Bom gente hoje
se completa 90 anos que Lampião e seus cabras, invadiram, Queimadas dia 22 de
dezembro de 1929 e assassinou setes soldados da policia militar.
Ao completar
Noventa anos hoje di sanguinário assalto de Lampião à cidade de Queimadas, o
Jornalista Oleone Coelho Fontes (foto) - que passou parte da sua adolescência
naquela localidade - rememorou o lutuoso fato em reportagem publicada no jornal
"A Tarde", de 14 de dezembro de 1977, que abaixo está reproduzido na
íntegra.
Na cidade de
Queimadas
Ele entrou de supetão
Prendeu todos os soldados
que tinha no Batalhão
Interrompeu telegramas
Fez baile de boas damas
No outro dia, bem cedo
Para quebrar o jejum
Desatou a soldadesca
E sangrou, de um a um
Quando furava sorria
Lambia a faca e dizia
Hum! Um gosto de jerimum*
(*) Antônio
Teodoro dos Santos in " Lampião, o Rei do Cangaço".
Texto de
Oleone:
22 de dezembro
de 1929 é uma data turva e melancólica na história de Queimadas. Naquele
domingo, ainda inesquecível na memória de muitos que presenciaram episódios de
violência sem par, Lampião, acompanhado de mais 15 cangaceiros, penetrou na
pequena vila com uma tranquilidade de quem chega em velho e seguro coito, pegando
a população inteiramente desprevenida. Nenhum dos habitantes daquela vila, que
umas três dezenas de anos antes, assistira a intenso movimento de tropas
oficiais se dirigir a Canudos dali voltando derrotadas, esfarrapadas,
mutiladas, famintas e finalmente vitoriosas, acreditava que Virgulino e sua
cabroeira tivessem o atrevimento de ali entrar, uma vez que Queimadas se
encontrava guarnecida por uma tropa composta de 7 soldados comandado por um
sargento.
O ASSALTO
Começou quando
um caminhão da antiga Inspetoria Federal de Obras das Secas ( IFOCS, atual
DNCOS), chegou à margem do rio Itapicuru trazendo o bando procedente de
Cansanção. Aqui os cabras encontraram os irmãos Carlos, Hilário e Irênio
Marques. Estes foram imediatamente presos e intimados a providenciar canoas
para conduzir os bandoleiros ao outro lado do rio. Chegando à outra margem, o
bando deu voz de prisão ao oficial de justiça, Alvarino que ali se encontrava.
Este pensara, por seu lado, que os invasores pertenciam à polícia pernambucana.
Alvarino foi obrigado a conduzir o grupo até a residência do Juíz preparador,
Manoel Hilário do Nascimento.
Ao penetrar na vila o bando dividiu-se em em duas partes: uma dirigiu-se à
estação da estrada de ferro e outra se dirigiu em direção ao quartel.
A ala que apoderou da estação prendeu o telegrafista Joaquim Cavalcante e o
agente Manuel Evangelista. Cortaram os fios do telégrafo. Em seguida procederam
à vistoria das gavetas e bilheteria, tomando 217$700 pertencentes à estrada de
ferro "e 40 e tantos mil-réis do agente".
Os bandidos fecharam a estação e ficaram com as chaves. Os dois prisioneiros
foram levados para rua sob ameaça de morte. Um dos assaltantes, apontando o
fuzil para a rua, intimou-o a lhe dar 500$000 com a condição de este nada
contar ao "capitão" (Virgulino), sob pena de aali mesmo ser
executado. O telegrafista, no entanto, nada tendo consigo foi, mediante ordem,
tomar a importância referida ao Sr. Antônio Araújo (Totonho), sendo solto após
a entrega da quantia exigida. O agente, todavia, continuou como prisioneiro a
fim de mostrar ao bando as casas dos negociantes, até às 18 h, quando foi
mandado para casa sob a condição de não sair dali para lugar nenhum, mesmo se
visse que a estação estava em chamas.
A outra ala do grupo, chegando ao quartel encontrou os soldados inteiramnte
alheios ao assalto de que estava sendo alvo aquela vila de não mais de 3 mil
habitantes, à época. O sargento Evaristo, comandante do destacamento, no
instante em que os cangaceiros entraram no quartel descia as escadas, de
pijama, com uma toalha no pescoço, para o banho. Alguns historiadores afirmam,
entretanto, que ele no momento se achava deitado numa rede, lendo a bíblia,
pois era crente da seita Batista. Os soldados jogavam ronda (segundo depoimento
de Labareda a Estácio Lima), outros dormiam e o sétimo deles, sobrinho da
esposa do sargento Evaristo, se achava na Rua da Bomba (baixo meretrício).
