Seguidores

sábado, 25 de dezembro de 2010

As burrices do Professor João Maleável

Por: José Mendes Pereira

             - Eu estou presente, professor! - Confirmou a Rúbia de cabisbaixa enquanto terminava um trabalho para ser entregue ao professor de História. 
             O João Maleável parou a chamada e disse:
             -Por favor, pessoal, quando eu estiver fazendo a chamada, fiquem atentos, para vocês não ficarem com faltas.  Afinal, não gosto de borrar meus diários.  Certo? 
              - Certo! – Concordou a turma em couro.
             Assim que terminou a chamada, lentamente guardou o material na pasta, quis saber o que a Marcileide tinha deixado de lhe perguntar na aula anterior. 
              - É coisa simples, professor.  Algumas vezes eu fico na dúvida. Qual é a diferença entre as preposições sobre e sob?
              Parece que pelo jeito ele não estava bem a par do assunto. Esticou um pouco o corpo na cadeira quando lhe foi jogada a pergunta, e com um olhar meio preocupado. Em seguida resolveu responder o que tinha sido perguntado.
              - É fácil, fácil, fácil, fácil! Repetiu ele quatro vezes a mesma palavra para dar tempo preparar a resposta.
              - Marcileide, por acaso você já viu gangorra?
              - Já professor. E conheço muito bem o que é uma gangorra.
              - Então é daquele jeito. Quando sobre está por cima, sob está por baixo, e quando sob está por cima, sobre está por baixo. Pois é do jeito de uma gangorra.
             Todos se entreolharam, sorrindo cegamente.
              - Obrigada professor! Já entendi bem direitinho. Nossa! Fez ela baixinho ignorando a resposta do professor. 
              A aluna Marcileide, notou que gramaticalmente, ele não sabia lhe dar a resposta certa das preposições sobre e sob. E em toda a sua vida nunca ouviu falar que sobre e sob tinham parentescos com gangorra. 


QUE SORTE HEIN, JOÃO MALEÁVEL!?

