Acervo do Antonio Correa Sobrinho
Assim
registrou o "Jornal de Recife", na edição de 21 de outubro de 1922, o
assassinato do coronel Luiz Gonzaga Gomes Ferraz:
É ASSASSINADO
EM BELMONTE, POR CANGACEIROS, O CORONEL LUIZ GONZAGA – AS DECLARAÇÕES QUE NOS
FEZ O SEU FILHO, JOSÉ GONZAGA GOMES FERRAZ
Infelizmente
não foram tomadas ainda, medidas eficazes, pelas quais se afastassem do
interior do Estado esses elementos de desordem que tanto nos infelicitam e
envergonham as instituições.
O cangaço
continua a ser nos longínquos sertões o veredito das pendências pessoais e às
vezes até das questões judiciárias.
Agora mesmo o
município de Belmonte acaba de sofrer uma incursão dos bandoleiros, perdendo a
vida, ingloriamente, o abastado fazendeiro e negociante, ali residente, coronel
Luiz Gonzaga Gomes Ferraz.
Segundo o que
ouvimos ontem, do seu filho que se acha nesta capital, o senhor José Gonzaga
Gomes Ferraz, o crime prende-se a uma velha inimizade que havia entre o seu pai
e Sebastião Pereira.
No decorrer do
ano passado o coronel Luiz Gonzaga foi vítima de um roubo, na importância de 6
a 8 contos de réis.
Atribuiu a
Sebastião Pereira, que acompanhado de cangaceiros invadiu as fazendas,
praticando toda sorte de crimes.
Desde então o
coronel Gonzaga começou a sofrer tenaz perseguição dos Pereiras, a ponto de ir
ali um oficial de polícia cearense, cometer arbitrariedades sem nome, dando-lhe
a paternidade das mesmas, a fim de o indispor com a população.
Esse ódio de
um ano irrompeu agora, feroz, vingador, resolvendo pelo trabuco, uma questão
que deveria ter a decisão da justiça.
Pela madrugada
de ontem, um grupo armado invadiu a cidade de Belmonte, praticando toda sorte
de misérias.
O grupo do
indivíduo Tiburtino Ignácio Lampião, obedecendo as ordens dos Pereiras,
representados por Ioiô Maroto, atacou a residência do coronel Luiz Gonzaga que
opôs resistência aos seus rancorosos inimigos.
Maiores em
número, os bandidos conseguiram entrar na casa da vítima, donde roubaram os
bens e destruíram as cousas que, na ocasião, não podiam conduzir.
Num requinte
de perversidade, assassinaram fria e barbaramente o referido coronel, dando
assim, expansão ao instinto de hediondez que os caracteriza.
É fácil
imaginar a impressão que esses fatos deixaram no espírito dos habitantes de
Belmonte.
O coronel Luiz
Gonzaga era casado com a exma. Senhora dona Martina Ferraz, de cujo consórcio
deixou 10 filhos, 6 homens e 4 mulheres.
Proprietário e
negociante há muitos anos, em Belmonte, o seu bárbaro assassinato consternou
extraordinariamente a população local.
- Sabemos que
o desembargador Silva Rego, chefe de polícia, ciente dos acontecimentos de
Belmonte, conferenciou com o governador do Estado e remeteu forças para ali,
procurando evitar novos fatos e punir os culpados.
Recebemos
ontem, de Belmonte, o seguinte despacho telegráfico sobre os fatos ocorridos:
“Cidade hoje
madrugada foi atacada grupo Tiburtino Ignácio Lampião, ordem, com certeza,
família Pereira, com maior responsabilidade Ioiô Maroto, residente este
município, inimigo coronel Luiz Gonzaga.
Opôs grande
resistência o referido coronel. Parte grupo entrou casa, roubaram destruíram
tudo e assassinaram com barbaridade coronel Luiz Gonzaga. Reina grande pesar
perda tão estimado cidadão” – Martina Ferraz, viúva Luiz Gonzaga”.
Imagens do
coronel Luiz Gonzaga (esquerda) e Ioiô Maroto, ambas extraídas do blog http://lampiaoaceso.blogspot.com, onde se lê a história
completa do trágico episódio do tempo do cangaço.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com