Deusdedith Barbosa de Souza, 76 anos, casado, comerciante, conta que o bando
chegou a queimadas por volta das 4h da tarde. (João Muniz Barreto, à época
representante comercial e correspondente de jornais da capital, precisa o exato
momento como tendo sido às 15h30min.). Tinha então "Seo" Deusdedith,
29 anso de idade e tomava conta de uma casa de comércio de propriedade de seu
pai, Hermelino Barbosa de Souza.
- Eram ao todo 16 cangaceiros. Volta Seca não passava de um garotinho de 15
anos de idade.
A população de Queimadas, segundo vários entrevistados, tinha ciência de que o
bando de Lampião se encontrava naquela zona. Não imaginavam todavia que ele
tivesse a ousadia de surgir naquela vila, já que lá havia um destacamento de 7
soldados e um sargento. De sorte que, quando os facínoras apareceram nas ruas
nenhuma reação foi esboçada- da população ou da polícia.
- Eu estava na venda- prossegue "Seo" Deusdedith- na hora em que o
grupo passou. Nem tomei conhecimento. Pensei que fosse alguma força das
pernambucanas. Na época era comum as forças por aqui passarem, à procura de
revoltosos ou em perseguição de cangaceiros vindos da Bahia, de Pernambuco, de
Sergipe, deste mundo todo. Pensei comigo: " esta deve ser a força do
capitão Macedo". À frente do bando seguia o oficial de justiça (Alvarino),
o que reforçou mais a minha idéia de tratar-se da força sob o comando do
capitão Macedo. subiram em direção ao quartel. Uns 15 minutos depois fechei a
venda e fui para minha casa. Passei pelo grupo. Notei que entre eles havia um
soldado. Até então não me passava pela cabeça que estivesse ali a dois passos
de mim o " capitão" Virgulino Ferreira da Silva e sua gente. Foi no
que encontrei Dona Generosa Crespo e ela me disse: " Deusdedith, aquele é
o grupo de Lampião". Ainda assim não acreditei e teimei com ela que não
era não, que aquele era a força do Capitão Macedo. Não se acreditava que Lampião
tivesse a coragem de invadir um lugar guarnecido por uma força policial.
De sua casa "Seo" Deusdedith garante ter visto com precisão o pulo
que o chefe dos bandidos deu para o interior do quartel e bradar para os que
ali se encontravam: " É lampião...".
Defronte ao quartel o grupo foi estrategicamente subdividido em duas partes:
uma correu para esquina, outra para a esquina contrária. Indagaram pelo
carcereiro (de nome Elesbão), que se achava ausente naquele instante. Ordenaram
que ele viesse. Tão logo o carcereiro apareceu, o próprio Lampião exigiu que
fosse aberta a porta do xadrez e soltos os presos ( 3 ou 4, "Seo"
Deusdedith não se lembra com precisão quantos. Sabe que estavam recolhidos por
crimes de homicídio). dois dos presos eram ex-soldados que haviam cometido
assassinato e estavam aguardando ordem para serem transferidos para a
Penitenciária do estado, em Salvador. Labareda, em depoimento a Éstacio de
Lima, assegura que " tava preso, incrusive, dois sordado aqui tinha bulido
com a fia dum véio, i entonces o véio arrecramô e eles tinha matado u
"véio". No lugar dos presos foram trancafiados os soldados do
destacamento, depois de devidamente desarmados. Um dos praças, que no momento
se achava ausente, quando soube que Lampião havia prendido seus colegas de profissão,
veio se entregar.
A CHACINA
Havia uma
senhora da nossa sociedade - conta "Seo" Deusdedith - Dona Santinha
(Austrialina Teixeira, esposa de Amphilóphio Teixeira) - que usava um trancelim
de ouro muito bonito no pescoço. Lampião, entrando em sua casa notou o
trancelim de ouro maciço, jóia valiosíssima e fez elogio ao trancelim. Dona
Santinha imediatamente retirou a jóia e ofereceu ao capitão Virgulino. Este,
aliás muito costesmente, recebeu a jóia, agradeceu e disse: " Dona
Santinha, agora a senhora tem o direito de me fazer um pedido, pois dizem que
bandido não tem palavra". Ela pediu então que ele poupasse a vida do
sargento Evaristo, alegando ser ele um crente da igreja Batista (religião que
ela frenquentava), e ajuntou ainda tratar-se de um cidadão direito, honrado,
excelente pai de família. Lampião, um tanto contrariado, garantiu a D. Santinha
que a vida do sargento seria poupada, acrescentando: " Nunca poupei vida
de um 'macaco', mas eu ja disse que a senhora tinha direito aum pedido e vou
garantir minha palavra, pois bandido também tem palavra".
