço. Quantos mais não lhes seguiram os passos na arte cangaceira, sem que disso tenha restado testemunho? Estão aí as máquinas de costura ao lado das cabeças cortadas. Estão aí os bornais amaneirados no luxo de concepção, de costura e de bordado. Agradeço a Deus ter salvo essas provas materiais para a história. Está aí o cangaceiro Candeeiro, em Buíque, Pernambuco, do alto dos seus 96 anos de lucidez, para dizer a quem queira ouvir que os principais cangaceiros, à frente Lampião, costuravam com habitualidade e sucesso no que produziam. No filme documentário A musa do cangaço, de José Umberto Dias, Salvador, 1981, Dadá sustenta gostosamente que “Lampião era um sucesso na máquina de costura”.
Há mais: o tenente volante pernambucano Pompeu Aristides de Moura, amigo de
Antônio Ferreira antes de tomar a farda, contou-me, em depoimento gravado, ter
visto o irmão de Lampião passar “o dia inteiro na máquina de costura, fazendo
bornais para o bando, em 1925, no Juazeiro de Joaquim Cândido”, localidade de
Floresta, Pernambuco. O cangaceiro Barreira, quando se hospedou em minha casa
por uma semana, em 1990, repetiu várias vezes que Lampião não gostava dele. Até
que resolvi perguntar a razão. E ele, no que me pareceu incompreensível à
época, respondeu-me de chofre: “Porque eu não sabia costurar”.
3 – por fim, Alcino insinua que eu teria dito que o uso do punhal pelo
nordestino seria uma influência da faca dos pampas, quando eu não disse senão
que o cangaceiro portava o punhal na parte frontal do corpo, sob as
cartucheiras, enquanto que o gaúcho conduz a faca transversalmente às costas.
Uma anotação etnológica. Uma curiosidade. Somente.
Agradeço a Alcino a oportunidade de prestar esses esclarecimentos. Quem
questiona o que digo ou escrevo, aperfeiçoa meu trabalho. Com livros na praça,
o que mais temo é o silêncio.
(*) Escritor, pesquisador. Sócio da SBEC.
http://lentescangaceiras.blogspot.com/2010/11/resposta-alcino.html
Informação do blogdomendesemendes;
Se tiver interesse de adquirir este livro, entre em contato com o professor Pereira através deste endereço:
franpelima@bol.com.br
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Clerisvaldo B. Chagas, 28 de março de 2022
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.680
São 5,7 km de estrada inaugurada que assim consolida o trio econômico do próprio Dois Riachos: o açude, a pedra e a feira de gado, atrativos de além fronteiras. Para melhor informar, cidade e município são banhados pelo riacho Dois Riachos que empresta o seu nome como afluente poderoso do rio Ipanema. Este é mais uma atração histórica e estética da cidade. Ultimamente a Terra de Marta – que tem faixa receptiva na entrada do comércio – vem se destacando no sertão de Alagoas, desenvolvendo e atraindo cada vez mais gente para turismo, negócios e lazer. Portanto, a ligação asfáltica ao povoado Pai Mané, soa como uma ordem de serviço para outros importantes povoados sertanejos, como São Félix, Óleo e Pedra d’Água dos Alexandre, em Santana do Ipanema e muitos outros da região, cansados de poeira e lama.
Sem querer endeusar o atual governador, nunca se fez tanto pelas estradas sertanejas e pelo Sertão, no todo. Mas o governador vai renunciar para concorrer ao senado. Quem irá assegurar um novo “boom” sertanejo? Quem garante? Sem apontar erros, apenas benefícios, meu pai dizia que “um bom administrador mora longe um do outro, um aqui outro na Mata Grande”, exemplificava. Os demais povoados sertanejos não contemplados com acessos asfaltados, certamente ficarão arrepiados com um novo gestor estadual seja ele quem for. Mas, como define a sabedoria popular nordestina: “é melhor uma esperança longa do que um desengano cedo”.
Afinal, a pisadinha de espera sertaneja é secular.
Virá por aí um bom administrador ou apenas um Zé Banana!
Por Lampião e o Cangaço
Filho do casal
de cangaceiros Corisco e Dadá, Sílvio Hermano Bulhões. Criado pelo o Padre
Bulhões, Santana do Ipanema - AL.
