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segunda-feira, 12 de agosto de 2019

14 MINUTOS DE LAMPIÃO


Publicado a 22/04/2012

Este vídeo é uma gravação feita por Benjamin Abrahão com o Lampião em carne e osso. Vídeo histórico (sem áudio) com 4 minutos de cenas inéditas desse que, sem dúvidas, foi um dos mais polêmicos personagens que o Brasil já teve. Este vídeo faz parte da obra "Iconografia do Cangaço", da editora Terceiro Nome, com organização do Ricardo Albuquerque.

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MOSSORÓ

Parte do todo do historiógrafo Rostand Medeiros

(...)

Caso da Igreja de São Vicente de Paula e a questão do túmulo do Cangaceiro Jararaca.

Igreja de São Vicente de Paula, em Mossoró.Acesse e leia o texto completo - http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/1927


A notícia de que Lampião avançava na direção de Mossoró chegou aos ouvidos dos moradores de Mossoró em abril de 1927. À época, a Capital do Oeste Potiguar, como seus habitantes ainda gostam de intitulá-la, já era um dos municípios mais importantes do interior nordestino. Com 20 mil habitantes, localizada no meio do caminho entre duas capitais – Natal e Fortaleza –, em nada se assemelhava às pequenas cidades onde Lampião e seu bando atacava e saqueava o comércio.


No dia 13 de junho de  1927, após dizer não a Lampião, que cobrou 400 contos de reis (em moeda da época 400  milhões de reis – atualmente uns 20 milhões de reais) para não invadir a cidade, começava um tiroteio entre moradores da cidade e os cangaceiros. A igreja de São Vicente de Paula foi o local principal da resistência. Lampião costumava dizer que “cidade com mais de uma torre de igreja não é lugar para cangaceiro”. Não se tratava de superstição, mas de raciocínio lógico – municípios com tal característica eram maiores e, portanto, mais difíceis de dominar. Os ocupantes das trincheiras no alto da Igreja de São Vicente e da casa do intendente tinham visão privilegiada do avanço das tropas. Tão logo o grupo surgiu no horizonte, iniciaram-se os disparos. Os cangaceiros, acostumados a desfilar nos povoados sem serem incomodados, foram surpreendidos.

Findando com a expulsão dos cangaceiros, a morte de alguns deles e a prisão do temível José Leite de Santana, vulgo Jararaca, enterrado vivo no cemitério da cidade, após cavar sua própria cova. 


(...)


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25 DE DEZEMBRO DE 1929, NO “DIARIO OFICIAL DO ESTADO DA BAHIA”


Do acervo do professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio

SECRETARIA DA POLICIA
Portaria

O Secretario da Policia e Segurança Publica, no uso de suas attribuições, tendo em vista o art.11 da Lei n.1897, de 2 de agosto de 1926, resolve designar o bacharel em direito João Mendes da Costa Filho, delegado de policia do termo séde da comarca de Maragogipe, para em commissão proceder o inquerito de referencia aos crimes commetidos na Villa de Queimadas, da comarca do Bomfim, por Virgolino Ferreira da Silva, vulgo “Lampeão” e outros, para onde deverá se transportar, afim de apurar as responsabilidades dos seus auctores e bem assim, de quantos prestaram auxilios para a practica desses crimes.

Secretaria da Policia e Segurança Publica, em 24 de Dezembro de 1929
Bernardino Madureira de Pinho

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COSTA REGO E O CANGAÇO

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.160

        Pedro da Costa Rego foi brilhante jornalista alagoano e filho do Pilar. Foi deputado federal, secretário de estado e governou Alagoas de 6 de 1924 a 7 de 1928. Duro e polêmico pegou uma época difícil e de muita violência no estado. Os chefes políticos andavam cheios de capangas, sendo constantes as repercussões de mortes. Costa Rego mandou desarmar e prender muitos desses políticos e famosos bandidos das capangadas. Levou a sério o combate ao jogo do bicho, agindo com mão de ferro. Além disso, ladrões de cavalos e desordeiros foram bastante perseguidos no seu governo. No início do seu mandato, Virgulino Ferreira começava a espalhar a fama de Lampião. O combate ao cangaço também foi uma das suas prioridades governamentais.
Por algumas passagens da história, vemos um governador nervoso, duro, polêmico e de poucos diálogos. Foi acusado de desarmar a população que ficava assim, indefesa contra as ações de cangaceiros. Desacreditando ainda da fama e do poder de Virgulino Ferreira, respondeu duramente aos prefeitos que pediam socorro contra os bandoleiros, indagando quantos Lampiões havia. Mesmo assim, chegou a percorrer terras sertanejas vendo de perto estragos praticados pela caterva. Esteve em Olho d’Água das Flores após a passagem desastrada de Lampião por ali. Apesar da falta de melhores estratégias de combate ao cangaço, ficou famoso e passou a ser decantado por repentistas, mestres de reisado e emboladores.