 Por: José Mendes Pereira

              Nessa noite a aula do João Maleável estava um show. Geografia, e ele garantia fazer uma boa aula. Polivalente até os dentes, dizia ele, e até se gabava um pouco. Quem era capaz de dizer que o mestre da sabedoria não sabia Geografia? Ora! Só se fosse louco e muito louco! A noite anterior passou em claro, com os pés afogados em uma bacia com água e bastante gelo, na intenção de memorizar os conteúdos.
              E a famosa aula começou num clima harmonioso e com um silêncio total. O professor iniciou falando da Ásia, da África, da Europa, da Oceania, das Américas e em seguida falou um pouco do Brasil. Falou, falou, falou, reclamou da crise brasileira e depois notou que tinha fugido um pouco do assunto.
              - Vamos deixar isso pra lá! Vamos à nossa aula é o que nos interessa!... Pois sim, ontem à noite, no final da aula, eu dizia que os países que se limita com o Brasil, são: A Argentina, o Peru, a Bolívia, o Paraguai, o Uruguai, a Colômbia a Venezuela... Com exceção do Chile e do Equador. Pois ambos os dois,  não se limitam com o Brasil.   Do meio da sala, a Raquel inconformada com este termo meio fora dos padrões  gramaticais, uma concordância ridícula , esbravejou tirando  o silêncio da aula repreendendo o mestre.
              - Professor, por que o senhor diz tamanha barbaridade dentro de uma sala de aula?
              - Qual foi a barbaridade que eu disse, menina? – Interrogou ele com os nervos já na flor da pele. 
             - Ambos os dois professor,  está errado, e  como está errado! O senhor está precisando urgente é de uma reciclagem.
              O João Maleável notou que na verdade o erro tinha sido grave, mas não ia voltar atrás, ou dar o braço a torcer. Ia lhe dar o troco, mesmo que a ferisse. Já vinha notando que nas últimas noites a Raquel tentava bagunçar as suas aulas, tirando-lhe do sério. E ele não estava pronto para admitir certos desrespeitos de alunos! Ora! Sabia demais que ela tinha futuro pela frente.  Uma ótima aluna, não faltava às suas aulas, fazia todas as atividades, mas ia cortar logo o mal pela raiz.  Fazia ele encostado à janela consigo mesmo. Falar com a supervisora sobre a Raquel, não lhe ia adiantar nada, pois ela tinha mania de defender alunos quando estavam errados. Salete, a supervisora, gostava de passar a mão sobre cabeças de alunos; protegendo-os quando eles não cumpriam os seus deveres.
              Mas ele defendia que se o aluno tinha direitos para se beneficiar, também era dono de deveres para cumprir. E muitas vezes a supervisora tirava o direito do professor para dar a quem? A quem?  Isso ele resmungava baixinho para que a turma não percebesse a sua indignação.  E ele não tinha dúvida do que ela ia lhe dizer com aquele jeito de mãe. “-O senhor tem que entender que a Raquel está vivendo nesse momento a sua adolescência!” - Dizia ele no seu eu a arremedando.
             O que mais o irritou, foi quando a Raquel disse que ele estava precisando de uma reciclagem! O comparado com lixos, cobres, papelões, garrafas vazias, alumínios e ferros velhos... Ora! Isso ele esbravejava encostado à parede enquanto os alunos faziam cópias. “-Que leva a sua mãe, sua Olívia Palito! Na aula anterior, esse espeto de churrascaria passou o tempo todo conversando com Cristina”.
             O que ainda o segurava de não fazer zoadas com a Raquel, era porque no seu último aniversário havia sido presenteado por ela, com uma oferenda que em toda sua vida de escola, jamais tinha recebido de alguém. Uma caneta a ouro, ouro puro, assim lhe informou o analista de jóias. A caneta chegou às suas mãos em uma embalagem especial, embrulhada num papel de presente com os seguintes dizeres: “Ofereço este presente ao meu grande..., e querido “professor”...
              Ao recebê-lo, notou que a Raquel havia colocado uma reticência. Gramaticalmente ele sabia demais o que significava, mas não sabia a sua intenção. Afinal, o que ela quis ocultar no meio dos três pontinhos? Teria lhe chamado de doido, trouxa, relapso, veado ou outra coisa parecida?
             Mas o João Maleável estava preparado e lhe deu o troco, desconsiderando a oferenda.
              -É, Raquel, na verdade eu não devia ter dito ambos os dois... Mas já que eu disse e não há mais como corrigir o meu erro, eu tenho a lhe dizer com toda franqueza, que eu disse ambos para os entendidos, e dois eu disse para os burros.
              - Meu Deus! Como o professor é mal educado, pobre de espírito e de sabedoria! - Disse a Raquel já com as lágrimas deslizando sobre o rosto e ausentando-se da sala de aula.
               - Chora sua magricela! – Exclamou ele em voz tímida. 


              (Pois diga João Maleável! Não estudou!).


O JOÃO MALEÁVEL EXIBE-SE DENTRO DE ÔNIBUS

Por: José Mendes Pereira 

                 Eram seis horas da manhã, quando o João Maleável apanhou o ônibus com destino a Pau dos ferros. Ia resolver problemas do seu interesse.
                Ao entrar no ônibus, fez uma observação para ver se ali iam pessoas conhecidas, que ele pudesse se sentar ao lado de uma delas. Não viu nenhum conhecido, e em seguida sentou-se em uma cadeira que estava paralela ao motorista e perguntou-lhe:
               -Este ônibus vai a Pau dos Ferros?
               - Vai sim senhor! Vai para Pau dos Ferros.
              O dono da sabedoria era um senhor que não gostava de se exibir em determinados assuntos, mas se tratando de português, ele às vezes tinha a mania de se apresentar.
              A viagem continuava em paz, e os passageiros faziam um silêncio total dentro do transporte. 
               - Senhor motorista, este ônibus vai a Pau dos Ferros ou vai para Pau dos ferros?  Se ele vai a Pau dos Ferros, ele vai e volta - explicava querendo confundir a mente do motorista, mas se ele vai para Pau dos Ferros, ele vai para ficar. Finalmente, este ônibus vai a Pau dos Ferros ou vai para Pau dos Ferros?
             O motorista já meio encabulado e muito indeciso, por não ter conhecimentos de gramática, e tinha notado que estava diante de um homem letrado, mas se ele tentasse novamente, com certeza ia lhe dar uma resposta.
             Daí a pouco, o professor insistiu novamente.
             - O senhor calou-se por quê?
            O motorista não suportando mais a insistência dele, resolveu abrir a boca.
             - Eu estou aqui pensando o seguinte, senhor!  É que eu não sei se mando o senhor à puta que te pariu, ou para a puta que te pariu.
             - Para que tanta ignorância? Só por que o senhor não sabe da resposta?


