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quinta-feira, 5 de novembro de 2020

LIVROS SOBRE CANGAÇO É COM O PROFESSOR PEREIRA

 

Entre em contato com o professor Pereira lá de Cajazeiras no Estado da Paraíba através deste e-mail:

franpelima@bol.com.br

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15 DE JUNHO DE 1927: PASSAGEM DE LAMPIÃO EM LIMOEIRO DO NORTE (ENTREVISTA)

 Por Alex Chaves Monteiro

https://www.youtube.com/watch?v=dQaha7poED4&ab_channel=AlexChavesMonteiro

Algumas das melhores fotos que se tem do bando de Lampião foi tirada em Limoeiro, na frente de uma farmácia, de frente para a igreja. Conforme o professor Irajá Pinheiro, quem fotografou foi um homem chamado Francisco Ribeiro. "Ele bateu a foto e pegou a bicicleta para revelar em Mossoró". 

Nessa cidade potiguar, cada um da foto foi reconhecido pelo cangaceiro Jararaca, aprisionado pelos mossoroenses durante a batalha em Mossoró. Até os reféns do bando estão no registro fotográfico. Virgulino Ferreira da Silva, o "Lampião", teria sido morto em 1938 (há quem fale em 1939), 11 anos após sua passagem por Limoeiro. Em Anjicos, o cangaceiro foi pego de surpresa e decapitado, juntamente com o seu bando. 

O bandido ou herói virou, reconhecidamente, mito. "Costumo dizer que Lampião foi um homem que tomou a decisão de ser cangaceiro e arcou com todas as conseqüências até o fim sem meias palavras, sem meios gestos", define Angirlene Lima (estudante do curso de História da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos - Fafidam).

https://www.youtube.com/watch?v=dQaha7poED4&ab_channel=AlexChavesMonteiro

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LAMPIÃO E O CANGAÇO

Por Aderbal Nogueira

Lampião e o Cangaço Esse vídeo foi feito para exibição em um evento e agora estou postando aqui no Youtube. Portanto, os amigos que me acompanham aqui no canal já devem conhecer muito bem essa história do cangaço. É um resumo bem sucinto da vida de Lampião. 

https://www.youtube.com/watch?v=xnyY_hqA8t8&ab_channel=AderbalNogueira-Canga%C3%A7o

Link desse vídeo: https://youtu.be/xnyY_hqA8t8

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O MORTO MATA DOIS.

 João Filho de Paula Pessoa

Em Fevereiro de 1901, Antônio Silvino estava arranchado com seu bando numa fazenda chamada Pedreira, no Estado do Rio Grande do Norte, quando foram atacados subitamente por uma tropa de policiais e civis, que abateu de imediato, o valente Pilão Deitado, e seguiram com uma ferrenha artilharia sobre todo o bando, que surpreendido, se dispersou por completo numa desorientada fuga. 

Antônio Silvino correu sozinho sob uma saraivada de balas e ao se deparar com uma parede de um açude, caiu e se fez de morto, dois soldados, que acreditaram que o tinham abatido, correram para junto dele para despoja-lo e assim que pegaram em seus bornais foram atingidos por tiros efetuados por aquele suposto defunto, caindo mortos os dois soldados. Antônio Silvino levantou-se rapidamente e prosseguiu correndo em fuga, sob outro forte tiroteio que recomeçara sobre ele, mas conseguiu se desviar dos tiros e escapar, juntando-se à uns poucos cangaceiros do seu bando que encontrou, e somente mais à frente reagrupou o bando com os que escaparam, pois outros componentes do grupo seguiram desgarrados e foram abatidos algum tempo depois ao serem encontrados ou denunciados por moradores, tendo Antônio Silvino perdido a média de oito cangaceiros de seu bando neste combate. 

João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce. 29/10/2020.

Assista em Conto narrado em vídeo - https://youtu.be/DofdOaDc11Q

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste

DEMOROU... MAS CHEGOU.

