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sexta-feira, 4 de julho de 2014

Os Lantyer, de Queimadas

Por Rubens Antonio

A entrada de Lampeão e seu bando, em Queimadas, em 22 de dezembro de 1929, se fez após a travessia, por canoa, do Rio Itapicuru.

Rio Itapicuru, em Queimadas, no ponto atravessado por Lampeão e seu bando, em 22 de dezembro de 1929.

Desembarcou o grupo a cerca de 150 metros do chamado Chalé Lantyer. Caminharam em sua direção e encontraram dois homens diante de um automóvel.

Foi assim que João Lantyer de Araújo Cajahyba tornou-se o primeiro a ser abordado por Lampeão e demais cangaceiros, após aqueles terem atravessado o Rio Itapicuru, diante da sua residência.

Chalé Lantyer, em Queimadas.

Ali, João se encontrava com o mecânico Pedro Patápio realizando consertos no seu "Ford Bigode”.

João Lantyer, segundo à direita, com seu "Ford Bigode", em 1928. Na extrema direita, o mecânico Patápio.

Após breve conversa com Lampeão, que solicitou o automóvel para adentrar a cidade no mesmo, informando-o que este se encontrava, como se podia perceber, com defeito, foi deixado para trás. Isto, enquanto o cangaceiro despachava alguns cangaceiros para neutralizar o telégrafo e avançou adentrando a cidade.

João Lantyer

Zulmira Lantyer de Araújo Cajahyba, irmã de João, que se encontrava na residência da sua irmã, Djanira Lantyer de Araújo Cajahyba, quando foi chamada a ver a passagem do que seria uma tropa volante pernambucana. 

Reconheceu Lampeão e os cangaceiros que, passando-se por força volante, adentravam Queimadas.

Zulmira Lantyer

Tentou avisar a cidade, em uma ação poderia ter evitado o saque da cidade e o massacre dos soldados.

Entretanto, não deram crédito ao seu alerta.

Tendo tomado a cadeia e quartel e prendido o sargento Evaristo e alguns praças, Lampeão fez tocar o apito que chamava os demais para o quartel.

João Lantyer avistou e avisou um dos soldados que a pretensa volante era, na verdade, um "troço de cangaceiros” liderado por Lampião. 

Entretanto, o soldado não acreditou nele e seguiu para a morte.

Nascido em 24 de setembro de 1895, João Lantyer faleceu em 17 de dezembro de 1987, em Queimadas.

Zulmira Lantyer faleceu em Queimadas em 25 de junho de 1989.

Rubens Antonio é professor, pesquisador do cangaço e administrador do blog: http://cangaconabahia.blogspot.com

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DEMOCRACIA DA VIOLÊNCIA

Por Rangel Alves da Costa*

Durante muitos anos, os movimentos populares tiveram repreendidas suas lutas sociais. Almejava-se a democratização como forma de legalizar as justas reivindicações e garantir plena cidadania às camadas mais carentes ou excluídas da sociedade. A Constituição Federal de 88 veio em favor de tais pretensões e incorporou importantes demandas das classes menos favorecidas e dos movimentos sociais, e dentre estes os que já lutavam pela Reforma Agrária. Mas parece ter armado de ira, abusividade e violência aqueles que se diziam apenas necessitados de terra para trabalhar.

Ao invadir, na última quarta-feira dia 25, as instalações da Rádio Xodó FM, em Nossa Senhora da Glória, no sertão sergipano, os integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, juntamente com outros movimentos sociais, deram prova dos desnorteamentos reivindicatórios e fizeram exsurgir alguns conceitos repudiados na sociedade moderna: democracia terrorista, fascismo camponês e vingança privada. Na ação, e em pleno Estado de Direito, ainda os resquícios da Lei do Talião: Olho por olho, dente por dente.

Não se deve olvidar que todos, indistintamente, devem obediência aos regramentos da lei. Ninguém está acima do Estado para arvorar para si o poder e o dever de agir somente em obediência às suas sanhas, revoltas ou indignações. O aparato judicial e o sistema legal não são substitutos secundários à ação humana, mas norteadores da própria ação. Daí ser totalmente incabível que no mundo moderno, de tantas conquistas sociais e no Direito, movimentos organizados pretendam se arvorar do poder de fazer justiça com as próprias mãos, de transgredir os preceitos legais e fazer do arbítrio, da intimidação e da violência, meios legais de ação. Não é dado, pois, a nenhum movimento social o direito de autotutela quando há previsão legal diante dos conflitos surgidos.