COSTA REGO. (Foto: históriadealagoas.com.br).
       
     No combate ao jogo do bicho, o poeta Chico Nunes, de Palmeira dos Índios, perdeu seu emprego de cambista. O governante fez por merecer presencialmente a seguinte estrofe do repentista:
 “Existe um governadô
Que se chama Costa Rego,       
Que tomou o meu emprego       
Porque o jogo acabou,
Isso me desmantelou,
Pois o destino assim quis.
A sorte me contradiz.
Eu fiquei desmantelado.
Largue de ser desgraçado
Seu Costa Rego infeliz”.


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'ELE TINHA NO ROSTO UM PAVOR ENORME', DISSE SOLDADO QUE MATOU O CANGACEIRO LAMPIÃO, HÁ 80 ANOS


Lampião e Maria Bonita no meio do cangaço - Foto de Arquivo/ O GLOBO

"Livre o Nordeste do maior de seus bandoleiros", publicou O GLOBO em sua primeira página do dia 29 de julho de 1938, há 80 anos, quando o jornal noticiou a morte de Virgulino Ferreira da Silva o Lampião. 

O fim do famoso cangaceiro ainda seria motivo de manchetes nos dias seguintes, à medida que chegavam à redação mais informações sobre a emboscada na qual o criminoso foi morto pelos policiais comandados pelo Tenente João Bezerra. 

No dia 1 de agosto daquele ano, O GLOBO publicou um depoimento do soldado que alvejou Lampião, na madrugada do dia 28 de julho, na fazenda Angico, no sertão sergipano.

Segundo o relato do policial Antonio Honorato da Silva, o cangaceiro estava acabando de acordar quando foi morto por ele. Lampião tinha ao lado a sua mulher, Maria Bonita, que também não foi poupada, mesmo após se render. O casal e mais nove integrantes do bando foram mortos naquela tocaia.


- Vi Lampeão erguer-se, tinha no rosto um pavor enorme. Levei o fuzil ao rosto e mirei bem. A mulher estendeu os braços, pedindo clemência. Nesse instante, fiz fogo. Ele baqueou e eu acompanhei a queda com outros dois tiros. Estou satisfeitíssimo e sou o homem mais feliz do mundo - descreveu Antonio Honorato da Silva, em depoimento enviado por telégrafo.

Lampião segurando um exemplar do jornal O Globo | Foto de Arquivo/ O GLOBO

Naquele mesmo dia 1 de agosto, o jornal divulgava mais informações sobre o chamado Rei do Cangaço, que, durante cerca de 18 anos praticou todo tipo de roubo e assassinatos em sete Estados do Nordeste, sempre acompanhado de seu bando. De acordo com relatos de pessoas próximas a ele, Lampião vinha manifestando a vontade de sair da vida de crimes, depois de comprar propriedades agrícolas em Sergipe. Mas, àquela altura, o pernambucano já estava sendo procurado, vivo ou morto, pelas autoridades de diferentes Estados.


"Chegam agora novos detalhes da maneira porque os cangaceiros foram surprehendidos", relatou O GLOBO. Segundo a reportagem, enviada de Maceió, Alagoas, os policiais foram informados de que os bandidos estavam acampados na fazenda Angico, onde hoje fica o município de Poço Redondo, em Sergipe. Eles cercaram o acampamento do bando no meio da noite, "collocando metralhadoras em todos os flancos, emquanto dois soldados atirariam isoladamente em Lampião e Maria Bonita".

Lampião, Maria Bonita e dois cães | Foto de Arquivo/ O GLOBO

Por volta das 5h da manhã, pouco antes de amnhecer, os soldados avançaram pelo mato sobre as barracas. Quando viu os "volantes", o líder do grupo se levantou e, surpreso, foi alvejado na boca, na nuca e na cintura. "Maria Bonita fez um gesto de supplica, tentando impedir a morte do amante, e caiu sob rajadas de balas", descreveu o jornal. 