Por Geraldo Antônio De Souza Júnior 

Foram anos de trabalho e dedicação para alcançar essa premiação do YouTube em comemoração ao alcance de 100.000 (Cem mil) inscritos no canal Cangaçologia.

Atualmente o canal CANGAÇOLOGIA conta com 128.000 mil inscritos e a cada dia que passa vem crescendo e ganhando espaço dentro da plataforma e o melhor... tratando único e exclusivamente do tema cangaço, algo que não tem sido fácil e que tenho conseguido conquistar graças aos nossos esforços, criatividade e principalmente com a colaboração dos amigos que tem colaborado para o crescimento e engrandecimento do nosso canal... isso mesmo... nosso canal, pois sem vocês nada disso teria sido possível e não teríamos chegado onde chegamos.

Em um momento tão difícil que todos nós estamos passando, receber uma premiação (Reconhecimento) como essa nos dá novo ânimo e forças para seguir adiante.

Acredito que logo teremos uma outra grande novidade, que caso se concretize, estarei informando em primeira-mão em nossos canais.

Para finalizar quero agradecer imensamente e espero continuar contando sempre com o apoio e amizade de TODOS vocês.

Valeu... Cabroeira de primeira grandeza.

Rumo a 1.000.000.

Forte abraço a todos.

https://www.facebook.com/photo?fbid=1563557963808094&set=gm.3073954489328170

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A EX-CANGACEIRA “SILA” E, A FALTA DÁGUA..!.. O USO DO MIOLO DO XIQUE-XIQUE.

 Por Volta Seca

Foto do pesquisador e cineasta do cangaço Aderbal Nogueira

A falta de água nas caatingas sertanejas era uma constante na vida dos cangaceiros e policiais... Para sobrevivência, utilizavam plantas nativas, a exemplo do XIQUE-XIQUE, e, outras... O miolo da planta, também era comestível, pois em sua composição apresenta, água, sais minerais... etc...

Na foto acima, a cangaceira SILA, mostra, como tirava com um facão, os espinhos da planta, e, comiam, o miolo.

https://www.facebook.com/photo?fbid=840589032809739&set=gm.1858629477770537

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FEITIÇOS, AMORES E OUTRAS MAGIAS

 *Rangel Alves da Costa

Jurou que não amaria mais ninguém, mas de repente se viu misteriosamente atraída por alguém que jamais imaginaria lançar nem um tiquinho de amoroso olhar. Depois soube que o tal rapaz havia encomendado um “serviço de atração amorosa”. Já era tarde demais, pois, apaixonada, se entregou.

De hora pra outra sentiu tudo mudar. Não tinha fome, uma vontade danada de chorar, então resolver se aconselhar com o velho rezador, que para muitos não passava de feiticeiro. E logo ouviu que seu problema não era de saúde ou de qualquer outra coisa, mas espiritual. E mais: o espírito desejava um macho em sua vida!

Histórias assim acontecem além da conta. Gente que leva calcinha roubada em varal, retrato tirado às escondidas, fios de cabelos, nomes e corações desenhados em papel de feira, e tudo para ser colocado no alguidar da vela preta. Tudo feitiço.

Entretanto, não é somente a mandinga que serve para atrair, prender, ou fazer reverter o invertido, ou como simples promessa de tudo isso. Na verdade, há um tipo de magia que passa a interferir na pessoa sem que a mesma tenha passado perto de um terreiro. É o feitiço oculto, aquele dos desejos normalmente aflorados.

Não adianta dizer que não vai mais amar, que desistiu de compartilhar abraços e beijos, de ser do outro mais que de si mesmo. Não adianta porque em certas coisas a pessoa não manda, não tem suficiente poder para dizer que não, que não vai mais fazer.