O próprio sargento, comandante da tropa, recebeu das mãos do chefe supremo do
cangaço, um mosquetão (sem balas), e onde este ia aquele o acompanhava.
Foto: Ponto
atravessado por Lampião e seu bando, em 22 de dezembro de 1929.
João Lantyer,
segundo à direita, com seu "Ford Bigode" (foto). Na extrema direita,
o mecânico Patápio. Foto de 1928. Possuiu-o por pouco tempo. Vendeu-o para
atender ao pedido da esposa, que temia que, em suas viagens, fosse novamente
abordado por Lampião. Informação de Antonio Lantyer, seu filho, in Chalé
Lantyer
Ali, João se
encontrava com o mecânico Pedro Patápio realizando consertos no seu "Ford
Bigode”. Após breve conversa com Lampião, que solicitou o automóvel para
adentrar a cidade no mesmo, informando-o que este se encontrava, como se podia
perceber, com defeito, foi deixado para trás. Isto, enquanto o cangaceiro
despachava alguns cangaceiros para neutralizar o telégrafo e avançou adentrando
a cidade.
O Dr. Manoel
Hilário do Nascimento (foto), Juiz Preparador do Termo, estava entretido com
alguns amigos, entre os quais o tabelião José Francisco do Nascimento, numa
agradável prosa domingueira, quando, de repente, chega o oficial de justiça,
Alvarino, preso pelo cós das calças e anuncia, com voz embargada: "
Doutor, o Capitão Lampião."
Imediatamente, o Juiz e todos que ali se achavam foram presos.
Ao ver o Juiz, o escrivão, o oficial de justiçae o tabelião, todos negros,
Lampião ironizou-:" Que terra desgraçada, toda a justiça é negra". E
voltando-se para o Dr. Manoel Hilário, indagou com sarcasmo: "Então você é
mesmo doutor?" - Ao que o Juiz respondeu: " Sou, sim senhor. Sou
bacharel..."
Lampião prosseguiu na chicana: " Deixe ver suas mãos". Mostradas as
palmas das mãos sem um calo sequer, Lampião exclamou: " Que negro bom para
uma enxada".
Depois destas e outras humilhações, Lampião, sem perda de tempo, deixou uma
guarda tomando conta do juiz e dois dos seus amigos prisioneiros e seguiu para
assaltar o quartel.
Fonte: Nonato
Marques. Santo Antônio das Queimadas, pag.139)
LAMPIÃO ROUBA,
ASSALTA E MATA EM QUEIMADAS 1929.
(Antônio Monteiro)
Quem poderia
um dia imaginar que o tão famoso bandoleiro do sertão, tivesse em seus planos
de ladrão e homicida, a coragem de invadir Queimadas, uma cidade pacata, mas
estratégica, com serviço de telégrafo e trem usual? Pois, invadiu!
LAMPIÃO CHEGA
À QUEIMADAS
O Rio
Itapicuru estava cheio. João Lantyer, Coletor Federal, irmão de Zulmira, estava
na oficina de Pedro do Pataco, quando passava vindo do rio, um grupo de cerca
de 18 homens armados, que o deixou confuso, porque o sargento Evaristo,
Comandante do Quartel da PM, esperava uma Volante, na qual o Comandante era seu
amigo e viria almoçar com ele.
ZULMIRA
LANTYER RECONHECE LAMPIÃO
As 10:30 horas
do dia 22 de dezembro de 1929, um domingo, em plenos preparativos para os
festejos do natal e do ano novo, um grupo de moças, entre elas Zulmira Lantyer
(foto), ensaiava em casa uma peça teatral para ser apresentada na noite de
natal.
Da janela da casa, umas das moças confunde o bando de cangaceiros com uma
Volante. Porém, Zulmira, que conhecia o facínora através de retratos em
jornais, o reconhece, e fala para as amigas: - É o bando de Lampião. E, o que
vai na frente é o próprio. A jovem Zulmira sai correndo e espalha a notícia da
invasão de Lampião na cidade, contudo, o povo, não acredita nela.
foto: Estação
ferroviária de Queimadas- Bahia
DISTRIBUIÇÃO
DOS CANGACEIROS
Arteiro,
Lampião designou dois cangaceiros para tomarem de assalto a Estação de trem de
Queimadas. Na estação cortaram os fios do telégrafo, danificaram o aparelho,
roubaram o dinheiro e ficaram de campana.