Além, logicamente, de chamarem em seu desfavor alguns proibitivos jurídicos, como os do exercício arbitrário das próprias razões (justiça pelas próprias mãos), justiçamento, ameaça à liberdade de manifestação e de imprensa, depredação de prédio particular e invasão de propriedade. A tudo isso se somem as ameaças de continuidade nas ações acaso as ofensas continuem. Quer dizer, não se fala em reivindicar direitos na esfera judicial, mas tão somente em reagir com violência e intimidação todas as vezes que algum radialista macule a honra e a imagem de algum de seus integrantes. Agora, diante do ultimato dado, as consequências já são mais que previsíveis. E neste aspecto não deixa de transparecer uma incitação ao crime por parte dos dirigentes do movimento.


Pelo que foi amplamente divulgado - e até pelos relatos de dirigente do movimento -, a ação violenta foi decidida e perpetrada como reação às provocações e xingamentos provenientes de um locutor da emissora. Mas ainda assim a defesa não foi legítima, pois extrapolou todos os limites legais colocados à disposição dos ofendidos. E a provocação do judiciário, seja para obter direito de resposta ou para reparação dos danos, não se fez como esperado em movimentos sociais juridicamente organizados como costumam ser.

Do mesmo modo, na ação e na violência dos invasores não há que se falar em excludentes de ilicitude como  o estado de necessidade, o estrito cumprimento de dever legal, o exercício regular de direito e a já referida legítima defesa. Foi apenas ilícito penal, apenas ação premeditadamente criminosa, e esta perpetrada de maneira insidiosa, abusiva, violenta, com requintes de barbarismo. Ora, invadiram, destruíram portões, ameaçaram, tomaram para si os microfones, usurparam, enfim, as liberdades democráticas.

Mas invasão de propriedade, do alheio, com destruição e ameaça, são especialidades e know-how, verdadeiras patentes de tais movimentos, principalmente do MST. Mesmo que as políticas de Reforma Agrária tenham garantido o acesso a terra, ainda assim não haverá contentamento de seus integrantes sem que primeiro sejam promovidas invasões e destruições do que possam encontrar pela frente. Tais especialidades já eram conhecidas e corriqueiras, sem falar nas invasões a prédios públicos e outros abusos. Mas a incursão contra emissora de rádio, sob a alegação de que seus integrantes viviam sendo achincalhados e sem direito de resposta, inaugurou uma nova e perigosa prática nos movimentos campesinos.

Por mais que a direção estadual do movimento se esmere na busca de argumentos que justifiquem a ação contra a emissora sertaneja, a verdade é que nada, sob qualquer aspecto, justifica uma atitude como a tomada, principalmente partindo de pessoas que militam tendo como bandeira de luta a democracia e a liberdade de manifestação. Ademais, não condiz com o Estado Democrático de Direito que pessoas, sob a alegação de estarem sendo injustamente agredidas por uma emissora radiofônica, simplesmente abdiquem dos meios legais em nome de uma ação conduzida pelo ódio, pela violência e a ameaça.

Diante da magnitude das desonras alegadas pelos invasores, e acaso estas fossem comprovadas, certamente que o judiciário lhes garantiria não só o espaço de resposta à medida das ofensas como acataria a devida reparação pelos danos causados.  Mas não há conhecimento que o judiciário tenha sido acionado para garantia dos direitos. A opção feita, contudo, foi pelo caminho mais deplorável diante de uma democracia que busca se consolidar pela luta dos próprios movimentos sociais.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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O Vespertino "A Noite" após a morte dos cangaceiros na Grota de Angico

Tenente João Bezerra - Não ignorar  o antigo português

O vespertino “A Noite” entrevistou hontem (...) o tenente João Bezerra. (...) que chefiou a escolta que poz fim à vida do bandoleiro “Lampião”. 


O tenente declarou que após 28 dias de caça, chegou o aviso de que “Lampião” e seu bando se encontravam na fazenda Angico.

(...) Desesperado por ter sido apanhado desprevenido, “Lampião” surge à frente do bando. Uma rajada atinge-o na nuca e ele cambaleia, para depois cahir morto. Tombam outros bandidos. (...) Immediatamente, os soldados deram início à faina de degolamento (...). 