Há feitiço em tudo. O coração mesmo depõe contra a pessoa. Tudo se faz para não se envolver, para dizer não, para evitar esse primeiro gole de paixão, mas não haverá jeito. O coração é bruxo e traiçoeiro, age ocultamente e quando a pessoa percebe já está no caldeirão dos perdidos.

Mas eu amei e me arrependi, pois sofri demais. Assim se diz. Contudo, não vai muito e a mandinga já está preparada. E a pessoa passa a se envolver como se nada tivesse dito. E o pior que se entregando total e cegamente àquilo que tanto desejou evitar. E por amor, e por amar, enfrenta tudo, até o sofrimento e a dor.

O feitiço está em tudo. Melhor não dizer que desta água não beberei ou que os meus passos jamais caminharão por esta estrada. Evita-se ao máximo, tudo faz para cumprir o prometido. Mas de repente a mandinga do acaso ou a bruxaria do desejo escondido novamente ataca.

E não adianta se benzer, tomar banho com sal grosso, borrifar-se de água benta, sair com Bíblia debaixo do braço ou com santo na ponta da língua. Tudo acontece como encantamento, como cegueira, como coisa do outro mundo. De repente a pessoa estará nos braços da perdição.

Em tudo há um feitiço atiçando e desnorteando a vida. Eu não queria, mas... Fiz tudo para evitar, mas não houve jeito... Apenas experimentei, mas não queria que fosse assim... Minha força fraquejou ante o pecado e então pequei... Assim acontece. Tudo como se o livre-arbítrio despudoradamente ocultado fosse a chave para a inversão.

Ora, o corpo em si já é um caldeirão de enfeitiçamento. O corpo é fascínio, é encanto, é sedução. O corpo é chama que queima além da medida e braseiro que chameja ainda que esteja em cinzas. E possui duplo significado: o da provocação e o da atração.

O feitiço está nos dois, tanto na provocação como na atração. Ao provocar, desata os laços desconhecidos do outro e já não pode dizer que não tem culpa pelo que venha acontecer. Ao atrair, eis que chama para si as consequências tanto do se permitir como do desejo do outro. Um jogo perigoso demais, vez que mais forte que o feitiço é a cegueira da possessão.

Não brinque com coisa séria, então. Lute com todas as forças do mundo para que nem enfeitice nem seja enfeitiçado. Uma simples atitude, como uma roupa curta demais ou um erotismo exagerado no andar, pode ser aquilo que o feitiço tanto esteja esperando.

Ninguém está livre do mal ou da maldade, uma verdade. Contudo, quem brinca com fogo se queima, quem anda nu pode sentir frio, quem sai na escuridão pode encontrar o indesejado. Os olhos estão vendo, as mãos querem tocar, as lascívias querem satisfazer seus instintos pecaminosos.

Use um amuleto. Sim, use um amuleto. Use um patuá, um talismã, uma pedra sagrada. Coisa do outro mundo, sobrenatural, difícil de encontrar? Não. De jeito nenhum. Nenhum talismã é mais forte que a força própria, que o desejo próprio, que a certeza de saber o que faz e o que deseja com cada ação.

Pronto. Está salvo. Até que abra a porta e sinta um diferente fascínio por viver, por amar, por ser feliz. Mas já não será feitiço, e sim o encantamento de um coração que coerentemente desperta para viver, amar e ser feliz. 
 

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

DURVINHA E MORENO EM 1936

Por Bruno Yacub Sampaio Cabral
 Durvinha e Moreno, 1936

Por volta de 1939, fugindo de Tacaratu, em Pernambuco, os cangaceiros Moreno (Antônio Inácio da Silva), sua companheira Durvinha (Durvalina Gomes de Sá) e o cabra João Garrincha, depois de uma estafante caminhada, chegaram a Brejo Santo, onde esperaram o anoitecer para poderem se aproximar da casa do pai de Moreno, localizada na Rua do Juá (Rua Tiburtino Inácio), o trecho, na altura do Clube das Mães, temendo uma emboscada. Com o escurecer, Moreno se dirigiu a casa do progenitor e bateu na porta. De dentro da residência soou uma indagada voz:

- Quem é que está batendo na porta?