O JOÃO MALEÁVEL DÁ AULA DE RELIGIÃO

Por: José Mendes Pereira

                 Que aula, hein! Cheia de criatividades.  E a pois!
                 Em anos anteriores o João Maleável tinha praticado um pouco do protestantismo, e com esse entrosamento com a igreja e os fiéis, adquiriu conhecimentos suficientes para dar aulas de religião.  Sim senhor!
                Nessa noite o João Maleável deu início à aula falando dos livros do velho testamento. O Pentateuco de Moisés. E então! Gênese, que fala das origens. Êxodo, fim da escravidão, Levítico, que fala dos rituais dos sacrifícios, Números, fala dos preparativos para a partida, e por último, falou do livro Deuteronômio – primeiro discurso de Moisés. E em seguida foi direto ao assunto que lhe interessava mais. O livro novo testamento, onde estar a grande história do grande e amado o Senhor Jesus Cristo.
              Os alunos todos de queixos caídos assistiam à famosa aula do mestre.
              Minutos depois ele falou da multiplicação dos pães e dos peixes.
             - Quando Jesus andava lá pela Palestina, ali na região de Israel, ele fez muitos milagres. Deu visão a cego, levantou morto, fez aleijado andar, curou doente e outros... Mas um dia Jesus fez um milagre muito grande, minha gente, pegou cinco pães e dois peixes e deu de comer a cinco mil homens, isto sem contar com as mulheres e as crianças... 
              - Professor, e onde Jesus adquiriu esses peixes para dar de comer a tanta gente? - Quis saber a Sílvia.
              - Jesus, Sílvia, também foi pescador junto com os seus discípulos, pois sempre ele caminhava ao lado deles, pescando em águas que tinham por perto.
               - Mas professor, eu não tenho como acreditar que dois peixes foram suficientes para alimentar tanta gente. O senhor acredita, ou não?  
               - Bom, a bíblia diz..., mas eu acredito que os peixes eram duas enormes baleias... Aí, sim!... Dava pra alimentar um grande vilarejo! – Dizia ele se admirando.

                 (Meu grande Jesus Cristo, o Senhor que tira os pecados do mundo, tire mais este meu, pois isto é apenas uma brincadeira. Afinal, eu sei que o Senhor sabe que eu sei que o Senhor disse que eu não sei o que eu digo).

O JOÃO MALEÁVEL DÁ RESPOSTA ERRADA

Por: José Mendes Pereira

               Nessa noite o João Maleável enfrentou a classe sem ânimo. Havia passado o dia inteiro limpando a sua velha e desmoronada biblioteca.  Há anos que ela não sabia o prazer de receber livros novos.  O mau cheiro de livros velhos e empestados de ácaros obrigou-lhe a fazer uma boa limpeza.  De novidades, somente uma pequena apostila de português que havia recebido do primo Carlos Maia.  Afinal, tinha recebido porque ele gostava de lhe presentear com algumas coisas de português, mas do tipo que havia recebido, não lhe fazia falta na sua estante, pois tinha bastantes apostilas 
               - Chega de tanto material sem conteúdo! Dizia ele retirando a sujeira da biblioteca. 
              As paredes da sala onde era a biblioteca, já precisavam de um reparo urgente, ou talvez uma mão de cal, mas não lhe ia adiantar nada, porque elas estavam muito deterioradas, e o certo mesmo era esperar, não por uma mão de cal, mas sim, a mão de Deus que lhe desse mais oportunidade na vida.
              Ao entrar na sala de aula, uma pergunta lhe foi feita pela Raquel.
            - Professor, na análise morfológica, a palavra “AQUI”, pertence a qual classe gramatical?
              No momento ele não se lembrou, mas lhe deu uma resposta meio sem graça.
              - Pertence à classe dos verbos.
              - Verbo, professor? - duvidou a Raquel.
              - Sim, é verbo! – respondeu ele timidamente.
             - Então conjugue professor, porque não só eu, mas todos nós temos interesses de saber como se faz essa conjugação.
             Ele apoderou-se de um giz, foi à lousa, mas antes chamou bastante à atenção dos alunos para que eles memorizassem bem a sua bela explicação.
             - Prestem bem atenção meus alunos! Isso é muito importante na vida de um estudante. Não desgrudar os olhos do quadro, e ligar as antenas dos ouvidos quando um professor começa a explicar um determinado assunto. O aluno não deve perder nada em uma sala de aula. Se o professor abrir a boca, olho nele e antenas ligadas!
            E começou ele a conjugação:

              Eu aqui,
              Tu ali, 
              Ele acolá,
              Nós na frente,
             Vós no meio, 
             Eles atrás.