Colorida pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio

Horas depois (...) as cabeças, como trofhéus, eram apresentadas ao povo. O regozijo da população foi indescriptível.


http://www.pm.al.gov.br/3bpm/joao.html

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Cangaceiros

Foto: cortesia Carlos Eduardo

Exposição fotográfica sobre lampião, na França, ocorreu, há alguns anos atrás. Veja acima, painel mostrando os detalhes...



Tem uma francesa, Élise Grunspan-Jasmim, Historiadora da Universidade de Sorbonne, uma das maiores do mundo, que defendeu tese intitulada 'Lampião - Viéx er morts d'un bandit brésilien'(Vida e morte de um bandido brasileiro). Ganhando o prêmio de melhor pesquisa científica, concedido pelo jornal Le Monde e pela Press Universitaire Française, que transformou a tese em livro.


Eu já li sobre o que ela escreveu e inclusive, foi postado o seu material em nosso blog:  http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta

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Seu Nôza... José Moura de Oliveira

Por Rubens Antonio

Faleceu, neste 3 de julho de 2014, em Salvador, José Moura de Oliveira.

Nascido em 23 de fevereiro de 1925, em Queimadas, Bahia, naquele município, era mais conhecido pelo apelido que lhe deu sua irmã mais velha, quando era ainda um bebê. "Nôza". 

Com a idade, ganhou um "Seu" ao antigo apelido, tornando-se "Seu Nôza".

Nôza

Desconhecido da imensa maioria das pessoas, é uma verdadeira referência por dois pontos.

Em primeiro lugar, era a criança que estava dentro quartel, em Queimadas, quando foi invadido pelos cangaceiros, em dezembro de 1929. Ao seu lado, Lampeão parou e deu ordem de prisão aos policiais.

Apesar da tenra idade, a impressão que lhe causou o evento deixou em sua memória viva impressão e perfeita recordação. Isto, especialmente, por haver testemunhado o início do massacre, nomeadamente a morte dos dois primeiros policiais.

Em segundo lugar, considerando a quantidade de equívocos, inverdades e mistificações diversas que àquele evento começaram aderir, iniciou uma coleta de informações, registrando-as meticulosamente.

A quem o visitava, recebia com imensa simpatia e atenção, apresentando o seu relato já impresso. Dizia:

"- Junta-se aí o que eu vivi, o que eu vi, com o que ouvi dos demais..."

Este documento era lido, por ele, para o interessado, na íntegra e, na medida do possível, enriquecido, conforme o interlocutor apresentava novas perguntas.


Seu Nôza lendo seu relato dos eventos de 22 de dezembro de 1929, em Queimadas.

Seu depoimento aparece em:

http://cangaconabahia.blogspot.com.br/2012/01/depoimento-de-jose-moura-de-oliveira-o.html

Uma versão mais recente e completa, a derradeira, ainda está por ser publicada neste blog.



Desenhando a situação real das antigas sepulturas dos soldados, no cemitério de Queimadas.

Com Valdeci Figueiredo dos Santos e Jubiratan Silva Santos, filhos do sargento Evaristo, sobrevivente do massacre de Queimadas.

Tendo vivido a maior parte dos seus últimos anos em Salvador, próximo aos filhos e netos, veio a nesta cidade falecer, em função de um câncer.


Seu corpo foi levado a Queimadas e, neste 4 de julho de 2014, estará sendo ali sepultado.

Um abraço, amigo... E muito obrigado pelo seus senso de História e compromisso com esta.

http://cangaconabahia.blogspot.com.br/2014/07/seu-noza-jose-moura-de-oliveira.html

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Falecimento!

Por Rubens Antonio

Faleceu, ontem, em Salvador, José Moura de Oliveira, o "Seu Nôza".

Testemunha referencial, era a criança que se encontrava conversando com os policiais, no quartel, em Queimadas, quando Lampeão entrou e deu ordem de prisão a esses.

Também, da janela da sua casa, testemunhou a morte dos dois primeiros policiais.

Adqüiriu importância ainda maior quando, ao topar com tantos equívocos e mistificações que começaram a surgir, preocupou-se em levantar, registrar e divulgar os dados e as informações corretas.

Vítima de câncer, será enterrado hoje, à tarde, em Queimadas.

Facebook.