- É Antônio, pai!

O velho Manoel Inácio da Silva abriu a porta, se abraçou com o filho, o abençoando. Depois de conversarem por alguns minutos os cangaceiros se dirigiram para outro local onde foram procurar uma dormida, longe dos casebres, na solidão da mata, na segurança do cobertor negro espalhado pela noite fria.

Um dos amigos de Moreno, um rapaz chamado Francisco, morador da famosa Rua da Lama, pediu pra acompanhar Moreno. O cangaceiro armou o rapaz, com um mosquetão e o jovem sumiu antes do amanhecer, levando a arma.

No período de tempo em que Moreno permaneceu em Brejo Santo, cometeu uma série de atrocidades, destacando-se a mais infanda, aquela em que um homem e uma mulher, moradores do Sítio “Imbuzeiro”, acusados de delação, foram, em represália, seviciados com requintes de perversidade. A mulher tivera a ponta da língua cortada com punhal, enquanto o homem fora castrado.

Enquanto isso, o então Interventor Municipal, José Matias Sampaio, recebera comunicado do Governo Estadual, o interventor Menezes Pimentel, orientando-o a construir um campo de aviação para receber o Chefe de Polícia e Segurança Publica.

Autoridades e curiosos foram assistir a chegada do primeiro avião em Brejo Santo. Entre eles, o menino Edmar Alves de Lucena e seu pai, Heráclito Alves de Moura (de terno escuro, logo atrás). Foto: acervo de Edmar Alves de Lucena.

O “aeroporto” fora construído no Sítio Capoeiro, região entre os Sítios Pau D’arco e Malhada do Boi. Para a terraplanagem daquele “aeroporto” foram contratados centenas de trabalhadores, tarefa executada em tempo recorde, tendo sido toda custeada pelos cofres municipais.

O Secretário de Polícia e Segurança Publica o capitão Cordeiro Neto viria supervisionar os trabalhos do Comandante da tropa dos duzentos soldados, que para cá vieram para capturar o cangaceiro Moreno.

Notícia do jornal Diário de Notícias (RJ), de 30 de junho de 1939.

O comandante Cel. Antônio de Oliveira, conhecido por Antônio das Coans, contava com a atuação policial competente do subtenente Alfredo Dias que, por sua vez, tinha para executar tarefas, no sentido do aprisionamento de Moreno, e de sua total confiança, os sargentos Germano e Arnou.

O sargento Arnou consegue chegar ao Sr. Pedro Antônio, portador de uma carta de Moreno a um fazendeiro, em cuja carta solicitava ajuda financeira, mas jamais aqueles soldados, sargentos, tenente, comandante conseguiriam prender Moreno, que conseguiu fugir para outras terras.

Toda perseguição a Moreno se dava apenas na zona leste da cidade, hoje o Bairro São Francisco, naturalmente, por aquela parte da cidade residir os pais e tios de Moreno.

Pois bem, o delegado da cidade soube rápido da chegada dos cangaceiros e enviou alguns soldados para a captura de Moreno. Os combatentes cercaram a casa de Manoel Inácio. Um dos guarnecedores se aproximou e foi dar uma volta nos arredores da residência, na intenção de ver se encontrava com Moreno. Ofuscado pela escuridão, outro soldado que fazia o cerco, viu na hora em que uma figura armada se aproximou da frente da casa e imaginando ser Moreno, disparou o mosquetão. O homem caiu. Atordoado pelo barulho do tiro, Manoel Inácio acordou, acendeu a lamparina e saiu gritando:

No meio da confusão, pela claridade difusa da lamparina, Manoel Inácio constatou que o morto não era seu filho. O soldado que havia realizado o disparo correu para averiguar a presa abatida e tamanha surpresa, chorou a tragédia onde tombara um dos amigos de farda e por esse crime, na ânsia de tornar-se herói, teria que prestar contas como afoito e bisonho, ofuscado pela noite, sendo traído por seus reflexos de guerrilheiro.

