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domingo, 22 de dezembro de 2019

MORRE O CONTRABAIXO MAIS ELEGANTE DA BAHIA!


Acervo do pesquisador Guilherme Machado

O músico Ubirajara Penacho dos Reis conhecido como Bira faleceu hoje, aos 85 anos. Ele ficou conhecido por tocar baixo (e por suas risadas) no Sexteto do Jô, banda de jazz que acompanhava os programas de entrevista de Jô Soares.


Ubirajara Penacho dos Reis nasceu em Salvador no dia 5 de setembro de 1934 e faleceu hoje em São Paulo 22 de dezembro de 2019), mais conhecido como Bira, foi um músico brasileiro.

Tornou-se conhecido por tocar baixo elétrico no Sexteto do Jô, que se apresentava diariamente no Programa do Jô, sempre seguindo as piadas do apresentador com seu riso peculiar.

Equipamento

Foi endorser da fabricante de instrumentos musicais Tagima. Tinha um Tagima modelo Music Man de cor vermelho, o que mais usava, assim como seu Tagima modelo Jazz Bass cor Verde Abacate, fabricado antes do processo da Fender contra a Tagima, devido ao uso indevido de seus modelos.

Também utilizava chaves de fenda, rotativas e aparelhos de solda para realizar seus artifícios mecânicos.


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LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS

Autor José Bezerra Lima Irmão

Este livro contém: 736 Páginas
Tamanho: 28 centímetros
Largura: 20,5 centímetros
Altura: 4 centímetros
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franpelima@bol.com.br
Mastrângelo (Mazinho), baseado em Aracaju:
Tel.: (79)9878-5445 - (79)8814-8345
E-mail: lampiaoaraposadascaatingas@gmail.com
josebezerra@terra.com.br
É fantástica esta obra. Eu estou lendo e vale a pena você adquiri-la. É o rei Lampião com todos os seus ingredientes

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NOVO LIVRO NA PRAÇA "O PATRIARCA: CRISPIM PEREIRA DE ARAÚJO, IOIÔ MAROTO".


O livro "O Patriarca: Crispim Pereira de Araújo, Ioiô Maroto" de Venício Feitosa Neves será lançado em no próximo dia 4 de setembro as 20h durante o Encontro da Família Pereira em Serra Talhada.

A obra traz um conteúdo bem fundamentado de Genealogia da família Pereira do Pajeú e parte da família Feitosa dos Inhamuns.

Mas vem também, recheado de informações de Cangaço, Coronelismo, História local dos municípios de Serra Talhada, São José do Belmonte, São Francisco, Bom Nome, entre outros) e a tão badalada rixa entre Pereira e Carvalho, no vale do Pajeú.

O livro tem 710 páginas. 
Você já pode adquirir este lançamento com o Professor Pereira ao preço de R$ 85,00 (com frete incluso) Contato: franpelima@bol.com.br 
fplima1956@gmail.com

http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2016/08/novo-livro-na-praca_31.html

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“PAJEÚ EM CHAMAS: O CANGAÇO E OS PEREIRAS”


Recebi hoje do Francisco Pereira Lima (Professor Pereira) lá da cidade de Cajazeiras no Estado da Paraíba uma excelente obra com o título "PAJEÚ EM CHAMAS O CANGAÇO E OS PEREIRAS - Conversando com o Sinhô Pereira" de autoria do escritor Helvécio Neves Feitosa. Obrigado grande professor Pereira, estarei sempre a sua disposição.


O livro de sua autoria “Pajeú em Chamas: o Cangaço e os Pereiras”. A solenidade de lançamento aconteceu no Auditório da Escola Estadual de Educação profissional Joaquim Filomeno Noronha e contou com a participação de centenas de pessoas que ao final do evento adquiriram a publicação autografada. Na mesma ocasião, também foi lançado o livro “Sertões do Nordeste I”, obra de autoria do cratense Heitor Feitosa Macêdo, que é familiar de Helvécio Neves e tem profundas raízes com a família Feitosa de Parambu.

PAJEÚ EM CHAMAS 

Com 608 páginas, o trabalho literário conta a saga da família Pereira, cita importantes episódios da história do cangaço nordestino, desde as suas origens mais remotas, desvendando a vida de um mito deste mesmo cangaço, Sinhô Pereira e faz a genealogia de sua família a partir do seu avô, Crispim Pereira de Araújo ou Ioiô Maroto, primo e amigo do temível Sinhô Pereira.

A partir de uma encrenca surgida entre os Pereiras com uma outra família, os Carvalhos, foi então que o Pajeú entrou em chamas. Gerações sucessivas das duas famílias foram crescendo e pegando em armas.

Pajeú em Chamas: O Cangaço e os Pereiras põe a roda da história social do Nordeste brasileiro em movimento sobre homens rudes e valentes em meio às asperezas da caatinga, impondo uma justiça a seus modos, nos séculos XIX e XX.

Helvécio Neves Feitosa, autor dessa grande obra, nascido nos Inhamuns no Ceará, é médico, professor universitário e Doutor em Bioética pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (Portugal), além de poeta, escritor e folclorista. É bisneto de Antônio Cassiano Pereira da Silva, prefeito de São José do Belmonte em 1893 e dono da fazenda Baixio.

Sertões do Nordeste I

É o primeiro volume de uma série que trata dos Sertões do Nordeste. Procura analisar fatos relacionados à sociedade alocada no espaço em que se desenvolveu o ciclo econômico do gado, a partir de novas fontes, na maioria, inéditas.

Não se trata da monumentalização da história de matutos e sertanejos, mas da utilização de uma ótica sustentada em elementos esclarecedores capaz de descontrair algumas das versões oficiais acerca de determinados episódios perpassados nos rincões nordestinos.
Tentando se afastar do maniqueísmo e do preconceito para com o regional, o autor inicia seus estudos a partir de dois desses sertões, os Inhmauns e os Cariris Novos, no estado do Ceará, sendo que, ao longo de nove artigos, reunidos à feição de uma miscelânea, desenvolve importantes temas, tentando esclarecer alguns pontos intrincados da história dessa gente interiorana.

É ressaltado a importância da visão do sertão pelo sertanejo, sem a superficialidade e generalidade com que esta parte do território vem sendo freqüentemente interpretada pelos olhares alheios, tanto de suas próprias capitais quanto dos grandes centros econômicos do País.

Após a apresentação das obras literárias, a palavra foi facultada aos presentes, em seguida, houve a sessão de autógrafos dos autores.

Quem interessar adquirir esta obra é só entrar em contato com o professor Pereira através deste e-mail: franpelima@bol.com.br
Tudo é muito rápido, e ele entregará em qualquer parte do Brasil.

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O NATAL QUE TEMOS

Por Rangel Alves da |Costa

As imagens servem para exemplificar como o Natal vem se transformando ao longo dos anos. Os cartões postais (que praticamente não existem mais) mostravam os três reis magos seguindo a estrela-guia em direção ao local do nascimento do prometido. Noutra cena, o estábulo tendo uma manjedoura ao meio e o menino sendo visitado por bois, cavalos, aves, ovelhas e outros animais. Um cenário empobrecido, ladeado de capim seco, pedras, garranchos trazidos pela ventania. E ali José e Maria adorando e protegendo o pequenino. Neste sentido são as cenas retratadas nos presépios.
Deste nascimento é que vem o espírito natalino. Para a cristandade, tal espírito representa o advento, ou seja, o nascimento ou a vinda do menino Jesus, que outro não é senão o Deus encarnado. No Natal, pois, celebra-se a vinda do Messias como a grande esperança da humanidade. É a preparação dessa chegada, renovada a cada ano, que caracteriza o espírito natalino: um tempo de preparação, de reflexão, de renovação das esperanças. Mas sempre em obediência à simplicidade daquele estábulo, sua manjedoura e o menino nascido em tão humilde família.
Com o passar dos anos, e aquelas imagens permanecendo apenas nos cartões natalinos e nos presépios, o período natalino foi sendo transformado de tal modo que sua caracterização ficou por conta dos enfeites reluzentes, das luzes espalhadas por todo lugar, nos pisca-piscas e nos adornos cada vez mais tecnologizados. Arrefeceram o sentido religioso da celebração, transformaram um período de solene reflexão em algazarra consumista, transmudaram toda a simbologia natalina num festim desenfreado de gastos, troca de presentes, preparação de ceias suntuosas e brindes com importados.
Quando aqueles três reis magos (Belchior, Baltasar e Gaspar) se dirigiram à Belém para presentear o menino Jesus com ouro, incenso e mirra, e mais tarde as pessoas se contentavam em oferecer doces, frutas e presentes modestos aos parentes e amigos, jamais imaginariam a feição que tais lembranças foram tomando. Modernamente, presentear alguém com presente barato é correr sério risco de inimizade. Houve um tempo de sinceros agradecimentos ao receber um simples cartão natalino ou mesmo uma folhinha ou calendário, mas de repente ou se dá a marca, a grife ou a etiqueta ou sequer receberá ao menos um abraço.