             - Pois diga professor! - Exclamou um aluno lá no final da classe. (Você não estudou direitinho, João Maleável! Agora dá resposta errada aos seus alunos!). 


ALUNO ENTREVISTA O PROFESSOR JOÃO MALEÁVEL

Por: José Mendes Pereira

               Aluno ― Professor João Maleável, se o senhor fosse escolhido para definir sala de aula, qual o conceito que o senhor daria?
              João Maleável ― Eu diria que sala de aula é: um pequeno circo, coberto e edificado com barros, abstraindo a lona, com vários profissionais, uns bons, outros menos bons, outros menos bons ainda, os quais apresentam os seus espetáculos com toda simpatia  dentro dele, e oferecem   a uma platéia que não exige absolutamente nada dos apresentadores.
               Aluno ― O senhor gosta de sala de aula?
              João Maleável ― Até hoje eu não sei se... Deixa pra lá... Isso é coisa... 
              Aluno ― O senhor fez concurso para se empregar na educação?
             João Maleável ― Não. Quando eu comecei a trabalhar na rede pública, o nome da Constituição do Brasil ainda era escrito com letras minúsculas, e era uma verdadeira bagunça. Para adquirir um emprego, era preciso apenas que o sujeito tivesse um QI.
             Aluno ― E o que significa QI professor?
            João Maleável. ― Essas duas letras Q e I, significam “Quem Indique.” Se alguém tivesse uma pessoa forte, envolvida com os políticos, já estava empregado em uma repartição pública.
               Aluno ― O senhor pretende viver sempre em sala de aula?
              João Maleável ― Deus me livre! Vire essa tua boa maldosa pro mar! Que falta de respeito comigo!
               Aluno ― O senhor acha que o governo do Estado paga bem aos professores?
               João Maleável ― Bem mal.
               Aluno ─ O que o senhor diz sobre os governos, são bons?
              João Maleável – São bons, mas de peia. Ora!
              Aluno ― O senhor é contra ou é a favor de greve?  João Maleável ― Se nós não brigarmos pelos nossos direitos, jamais aumentaremos os nossos salários.
              Aluno ― Quando o senhor está gozando férias, sente saudades das aulas?
             João Maleável — O quê? Que saudades? De quem, finalmente?  Ora! – Responde ele com ignorância.
              Aluno — Qual é o período que o senhor lembra mais de uma sala de aulas?
             João Maleável — Eu me lembro, mas o contrário. É quando se aproxima o carnaval. Se chegar o carnaval, as aulas também chegam.  Nesse período me dá dores de todas as maneiras. Dor de barriga, dor de dente, dor de ouvido, dores nas costas, enfim... Deixa pra lá...
             Aluno — O senhor já pensou em algum dia ser diretor de uma escola?
            João Maleável — Eu acredito que o meu período de ser menino de recados já passou.
             Aluno — O senhor se relaciona bem com a supervisão, orientação e a coordenação?
             João Maleável — Bem demais! Mas tem umas chatinhas e entregam os professores aos diretores nas surdinas... Não são todas... Mas é isso aí... Eu as respeito...


             (Tenha paciência João Maleável! As coisas não são como você pensa.