O policial morto pelo “fogo amigo” tratava-se do soldado Oliveira e este namorava Geralda Simplício, Professora da cidade.

Ao amanhecer, Moreno se dirigiu a cidade, encontrando no caminho, com um colega que havia estudado com ele. O amigo relatou o que tinha acontecido na noite anterior, pedindo para que ele não seguisse na direção da casa do pai, pois corria o risco de ser morto ou preso e, ainda, por seu pai já ter saído da cidade, temendo represálias por parte da polícia. Moreno então agradeceu a informação e ganhou as caatingas, retornando “pras Alagoas”.

ASSISTA O DOCUMENTÁRIO OS ÚLTIMOS CANGACEIROS

Dedicamos esse artigo aos filhos e demais descendentes de Moreno e Durvinha, em especial a querida amiga Nely Maria da Conceição (Lili) e aos parentes em Brejo Santo.

O Brejo é Isso!

Bruno Yacub Sampaio Cabral

Referência Bibliográfica

- LIMA, João de Sousa; Moreno e Durvinha, Sangue, amor e fuga no cangaço; Editora Fonte Viva; Paulo Afonso – BA; 2007;

MACÊDO, Lenira; Juarez: Questão de honra, coragem e missão; Expressão Gráfica Editora; Brejo Santo – CE; 2009;

- ARAÚJO, Francisco Alves; Veredas do chão nativo; Brejo Santo – CE; 2003;

- SILVA, Otacílio Anselmo; Esboço Histórico do Município de Brejo Santo; em Itaytera, N° 2; Crato – CE; 1956;

- Jornal Diário de Notícias; Anno X; N° 5114; Rio de Janeiro (RJ), 30 de junho de 1939; pág. 2.

 https://amunganga.blogspot.com/2020/02/1939-o-cangaceiro-moreno-em-brejo-santo.html

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CORONEL SIMPLÍCIO PEREIRA DA SILVA E O MASSACRE DOS INDÍGENAS DA CANABRAVA

A alvorada entre as Serras da Canabrava,
à esquerda, e a do Poço, à direita.
Foto: Gui Vieira/ Plancus Photography.

Este texto tem como base os relatos contados por Helvécio Neves Feitosa e Venício Feitosa Neves, em A Raposa do Pajeú, págs. 102 a 106, lançado em 2018.

Cariri é a denominação da principal família de línguas indígenas do sertão do Nordeste do Brasil, estando hoje extinta. Algumas vezes caímos no erro ao afirmar que somente existem familiares de tais nativos na região, mas isto não é correto, pois viviam aqui tribos Gê, Tupi, Fulniõ, Taraririú, Caraíba, Quixeréu, Cariú, Cariuané, Calabaça, Icozinho e outras mais. Na maioria das vezes esses grupos entravam em conflitos entre si. Historicamente, os grupos indígenas da região aparecem denominados de modo genérico como Tapuias, podendo ser vinculados ao tronco linguístico Macro-Jê. Não podemos esquecer que estes indígenas eram nômades, estando situados nos melhores sítios, nos lugares mais férteis, e ficavam até o momento em que era favorável para sua sobrevivência. 

Segundo Thomaz Pompeu Sobrinho, os povos originários conhecidos por Cariris, chegaram ao sul do Ceará entre os séculos IX e X, pois diversas tribos dessa nação habitavam uma vasta área entre a margem esquerda do Rio São Francisco e as vertentes das serras do Araripe e da Ibiapaba, esses últimos, lugares de abundância de caça, de pesca e de frutos, além de incontáveis nascentes que proporcionavam água farta. Esses indígenas, como alguns outros povos que primitivamente habitavam a região sul do Ceará, embora se registre serem relativamente hostis, não puderam impor a sua supremacia diante do homem branco usando os óbvios meios de que esse dispunha para enfrentá-los. 