E assim porque o Natal passou a ser tido como mero período de compras. As lojas se enfeitam de luzes e adornos não para relembrar o nascimento do menino, mas para chamar clientes. Muitas pessoas passam a frequentar as igrejas não porque estejam com a fé reanimada, mas para implorar recursos para a compra de muitos e alentados presentes. Os enfeites das ruas e avenidas nada têm de sagrado, mas apenas para atender aos anseios comerciais e as imagens das administrações. Para uma ideia do uso do Natal para outros fins, basta conhecer a decoração dos shoppings. Mais parece uma gigantesca árvore natalina, mas objetivando somente recordar que é preciso comprar - e comprar cada vez mais - para presentear os amigos.
Foi o consumismo - ao lado da pouca religiosidade do povo - que retirou do Natal o seu verdadeiro espírito, ou ainda o seu sentido de fraternidade, reflexão e humanitarismo. Ao invés de visitar um parente ou um enfermo, a pessoa geralmente prefere o caminho do shopping ou dos grandes centros comerciais E de lá sempre sai carregada de pacotes e embrulhos enfeitados, ainda que a conta do cartão deixe de ser paga já no começo do ano. Ninguém se reveste de realidade e afirma a si mesmo que dessa vez não pode comprar qualquer presente. Pelo contrário, se endivida como pode para satisfazer o ego e a vaidade. Do mesmo modo age em casa, quando enche a mesa pelo simples prazer de chamar uma vizinha para que assim a aviste.
Mas o que fazer agora, ante os tempos tão difíceis? Com toda população reclamando da crise, dos aumentos de tudo, da falta de dinheiro, do décimo-terceiro fatiado, da falta de qualquer perspectiva de melhoria financeira, então logo se imagina um refreamento do consumismo. E assim certamente será, mesmo que muita gente ainda insista em se endividar até o crédito acabar. Contudo, mesmo que forçadamente, grande parte da população haverá de se contentar com um Natal das vacas magras. Assim como aquela vaquinha ossuda ao lado da manjedoura. E será o começo do reencontro com aquele espírito natalidade imorredouro.
Serão estes tempos difíceis que farão com que o espírito natalino enfim retome um pouco de sua verdadeira feição. Sem a fartura da ceia, talvez as famílias reconheçam o valor de outro pão. Sem os presentes caríssimos, talvez as pessoas compreendam o valor de uma singela recordação. Sem tantos shoppings, centros comerciais e lojas em suas vidas, talvez as pessoas encontrem um tempinho para a igreja, para a eucaristia, para a oração. Sem uísque e champanhas importados, talvez muitos valorizem mais o diálogo sóbrio e fraternal.
O que talvez nunca mude são as esperanças de alguns. E que são tantos e por todo lugar: o menino pobre esperando que Papai Noel deixe qualquer presentinho na janela de seu barraco.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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O DIA EM QUE LAMPIÃO ASSALTOU CANSANÇÃO E FEZ JORRAR SANGUE EM QUEIMADAS


Antevéspera do Natal 1929. A data estigmatizou a vida de grande número de viventes de Cansanção e Queimadas. Não consta existir uma só alma viva para repassar a triste história. O último, seu João Gomes da Silva, o João Hipólito, neto do célebre Luiz da Silva Gomes Buraqueira, morreu em 2008.

Contou João Hipólito ao narrador deste texto que naquele nefasto dia deixara sua residência, em Cansanação, bem cedo. Levava na cabeça uma pilha de pindobas destinada a cobrir a barraca de uma tia que vivia da venda de café, quando avistou um ajuntamento de animais na porta do açougue. Julgou ser o velório de defunto desencarnado pela madrugada. Ao aproximar-se descobriu que Lampião acabara de invadir a vila à frente de vários cabras. Ali talvez antegozassem o produto da pilhagem.

Os cangaceiros convidam João Hipólito a tomar umas pingas. Recusar era uma afronta certamente respondida com no mínimo um par de chicotadas. Ou uma dúzia de bolos de palmatória. Aceitou entornar algumas doses apesar de estar em jejum e não ser dos melhores amigo da cachaça.

Em seguida João Hipólito foi convocado a acompanhar a quadrilha na viagem de caminhão com destino a Queimadas. Deu a entender que aceitaria, mas antes…

Antes precisava urgente ir ao mato, “sujar”. Dada permissão, simulou afrouxar o cinto, desabotoar a braguilha, acocorar-se atrás de uma moita de xique-xique.

E tomou sumiço, sem vacilar, numa carreira doida, chutando espinhos, tropeçando nos tocos, se estropiando nos galhos Se cai na malha dos facínoras, adeus mamãe, adeus papai…

ASSALTO E EXTRAVAGÂNCIAS

Os cangaceiros tomaram Cansanção de assalto por volta das sete da manhã de 22 de dezembro de 1929. Permaneceram intermináveis horas na vila, invadiram as poucas residências e estabelecimentos comerciais dos quais retiravam perfumes, bugigangas e peças de tecidos das prateleiras e distribuíam com quem se achava nas imediações. Arrecadaram todo o dinheiro que puderam. Agrediram e fizeram moradores passar por constrangimento e humilhação. Antônio Primo, único barbeiro da praça, foi compelido a fazer a barba de Lampião e de outros cangaceiros. E ele que negasse!

O estoque de perfume evaporou. Os bandidos abriam os frascos e derramavam o líquido nas roupas sujas e fedorentas assim como no rabo dos cavalos. Conhaque, cachaça, cerveja e vinho estocados foram engolidos, garrafas esvaziadas.

Uma das testemunhas das depredações foi Lúcio José da Silva, o Lúcio da Parelha, assim chamado por ser proprietário da fazenda de igual nome. O fazendeiro narrou que a caterva procedia do Acaru, Monte Santo. Lúcio não só foi constrangido a fornecer cavalos, mas igualmente a servir de guia.

Entre os cidadãos forçados a fornecer dinheiro aos delinquentes, relacionam-se: Domingos Manoel de Jesus, José Ambrósio Modesto, Miguel Salvador, Pedro Salvador (Dodô) e seu irmão Antônio Soares, Terto Fagundes, Martinzinho (ex-jagunço do Conselheiro), Romão Belau, Chico Borges do Jatobá, Pedro Monteiro e o próprio Lúcio José da Silva.

Não houve, contudo, incêndio, defloramento, violência e conseqüente derramamento de sangue, como dali a horas haveria de acontecer em cidade vizinha.

A CARNIFICINA DE QUEIMADAS

De Cansanção a súcia embarcou para Queimadas (a 40 quilômetros), na carroceria de caminhão do IFOCS, mais tarde DNOCS.

Em meio à tranqüilidade de um domingo, por volta das três da tarde, irrompe um grupo fortemente armado, à primeira vista confundido com tropa de soldados volantes.

O grupo foi avistado por Deusdedith Barbosa de Souza da casa comercial do pai, Hermelindo Barbosa de Souza e reputado como uma força policial.

No quartel, Lampião agarrou de surpresa o comandante Evaristo Carlos da Costa e deu voz de prisão aos sete soldados.

Antes de atravessar o rio Itapicuru, Lampião tomara por prisioneiros os irmãos Marques, Carlos Hilário e Irênio. Estes foram intimados a providenciar canoas para a travessia do rio.

Após desembarcar na margem direita, o atrevido e falso capitão Virgulino, prende o oficial de justiça Alvarino. Este e os irmãos Marques ficaram sob as ordens do comandante do grupo enquanto durou a investida.

A caminho do quartel, Lampião trocou palavras amáveis com João Lantyer. Este aguardava que José de Patápio lhe consertasse o Ford-bigode modelo 1929.