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Por Fatos na História - Cangaço e Nordeste
Quando um jornal "matou" Lampião antes da hora. Referências: Jornal "Diário de Notícias" - 12/01/1938 Imagens: Jornal "Diário de Notícias" Imagens da Vinheta: Benjamin Abrahão C. Botto
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Por Lampião e o Cangaço
Coronel Manoel
Neto sendo entrevistado pelo repórter de vários jornais, dentre eles, o jornal
A NOITE ILUSTRADA, Melchiades da Rocha, 1938. Jornal Diário da Manhã.
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Por João Costa
Maria Dora e
Mariano Barbosa da Silva, Azulão, formaram “um casal de primos” que se
tornou lendário no cangaço por conta do furor sanguinário da dupla e pelo fim
bárbaro e sinistro que teve em outubro de 1933, quando o casal foi abatido
pelas volantes do sargento José Fernandes Vieira e Zé Rufino num lugar chamado
Lagoa do Lino, município de Monte Alegre(BA).
Ela, uma
baiana de Várzea da Ema(BA), atendia pela alcunha de Maria de Azulão, e a
imprensa baiana a moça se referiu como “Madame Azulão”, exatamente porque
em todas as ações do bandoleiro, Maria Dora estava no palco, e tornou-se
difícil narrar a trajetória sanguinária de Azulão, sem que sua Maria não
estivesse ao seu lado.
O Diário
da Tarde, de Salvador, trouxe como manchete em tom sensacionalista o desfecho
da escalada de violência do casal: “Azulão” azulou pr’o inferno com a sua
cara metade”.
O corpo da
matéria dizia:
“Sabemos que a
Chefatura de Polícia da Bahia transmitiu pelo rádio a seguinte informação:
Forças baianas, às 15 horas de ontem deram cerco em um grupo de bandidos
chefiados pelo bandido Azul]ao, na fazenda do Lima, município de Djalma Dutra,
resultando na morte dos seguintes bandidos: Azulão, Canjica, Zabelê e a madame
Azulão. Escaparam do cerco os bandidos Arvoredo e Calixto, em cujo rasto
continuam as forças volantes. Ficaram feridos dois policiais”.
Mas onde e
como começou a saga violenta do “casal de primos” que sacudiu e aterrorizou os
sertões da Bahia e de outros estados?
Por volta de
1929 um garoto de 16 anos de nome Mariano Barbosa da Silva passou a viver da
espingarda e debaixo do chapéu, após levar uma surra aplicada por uma volante
pernambucana pelo fato de ser parente de cangaceiro, no caso Arvoredo.
Pouco tempo
depois o rapaz encontrou sua cara metade, uma cabocla de nome Maria Dora, que
passou a seguir seus passos, onde quer que o cangaceiro fosse e também
participar das ações violentas do pequeno bando formado pelo seu namorado.
“Madame
Azulão” foi a quarta mulher a entrar no cangaço, logo depois de Maria Déa(Bonita),
Mariquinha e Sérgia Ribeiro(Dadá).
Nos relatos
orais sobre o cangaço “Azulão” tem seu nome associado às chacinas que
assustaram os sertanejos por conta do toque implacável e sanguinário das ações,
a exemplo de um ataque a Floresta, em 1930.
Por ordem de
Virgulino Ferreira Lampião, em companhia de 20 cangaceiros, Azulão chefiou a
matança e a degola de vários inimigos pessoais de Virgulino.
Em 1932, “Azulão”, sob
o comando do cangaceiro Gato II, participou do assassinato de sete
pessoas no episódio que ficou conhecido como “Massacre da Fazenda Couro”; no
ano seguinte nova chacina é incluída no rosário de crimes da dupla em conluio
com outros cangaceiros.
“Madame
Azulão” estava ao lado do seu parceiro de crimes na invasão de uma fazenda
chamada Morrinho em que o dono da propriedade, o filho e um vaqueiro
foram sangrados a golpes de longos punhais; na esteira de terror, a horda de
celerados violentou duas meninas num sítio próximo.
Acompanhavam “Azulão” e
sua madame nessa chacina os cangaceiros Calais e sua consorte Joana,
Arvoredo, Canjica e Zabelê.