Apesar do sistema de colonização aplicado no sul do Ceará seguir o padrão utilizado no restante do País, algumas variantes aqui implementadas foram decisivas para que hoje não disponhamos de muita informação sobre esse povo. É que, diferentemente, do que se praticou noutros lugares, aqui, a missão catequética dos capuchinos não dispensava o mesmo rigor de registro que os jesuítas exerciam com perícia. De qualquer forma, a colonização da cruz e da espada adotada pelos portugueses não contemplava a convivência da cultura dos indígenas com a que trouxeram os colonizadores. De fato, todo o esforço despendido visava tão somente apossar-se da terra e ter à sua disposição mão de obra farta e barata. Daí a insatisfação dos índios que viram ser extirpados de si todos os seus valores culturais, suas crenças e a própria terra em que viviam desde tempos imemoriais.

Não diferente de outros autores do século XIX e XX, que se referem aos índios somente na “gênese” das sociedades, o momento em que os colonos invadem a região e subjugam os nativos, esses se tornando aldeados, e assim sumindo das páginas da história oficial, ignorando-os, como se eles existissem somente no passado.

Do outro lado, as dos colonizadores, destacamos o personagem, o Capitão (e depois Tenente-Coronel da Guarda Nacional) Simplício Pereira da Silva, figura lendária no sertão pernambucano. O capitão Simplício, também conhecido entre os desafetos pela alcunha de “Peinha de Mão” (uma referência à sua baixa estatura), participou de todas as lutas importantes da época em que viveu (primeira metade do século XIX), na Ribeira do Pajeú de Flores e no Cariri cearense. Foi o Senhor absoluto de “famosas legendas guerreiras e árbitro da elegância beliciosa de seu tempo”.

Não há registro de nenhuma rebelião, de nenhuma luta famosa em sua época, da qual o capitão Simplício Pereira não tenha tomado parte, a começar pelas brigas em sua fazenda Cachoeira, com os índios Mináus, Xocós ou Cariris.

Além do enfrentamento com os indígenas, em lutas de aldeamento e de ocupação de terras, Simplício Pereira entrou firme na política rude de seu tempo. Comandou um bando de cabras do Pajeú, contra o coronel de milícias Joaquim Pinto Madeira, caudilho caririense, protagonista da famosa “Guerra de Pinto Madeira”, conhecido como o homem da Coluna e do Altar, que sonhou, um dia, restaurar D. Pedro I ao trono. Em sua atividade guerreira, o capitão Simplício teve papel decisivo no desencantamento dos fanáticos sebastianistas da Pedra do Reino, em 1838, movimento messiânico. Dez anos depois, voltou a colocar suas invictas táticas guerreiras nas localidades pernambucanas de Flores e na Serra Negra, no combate a Francisco Barbosa Nogueira Paz e seus seguidores, conflito vinculado aos desdobramentos políticos, para o Pajeú de Flores, da Rebelião Praieira, que estava acontecendo em Recife.

Pois bem, a serra da Canabrava, hoje se divide entre os distritos do Poço, em Brejo Santo, e da Palestina, em Mauriti, Ceará. Aquelas terras pertenciam a Pedro Martins de Morais, neto do capitão Bartolomeu Martins de Morais. Assim como o avô, Pedro Martins foi poderoso daquelas plagas, possuidor de muitas terras e avantajados haveres. No sertão do Brasil arcaico, era aferida a riqueza do fazendeiro pelo número de cabeças de gado contadas nos rebanhos nos limites da fazenda.

Pé da Serra da Canabrava,
vista do distrito de Palestina, Mauriti.
Foto: Otacian Jacó/ Blog Mauriti em Destaque.

Pé da Serra da Canabrava,
vista do distrito de Palestina, Mauriti.
Foto: Otacian Jacó/ Blog Mauriti em Destaque.

