Por Antonio Corrêa Sobrinho
AMIGOS,
Fui às páginas
do jornal “O Estado de S. Paulo” e trouxe para este espaço praticamente tudo o
que este importante diário brasileiro trouxe a lume a respeito do famoso
cangaceiro ANTONIO SILVINO.
São informações publicadas na época de atuação deste cangaceiro, portanto,
ainda livres do processo natural de mitificação e romantização desta
extraordinária figura do velho banditismo nordestino
Com a licença do coordenador, postarei o pequeno trabalho, em partes, sob o
título ANTONIO SILVINO NAS PÁGINAS DO “ESTADÃO”.
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ANTONIO
SILVINO NAS PÁGINAS DO “ESTADÃO”
PARTE I
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PARAÍBA
Quatro
salteadores do grupo capitaneado por Antônio Silvino foram cercados pela força
estadual, no lugar denominado Mulunguzinho, na comarca de Campinas.
Os bandidos opuseram resistência, armando tiroteio, do qual resultou ficar
ferida uma praça.
Finalmente, os salteadores foram mortos.
(Dos nossos correspondentes)
05.02.1901
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OS CANGACEIROS
Há poucos
dias, o senhor General-comandante do distrito recebeu do capitão João Carlos
Formel, que se acha no interior do estado da Paraíba, em perseguição ao grupo
de cangaceiros chefiados por Antônio Silvino, um despacho telegráfico pedindo
aumento de forças.
Sua Excelência respondeu incontinente, avisando-o de que desta guarnição não
poderia expedir o reforço pedido, mas que daria as necessárias providências a
respeito.
Para o tenente-coronel Febronio de Brito, comandante da guarnição do Rio Grande
do Norte, expediu S. Exc.ª Ordens para que dali fossem retiradas as necessárias
praças para auxiliar o capitão Formel.
Às ordens do senhor general Rocha Calado, imediatamente cumpridas, partiram do
Rio Grande do Norte 40 praças do segundo batalhão de infantaria, bem municiadas
e sob o comando de dois oficiais.
Tomadas essas medidas necessárias, o governador da Paraíba, monsenhor Walfredo,
que ainda não as conhecia, telegrafou igualmente ao senhor general, secundando
o pedido do capitão Joao Carlos Formel.
S. Exa., respondendo, fez sentir as últimas providências tomadas, declarando
que o pedido do capitão Formel fora atendido.
Em carta, o capitão Formel declara achar-se na pista dos bandidos,
acrescentando que, com o auxílio de forças, conseguirá a captura.
- Perseguido
pela força volante, apresentou-se, há poucos dias, ao delegado de Bom Jardim o
célebre cangaceiro Barra Nova, companheiro de Antônio Silvino.
Barra Nova, durante o tempo em que fez parte do grupo desse facínora, tornou-se
célebre pelas suas perversidades.
Em S. Vicente, na ocasião de um ataque do grupo, foi Barra Nova quem atirou no
sargento José Pedro, subdelegado local.
Atualmente está ele recolhido à cadeia de Bom Jardim, devendo ser em breve
transportado para a casa de detenção.
- Pessoa vinda de Caruaru trouxe a desagradável notícia de que naquela cidade
acaba de praticar mais uma de suas costumadas façanhas o célebre facínora
Antônio Silvino, acompanhado de um grupo de 14 bandidos.
O ponto escolhido para a prática das novas perversidades foi a fazenda do
tenente-coronel Manuel Emygdio da Silva Oliveira, subprefeito em exercício do
município de Caruaru.
“Santa Maria”, que é o nome dessa fazenda, dista da cidade apenas oito léguas.
O bandido, ao aproximar-se, procurou um morador do tenente-coronel Emygdio e
intimou-o a acompanhá-lo até à residência do patrão.
O infeliz relutou e tanto bastou para que o perverso o assassinasse.
Praticado o crime, dirigiu-se o famigerado para a residência do tenente-coronel
Emygdio, onde praticou as mais horríveis cenas de selvageria.
29.01.1907
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Comunicam da
Paraíba do Norte que a força federal, que anda em perseguição de Antônio
Silvino, prendeu o célebre bandido Bento Quirino e espera capturar brevemente o
outro facínora.
Um novo grupo de cangaceiros, chefiado pelo celerado Antônio Felix, vulgo
“Tempestade”, tem praticado muitos roubos e assassinatos, no interior do estado
de Pernambuco.
22.02.1907
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Atribui-se ao
célebre cangaceiro pernambucano Antônio Silvino, em cujo encalço anda
atualmente uma força federal, a autoria de 56 assassinatos e muitos roubos.