Maria
Doréa, Maria de Azulão ou Madame Azulão morreu em combate ao lado do
companheiro em 1933 num tremendo tiroteio com a volante do sargento José
Fernandes, que também tinha viés sanguinário e sinistro.
Sua cabeça, a
de Azulão e dos seus comparsas foram cortadas pelos soldados José
Ramos da Silva e Benjamim Grande e expostas num espetáculo macabro na calçada
da Cadeia Pública de Monte Alegre, atual município de Mairi.
Mas antes, lá
na caatinga, longe da civilização, os soldados volantes deram vasão aos seus
extintos bestiais.
Madame Azulão,mesmo
depois de morta, teve seu corpo sucessivamente e em rodízio, brutalizado
sexualmente de todas as formas pelos soldados que foram além da barbárie:
Conta-se que
os volantes, tidos como homens da lei, estimularam seus cães a copularem com o
corpo de Madame Azulão, uma baiana nascida no sítio Poço das Pedras, em
Várzea da Ema e que ao lado do primo Mariano Barbosa, tocou o terror por onde
passou.
A lei do
retorno pegou Maria e Azulão,
porque a
cavalo vem a lei do cão,
morreram como
viveram,
é a lei do
Sertão
Disseram
aqueles que conheciam o “casal de primos” que aterrorizou o Sertão.
Fonte de
consulta: Cangaceiros de Lampião de A à Z, de Bismarck Martins.
Acesse:
blogdojoaocosta.com.br
Foto1.
Corisco(E) e seu subgrupo de cangaceiros em 1936. De Benjamim Abraão.
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Por Xico Sá
Uma festa de
arromba promovida pelo Humaytá Futebol Clube fazia ferver a sociedade de
Mossoró naquela noite do 12 de junho de 1927, véspera do dia de Santo Antônio.
Foi quando começou a correr a notícia de que Virgulino Ferreira, o temido
cangaceiro Lampião, se aproximava da cidade.
Horas antes,
ele e seu bando tinham atacado a vizinha vila de São Sebastião (atual
município de Governador Dix-Sept Rosado). Em poucos momentos, todo o rigor
daquele baile – que exigia branco para os cavalheiros e azul e branco para
as damas – amarfanhou-se e perdeu graça, abalando o momento de
glamour ostentado pela elite do sertão.
Mossoró era
uma das mais prósperas cidades do Rio Grande do Norte. O coronel Rodolfo
Fernandes, o prefeito, já havia alertado, nos últimos dias, sobre o perigo do
ataque do rei do cangaço ao município. A maioria dos habitantes, no entanto,
parecia não acreditar. Tudo estava tão tranquilo que, no mesmo 12 de junho,
Mossoró parecia mais preocupada com o clássico entre os times de futebol do
Ipiranga e Humaytá do que com a possível chegada de Lampião às suas cercanias.
A partida de
futebol transcorreu dentro da mais absoluta rotina. Já o baile, por mais que
alguns participantes e os diretores do clube tentassem abafar as notícias vindas
da vila de São Sebastião, foi tomado pelo alvoroço e pelo medo. O apito da locomotiva da rede ferroviária suplantava o pânico
dos mossoroenses, narra o jornalista Lauro da Escóssia,
testemunha do acontecimento, no livro Memórias de um Jornalista de Província.
Os trens começavam a se movimentar, conduzindo famílias e
quantos quisessem fugir de Mossoró. Segundo
ele, durante toda a noite e na manhã seguinte, a ferrovia permaneceu
ininterruptamente agitada.
Na vila de São
Sebastião, conforme as notícias que desmancharam o baile do clube Humaytá,
Lampião havia incendiado um vagão de trem cheio de algodão e depredado a
estação ferroviária. Havia também arrasado a sede do telégrafo, uma modernidade
sempre combatida pelo chamado rei do cangaço, na tentativa de impedir que o seu
paradeiro fosse sendo informado e ajudasse a polícia a persegui-lo.
Até as
primeiras horas da manhã do dia 13, muita gente havia deixado suas casas em
Mossoró, que à época tinha cerca de 20 mil habitantes. O temor ao famoso
cangaceiro não era brincadeira. Duas mulheres em pleno serviço de parto, conta
Escóssia, foram retiradas em macas para a cidade de Areia Branca, a quilômetros
dali.