Pé da Serra da Canabrava,
vista do distrito de Palestina, Mauriti.
Foto: Otacian Jacó/ Blog Mauriti em Destaque.

Havia na Canabrava, um verdadeiro refúgio para os povos originários restantes e remanescentes de mais de século de perseguição de inúmeros sertanistas, dentre eles, o Cel. Simplício.

No ano de 1833, uma horda de indígenas fugidos, perambulando pelas estradas, roubava de assalto aos transeuntes, invadindo lares e incendiando os pastos – a preciosa forragem para os animais de uso comum e diário – provocando o pavor no ânimo daquela gente, que vivia naqueles rincões ermos, totalmente desprevenidos de defesa.

Praticantes do canibalismo, trucidavam os vaqueiros quando da lide costumeira de sol a sol, não poupando caçadores de uruçús, preás e mocós, pobres e inermes, que lutavam pela preservação da vida. Estes índios agrilhoavam os infelizes vaqueiros e caçadores em cipós de absoluta consistência, verdadeiras cordas de resistência, dos pés a cabeça, fazendo-os aprisionados em estado de absoluta imobilidade. Após o aprisionamento selvagem, colocavam-nos em jiraus ou muquéns e ateavam fogo sob o corpo das vítimas, que eram consumidas em chamas vorazes e aterradoras, em macabro festival antropofágico. A seguir, saciados de vingança, transformaram o crânio das vítimas em taças de liberações estonteantes, preparadas previamente. 

“Crescia vertiginosamente, dia a dia, o número de suplicantes, alastrando-se, sertão afora, as notícias repugnantes do reduto de índios sedentos de sangue e fautores de tanta desumanidade e desonra.” COSTA, F.A. Pereira da. Anais pernambucanos. 1795-1817. Recife: Arquivo Público estadual, v.7, 1987.

A numerosa família Pereira, sendo atingida por aqueles danos, tendo a aldeia aprisionado vaqueiros, causando-lhes morte imediata, organizou uma bandeira composta de homens escolhidos para rechaçar o núcleo sinistro, causador de tantas mortes.

O grupo bem municiado dirigiu-se com as precauções necessárias contra tocaias em caminhos inacessíveis, para o local de homizio da aldeia sedenta de sangue. O assédio foi completo.

O ódio dos parentes das vítimas estava sequioso por vingança; “o despeito chegara ao último lance da tolerância: era necessário, indispensável, agir; impunha-se aquele extermínio”.

Ao grupo dos Pereiras, num apelo à coesão humana e à sobrevivência, veio se unir uma turba de homens armados, para investir contra o habitat dos indígenas, pactuados com o demônio, como era voz corrente.

“Travou-se luta formidanda e encarniçada”, afirmou Abelardo Parreira, em Sertanejos e Cangaceiros, 1934.

Os indígenas foram sitiados por todos os lados, e sem o recurso supremo da fuga, exaustos da resistência que opuseram improficuamente, desiguais em armas, foram derrotados, sendo imediatamente trucidados, não escapando as próprias indígenas.

Os audaciosos sertanejos, engalfinhados na luta corporal, embora com armas desiguais, não saíram imunes de perdas e ferimentos. Numa das investidas à arma de calibre contra os caboclos-brabos, o fazendeiro Manoel Gomes Pereira foi alvejado por uma flecha, sendo imediatamente retirado do local numa tipóia, para longe do teatro dos acontecimentos. Restabeleceu-se completamente depois. 

As crianças e menores, filhos dos indígenas, seriam poupados: havia uma espécie de convenio tácito entre os sertanejos a este respeito. Os caboclinhos ou indígenas novos, vendo o cerco em que se achavam envolvidos e ouvindo o estertor dos mortos, não dispondo de meios de defesa dos seus, começaram a morder os sertanejos e a imprecar desesperada e ferozmente contra os vencedores, gritando de modo tão insólito que, por sua vez, foram rechaçados e aprisionados depois de resistência demorada e febril.