Uma ala do grupo partiu para o quartel, outra para a estação ferroviária. Receberam voz de prisão o telegrafista Joaquim Cavalcante e o agente Manoel Evangelista. Fechada a estação, os funcionários foram levados como prisioneiros.

Considerados prisioneiros foram também o Dr. Manoel Hilário do Nascimento, juiz preparador e o tabelião José Francisco do Nascimento.
Cidade sob seu domínio, Lampião condenou os sete soldados à morte, fuzilados covardemente a vista do sargento-comandante, ao entardecer.
Foram executados barbaramente os seguintes praças da polícia: Olímpio B. de Oliveira, Aristides Gabriel de Souza, José Antônio Nascimento, Inácio Oliveira, Antônio José da Silva, Pedro Antônio da Silva e o anspeçada Justino Nonato da Silva.

O sargento Evaristo Carlos da Costa não foi sacrificado a pedido de uma senhora da sociedade queimadense, Dona Santinha. Dona Santinha, de nome Austrialina, em troca de um trancelim, soube tirar proveito da oportunidade ao ouvir do chefe do bando que ela tinha o direito de fazer um pedido. Lampião, constrangido,cumpriu a palavra: não permitiu que o sargento comandante fosse fuzilado. Evaristo morreu em Santa Luz aos oitenta e oito anos de idade.

Tomaram parte nos assaltos a Cansanção e Queimadas os seguintes malfeitores: Lampião, Volta-Seca, Luiz Pedro, Antônio de Engrácia, Mariano, Mourão, Azulão, Ângelo Roque (Labareda), Gato, Gavião, Ezequiel (Ponto-Fino, irmão de Lampião), Zé Baiano, Antônio de Naro, Virgínio (Moderno, cunhado de Lampião), Arvoredo, Fortaleza, Revoltoso e Zabelê. Entre os dezoito havia: 7 baianos, 6 pernambucanos e 2 sergipanos.

Texto: Oleone Coelho Fontes (Foto Montegem/Editora Abril).

Mais pormenores do massacre de Queimadas e do saque de Cansanção, no livro Lampião na Bahia, em sétima edição. Interessados podem pedir ao autor pelo telefone: (71) 3359-9660.


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MEMÓRIAS DA PMBA #2 - O MASSACRE DE QUEIMADAS

Polícia Militar da Bahia

Em 1929 o bando de Lampião esteve no município de Queimadas, saqueando a cidade que contava com 8 policiais militares em sua guarnição. Este documentário conta o desfecho sangrento dessa investida criminosa do cangaceiro. PRODUÇÃO: Cap PM Bandarra Cap PM Danillo Ferreira St PM Luciano Macêdo ROTEIRO Cap PM Raimundo Marins Cap PM Danillo Ferreira PESQUISA Cel PM Souza Neto Cap PM Raimundo Marins DIREÇÃO E EDIÇÃO Cap PM Danillo Ferreira IMAGENS ST PM Luciano Macêdo SD PM Orlando Junior Daniel Pujol Jonatan Costa ASSISTENTES SD PM Orlando Junior SD PM Igor Freitas AGRADECIMENTOS Moacir Mancha e ao povo de Queimadas REALIZAÇÃO Polícia Militar da Bahia Departamento de Comunicação Social

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LAMPIÃO EM QUEIMADAS - 1929.


Bom gente hoje se completa 90 anos que Lampião e seus cabras, invadiram, Queimadas dia 22 de dezembro de 1929 e assassinou setes soldados da policia militar.

Ao completar Noventa anos hoje di sanguinário assalto de Lampião à cidade de Queimadas, o Jornalista Oleone Coelho Fontes (foto) - que passou parte da sua adolescência naquela localidade - rememorou o lutuoso fato em reportagem publicada no jornal "A Tarde", de 14 de dezembro de 1977, que abaixo está reproduzido na íntegra.

Na cidade de Queimadas
Ele entrou de supetão
Prendeu todos os soldados
que tinha no Batalhão
Interrompeu telegramas
Fez baile de boas damas
No outro dia, bem cedo
Para quebrar o jejum
Desatou a soldadesca
E sangrou, de um a um
Quando furava sorria
Lambia a faca e dizia
Hum! Um gosto de jerimum*

(*) Antônio Teodoro dos Santos in " Lampião, o Rei do Cangaço".

Texto de Oleone:

22 de dezembro de 1929 é uma data turva e melancólica na história de Queimadas. Naquele domingo, ainda inesquecível na memória de muitos que presenciaram episódios de violência sem par, Lampião, acompanhado de mais 15 cangaceiros, penetrou na pequena vila com uma tranquilidade de quem chega em velho e seguro coito, pegando a população inteiramente desprevenida. Nenhum dos habitantes daquela vila, que umas três dezenas de anos antes, assistira a intenso movimento de tropas oficiais se dirigir a Canudos dali voltando derrotadas, esfarrapadas, mutiladas, famintas e finalmente vitoriosas, acreditava que Virgulino e sua cabroeira tivessem o atrevimento de ali entrar, uma vez que Queimadas se encontrava guarnecida por uma tropa composta de 7 soldados comandado por um sargento.

O ASSALTO

Começou quando um caminhão da antiga Inspetoria Federal de Obras das Secas ( IFOCS, atual DNCOS), chegou à margem do rio Itapicuru trazendo o bando procedente de Cansanção. Aqui os cabras encontraram os irmãos Carlos, Hilário e Irênio Marques. Estes foram imediatamente presos e intimados a providenciar canoas para conduzir os bandoleiros ao outro lado do rio. Chegando à outra margem, o bando deu voz de prisão ao oficial de justiça, Alvarino que ali se encontrava. Este pensara, por seu lado, que os invasores pertenciam à polícia pernambucana. Alvarino foi obrigado a conduzir o grupo até a residência do Juíz preparador, Manoel Hilário do Nascimento.

Ao penetrar na vila o bando dividiu-se em em duas partes: uma dirigiu-se à estação da estrada de ferro e outra se dirigiu em direção ao quartel.

A ala que apoderou da estação prendeu o telegrafista Joaquim Cavalcante e o agente Manuel Evangelista. Cortaram os fios do telégrafo. Em seguida procederam à vistoria das gavetas e bilheteria, tomando 217$700 pertencentes à estrada de ferro "e 40 e tantos mil-réis do agente".

Os bandidos fecharam a estação e ficaram com as chaves. Os dois prisioneiros foram levados para rua sob ameaça de morte. Um dos assaltantes, apontando o fuzil para a rua, intimou-o a lhe dar 500$000 com a condição de este nada contar ao "capitão" (Virgulino), sob pena de aali mesmo ser executado. O telegrafista, no entanto, nada tendo consigo foi, mediante ordem, tomar a importância referida ao Sr. Antônio Araújo (Totonho), sendo solto após a entrega da quantia exigida. O agente, todavia, continuou como prisioneiro a fim de mostrar ao bando as casas dos negociantes, até às 18 h, quando foi mandado para casa sob a condição de não sair dali para lugar nenhum, mesmo se visse que a estação estava em chamas.

A outra ala do grupo, chegando ao quartel encontrou os soldados inteiramnte alheios ao assalto de que estava sendo alvo aquela vila de não mais de 3 mil habitantes, à época. O sargento Evaristo, comandante do destacamento, no instante em que os cangaceiros entraram no quartel descia as escadas, de pijama, com uma toalha no pescoço, para o banho. Alguns historiadores afirmam, entretanto, que ele no momento se achava deitado numa rede, lendo a bíblia, pois era crente da seita Batista. Os soldados jogavam ronda (segundo depoimento de Labareda a Estácio Lima), outros dormiam e o sétimo deles, sobrinho da esposa do sargento Evaristo, se achava na Rua da Bomba (baixo meretrício).

Deusdedith Barbosa de Souza, 76 anos, casado, comerciante, conta que o bando chegou a queimadas por volta das 4h da tarde. (João Muniz Barreto, à época representante comercial e correspondente de jornais da capital, precisa o exato momento como tendo sido às 15h30min.). Tinha então "Seo" Deusdedith, 29 anso de idade e tomava conta de uma casa de comércio de propriedade de seu pai, Hermelino Barbosa de Souza.

- Eram ao todo 16 cangaceiros. Volta Seca não passava de um garotinho de 15 anos de idade.