Mas o
esvaziamento não era só fruto do pânico. A estratégia da prefeitura – que havia
conseguido ajuda oficial em armas e munição, mas não em combatentes – era manter
na cidade apenas os habitantes que estivessem armados. Quanto mais vazio o
lugar, na avaliação do coronel Rodolfo Fernandes, maior a chance de repelir o
bando de cangaceiros.
A estratégia
Fazia tempo
que Lampião planejava encarar o desafio de invadir Mossoró. Seria a maior
tentativa de rapinagem do bando, como conta o historiador Frederico
Pernambucano de Mello no seu livro Guerreiros do Sol, no qual defende a
tese de que o cangaço era um meio de vida. Pouco antes de chegar à cidade,
Lampião enviou um bilhete chantageando a prefeitura.
Nele, pedia a
quantia de 400 contos de réis para não atacar o município, um valor pelo menos
dez vezes superior ao que costumava exigir em ocasiões semelhantes. Na tarde de
13 de junho, feriado de Santo Antônio, ele e o bando já se encontravam nos
arredores do município potiguar.
Sem resposta
ao primeiro comunicado, Lampião, já impaciente, bufando de raiva, manda um
segundo aviso. Os termos do bilhete, que consta nos arquivos do jornal O
Mossoroense (um dos mais antigos do país), eram muito diretos e recheados de
erros de português: Cel. Rodopho, estando eu aqui
pretendo é drº (dinheiro). Já foi um a viso, ai pª (para) o Sinhoris, si por
acauso rezolver mi a mandar, será a importança que aqui nos pedi. Eu envito
(evito) de Entrada ahi porem não vindo esta Emportança eu entrarei, ate ahi
penço qui adeus querer eu entro e vai aver muito estrago, por isto si vir o drº
(dinheiro) eu não entro ahi, mas nos resposte logo.
Ele assinava Cap. Lampião.
O coronel
Rodolfo Fernandes e seus homens disseram não a Virgulino, para surpresa do mais
temido cangaceiro de todos os tempos. A cidade tinha o dinheiro, informou o
prefeito. Mas Lampião teria que entrar para apanhá-lo. Às 16 horas daquele dia
13, caía uma chuvinha fina e havia uma neblina de nada sobre Mossoró. Foi
quando os primeiros estampidos de bala ecoaram.
Sangue e areia
Lampião tinha
53 cangaceiros no seu bando. Não imaginava, porém, que iria enfrentar pelo
menos 150 homens armados na defesa da cidade. O repórter Lauro da Escóssia
estava lá, vendo tudo de perto. Durante
toda a noite, a detonação de armas em profusão. Parecia uma noite de São João
bem festejada, escreveu em O Mossoroense. Mas
as mulheres rezavam para outro santo junino, o Antônio festejado naquele dia.
No ataque,
Lampião perdeu importantes cabras de seu bando. Colchete teve parte do crânio
esfacelado por balas. E Jararaca, depois de capturado, foi praticamente
enterrado vivo. Em menos de uma hora após o início da luta, o capitão do sertão
– outra das alcunhas dadas ao célebre cangaceiro – sentiu que dominar a cidade
seria praticamente impossível.
Ordenou então
a retirada da tropa, para evitar a perda de mais homens e não manchar ainda
mais sua reputação. A partir desse momento a estrela
do bando lentamente passaria a brilhar cada vez menos,
escreveu o historiador Pernambucano de Mello.
O mito do
Lampião invencível caíra por terra, o que reanimou a força policial, que passou
a enfrentar o rei do cangaço com menos temor. Era o começo do declínio da
carreira de Virgulino. Por causa do desastre no Rio Grande do Norte, as
deserções no grupo foram consideráveis.
Mossoró, cidade conhecida por marcas pioneiras (como quando foi o primeiro município brasileiro a admitir o voto feminino, em 1934), passaria também à história por esse acontecimento que assombrou todo o Nordeste. Até hoje, os filhos daquela terra se orgulham do feito de braveza ao contar que seus antepassados botaram Lampião para correr. Os inimigos do cangaceiro, entretanto, ainda teriam que esperar mais 11 anos pela morte do capitão, assassinado somente em 1938, na chacina da gruta de Angicos, em Sergipe.
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