Antiga
prefeitura e quartel onde aconteceu a chacina.
LAMPIÃO CHEGA
AO QUARTEL
Como se
conhecesse Queimadas como a palma da mão, com a maior facilidade, Lampião chega
ao Quartel da Polícia Militar. O facínora na frente. Sem nenhum escrúpulo o
grupo invade o quartel.
Todos os dias - diz seu Nôza - eu ia levar comida para um preso de Itiúba, que
era compadre de D. Marocas, minha mãe, quando vi o bando. Dentro do quartel,
sentados no último degrau da escada havia dois soldados brincando com umas
pedras no piso riscado. O bando fez uma volta no salão e cercou os soldados,
que “bateram” continência para Lampião. O cangaceiro – chefe repudiou veemente:
- Baixe os braços, macacos! Eu sou o bandido Lampião! Os soldados ficaram
paralisados.
Lampião abriu a porta da cadeia e soltou os doze presos (assassinos e ladrões).
Inclusive um soldado da PM que havia estuprado uma criança. Em seguida, Lampião
utilizando-se de um apito (artifício que o sargento usava para chamar os
soldados com urgência ao quartel), fez com que os outros soldados, até mesmo o
Sargento Evaristo, voltassem correndo para o quartel, sendo surpreendidos pelos
cangaceiros e presos na cadeia.
Na época eram exatamente sete soldados e um sargento. Na porta do quartel, do
lado de fora, ficara um cangaceiro com a arma apontada para dentro, em sinal de
vigília. Após essas atitudes, Lampião deixou alguns cangaceiros tomando conta
do quartel. Com treze “cabras” desceu pela cidade e foi à casa do juiz, Dr.
Hilário.
ACERTO COM O
JUIZ
Com o Dr.
Hilário, Lampião acertou que o mesmo fizesse uma lista de nomes de pessoas
influentes e de posses. Imediatamente as intimasse a comparecer com urgência na
casa do referido juiz.
Cada pessoa intimada pelo senhor Alvarino, que chegava à casa do juiz, lhe era
estipulado uma quantia em dinheiro ou em jóias, para entregar a Lampião. O
senhor Francisco Moura (Catita), Escrivão Estadual, responsável pela Coletoria,
disse a Lampião que poderia lhe dar quinhentos mil reis, e deu. Desse modo,
cada pessoa intimada deu ao cangaceiro a quantia negociada. Totalizando:
22.345$700(vinte e dois contos, trezentos e quarenta e cinco mil e setecentos
reis).
LAMPIÃO
DECLINA SUA FALSA BONDADE
Quando seu
Catita entregou a Lampião os quinhentos mil reis e o coronel Hermelino entregou
oitocentos mil reis, Lampião disse ao então Escrivão da Coletoria Estadual, que
por aquela importância que lhe era entregue, se a família Moura viesse a sofrer
alguma necessidade, tirasse dali o dinheiro que poderia impedir o efeito
citado, ficando o total, diante do que afirmara seu Catita.
Lampião, então comentou, que os valores arbitrados foram pelo juiz e não por
ele. Disse também: “eu sei que negro só tem juízo pela manhã, mas num dia
deste, com bandido na porta em demadrugada, tem. Que daquele dinheiro que
estava tomando, poderia ser taxado de ladrão, mas não ficaria com um tostão,
porque, utilizaria todo dinheiro para pagar as bala que comprava dos próprios
macacos; tanto que as balas do seu bando eram todas do ano de 1930, enquanto as
dos macacos eram de 1910 a 1930, que não serviam nem pra matar cachorro”. E
exibiu seus cartuchos.
A RAZÃO DE SER
BANDIDO
Segundo
história narrada por Lampião, na casa do Dr. Juiz Pretor, a causa de sua vida
de bandido foi à morte de seus genitores praticada por dois policiais a mando
do Cel. Chefe Político. Ainda jovem fora queixar-se da morte dos pais na
delegacia de polícia, onde foi barbaramente espancado. Mais tarde, resolveu
falar com o juiz, onde após relato de toda história, inclusive do espancamento
sofrido, recebeu apenas o conselho de entregar o caso a Deus, pois os políticos
eram maus e estavam com o poder, havendo o perigo de ser molestado se fosse
mexer com o caso.
Não satisfeito, Lampião resolveu matar o Chefe Político, e logo vendeu tudo o
que tinha. Com o dinheiro apurado foi até a fazenda do Coronel e o matou. Mais
tarde mandou avisar na cidade seu mal feito e fugiu para bem longe.