A população de Queimadas, segundo vários entrevistados, tinha ciência de que o bando de Lampião se encontrava naquela zona. Não imaginavam todavia que ele tivesse a ousadia de surgir naquela vila, já que lá havia um destacamento de 7 soldados e um sargento. De sorte que, quando os facínoras apareceram nas ruas nenhuma reação foi esboçada- da população ou da polícia.

- Eu estava na venda- prossegue "Seo" Deusdedith- na hora em que o grupo passou. Nem tomei conhecimento. Pensei que fosse alguma força das pernambucanas. Na época era comum as forças por aqui passarem, à procura de revoltosos ou em perseguição de cangaceiros vindos da Bahia, de Pernambuco, de Sergipe, deste mundo todo. Pensei comigo: " esta deve ser a força do capitão Macedo". À frente do bando seguia o oficial de justiça (Alvarino), o que reforçou mais a minha idéia de tratar-se da força sob o comando do capitão Macedo. subiram em direção ao quartel. Uns 15 minutos depois fechei a venda e fui para minha casa. Passei pelo grupo. Notei que entre eles havia um soldado. Até então não me passava pela cabeça que estivesse ali a dois passos de mim o " capitão" Virgulino Ferreira da Silva e sua gente. Foi no que encontrei Dona Generosa Crespo e ela me disse: " Deusdedith, aquele é o grupo de Lampião". Ainda assim não acreditei e teimei com ela que não era não, que aquele era a força do Capitão Macedo. Não se acreditava que Lampião tivesse a coragem de invadir um lugar guarnecido por uma força policial.

De sua casa "Seo" Deusdedith garante ter visto com precisão o pulo que o chefe dos bandidos deu para o interior do quartel e bradar para os que ali se encontravam: " É lampião...".

Defronte ao quartel o grupo foi estrategicamente subdividido em duas partes: uma correu para esquina, outra para a esquina contrária. Indagaram pelo carcereiro (de nome Elesbão), que se achava ausente naquele instante. Ordenaram que ele viesse. Tão logo o carcereiro apareceu, o próprio Lampião exigiu que fosse aberta a porta do xadrez e soltos os presos ( 3 ou 4, "Seo" Deusdedith não se lembra com precisão quantos. Sabe que estavam recolhidos por crimes de homicídio). dois dos presos eram ex-soldados que haviam cometido assassinato e estavam aguardando ordem para serem transferidos para a Penitenciária do estado, em Salvador. Labareda, em depoimento a Éstacio de Lima, assegura que " tava preso, incrusive, dois sordado aqui tinha bulido com a fia dum véio, i entonces o véio arrecramô e eles tinha matado u "véio". No lugar dos presos foram trancafiados os soldados do destacamento, depois de devidamente desarmados. Um dos praças, que no momento se achava ausente, quando soube que Lampião havia prendido seus colegas de profissão, veio se entregar.

A CHACINA

Havia uma senhora da nossa sociedade - conta "Seo" Deusdedith - Dona Santinha (Austrialina Teixeira, esposa de Amphilóphio Teixeira) - que usava um trancelim de ouro muito bonito no pescoço. Lampião, entrando em sua casa notou o trancelim de ouro maciço, jóia valiosíssima e fez elogio ao trancelim. Dona Santinha imediatamente retirou a jóia e ofereceu ao capitão Virgulino. Este, aliás muito costesmente, recebeu a jóia, agradeceu e disse: " Dona Santinha, agora a senhora tem o direito de me fazer um pedido, pois dizem que bandido não tem palavra". Ela pediu então que ele poupasse a vida do sargento Evaristo, alegando ser ele um crente da igreja Batista (religião que ela frenquentava), e ajuntou ainda tratar-se de um cidadão direito, honrado, excelente pai de família. Lampião, um tanto contrariado, garantiu a D. Santinha que a vida do sargento seria poupada, acrescentando: " Nunca poupei vida de um 'macaco', mas eu ja disse que a senhora tinha direito aum pedido e vou garantir minha palavra, pois bandido também tem palavra".

O próprio sargento, comandante da tropa, recebeu das mãos do chefe supremo do cangaço, um mosquetão (sem balas), e onde este ia aquele o acompanhava.

Foto: Ponto atravessado por Lampião e seu bando, em 22 de dezembro de 1929.

João Lantyer, segundo à direita, com seu "Ford Bigode" (foto). Na extrema direita, o mecânico Patápio. Foto de 1928. Possuiu-o por pouco tempo. Vendeu-o para atender ao pedido da esposa, que temia que, em suas viagens, fosse novamente abordado por Lampião. Informação de Antonio Lantyer, seu filho, in Chalé Lantyer

Ali, João se encontrava com o mecânico Pedro Patápio realizando consertos no seu "Ford Bigode”. Após breve conversa com Lampião, que solicitou o automóvel para adentrar a cidade no mesmo, informando-o que este se encontrava, como se podia perceber, com defeito, foi deixado para trás. Isto, enquanto o cangaceiro despachava alguns cangaceiros para neutralizar o telégrafo e avançou adentrando a cidade.

O Dr. Manoel Hilário do Nascimento (foto), Juiz Preparador do Termo, estava entretido com alguns amigos, entre os quais o tabelião José Francisco do Nascimento, numa agradável prosa domingueira, quando, de repente, chega o oficial de justiça, Alvarino, preso pelo cós das calças e anuncia, com voz embargada: " Doutor, o Capitão Lampião."

Imediatamente, o Juiz e todos que ali se achavam foram presos.

Ao ver o Juiz, o escrivão, o oficial de justiçae o tabelião, todos negros, Lampião ironizou-:" Que terra desgraçada, toda a justiça é negra". E voltando-se para o Dr. Manoel Hilário, indagou com sarcasmo: "Então você é mesmo doutor?" - Ao que o Juiz respondeu: " Sou, sim senhor. Sou bacharel..."

Lampião prosseguiu na chicana: " Deixe ver suas mãos". Mostradas as palmas das mãos sem um calo sequer, Lampião exclamou: " Que negro bom para uma enxada".

Depois destas e outras humilhações, Lampião, sem perda de tempo, deixou uma guarda tomando conta do juiz e dois dos seus amigos prisioneiros e seguiu para assaltar o quartel.

Fonte: Nonato Marques. Santo Antônio das Queimadas, pag.139)

LAMPIÃO ROUBA, ASSALTA E MATA EM QUEIMADAS 1929.
(Antônio Monteiro)

Quem poderia um dia imaginar que o tão famoso bandoleiro do sertão, tivesse em seus planos de ladrão e homicida, a coragem de invadir Queimadas, uma cidade pacata, mas estratégica, com serviço de telégrafo e trem usual? Pois, invadiu!

LAMPIÃO CHEGA À QUEIMADAS

O Rio Itapicuru estava cheio. João Lantyer, Coletor Federal, irmão de Zulmira, estava na oficina de Pedro do Pataco, quando passava vindo do rio, um grupo de cerca de 18 homens armados, que o deixou confuso, porque o sargento Evaristo, Comandante do Quartel da PM, esperava uma Volante, na qual o Comandante era seu amigo e viria almoçar com ele.

ZULMIRA LANTYER RECONHECE LAMPIÃO

As 10:30 horas do dia 22 de dezembro de 1929, um domingo, em plenos preparativos para os festejos do natal e do ano novo, um grupo de moças, entre elas Zulmira Lantyer (foto), ensaiava em casa uma peça teatral para ser apresentada na noite de natal.

Da janela da casa, umas das moças confunde o bando de cangaceiros com uma Volante. Porém, Zulmira, que conhecia o facínora através de retratos em jornais, o reconhece, e fala para as amigas: - É o bando de Lampião. E, o que vai na frente é o próprio. A jovem Zulmira sai correndo e espalha a notícia da invasão de Lampião na cidade, contudo, o povo, não acredita nela.

foto: Estação ferroviária de Queimadas- Bahia

DISTRIBUIÇÃO DOS CANGACEIROS

Arteiro, Lampião designou dois cangaceiros para tomarem de assalto a Estação de trem de Queimadas. Na estação cortaram os fios do telégrafo, danificaram o aparelho, roubaram o dinheiro e ficaram de campana.

Antiga prefeitura e quartel onde aconteceu a chacina.

LAMPIÃO CHEGA AO QUARTEL

Como se conhecesse Queimadas como a palma da mão, com a maior facilidade, Lampião chega ao Quartel da Polícia Militar. O facínora na frente. Sem nenhum escrúpulo o grupo invade o quartel.