Rubens Antonio é professor, pesquisador do cangaço e administrador do blog: http://cangaconabahia.blogspot.com

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A SBEC Convoca !


O Presidente da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, professor Benedito Vasconcelos Mendes, no uso de suas atribuições legais, convoca aos Sócios e Amigos da SBEC para participar de Reunião Extraordinária da Sociedade, a realizar-se no próximo dia 25 de Julho de 2014 a partir das 10 horas da manhã no Auditório Miguel Arcanjo, na cidade de Piranhas em Alagoas, dentro da Programação do Cariri Cangaço Piranhas 2014. 

Benedito Vasconcelos Mendes 
Presidente

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O Caipora

Por Alcino Alves Costa

O Caipora, aquele ente fantástico da mitologia tupi tem a sua lenda gravada na memória de todas as culturas sertanejas, desde aquelas dos tempos primitivos até as dos dias atuais. O “rei da flora” sempre foi o terror dos que viviam da caça. Entretanto, uns poucos caçadores tinham o privilégio de manter uma relação de amizade com o senhor das selvas, conseqüentemente gozar de sua proteção.

Histórias do Caipora despertavam inusitado interesse no povo do Rio Pequeno. Quem foi e de onde veio este ente misterioso? Seu Calixto tinha orgulho e prazer em gastar todo o seu repertório sobre a fabulosa lenda nascida de uma velha tradição. Os contos que discorria sobre os mirabolantes feitos daquele ser mitológico eram reservados para as noites da Semana Santa, ali no pé do cruzeiro, aboletado de gente. No entanto, o contador de fábulas era quase sempre intimado a narrar às origens do caipora. Como nasceu e viveu no meio dos animais e finalmente se tornando no senhor absoluto daquele mundo selvagem; o mundo da onça e do veado, do gato do mato e do caititu, da ema e da seriema; enfim de todos os bichos silvestres. Como se fosse um mestre o caboclo narrava o nascimento e a vida do Caipora.

O conhecimento do bondoso caipira sobre a lenda deste ente fantástico vinha desde a sua meninice. Porém, só veio a se interessar por ela quando já homem feito, vivendo em São Paulo, começou a ouvir uma moda de viola da autoria do magistral poeta e compositor Sulino, que contava a origem do misterioso ser das caatingas, e que fora batizada com o título de “O Caipora”. Assim narrava o contador de causos do Rio Pequeno.


Diz uma velha tradição que depois do dilúvio, aquela inundação universal que durou quarenta dias e noites e que acabou com os viventes da terra – escapando apenas Noé e seus familiares, além de alguns animais – o Senhor ordenou que o cataclismo parasse e a arca, empurrada por uma força misteriosa, fosse levada pelas águas até o Monte Ararat, na Armênia. 

Deus, então, ordenou a Sem, Cam e Jafé, os filhos de Noé que saíssem da sagrada embarcação e fossem povoar a terra.

Os três irmãos se dividiram em tribos e com o passar das eras surgiram vários grupos tribais, cada um tomando rumos diferentes e seguindo o seu próprio destino. Foi numa daquelas tribos errantes que uma mulher teve um filho no meio da mataria. O bebê nasceu forte e sadio. Porém a pobre mãe, não resistindo a uma forte hemorragia, faleceu horas depois. Seguindo um impiedoso costume daquela gente primitiva, a criança foi abandonada no meio da caatinga.

Aderbal Nogueira ao lado do inesquecível Alcino Costa

Ali bem perto uma macaca sofria a dor da perda de seu filhote. Já noite alta escutou o choro do bebezinho nos ermos da selva bruta. Aquilo era estranho para ela. Curiosa, seguiu na direção de onde vinha o choro e encontrou o recém-nascido. Se por instinto maternal ou por lembrar do filhinho, se acercou da criança e com muito amor e carinho começou a amamentá-la com o leite de seu peito. E assim o menininho teve proteção e guarida pelos cuidados da macaca. Criado na selva bruta o menino cresceu valente e veloz. Suas unhas ficaram enormes, afiadas, pareciam anzóis. A fera que ele atacava não conseguia escapar de suas poderosas garras. Costumava amarrar os bichos ferozes com cipós, surrá-los, e depois soltá-los, rindo de sua perversa brincadeira.