Os pequenos indígenas, de nenhum modo se acomodaram à prisão, procurando, mesmo na condição de prisioneiros, molestar com pauladas e pedradas os vencedores. Estes, por mais que envidassem esforços para contê-los, já estavam exaustos, meio reduzidos à inação e desiludidos de amainar a fúria selvagem. Resolveram, então, não os poupar à carnificina.

O Brejo é Isso!

Por Bruno Yacub Sampaio Cabral


REFERÊNCIAS:

FEITOSA, Helvécio Neves; e NEVES, Venício Feitosa; A Raposa do Pajeú; Expressão Gráfica e Editora; Fortaleza; 2018.

FILHO, J. de Figueiredo; História do Cariri; Volume 1; Coleção Estudos e Pesquisas; Faculdade de Filosofia do Crato; 1966.

LORENA, Luiz; Serra Talhada 250 anos de História e 150 anos de Emancipação Política; 2ª edição; Desafio Arte e Gráfica; Serra Talhada; 2019.

MACÊDO, Heitor Feitosa; Sertões do Nordeste I Inhamuns e Cariris Novos; A Província Edições; Crato; 2015.

BATISTA, Célio Augusto Alves, e GUIMARÃES, Halley; Breve História dos Municípios do Cariri Cearense: Fatos e Dados; Inesp; Fortaleza; 2020. 

JÚNIOR, Ferreira; A macheza na sociedade sertaneja serra-talhadense: Origem, elementos constituintes e justificadores; Anais Eletrônicos do VI Colóquio De História - Issn 2176-9060.

SÁ, Giovanni Alves Duarte de; Compreendendo a construção de um ethos de poder familiar: o caso da oligarquia Pereira no interior de Pernambuco; Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 5, n. 2, dez. 2019 Dossiê Oligarquias do Nordeste no Brasil ISSN: 2447-5548.

ALEXANDRE, Caio Victor Semião; História do Cariri: um olhar sobre os indígenas da região, na obra de J. de Figueiredo Filho; Especialização em História do Brasil; Universidade Regional do Cariri; Crato; 2018.

LIMA, Francisco Augusto de Araújo; Siará Grande- Uma Província Portuguesa no Nordeste Oriental do Brasil; volume II página 652. - volume I pagina 313-Volume I, pagina 387 - volume IV pagina 1925-volume IV pagina 2111; Editora Premius; Fortaleza; 2001.

PARREIRA, Abelardo; Sertanejos e Cangaceiros; Editora Paulista; São Paulo; 1934.

COSTA, F.A. Pereira da. Anais pernambucanos. 1795-1817. Recife: Arquivo Público estadual, v.7, 1987.

https://amunganga.blogspot.com/2020/03/coronel-simplicio-pereira-da-silva-um.html - acessado em 24.10.2020, às 18h10min.

https://familiapereira.net.br/a-raposa-do-pajeu/ - acessado em 19.10.2020, às 19h48min.

http://araujo.eti.br/descend.asp?numPessoa=4341&dir=genxdir/ - acessado em 19.10.2020, às 18h54min.

http://mauritiemdestaque.blogspot.com/2015/04/pe-da-serra-da-canabrava-no-distrito-de.html - acessado em 24.10.2020, às 16h32min.
https://amunganga.blogspot.com/2020/10/coronel-simplicio-pereira-da-silva-e-o.html?fbclid=IwAR2MhVlPjx9Wk-hVtQt4FlrE5pnuNS8i-Oa4DII3mS8sw8xLlFZYXKyRtXc

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O CABELEIRA

 


Conheça o primeiro cangaceiro no nordeste brasileiro, quem o colocou no mundo do crime, quem era os seus pais, seus crimes juntamente com seu pai e seus comparsas. O Cabeleira é produto criminoso do sertão nordestino.

https://www.youtube.com/watch?v=fxFoNIUKX6A

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