Do acervo do pesquisador José João Souza
O Sr. Augusto
Gouveia residia em Recife e através dos jornais, lia as proezas de Lampião no
Sertão. Achava ele que tudo aquilo era alarme dos jornais. O homem incutiu o
desejo de ir ao Sertão, enfrentar o cangaceiro e seu bando. Para isso,
apresentou-se ao Dr. Eurico de Souza Leão, chefe da Polícia de Pernambuco.
Aquela autoridade estranhou aquele desejo, sabia que o homem estava mal
informado a respeito de Lampião.
Argumentava Augusto Gouveia:
- Quero mostrar que
tiro a fama do furioso cangaceiro.
Para a sua captura, só precisava de seis ou
sete soldados, cada um com cinco cartuchos e um maço de cordas para amarrá-lo.
Garantiu que o traria preso para o Recife.
Dr. Eurico duvidou, achando aquilo
inteiramente impossível. Procurou fazê-lo desistir da ideia tão absurda,
inclusive disse que, ele era um civil sem conhecimento militar, principalmente
das guerrilhas do Sertão, que retirasse do pensamento aquele desejo.
Respondeu
Augusto Gouveia que na realidade era um civil, sem conhecimento militar, mas
queria mostrar que era homem e que vestia calça. Considerando a forte
insistência do homem, o Dr. Eurico de Souza Leão resolveu mandá-lo para o
Sertão. O Governo o comissionou no posto de Tenente, mandando-o apresentar-se
ao Major Theophanes Torres, em Vila Bela (atual Serra Talhada), onde foi
duramente aconselhado pelo Major a desistir dessa ilusão, inclusive disse que
ele estava seriamente enganado com Lampião, que o mesmo não era de brincadeira.
Nada fez o novo oficial desistir, passou então o Major Theophanes à sua disposição
sete soldados e todo armamento exigido pelo homem. Por só usar calça marron e
paletó preto, foi logo batizado por Casaca Preta, com esse apelido, ficou
Augusto Gouveia conhecido no Sertão de Pernambuco.
Através de informações,
seguia o Tenente Casaca Preta e seus companheiros à procura de Lampião. Próximo
ao distrito de Roças Velhas, no atual município de Calumbi, encontraram-se duas
Forças, uma da cidade de Custódia, comandada pelo Sargento Maurício Vieira de
Barros e outra da cidade de Flores, comandada pelo Sargento Wanderley, que
vinha em perseguição aos bandidos. Entraram em palestra. Terminada a mesma o
Sargento Wanderley despediu-se, dizendo que ia voltar para Flores, pelo mesmo
caminho, que nada tinha a ver com Lampião.
Seguiu o Sargento Maurício na trilha
dos bandidos, ao chegar à Fazenda Barreiros, município de Vila Bela, avistaram
distante, um homem dando com os braços. Por não saber de quem se tratava, a
força ficou na expectativa. O homem vinha montado em burro, outros vinham
armados, e a pé. Aproximou-se o referido homem do Sargento Maurício, perguntou
pelos cangaceiros. Respondeu o Sargento Maurício que estavam por perto, apontou
para o lado que os mesmos se encontravam. O homem vinha tão exaltado e
revoltado que o Sargento Maurício, sem conhecê-lo, pasmou diante de tanta
exaltação e revolta. Ficaram pensando de onde vinha aquele louco, comandando
aquela Força. O Sargento Maurício perguntou com quem estava falando. O homem
respondeu:
- Está falando com o Tenente Augusto Gouveia (conhecido por Casaca
Preta).
O Sargento Maurício disse:
- Seu Tenente Casaca preta se quiser brigar
siga nessa direção, o senhor vai encontrar quem procura.
Avançou Casaca Preta falou muito alto, ao depara-se com Lampião, dando voz de prisão, dizendo que
não fizesse ação que ele estava de frente com o Tenente Augusto Gouveia (o
famoso Casaca Preta).
Lampião que nunca tinha visto aquilo, estranhou e disse:
- Seu Casaca Preta da peste te prepara para correr, se você nunca viu homem, vai
ver agora. Você é doido, mas na minha volta vai criar juízo, e já!
Gritou
Lampião para cabroeira:
- Pega! Pega este Casaca Preta! Nas minhas costas, Casaca
Preta não cria fama de valente!
Nesse momento, a pipoqueira de tiro foi tão
grande em cima de Casaca de Preta que o homem ficou desorientado sem saber para
onde correr. Deixou a força sem comando, ardendo-se nas unhas de Lampião. O
bravo Tenente, vendo a situação esbugalhou os olhos de forma que ficou
completamente deformado. Jogou o burro nas águas de um açude existente. Os
soldados gritavam:
- Senhor Tenente, pegue o homem! Desenrole as cordas! Amarre o
homem! Pegue o homem!
Dentro do açude deixou o burro atolado, com todo
equipamento, saiu nadando, molhado como um pinto. Os olhos em tempo de saltarem
da caixa, fazendo medo a quem o visse; a sua fisionomia não era de gente deste
mundo. O homem corria que nem bala pegava. O próprio Lampião foi quem saiu no
encalço, gritando:
- Não corra Casaca Preta! Não corra! Espera para brigar com
Virgulino Ferreira! Escuta o golpe do rifle de Lampião!
Na carreira que ia,
mesmo sem freio, Casaca Preta entrou em uma casa pela porta da frente saindo
por outra. Lampião, que vinha no seu faro, foi entrando na casa e virando tudo,
pensando que o homem estivesse escondido dentro de casa. Como não encontrou, perguntou
à dona da casa para onde ele tinha corrido. A mulher apontou para um lugar
diferente. Seguiu Lampião, não encontrando. Assim aquela mulher, salvou a vida
do tenente. Quando a mulher disse que o homem havia saído correndo, Lampião
disse:
- Homem não, um cabra safado.
Lampião gritava que tinha tirado e acabado
com a mandinga e o catimbó de Casaca Preta. O capote do famoso Tenente os
cangaceiros conduziram pendurado na ponta de uma vara, fazendo a maior
anarquia. Na carreira, o Tenente Casaca Preta foi sair em Vila Bela de onde
voltou para o Recife
Do livro:
Memória de um Soldado de Volante
De: João Gomes de Lira
Fotografia do
site: Farol de Notícias.
Na foto, Casa da Fazenda Barreiros do Coronel Manoel Pereira Lima, na porta o
furo da bala que tinha como alvo o tenente Casaca Preta.
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