Daquele tempo pra cá, conforme diz a história, aquele homem selvagem, se tornou o dono dos animais e o todo-poderoso das selvas. Montado num porco espinho percorria todos os sertões, era um duende que tinha o poder de surgir aqui e acolá, nos mais distantes recantos sertanejos ao mesmo tempo e na mesma hora. Com espantoso poder dominava todos os bichos que dentro da selva moravam. O seu nome se tornou num mito que ultrapassa todas as gerações. Quem já não ouviu falar no duende que se convencionou em chamá-lo de “Rei da Flora”?

Alcino Alves Costa
Caipira de Poço Redondo
Fonte: Histórias e Lendas do Sertão

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Conheça a história de Lampião, o "Rei do Cangaço"

Por Marden Barbosa 
Virgulino Ferreira da Silva, nasceu em Serra Talhada

Afinal, quem foi Lampião, o maior ícone do movimento do cangaço, adorado e odiado, herói e vilão, pra uns um o Robin Hood do sertão, pra outros um bandido assassino, cruel e sanguinolento.

Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião, nasceu em 7 de julho de 1897 na pequena fazenda dos seus pais em Vila Bela, atual município de Serra Talhada, no estado de Pernambuco. Era o terceiro filho de uma família de oito irmãos.

CONTEXTO HISTÓRICO:

Sertão nordestino, seca, fome, desigualdades, transição do Séc. XIX para o XX, primeiras décadas da República, nesse cenário surge o Cangaço, caracterizando-se por ações violentas de grupos ou indivíduos isolados: assaltavam fazendas, sequestravam coronéis (grandes fazendeiros) e saqueavam comboios e armazéns.

Cangaceiros não tinham moradia fixa, eram muitas vezes contratados como mercenários, fazendo os serviços sujos para os coronéis. Perambulavam pelo sertão, praticando crimes, fugindo e se escondendo.
A palavra deriva de canga, peça de madeira simples ou dupla que se coloca na parte posterior do pescoço de bois nos carros de boi. Devido aos utensílios que os homens carregavam no corpo, o nome foi incorporado.

Como conheciam muito bem a mata, rotas de fuga, ervas medicinais, e tinham ajuda de coiteiros (pessoas que auxiliavam na fuga, ou davam abrigo, simpatizantes), não era uma missão fácil para o Estado captura-los.

O Estado, se atualmente é omisso, quanto a questão da pobreza no nordeste, no início do Séc. XX, o povo estava abandonado a própria sorte, a seca e a miséria predominavam, onde os coronéis(fazendeiros) eram a lei.

Voltemos a Lampião, em 1915, ele acusa um empregado do vizinho José Saturnino de roubar bodes de sua propriedade. Começa, então, uma rivalidade entre as duas famílias. Quatro anos depois, Virgulino e dois irmãos se tornaram bandidos.


José Saturnino, o primeiro desafeto de Lampião

Matavam o gado do vizinho e assaltavam. Os irmãos Ferreira passaram a ser perseguidos pela polícia e fugiram da fazenda. A mãe de Virgulino morreu durante a fuga e, em seguida, num tiroteio, os policiais mataram seu pai. O jovem Virgulino jurou vingança.

Lampião formou o seu bando a princípio com dois irmãos, primos e amigos, cujos integrantes variavam entre 30 e 100 membros, e passou a atacar fazendas e pequenas cidades em cinco estados do Brasil, quase sempre a pé e às vezes montados a cavalos.


Foram criadas volantes, policiais mais soldados temporários, milícias armadas para tentar combater e capturar os cangaceiros, que os apelidaram de “macacos” pelo jeito que batiam em retirada, pulando.
Lampião ficou famoso pela sua disciplina, vestes impecáveis, cheias de adornamentos, coisa que todo o bando copiava, a vaidade dos cangaceiros era uma de suas marcas registradas.


Lampião roubava comerciantes e fazendeiros, sempre distribuindo parte do dinheiro com os mais pobres. No entanto, seus atos de crueldade lhe valeram a alcunha de "Rei do Cangaço".

Quando bem recebidos, promoviam bailes, festas, entretanto com os que o enfrentava ou lhe afrontava, mostrava todo seu lado maligno e sanguinolento.


Seu bando sequestrava crianças, botava fogo nas fazendas, exterminava rebanhos de gado, estuprava coletivamente, torturava, marcava o rosto de mulheres com ferro quente.