OS JOÃO MALEÁVEL 

Por: José Mendes Pereira

              Quantos João Maleável existem por aí neste Brasil a fora?      
              Em todas as profissões sempre tem aquele trabalhador que se esconde por detrás das cortinas. Manso, malandro, vivo, maleável, brando e bastante escorão. É um grande João Maleável! Mata os encarregados no cansaço, distribuindo uma porção de seriedade no trabalho, e na verdade não faz de acordo com a doutrina que ele reza.
            Os João Maleável não observam a nada e nem tão pouco a tudo, porque não são espiões. Os João Maleável não têm o hábito de entregarem ninguém. E cada um profissional que se encarregue de sua responsabilidade ou de sua malandragem. Eles são empregados que não ocupam funções com seriedades. Mas também não ligam para quem não exerce a sua.
            Os João Maleável não são arrogantes, pois a humildade reina nos seus corações. Fazem perfeitos quando gostam de uma profissão. Mas odeiam as que não gostam. E se for preciso, cavam até valetas para se livrarem delas. Concordam com tudo que lhes mandam fazer, mas fazem pela metade. Na verdade, são esses os verdadeiros João Maleável. 
             Por isso não vamos derrotá-los! Eles estão ocupando funções que realmente não são as suas praias. Muitas vezes os chamamos de desleixados, burros, bambos, reincidentes, mas a gente sabe o quanto é difícil se ocupar função quando não se nasceu para ela. É pior do que pirão de doente. Quanto mais ele come, mais ele ver o pirão aumentar no prato.

                                               
O JOÃO MALEÁVEL GOZA LICENÇA ESPECIAL

Por: José Mendes Pereira

               Nos últimos anos o João Maleável se sentia meio cansado e precisava com urgência de férias. E para isso, ele tinha direito. Sim senhor!  Quase quinze anos de serviços. Podia se afastar de suas atividades pelo menos por um período de seis meses. 
              E se quisesse, ausentar-se-ia por nove meses.  Isso era uma opção dele.
              E às pressas ele procurou um substituto.  Carlos Maia. Um primo carnal e de grande confiança. "- É meu primo carnal. Filho de um irmão do meu pai e filho de uma irmã da minha mãe". 
            O Carlos Maia, um jovem que ainda não tinha experiências em sala de aula. Mas sempre fora de muita responsabilidade em tudo que tomava de conta. E por sinal, acadêmico de letras em uma das universidades do Rio Grande do Norte. Um grande homem letrado como dizia o mestre.
             Quando o nosso professor entregou o material ao novo mestre, isto é, ao substituto, ele pôs-se a observar os quadrinhos da presença, e notou que o veterano fazia a chamada da seguinte maneira: Um (P) e um (O). Sem entender aquela desastrosa chamada, o futuro dono da sabedoria resolveu pedir uma explicação ao grande professor polivalente.
             - Professor, eu estava observando a maneira que o senhor usa para fazer a chamada e achei muito interessante e engraçada! Quando o aluno estava presente, acredito-me, o senhor colocava um (P). Tudo bem! Até aí eu entendi direitinho. Mas quando o aluno não estava presente, o senhor colocava um (O). Professor dê-me uma explicação para o significado do diabo deste (O)! 
            O João Maleável cheio de orgulho, metido a inteligente, não só inteligente, mas inteligentíssimo, e com a confiança de que nada estava errado, que sempre fez aquele trabalho certíssimo, e que se dedicava por total e com responsabilidade, olhou bem no fundo do olhar do primo, balançou um pouco a cabeça, dando a entender que o parente talvez não fosse ser feliz na nova profissão. Repuxou o colarinho da camisa, e com um sorriso largo e aberto, respondeu-lhe.
             - Ó meu grande Deus todo poderoso! Primo, não me decepcione diante dos meus amigos professores primo!  Não é ozente primo!
             -Sim!..., Sim!..., Sim!..., Sim! Entendi primo! - Confirmou o marinheiro de primeira viagem com um sorriso sarcástico e fantasioso.

             (O que é que é isso, João Maleável? Não estudou!).