Todos os dias - diz seu Nôza - eu ia levar comida para um preso de Itiúba, que era compadre de D. Marocas, minha mãe, quando vi o bando. Dentro do quartel, sentados no último degrau da escada havia dois soldados brincando com umas pedras no piso riscado. O bando fez uma volta no salão e cercou os soldados, que “bateram” continência para Lampião. O cangaceiro – chefe repudiou veemente: - Baixe os braços, macacos! Eu sou o bandido Lampião! Os soldados ficaram paralisados.

Lampião abriu a porta da cadeia e soltou os doze presos (assassinos e ladrões). Inclusive um soldado da PM que havia estuprado uma criança. Em seguida, Lampião utilizando-se de um apito (artifício que o sargento usava para chamar os soldados com urgência ao quartel), fez com que os outros soldados, até mesmo o Sargento Evaristo, voltassem correndo para o quartel, sendo surpreendidos pelos cangaceiros e presos na cadeia.

Na época eram exatamente sete soldados e um sargento. Na porta do quartel, do lado de fora, ficara um cangaceiro com a arma apontada para dentro, em sinal de vigília. Após essas atitudes, Lampião deixou alguns cangaceiros tomando conta do quartel. Com treze “cabras” desceu pela cidade e foi à casa do juiz, Dr. Hilário.

ACERTO COM O JUIZ

Com o Dr. Hilário, Lampião acertou que o mesmo fizesse uma lista de nomes de pessoas influentes e de posses. Imediatamente as intimasse a comparecer com urgência na casa do referido juiz.

Cada pessoa intimada pelo senhor Alvarino, que chegava à casa do juiz, lhe era estipulado uma quantia em dinheiro ou em jóias, para entregar a Lampião. O senhor Francisco Moura (Catita), Escrivão Estadual, responsável pela Coletoria, disse a Lampião que poderia lhe dar quinhentos mil reis, e deu. Desse modo, cada pessoa intimada deu ao cangaceiro a quantia negociada. Totalizando: 22.345$700(vinte e dois contos, trezentos e quarenta e cinco mil e setecentos reis).

LAMPIÃO DECLINA SUA FALSA BONDADE

Quando seu Catita entregou a Lampião os quinhentos mil reis e o coronel Hermelino entregou oitocentos mil reis, Lampião disse ao então Escrivão da Coletoria Estadual, que por aquela importância que lhe era entregue, se a família Moura viesse a sofrer alguma necessidade, tirasse dali o dinheiro que poderia impedir o efeito citado, ficando o total, diante do que afirmara seu Catita.

Lampião, então comentou, que os valores arbitrados foram pelo juiz e não por ele. Disse também: “eu sei que negro só tem juízo pela manhã, mas num dia deste, com bandido na porta em demadrugada, tem. Que daquele dinheiro que estava tomando, poderia ser taxado de ladrão, mas não ficaria com um tostão, porque, utilizaria todo dinheiro para pagar as bala que comprava dos próprios macacos; tanto que as balas do seu bando eram todas do ano de 1930, enquanto as dos macacos eram de 1910 a 1930, que não serviam nem pra matar cachorro”. E exibiu seus cartuchos.

A RAZÃO DE SER BANDIDO

Segundo história narrada por Lampião, na casa do Dr. Juiz Pretor, a causa de sua vida de bandido foi à morte de seus genitores praticada por dois policiais a mando do Cel. Chefe Político. Ainda jovem fora queixar-se da morte dos pais na delegacia de polícia, onde foi barbaramente espancado. Mais tarde, resolveu falar com o juiz, onde após relato de toda história, inclusive do espancamento sofrido, recebeu apenas o conselho de entregar o caso a Deus, pois os políticos eram maus e estavam com o poder, havendo o perigo de ser molestado se fosse mexer com o caso.

Não satisfeito, Lampião resolveu matar o Chefe Político, e logo vendeu tudo o que tinha. Com o dinheiro apurado foi até a fazenda do Coronel e o matou. Mais tarde mandou avisar na cidade seu mal feito e fugiu para bem longe.

A perseguição para prendê-lo foi enorme, até que um dia, em um local muito distante, indo ao povoado, Lampião disse ter visto o seu retrato com uma oferta de duzentos mil reis para quem apresentasse sua cabeça. Neste mesmo dia, quando estava comprando uma fruta, foi abordado por dois soldados que lhe deram ordem de prisão. Mas num lance rápido, tomou a arma de um soldado e atirou no outro, matando-o. Apossando-se das duas armas. No quartel liberou o preso que ia para a penitenciária, sendo este seu primeiro companheiro da jornada de bandido.

Como bandido, o seu propósito era não entregar-se de maneira alguma à polícia, em virtude da liberdade que usavam os criminosos de seus genitores.

O MASSACRE NA PORTA DO QUARTEL

Às 18 horas, Lampião saiu da casa do juiz e voltou ao quartel. No passeio do quartel, em voz alta disse que iria matar todos os macacos. Que as pessoas (civis) se abrigassem em suas casas, atrás de paredes, pois, não gostaria de saber que uma bala do seu bando havia atingido um civil. O Sargento Evaristo pediu que Lampião o livrasse de ver os seus soldados sendo assassinados a sangue frio. Que preferia ser o primeiro a ser morto. Lampião, com muita raiva, mandou que o sargento se afastasse imediatamente do quartel.

CHAMAMENTO PARA A MORTE

Um a um os soldados eram chamados para fora do quartel. Lampião fizera uma espécie de meia lua com seus homens. Aos soldados, ele mandava que os mesmos se abaixassem para tirar a caneleira da botina. Quando o soldado se abaixava Lampião atirava na nuca. Os seus “cabras” iam sangrando os mortos e os colocando na porta da prefeitura, lado a lado.

SOLDADO CORAGEM

Um dos soldados, também com o nome de guerra Evaristo, ao ser chamado para a morte, pela janela do quartel tentou agredir Lampião e foi agarrado por seus “cabras”. Entrou em luta corporal com Volta Seca.

Dominado, mas, denotando muita coragem, diz para Lampião: “ – Você é muito macho com um fuzil e um punhal na mão. Vamos lutar homem a homem com fuzil ou punhal!” Volta Seca pediu a Lampião que queria sangrar o soldado. Com um punhal sangrou o soldado Evaristo e bebeu o sangue. Depois, no passeio onde é hoje a Câmara dos Vereadores, vomitou. E, onde hoje é o Banco do Brasil, vomitou novamente o sangue do soldado.

Cópia do documento de identidade do sargento Evaristo, comandante que sobreviveu ao ataque de Lampião ao quartel de Queimadas- Bahia, em dezembro de 1929.

UM CONDENADO ESCAPOU DA MORTE

Um dos oito militares capturados, apenas o sargento Evaristo Carlos da Costa, comandante do destacamento, escapou. Durante o espaço de tempo que esteve preso, foi obrigado a percorrer as ruas pricinpais, já condenado, acompanhando o grupo, armado de fuzil sem balas, no ombro. A seu lado o perverso cangaceiro Antônio de Engrácia lhe sussurrava nos ouvidos: - Mais tarde o galo vai cantar nos seus ouvidos.

Ouve-se nos bares em Queimadas, que o Sgt PM Evaristo foi obrigado por Lampião a vestir saia, sutiã, blusa de mulher e sapato alto. Desfilar rebolando pelas ruas da cidade, os “cabras”, em volta dele, mangando. Graças, no entanto, ao pedido formulado por D. Santinha, esposa de Amphilóphio Teixeira, escrivão da Coletoria Federal - o que representou exepcionalíssima concessão do rei do cangaço - que o sargento Evaristo escapou.

Ângelo Roque, no mencionado depoimento ao professor Estácio de Lima, confira o fato, dizendo que o sargento, se não fosse à intervenção da moça, igualmente “tinha caído no ferro”. E acrescenta que pensaram que o sargento trabalhava pra eles, o que não passava de grosso equívoco. No processo a que respondeu pesava sobre o sargento a acusação de traição.

O fato extraordinário de o sargento Evaristo haver escapado com vida se deve a uma jóia, sem que o sexto sentido não tenha também contribuído. Conforme umas das versões, o que ocorreu foi o seguinte: Lampião, na companhia de alguns cangaceiros, ao invadir a residência de Amphilóphio Teixeira, observou que sua esposa, D. Santinha, usava um lindíssimo trancelim de ouro no pescoço, tendo para as jóias palavras de elogio e admiração. D. Santinha, farejando o interesse do bandido por seu pingente de ouro, retira e o oferece a Lampião. Este num ímpeto inesperado, do qual amargamente se arrependeria lhe declarou: - A senhora agora tem o direito de me fazer um pedido. Dizem por aí que bandido não tem palavra, mas eu quero mostrar à senhora que bandido também tem palavra.