Mesmo depois de ver o líder morto, seus comparsas revidaram fogo, mas os soldados levaram a melhor. Alguns integrantes do bando fugiram, mas pelo menos nove foram mortos naquele confronto. 

Em seguida, os soldados decapitaram os corpos de Lampião, Maria Bonita e outros bandidos. Os corpos mutilados foram deixados a céu aberto, mas as cabeças foram salgadas e carregadas em latas de querosene, sendo expostas em várias cidades desde o local da emboscada até Maceió. A começar pelo município de Piranhas, onde os policiais deixaram as cabeças à mostra na escada de acesso à prefeitura. 


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LAMPIÃO E O MUNDO QUE A ESCRAVIDÃO CRIOU

Por José João Souza

O Brasil é um país doente, patologicamente doente pelo ódio de classe. O ódio ao pobre. O povo brasileiro nunca assumiu a autocrítica de que somos filhos da escravidão, com todas as doenças que a escravidão traz: a desigualdade, a humilhação, o prazer na humilhação diante dos mais frágeis, o esquecimento e o abandono da maior parte da população. 

 polícia mata pobres indiscriminadamente, e faz isso porque a classe média e a elite aplaudem. O poder é a questão central de qualquer sociedade, durante vinte anos, Lampião varreu o sertão de sete Estados nordestinos, tornando-se um poder paralelo ao oficial. 

A vida de Lampião foi dotada de contradições, o que gerou representações múltiplas sobre o mesmo. Foram construídos sobre a sua imagem discursos, os quais o apresentam como bandido, justiceiro, facínora, sanguinário, estuprador, estrategista, paladino da justiça, etc. 

Cada representação elaborada sobre os cangaceiros vem carregada com os estigmas dos interesses dos vários grupos e setores sociais. Um importante espaço de construção de representações sobre Lampião foi a imprensa escrita, apesar de, nas suas notícias, representar a concepção da elite dominante, tentando passar imagens pejorativas sobre o cangaceiro, acabou atribuindo a Lampião o lugar de Rei do Cangaço, devido a sua ousadia, coragem e constantes fugas diante das estratégias das forças volantes.


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LAMPIÃO E O TENENTE CASACA PRETA


Do acervo do pesquisador José João Souza

O Sr. Augusto Gouveia residia em Recife e através dos jornais, lia as proezas de Lampião no Sertão. Achava ele que tudo aquilo era alarme dos jornais. O homem incutiu o desejo de ir ao Sertão, enfrentar o cangaceiro e seu bando. Para isso, apresentou-se ao Dr. Eurico de Souza Leão, chefe da Polícia de Pernambuco. Aquela autoridade estranhou aquele desejo, sabia que o homem estava mal informado a respeito de Lampião. 

Argumentava Augusto Gouveia:

- Quero mostrar que tiro a fama do furioso cangaceiro. 

Para a sua captura, só precisava de seis ou sete soldados, cada um com cinco cartuchos e um maço de cordas para amarrá-lo. Garantiu que o traria preso para o Recife. 

Dr. Eurico duvidou, achando aquilo inteiramente impossível. Procurou fazê-lo desistir da ideia tão absurda, inclusive disse que, ele era um civil sem conhecimento militar, principalmente das guerrilhas do Sertão, que retirasse do pensamento aquele desejo. 

Respondeu Augusto Gouveia que na realidade era um civil, sem conhecimento militar, mas queria mostrar que era homem e que vestia calça. Considerando a forte insistência do homem, o Dr. Eurico de Souza Leão resolveu mandá-lo para o Sertão. O Governo o comissionou no posto de Tenente, mandando-o apresentar-se ao Major Theophanes Torres, em Vila Bela (atual Serra Talhada), onde foi duramente aconselhado pelo Major a desistir dessa ilusão, inclusive disse que ele estava seriamente enganado com Lampião, que o mesmo não era de brincadeira. Nada fez o novo oficial desistir, passou então o Major Theophanes à sua disposição sete soldados e todo armamento exigido pelo homem. Por só usar calça marron e paletó preto, foi logo batizado por Casaca Preta, com esse apelido, ficou Augusto Gouveia conhecido no Sertão de Pernambuco. 