Antes de fuzilar um de seus próprios homens, obrigou-o a comer um quilo de sal. Assassinou um prisioneiro na frente da mulher, que implorava perdão. Lampião arrancou olhos, cortou orelhas e línguas, sem a menor piedade.

Para matar os inimigos, enfiava longos punhais entre a clavícula e o pescoço (pra sangrar o cabra).

Punhal de Lampião

Em 1926, a fim de combater a Coluna Prestes, marcha de militares rebelados, liderados por Luiz Carlos Prestes, o governo se aliou ao cangaceiro, fornecendo fardas e fuzis automáticos.


Por indicação do Padre Cícero, o qual disse que somente Lampião poderia conter a Coluna Prestes, foi formalizado um pacto, no qual resultou o encontro do padre com Lampião (Virgulino era devoto do Padre Cícero), isso em Juazeiro.

Padre Cícero Romão Batista

Blogdomendesemendes - Segundo alguns pesquisadores do cangaço quem obrigou o seu comandado comer sal, não foi Lampião, foi o cangaceiro Antonio Silvino. 

http://www.portali9.com.br/blogs-colunistas/cabo-marden/conheca-a-historia-de-lampiao-o-rei-do-cangaco

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O cangaço do capitão Lampião

O Bando de Lampião: o mais famoso grupo de cangaceiros da História do Brasil.

A prática do cangaço marcou um interessante momento da História do Brasil. Grupos de homens armados vagueavam pelos sertões, principalmente do Nordeste, buscando meios de sobrevivência, e o enfrentamento dos poderosos com o uso de suas armas e de sua coragem. Porém, seria somente dessa maneira que poderíamos compreender a prática do cangaço?

O próprio termo “cangaceiro”, em suas origens, faz referência ao termo “canga”, peça de madeira usualmente colocada nos muares e animas de transporte. Assim, a palavra cangaceiro, originalmente, faz uma alusão aos utensílios que os cangaceiros carregavam em seu corpo. Além disso, essa idéia heróica sobre os cangaceiros é equivocada. Os primeiros cangaceiros de que se tem relato eram, de fato, “prestadores de serviço” aos chefes políticos locais. Perseguiam e matavam os inimigos políticos dos coronéis de uma região.

Somente nos primeiros anos da República Oligárquica é que os primeiros grupos independentes de cangaceiros surgiram. Através de práticas criminosas esses grupos constituíram um grupo social à margem das estruturas de poder e das relações sociais vigentes durante o tempo das oligarquias. De acordo com seus interesses, os cangaceiros estabeleciam alianças com aqueles que oferecessem vantagens econômicas ou proteção às suas atividades.

Dessa maneira, não poderíamos dizer que o cangaço foi um movimento essencialmente comprometido com uma determinada classe social. Um dos primeiros cangaceiros que se tem registro é Antônio Silvino. Buscando vingar a morte do pai, ele formou um bando que lutava contra a polícia, promovia assaltos e armava “tocaias” contra autoridades governamentais. Anos mais tarde, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, formou um dos maiores e mais duradouros grupos de cangaço existentes na região Nordeste.

Sua família, de origem pernambucana, já se envolvia com a prática do cangaço. Fazendo parte, inicialmente, do bando de Sinhô Pereira, Lampião aprimorou sua habilidade em matar inimigos e realizar assaltos. Seu apelido foi criado devido a sua rapidez no gatilho e a luz que saia do cano de sua arma. Em 1922, ele passou a liderar o grupo de Sinhô Pereira.

Vários documentos demonstram as formas de ação do grupo de Lampião. Em algumas cartas de próprio punho, Lampião exigia o pagamento de quantias em dinheiro em troca da não-invasão às cidades. Estendendo sua ação e número de integrantes, o bando de Lampião chegou a atuar contra a Coluna Prestes, em 1926. Só no ano de 1938 que Lampião foi subjugado pelas forças militares do Estado. Os principais líderes de seu bando foram decapitados e tiveram as cabeças expostas em diferentes cidades nordestinas.

A decadência do cangaço tem grande ligação com o estabelecimento do Estado Novo. A criação de órgãos repressores mais atuantes e a desarticulação da influência exercida pelos grupos oligárquicos remanescentes podem ser apontadas como as possíveis razões para o fim desse movimento. Por fim devemos ver no cangaço, a crise provocada pelas relações excludentes que figuraram a construção histórica do próprio Brasil.

http://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/cangaco.htm

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