O JOÃO MALEÁVEL PREPARA-SE PARA PASSAR FÉRIAS NA ESCÓCIA

Por: José Mendes Pereira

                   Que férias hein, João Maleável? Tanta gente louca para passar umas férias pelo menos fora do seu Estado e não pode. E você agora está arrumando as malas para ir conhecer um outro país, hein! A Escócia! 
                   Por último ele estava arrumando as suas malas para viajar. Sim Senhor! Adquiriu um passeio dos bons, através do Padre José do Vale. (Esse Padre ajudou muito a jovens que pretendiam fazer cursos em outras universidades fora do Brasil. Ele era vigário da Igreja do São João Batista, e que infelizmente neste ano de dois mil e oito, a morte interrompeu os seus planos e trabalhos aqui na terra. Ele fazia parte de um órgão não governamental, e que fez muito pelos jovens de Mossoró, levando-os às universidades de outros países). 
                  Vamos voltar ao João Maleável.
                 Antes de ser professor, tinha trabalhado cinco anos na igreja do São João Batista prestando serviços na função de carpinteiro. E por último, ganhara um presentão desses.        E tudo já estava prontinho, passagem reservada, passaporte, dinheiro na conta e outros. A Gagá ficaria em casa com as crianças, enquanto o João Maleável se divertia na Escócia. 
                 Há anos que um dos seus grandes amigos, o Antônio Jerônimo residia por lá, e tinha ido ainda jovem em companhia do pai, que fora transferido da empresa em que trabalhava para prestar serviços na Escócia a uma outra multinacional. E com ele embarcou toda família. 
                 E logo, o nosso professor enviou carta ao grande amigo. Comunicando-lhe que pretendia passar as suas férias na Escócia. E se possível, ele arranjasse uma boa casa, alugasse-a que acertaria depois, pois já estava com o passaporte em mãos e passagem comprada. “-Envie-me fotos de toda residência. - Exigiu ele através da carta”.
                 Não demorou. A resposta chegou às suas mãos acompanhada de fotos e de toda residência. Sala, cozinha, quarto, área de serviços, mais os outros cômodos; a fachada da frente, as plantas frutíferas... 
                Depois que ele olhou as fotos, notou que não tinham chegado as do banheiro sanitário. E às pressas, enviou um telegrama para o amigo. Comunicando-lhe que tinha interesses de saber onde ficava localizado o WC da casa alugada.
                No Brasil, é claro, todos nós sabemos que WC significa banheiro sanitário, ou simplesmente banheiro. Mas na Escócia significa capela.
                 Dias depois, chegou a resposta escrita à mão.
                 Caro amigo João Maleável: 
                 O WC  fica distante da cidade seis quilômetros. E todos daqui só o frequentam aos domingos, feriados e dias santos. A população caminha em mutirão para lá. E a estrada que nos leva até ele, fica aparentando formigueiros e causando admirações com os movimentos dos carros e das pessoas. Uns indo e outros voltando. Na entrada, cada pessoa recebe um papel. Mas depois de usá-lo é obrigatória a devolução para servir em outros eventos. As crianças se divertem comendo pipocas e tiram fotos de todas as posições. Os jovens brincam de rodas para animarem o evento, e os idosos são bem acolhidos no meio da juventude, os quais se responsabilizam pelas palmas para enfatizarem a ação.
                Sem mais nada para o momento.
                Antonio Jerônimo. 
               Assim que ele leu a carta, desistiu por total. E respondeu às pressas ao grande amigo. 
                Amigo Antônio Jerônimo:
                Tenho o prazer de lhe agradecer pela a consideração e a atenção, as quais você me prestou por ter feito esforços em querer me acolher perto da sua casa. Mas por outro lado depois dessa sua informação, tenho o desprazer de lhe dizer que a Escócia jamais me verá. E como você sabe muito bem, aqui, não só em Mossoró, mas em todo Brasil, nós ainda não viciamos os nossos intestinos a passarem muitos e muitos dias maltratados. Continuamos com aquela velha moda de sempre, ocultamo-nos na hora das nossas necessidades fisiológicas. E as fazemos mais ou menos num espaço de vinte e quatro horas, e entre quatro paredes. Pois bem, se a sua Escócia está na era do modernismo e do desenvolvimento, provavelmente já chegou ao século vinte e dois. E nós daqui de Mossoró e do Brasil ainda estamos vivendo o século vinte e um. Por isso continuamos atrasadíssimos. E até hoje nós não conseguimos adquirir o hábito de fazermos as nossas necessidades fisiológicas diante de todo mundo. E também não aceitamos que sejam feitas fotos na hora do ato. 
               Confiando em sua boa compreensão, sem mais, antecipando os meus sinceros agradecimentos.
                Sinceramente, João Maleável. 

               (E agora João Maleável! Não estudou! Você não entendeu a comunicação do seu amigo? Passou a vida inteira frequentando escolas e não aprendeu nada!). 

               Water Closet – Em inglês significa banheiro. Mas como o brasileiro tem mania de querer usar palavras inglesas nas suas escritas, apenas usa WC para significar banheiro.