Naquele momento a vida do sargento foi poupada. D. Santinha pediu por ele, que sua vida fosse preservada, pois tratava-se de cidadão correto, crente, excelente pai de família, homem temente a Deus, religioso e de muito caráter. E continuou a tecer elogios até ser atendida. Notou, todavia, que Lampião ficara constrangido e embaraçado, seguramente por não esperar pedido daquele porte. No entanto, refazendo-se da surpresa, disse: - Nunca poupei vida de macaco, mas eu já disse que à senhora tinha direito a um pedido e vou garantir a minha palavra. Bandido também tem palavra. E se depender de mim o sargento só morre de velho.

Realmente, a profecia aconteceu, e o sargento Evaristo morrreu de velho.

Lampião, depois do massacre, ainda deu um baile no Clube e foi embora com seu bando pela madrugada do dia 23 de dezembro de 1929. Daquele dia trágico na pacata cidade, de cidadãos ordeiros, ninguém esquece. O Quartel, ainda hoje, maio de 2009 é o mesmo. Pessoas, tais como: João de Alice, Joel, Nôza, guardam na memória aquele dia triste, marcado de muito sangue em Queimadas. Dizem que as marcas de sangue dos soldados até o presente momento estão incrustradas no passeio do Quartel.

ALGUMAS AUTORIDADES DA ÉPOCA

1.Intendente: Aristides Simões.
2. Delegado: Durval Marques.
3. Juiz de paz: Pedro Primo.
4. Coletor Federal: João Lantyer.
5. Escrivão da Coletoria Estadual: Francisco de Moura e Silva (pai do Sr. Nôza).
6. Juiz Pretor: Dr.Hilario (um negro).
7. Serventuário da Justiça Estadual: Alvarino.
8. Dr. Sampaio.
9. Antonio Araújo – Banco do Brasil.
10.Waldemar Ferreira – comerciante.

VERDADE OU MENTIRA?

No decorrer do ano de 1960, dizem que Lampião, já sem a indumentária de cangaceiro, esteve em Santa Luz, na casa comercial do Sargento Evaristo. Em 1962, - diz seu Nôza – meu filho, Francisco, em Apipucos-PE, ouviu uma conversa entre dois senhores, onde um afirmava estar Lampião, numa fazenda ali perto. Uma senhora de Queimadas, que viajava sempre pra São Paulo, numa dessas viagens, num trem, em Minas Gerais, encontrou-se com um senhor idoso que disse conhecer muito bem Queimadas, indicando pontos reais. Ao despedir-se, o referido idoso falou que era o cangaceiro Lampião.

O senhor Luiz Soares, juntamente com um amigo, esteve na residência de Lampião, na fazenda Rio Verde em Teófilo Otone, em Minas Gerais, onde conversou com Lampião que estava muito doente. Isso em 1977. O que supomos que o referido cangaceiro, estaria com cem anos. Verdade ou mentira?

Rara Fotografia de Lampião e Seus Cabras: em Queimadas na Bahia, Logo Depois do Massacre a Vila de Santo Antonio Das Queimadas em 1929.

Vê-se na Fotografia: 1-Lampião 2-Corisco 3- Marreco 4-Azulão 5-Luiz Pedro 6-Cravo Rôxo 7-Moita Braba 8-Português 9-Volta-Sêca.

A Fotografia é em Frente a Antiga Delegacia de Queimadas Bahia em 22 de Dezembro de 1929.


A ARRECADAÇÃO EFETUADA POR LAMPIÃO E SEU BANDO EM QUEIMADAS BAHIA

EM DEZEMBRO DE 1929.

A seguir, damos uma relação das quantias arrecadadas, conforme reportagem de João Muniz Barretto, publicada no " O Jornal", de 26/12/1929, diário que se editava na Capital da Bahia. João Muniz Barretto se achava em Queimadas na ocasião, no desempenho de sua atividade de representante de algumas firmas deste e de outros estados.

Foi arrecadada a importância de vinte e dois contos trezentos e cinco mil e setecentos réis (22:345$700), do seguinte modo:

* Waldemar ferreira, representante de Fernandes, Mota & Cia.... ......400$000 e um relógio e cadeia de ouro.
* Francisco Machado Bastos, representante de José Bastos & Cia....400$000 e um par de mostruário.
* Lauro Pomponet, representante de Lopes, C ardoso & Cia............400$000 e uma mala do mostruário.
* Isaac Araújo, representante de Antonio Bacelar e Cia, de Serrinha.400$000
* Estação da Estrada-de Ferro.....................​..........................​..........217$700
* Telegrafista Joaquim Cavalcanto, tomados a Antônio Araújo...........500$000
* Agente Manoel Evangelista...............​..........................​......................45$000
* Antônio Francisco da Silva.....................​..........................​..............500$000
* Dr. Sampaio...................​..........................​..........................​.........1:000$000
* Umbelino santana, fora mercadoria................​..........................​.....1:000$000
* Hermelino Barbosa...................​..........................​.........................1​:000$000
* Luiz Sant'Anna.................​..........................​..........................​........1:000$000
* Ezequiel Pereira ..........................​..........................​......................1:000​$000
* Jayme Antônio (coletor estadual).................​..........................​.........500$000
* Francisco Moura( Escrivão da coletoria estadual).................​...........500$000
* Coletoria Federal...................​..........................​..........................​..1:150$000
* Elias Marques...................​..........................​..........................​..........500$000
* Manoel Ferreira Silva.....................​..........................​.......................500$​000
* Celso Lantyer...................​..........................​..........................​...........600$000
* José Lino da Costa.....................​..........................​...........................5​00$000
* Antonio Salles....................​..........................​..........................​..........550$000
* Antonio Araújo (correspondente do Banco do Brasil)...................​.2:500$000 e animal, arreios, etc...
* Irênio Marques...................​..........................​..........................​.........200$000
* Bento Coelho de Sousa.....................​..........................​....................340$00​0
* Pedro Andrade...................​..........................​..........................​.........500$000
* Pedro Primo.....................​..........................​..........................​...........900$000
* Araújo e Oliveira..................​..........................​..........................​.....1000$000
do mesmo em mercadorias...............​..........................​........................600$​000
* Tertuliano Lino......................​..........................​..........................​......500$000
* André Martins...................​..........................​..........................​.........943$000
do mesmo em mercadorias...............​..........................​.......................200$​000
Total:....................​..........................​..........................​....................22:345$7​00

Depois da coleta o grupo sinistro se dirigiu para o quartel da força pública para consumar a tragédia.

Fonte: (Nonato Marques. Santo Antonio das Queimadas. pag. 141)

Túmulos dos soldados Aristides e Justino (foto de Sérgio Dantas)

A MATANÇA NO QUARTEL DE QUEIMADAS EM 1929.

Eram 18:30 horas, aproximadamente. Depois de embolsar o dinheiro extorquido, Lampião resolveu liquidar os soldados que estavam presos, o que fez covardemente, com o maior sangue-frio, do lado de fora da cadeia, na calçada de cimento que, por algum tempo, conservou a mancha vermelha do massacre. Foram tirados do xadrez, um a um, e cada qual de per si receberia um tiro de mosquetão na cabeça e era, logo após, sangrado barbaramente.

Lampião, pessoalmente, realizou a execução, auxiliado por outros cabras, dentre os quais se salientou Volta Seca que sangrava as vítimas depois de baleadas e que, após a chacina, ainda andou publicamente lambendo a lámina do punhal ensanguentado, reclamando que o padrinho Lampião só lhe dera quatro macacos para sangrar. Labareda diz, em seu relato, que Volta Seca o que fez foi por ordem de Lampião que tinha que ser obedecido. Diz também, que ele tomou parte no massacre igual com os outros, juntamente com os grandes do cangaço.