Através de informações, seguia o Tenente Casaca Preta e seus companheiros à procura de Lampião. Próximo ao distrito de Roças Velhas, no atual município de Calumbi, encontraram-se duas Forças, uma da cidade de Custódia, comandada pelo Sargento Maurício Vieira de Barros e outra da cidade de Flores, comandada pelo Sargento Wanderley, que vinha em perseguição aos bandidos. Entraram em palestra. Terminada a mesma o Sargento Wanderley despediu-se, dizendo que ia voltar para Flores, pelo mesmo caminho, que nada tinha a ver com Lampião. 

Seguiu o Sargento Maurício na trilha dos bandidos, ao chegar à Fazenda Barreiros, município de Vila Bela, avistaram distante, um homem dando com os braços. Por não saber de quem se tratava, a força ficou na expectativa. O homem vinha montado em burro, outros vinham armados, e a pé. Aproximou-se o referido homem do Sargento Maurício, perguntou pelos cangaceiros. Respondeu o Sargento Maurício que estavam por perto, apontou para o lado que os mesmos se encontravam. O homem vinha tão exaltado e revoltado que o Sargento Maurício, sem conhecê-lo, pasmou diante de tanta exaltação e revolta. Ficaram pensando de onde vinha aquele louco, comandando aquela Força. O Sargento Maurício perguntou com quem estava falando. O homem respondeu: 

- Está falando com o Tenente Augusto Gouveia (conhecido por Casaca Preta). 

O Sargento Maurício disse: 

- Seu Tenente Casaca preta se quiser brigar siga nessa direção, o senhor vai encontrar quem procura. 

Avançou Casaca Preta falou muito alto, ao depara-se com Lampião, dando voz de prisão, dizendo que não fizesse ação que ele estava de frente com o Tenente Augusto Gouveia (o famoso Casaca Preta). 

Lampião que nunca tinha visto aquilo, estranhou e disse: 

- Seu Casaca Preta da peste te prepara para correr, se você nunca viu homem, vai ver agora. Você é doido, mas na minha volta vai criar juízo, e já! 

Gritou Lampião para cabroeira: 

- Pega! Pega este Casaca Preta! Nas minhas costas, Casaca Preta não cria fama de valente! 

Nesse momento, a pipoqueira de tiro foi tão grande em cima de Casaca de Preta que o homem ficou desorientado sem saber para onde correr. Deixou a força sem comando, ardendo-se nas unhas de Lampião. O bravo Tenente, vendo a situação esbugalhou os olhos de forma que ficou completamente deformado. Jogou o burro nas águas de um açude existente. Os soldados gritavam: 

- Senhor Tenente, pegue o homem! Desenrole as cordas! Amarre o homem! Pegue o homem! 

Dentro do açude deixou o burro atolado, com todo equipamento, saiu nadando, molhado como um pinto. Os olhos em tempo de saltarem da caixa, fazendo medo a quem o visse; a sua fisionomia não era de gente deste mundo. O homem corria que nem bala pegava. O próprio Lampião foi quem saiu no encalço, gritando: 

- Não corra Casaca Preta! Não corra! Espera para brigar com Virgulino Ferreira! Escuta o golpe do rifle de Lampião! 

Na carreira que ia, mesmo sem freio, Casaca Preta entrou em uma casa pela porta da frente saindo por outra. Lampião, que vinha no seu faro, foi entrando na casa e virando tudo, pensando que o homem estivesse escondido dentro de casa. Como não encontrou, perguntou à dona da casa para onde ele tinha corrido. A mulher apontou para um lugar diferente. Seguiu Lampião, não encontrando. Assim aquela mulher, salvou a vida do tenente. Quando a mulher disse que o homem havia saído correndo, Lampião disse: 

- Homem não, um cabra safado. 

Lampião gritava que tinha tirado e acabado com a mandinga e o catimbó de Casaca Preta. O capote do famoso Tenente os cangaceiros conduziram pendurado na ponta de uma vara, fazendo a maior anarquia. Na carreira, o Tenente Casaca Preta foi sair em Vila Bela de onde voltou para o Recife

Do livro: Memória de um Soldado de Volante
De: João Gomes de Lira
Fotografia do site: Farol de Notícias.
Na foto, Casa da Fazenda Barreiros do Coronel Manoel Pereira Lima, na porta o furo da bala que tinha como alvo o tenente Casaca Preta.

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