26.02.1907
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ANTÔNIO
SILVINO
A propósito
deste já famoso bandido que enche de pavor os sertões de Pernambuco e dos
estados vizinhos, um redator da “Gazeta do Norte”, do Recife, teve uma
entrevista com dois oficiais do Exército que estiveram em diligência contra o
temido cangaceiro.
Eis como esses oficiais explicam por que ele ainda não foi capturado:
“- E o governo consente que os lugares do interior estejam sem destacamento bem
municiado?
- Há lugares frequentemente visitados por Silvino e nos quais existem, apenas,
3 ou 4 praças!
- Então esse é um meio indireto de proteger a audácia do celerado...
- Mais ou menos; se as autoridades e os chefes locais se dispusessem a cumprir
as ordens do governo, ou se este mudasse chefes e autoridades, talvez que o
célebre assassino já houvesse sido capturado. Mas infelizmente assim não sucede
e, até ouvimos dizer que o comandante de uma força que anda em procura do
bandido almoçou numa casa em que este se achava oculto!”
AINDA OS
CANGACEIROS
Contando novas
proezas de Antônio Silvino, escreveu de Taquaritinga à “Província” do Recife:
“Por volta das 8 horas da noite de sábado, 20 de janeiro findo, Antônio
Silvino, com o seu grupo de 12 bandidos, assaltou a povoação de Barra de S.
Miguel, do vizinho estado da Paraíba e limites deste Estado, povoado que dista
desta cidade oito léguas, e dirigiu-se o grupo à mesa de rendas, repartição
fiscal paraibana, criada ali há alguns anos para o recebimento de impostos – os
tão perniciosos e inconstitucionais impostos interestaduais.
Na casa contígua estavam quatro soldados, que ali se acham destacados, aos
quais o bandido tomou o fardamento, armas e munições, obrigando-os em seguida a
acompanhá-lo à residência do subdelegado do lugar, que, também sob ameaças de
morte, acompanhou o mesmo bandido.
Antônio Silvino, com o subdelegado e as quatro ex-praças, estas em camisa e
ceroula, dirigiu-se à casa de alguns negociantes da localidade e, no seu modo
de roubar, fez uma colheita de um conto de réis, aproximadamente. Terminando
essa ‘visita’ voltou a repartição fiscal que invadiu e ali encontrou pequena
quantia que embolsou e em seguida deu suas ordens para a destruição, ordens que
foram prontamente cumpridas, pois todo o arquivo inclusive estampilhas e selos
e outros papéis foram destruídos.
O chefe da repartição achava-se ausente na vila de São João. Pouco depois
retirava-se essa horda de salteadores tendo antes o celerado chefe dado uma
grande surra em um dos pobres soldados, que ficou semimorto!
Numa outra carta publicada pelo “Jornal do Recife”, o prefeito da vila de
Umbuzeiro, estado da Paraíba, relata assim novos crimes de Antônio Silvino e
seu bando:
José Candinha e Manuel Coco saíram daqui na tarde de anteontem para Serra
Verde, a fim de assistirem a uma novena em casa de Wenceslau.
Contam pessoas que eles se achavam, por volta de 2 horas da madrugada de ontem,
estando José Candinha sentado, apreciando um jogo, o Manuel Coco dormindo, foi
o primeiro inesperadamente agredido, recebendo pelas costas diversos tiros, que
o prostraram logo sem vida.
Um dos bandidos desfechou-lhe sobre o ouvido direito, à queima roupa, um tiro,
cujo projetil lhe arrancou o pavilhão do ouvido e grande parte dos músculos da
face.
Os sicários, sedentos de sangue e de vingança, cravaram-no de punhaladas,
deixando a cabeça quase separada do tronco, por um grande golpe dado na parte
anterior do pescoço.
- Antônio Silvino, depois que cometeu os assassínios, seguiu em direção ao
(...), ocultando-se no lugar Jararaca, em casa de um tal Francisco Muniz. Nesta
ocasião passava o Antônio Galdino, procurador do município, pela estrada,
quando o perverso Muniz o apontou a Silvino, como morador em Umbuzeiro. Silvino
prendeu-o e ia assassiná-lo pois já havia garantido matar a todos os habitantes
do Umbuzeiro que encontrasse; Galdino, porém, afirmou não morar no Umbuzeiro e
ser parente do capitão Henrique, de S. Vicente. Esta afirmativa livrou-o de ter
morrido às mãos do sicário; mas Silvino roubou-o todo o dinheiro que levava.
Horas antes já Silvino havia atacado o coronel Eduardo Gomes, de quem roubou
500$000 réis.
O nosso bom amigo alferes José Caetano que, antes da sua saída daqui se achava
destacado em Queimadas, logo que teve conhecimento dos assassinatos
transportou-se, doente como se acha, a esta vila, dando todas as providências
que o triste acontecimento exigia.
"O ESTADO
DE SÃO PAULO" - 01/03/1907
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