Segundo depõe Labareda, quando Lampião deu ordem para a matança dos soldados, houve tiros, e muita gente correu pensando que tinha irrompido uma "brigada". Acrescenta ele que uns dois macacos morreram de "fazer gosto", enquanto os outros esmoreceram. Só pediam para viver. Houve o caso de uma anspeçada, homem carregado de filhos, que chegou a se ajoelhar e rogar que não o matasse porque ele daria baixa da polícia. Lampião não o poupou, dizendo-lhe: - " Quando eu encontro macaco da Bahia, mesmo que esteja com os dedos furados de rezar rosário, eu não perdôo". E executou o pobre homem que tinha uma família numerosa de nada menos de nove filhos.

Nome dos Mortos:- Soldados: Olímpio de Oliveira; Aristides G. de Sousa: José Antônio Nascimento; Inácio Oliveira; Antonio José da Silva; Pedro Antônio da Silva e anspeçada Justino N. da Silva.

Fonte:( Nonato Marques. in Santo Antônio das Queimadas. pag.142)

EVARISTO CARLOS DA COSTA- SOBREVIVENTE DA CHACINA DE QUEIMADAS EM 1929 (FOTO) POR OLEONE COELHO FONTES:

Não foi tarefa das mais fáceis conseguir entrevistar o sargento Evaristo, aos 85 anos de idade, vivendo modesta e anonimamente na cidade de Santaluz, único sobrevivente daquela chacina. todos os seus amigos, mesmo os mais íntimos, sabem-no um homem ainda profundamente abalado pelos acontecimentos trágicos e inesquecíveis daquela antevéspera do natal de 1929. Pr outro lado, Evaristo se acha bastante enfermo, com sérios problemas circulatórios e cardiovasculares. conseguir fotografá-lo, por exemplo, foi uma dificuldade que durou meses.

Ter escapado das garras de Lampião e seus facínoras com vida deixou-o, além de traumatizado, com forte complexo de culpa, já que todos os seus comandados foram massacrados friamente, às suas vistas, sem que ele nada pudesse fazer. A partir daquele dia o sargento Evaristo se tem terminantemente recusado a abordar o assunto: nunca deus entrevista a jornalista, jamais recebeu em sua casa estudioso do fenômeno cangaço, em tempo algum permitiu que alguém tocasse no assunto, mesmo de leve, mesmo indiretamente. E todos que com ele convivem sabem-no um homem reservado, criterioso, sistemático, a ponto de não permitir brecha para que aqueles fatos sejam ventilados. Considero, pois, uma façanha não propriamente o ter entrevistado, mas conseguir que ele, de propósito, aceitasse repassar o assunto. tive de apelar para velhas amizades de família - do meu avô e do meu pai ele foi amigo íntimo.

- Eu me considero um homem protegido por Deus- afinal consegui escapar tanto das garras dos bandidos como da própria justiça que me julgou após a chacina de Queimadas. fui acusado de dessídia, de negligência, de ter feito pouco caso do perigo que Lampião representava para aquela comunidade estava sob minha proteção. Respondi a um inquérito que me deu muitas dores de cabeça. Por todos os lados eu só escutava a palavra: " culpado". Houve até quem sugerisse que eu deveria me suicidar. Mas suicidar por que? Eu fora poupado pela proteção Divina, minha hora não havia chegado, como é que me davam um conselho estúpido daquele? Foi, graças a Deus e a habilidade de dois grandes advogados- Gilberto Valente e Nestor Duarte- que fui absolvido...por unanimidade. na verdade eu não entendia porque me acusavam de negligente: eu não tinha realmente conhecimento da presença do bando de Lampião naquela zona. a última notícia que me chegara aos ouvidos era de que o grupo se achava lá pros lados de Capela, em Sergipe. Como é que eu poderia imaginar que eles chegariam de repente em Queimadas?

- No dia seguinte que estive à mercê dos bandidos não avreditei escapar de jeito nenhum com vida. Eles não chegaram a me maltratar, mas um deles por mais de uma vez sussurou juntinho de mim: " mais tarde o galo vai cantar nos deus ouvidos". E aquela desgraça ocorreu justamente ba vespera de eu viajar para Salvador, a fim de ir buscar o soldo dos soldados que, naquela época, recebiam seus vencimentos na capital, por meu intermédio.

- Quando foi concluído o inquérito a que o senhor respondeu?

_ Em 1931. Fui (e repito) absolvido por unanimidade. E ainda ganhei um elogio de Auditoria, através do major Alcebíades Calmon de Passos. Disse ele:" Quem lhe absolveu não foram os advogados, nem os jurados, nem ninguém. Foi a sua própria conduta de 21 anos de comportamento sem jaça".

- Como militar, onde o senhor serviu?

- Em Camaçari, Belmonte, Conceição do Coité (2 vezes), Santaluz, Itiúba, Senhor do Bonfim, Juazeiro, Casa Nova, Barra (2 vezes), Carinhanha, Rio Branco (antigo urubu, hoje Ubatinga), Barreiras, Nova Soure, Cipó, Monte Santo. Andei por este mundo afora jogado de um lado para o outro, feito bola em campo de futebol. O caso é que eu sempre fui muito rebelde a certo tipo de autoridade autoritária. Estive ainda em Queimadas e em Santo Antonio de Jesus...

Para Nilton Oliveira, 52 anos, casado, negociante da cidade de santaluz, o sargento Evaristo é um homem metódico, até certo ponto arejado, iste é, um homem com hábito comum de leitura. Além de ser uma criatura muito bem relacionada na cidade de Santaluz, tendo ali exercido a profissão de comerciante varejista de gêneros alimentícios durante décadas, o que deixou por força da idade.

Em Santaluz o sargento Evaristo por duas ou três vezes exerceu o cargo de delegado de polícia, posição que desempenhou com dignidade e zelo. Como amigo- finalizou - é um homem dotado de qualidades exemplares.
Para Hiran Carvalho Barreto, 43 anos, casado, atual prefeito de Santaluz, o sargento Evaristo é uma pessoa " com quem mantenho os mais estreitos e íntimos laços de amizade e companheirismo, por ser excepcionalmente honesto, leal, homem de palavra, caráter incomum".

As atividades atuais do sargento Evaristo se resumem em ler diariamente a biblia ( continua crente fervoroso Batista), receber amigos em sua casa para prosa amena sobre os diversos problemas atinentes ao país, à Bahia e á sua comunidade. Ele confessa não passar sem ouvir, todas as manhãs, " O Trabuco", pela Rádio Bandeirante de São Paulo, apresentado pelo veterano e cáustico Vicente Leporacem não deixando de ser, sobretudo, um homem profundamente solitário.

Nota: O sargento Evaristo faleceu pouvo tempo depois de haver sido publicada essa reportagem.

Fonte: (Nonato Marques. Santo Antonio das Queimadas. pag.155/156)
Foto: Sargento Evaristo, sobrevivente da chacina cometida por Lampião em Queimadas- Bahia em 1929. Pousando ao lado do Quartel onde ocorreu o fato. Foto de 1928.

Foto: Apecto da Vila de Queimadas, 1920, 9 anos antes da passagem de Lampião
DEPOIS DA MATANÇA O JANTAR- Queimadas, dezembro de 1929.

A dona da Pensão se chamava Júlia, mulher um tanto corpulenta, cadeiruda, já andando, na ocasião, pela casa dos quarentas anos. Era, portanto, uma madurona vistosa. Para ela Lampião mandou por João Balaio o seguinte Bilhete:

" Sra D. Júlia

Por este portador mande 500$000 sob pena de pedir mais- Lampião".

E pelo mesmo portador mandou um recado: que preparasse jantar paea ele e para os companheiros. Ao que Júlia teria respondido que não preparava jantar nenhum, que fossem comer no inferno. João Balaio dá a resposta e Lampião ruma para a Pensão, a fim de tirar satisfação.

Júlia é ameaçada de morte, mas se desmancha em desculpas, enquanto João Balaio foge espavorido. Nada aconteceu além disso, porque Júlia conseguiu convencer a Lampião não ter dito que " não preparava o jantar".

Lampião, jantando, declarou que desejava viver sossegado em lugar se o governo não o perseguisse. Nessa mesma ocasião do jantar, um dos bandidos disse, com ar de galhofa: - que " os soldados presos estavam com uma febre desconhecida e que davam uma tremedeira e caíam" e perguntou às pessoas que por ali estavam se " não tinham ouvido os estalos do cafuné?.

Os caixeiros viajantes que ali estavam hospedados, serviram de garçons, juntamente com o Prof. Antonino Rocha, funcionário do Estado, que estava de passagem por Queimadas.

Fonte: (Nonato Maques. Santo Antônio das Queimadas. pag. 144)

Lampião assiste cinema- trecho do livro " Santo Antônio das Queimadas" de Nonato Marques.

Após jantar, arrotando e palitando os dentes, Lampião e sua gang se dirigem para a Sociedade Filarmônica Recreio Queimadense, clube musical então presidido por Durval Marques da Silva. No salão principal funcionava semanalmente um pequeno cinema mudo que, nesse domingo, anunciava a projeção de uma fita intitulada Ninho de Amor. O cineminha era de propriedade de Umbelino Santana.

Carta de Lampião ao Governador

Na parede do comprido salão da Sociedade, Lampião garatujou a lápis a seguinte carta ao Governador do Estado:

"22 de dezembro de 29

Peço desculpa ao Governadô em EU Capt. Lampeão dar Este Paceio aqui Em Queimadas e assenti Em Um Senema lhe digo deveria não Endoide Seu Governadô Vitá Suor apois com sua Perceguição.

Estou Engordando até penço que vou E mé cazar.

Virgulino Ferreira Lampião

Governadô do Sertão."

Escrita a carta neste diapasão de chicana, Lampião mandou passar a fita programada, mas, pouco tempo depois se aborreceu e mandou parar a projeção.

Depois te tudo um forró ( passagem de Lampião em Queimadas -1929)

Junto ao cinema morava Félix Rato ( pedreiro, mestre-de-obras) em casa que ainda hoje existe do mesmo jeito que era naquela época. Para lá Lampião se dirigiu com seu grupo. E em poucas horas, arrumaram uma festa que se prolongou até cerca de 3 horas da madrugada.

Labareda, ao rememorar o fato, diz que de noite foram dançar na Intendência, com luz de motor, o que é um equívoco. A festa foi mesmo na casa de Félix Rato, o mestre "grau" que tantas coisas construiu em Queimadas.

A propósito, informa Labareda: " Lampião preveniu os cabras que num quiria farta de respeito com as famía. Us pessoá quiria mulé foi percurá as muié sortera nas ponta de rua. Elas inté chamava a gente pra ganhá seu dinheiro..."

A informação é absolutamente correta. Apesar de terem comparecido obrigadas (é claro), as " moça novinha, as mulé casada e as sortera, tudo junto, e os furdunço das dança pela noite toda," como relembrou Labareda, o baile transcorreu sem nenhum atentado a moral.

Começaram dançando apetrechados , como estavam, armados com dois punhais, dois revólveres e fuzil. Como o apetrecho era muito incômodo e dificultava os passos, desarmaram-se, mas as portas ficaram guarnecidas por outros cabras que ficaram rondando por fora como sentinelas.

Fonte: (Nonato Marques.Santo Antônio das Queimadas. pag. 145)
Foto: Lampião e seu bando em Pombal.

RELATO ISAAC PINTO DA SILVA, DE ITIÚBA.

"Da Tapera eles desceram para Camandaroba. Daí foram batê na Queimadas. Chegaram lá de noite. Cortaram o fio do telegrafo. Prenderam os soldado que tinha. Soltaram os presos e deixaram os soldados presos. E dançaram a noite todinha. No outro dia, só era chamando de um e um. E era só atirando e o Volta Seca sangrano. Mataram os sete. A finada Delmira e o finado Baró iam para a Várzea da Roça de tardezinha. O Baró tinha um cavalo e ele levava a mulher na garupa. Quando viram, se toparam de testa. Eles correram".

RELATO DE ROBÉRIO PONTO DE AZEREDO DE ITIÚBA

"Ele aí desceu em Dezembro de 1929. Eu era bem menino e vi a hora que chegou o portador na casa do Capitão Aristides. Lampião tentou entrar em Itiúba. Passou pelas cercanias duas vezes. Em 1929, ele desviou e a passagem dele foi para Queimadas. Aquele dia foi trágico. Véspera de Natal. Lampião trucidou sete soldados. Soltou os presos e depois matou um a um. Só deixou um sargento que pediu para ele não matá-lo."

Foto: Germinia Pinho da Silva Góes, Nascida em 23 de Junho de 1928. Mora em Araci-Bahia. Foi visitada na infância pelo bando de Lampião. Relato feito em Dezembro de 2007 à Fernando Tito.

Sabendo dos rumores que Lampião estava nas redondezas, meu pai José Tibúrcio da Silva, ao viajar para Queimadas mandou que minha mãe, Marcionília Pinho da Silva, fosse dormir na casa do cunhado (Martinho Pereira da Silva) que ficava perto, eu Germinia Pinho da Silva tinha apenas seis meses de idade. José Tiburcio da Silva como proprietário da Fazenda Paraíba, transportava daqui peles de ovinos, bovinos e caprinos que levava para Queimadas pois lá havia um curtume que era do Coronel Vicente Ferreira da Silva, que era primo de José Tiburcio da Silva. Ao chegar lá ele deixava as peles para serem curtidas e as que já estavam curtidas ele pegava para trazer, completando a carga com sacas de café que vinham de Jacobina para Queimadas.

Meu pai era dono de uma tropa de oito burros, sendo seu tropeiro o Senhor Higino morador da Fazenda Roda, ao chegar aqui na Vila do Raso, como era conhecido na época, meu pai tinha que ir prestar contas ao Coronel Vicente Ferreira da Silva, pois era ele que dava os fretes para meu pai conduzir. Foi no período desta viagem que Lampião chegou em João Vieira arraial de Araci, no mês de Dezembro de 1928, procurou saber quem era fazendeiro e quem tinha tropas de burros, alguém que se dizia ser amigo de meu pai informou a Lampião sobre meu pai e Lampião mandou o cangaceiro Corisco ir até a Fazenda Paraíba guiado por esta pessoa, pois não sabiam onde era a Fazenda, ao chegar não encontrando ninguém colocaram fogo na casa.

Quando foram cinco horas da manhã, pois eu acordava muito cedo para comer, minha mãe chamou as meninas para ir tirar leite das cabras, pois eu só tomava leite de cabra, ela me levava nos braços, ao chegar na malhada ela avistou o fogo em cima da casa e logo viram os cangaceiros com os fuzis, os burros amarrados e etc.

Ela respeitando os cangaceiros não seguiu, pediu que uma das meninas que ela criava que voltasse na casa do meu tio Martinho para chama-lo para poder encorajá-la, pois ele ia enfrentar eles, ao chegar trazendo consigo nos braços o garoto José Brígido da Silva (Zeles) que tinha apenas dois anos e dois meses de idade, ele se reuniu com minha mãe que estava comigo nos braços, ao se aproximar da fazenda ela avista a fumaça em cima do telhado, pois eles já tinham arrombado a porta e entrado, pegado dinheiro, peças de tecido de seda, saquearam a casa e depois pegaram querosene, que na época meu pai comprava querosene em lata, destelharam a cumeeira da casa ensoparam com o querosene e puseram fogo.

Santo Antônio das Queimadas-Bahia às 19:35
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6 comentários:
Rubens Antonio2 de outubro de 2013 20:52
Prezado
É com prazer que vejo que utilizou algumas imagens e informações que eu dispus na internet.
Só gostaria de informar que a imagem do juiz e as imagens do sargento Evaristo não são oriundas do caro Oleone, mas eu que as localizei e divulguei.
Um abraço
Rubens Antonio
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Archimedes Marques12 de novembro de 2013 13:35
Parabenizando pela excelente matéria. Gostaria de entrar em contato com o gerente do site, mas não estou conseguindo acessar o seu endereço de e-mail. Segue o meu: archimedes-marques@bol.com.br
Atenciosamente,
Archimedes marques
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Antônio Crespo Lemos26 de julho de 2018 15:36
Meu nome Antônio José Crespo Lemos Costa, sou neto de José Crespo e Sobrinho de Carmem Crespo de Queimadas na Bahia, gostaria de contatos de parentes da familia Crespo de Queimadas na Bahia.
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Passarelli8 de janeiro de 2019 10:42
Excelente matéria...Parabéns!!!
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Unknown18 de maio de 2019 09:51
queria saber sobre a passagem dele em queimadas bahia
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Unknown16 de setembro de 2019 19:07
História de fato bem contata e que retrata o que meu pai dizia, já que ele presenciou a entrada de Lampião em queimada ano 1929.
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