A perseguição para prendê-lo foi enorme, até que um dia, em um local muito
distante, indo ao povoado, Lampião disse ter visto o seu retrato com uma oferta
de duzentos mil reis para quem apresentasse sua cabeça. Neste mesmo dia, quando
estava comprando uma fruta, foi abordado por dois soldados que lhe deram ordem
de prisão. Mas num lance rápido, tomou a arma de um soldado e atirou no outro,
matando-o. Apossando-se das duas armas. No quartel liberou o preso que ia para
a penitenciária, sendo este seu primeiro companheiro da jornada de bandido.
Como bandido, o seu propósito era não entregar-se de maneira alguma à polícia,
em virtude da liberdade que usavam os criminosos de seus genitores.
O MASSACRE NA
PORTA DO QUARTEL
Às 18 horas,
Lampião saiu da casa do juiz e voltou ao quartel. No passeio do quartel, em voz
alta disse que iria matar todos os macacos. Que as pessoas (civis) se
abrigassem em suas casas, atrás de paredes, pois, não gostaria de saber que uma
bala do seu bando havia atingido um civil. O Sargento Evaristo pediu que
Lampião o livrasse de ver os seus soldados sendo assassinados a sangue frio.
Que preferia ser o primeiro a ser morto. Lampião, com muita raiva, mandou que o
sargento se afastasse imediatamente do quartel.
CHAMAMENTO
PARA A MORTE
Um a um os
soldados eram chamados para fora do quartel. Lampião fizera uma espécie de meia
lua com seus homens. Aos soldados, ele mandava que os mesmos se abaixassem para
tirar a caneleira da botina. Quando o soldado se abaixava Lampião atirava na
nuca. Os seus “cabras” iam sangrando os mortos e os colocando na porta da
prefeitura, lado a lado.
SOLDADO
CORAGEM
Um dos
soldados, também com o nome de guerra Evaristo, ao ser chamado para a morte,
pela janela do quartel tentou agredir Lampião e foi agarrado por seus “cabras”.
Entrou em luta corporal com Volta Seca.
Dominado, mas, denotando muita coragem, diz para Lampião: “ – Você é muito
macho com um fuzil e um punhal na mão. Vamos lutar homem a homem com fuzil ou
punhal!” Volta Seca pediu a Lampião que queria sangrar o soldado. Com um punhal
sangrou o soldado Evaristo e bebeu o sangue. Depois, no passeio onde é hoje a
Câmara dos Vereadores, vomitou. E, onde hoje é o Banco do Brasil, vomitou
novamente o sangue do soldado.
Cópia do
documento de identidade do sargento Evaristo, comandante que sobreviveu ao
ataque de Lampião ao quartel de Queimadas- Bahia, em dezembro de 1929.
UM CONDENADO
ESCAPOU DA MORTE
Um dos oito
militares capturados, apenas o sargento Evaristo Carlos da Costa, comandante do
destacamento, escapou. Durante o espaço de tempo que esteve preso, foi obrigado
a percorrer as ruas pricinpais, já condenado, acompanhando o grupo, armado de
fuzil sem balas, no ombro. A seu lado o perverso cangaceiro Antônio de Engrácia
lhe sussurrava nos ouvidos: - Mais tarde o galo vai cantar nos seus ouvidos.
Ouve-se nos bares em Queimadas, que o Sgt PM Evaristo foi obrigado por Lampião
a vestir saia, sutiã, blusa de mulher e sapato alto. Desfilar rebolando pelas
ruas da cidade, os “cabras”, em volta dele, mangando. Graças, no entanto, ao
pedido formulado por D. Santinha, esposa de Amphilóphio Teixeira, escrivão da
Coletoria Federal - o que representou exepcionalíssima concessão do rei do
cangaço - que o sargento Evaristo escapou.
Ângelo Roque, no mencionado depoimento ao professor Estácio de Lima, confira o
fato, dizendo que o sargento, se não fosse à intervenção da moça, igualmente
“tinha caído no ferro”. E acrescenta que pensaram que o sargento trabalhava pra
eles, o que não passava de grosso equívoco. No processo a que respondeu pesava
sobre o sargento a acusação de traição.
O fato extraordinário de o sargento Evaristo haver escapado com vida se deve a
uma jóia, sem que o sexto sentido não tenha também contribuído. Conforme umas
das versões, o que ocorreu foi o seguinte: Lampião, na companhia de alguns
cangaceiros, ao invadir a residência de Amphilóphio Teixeira, observou que sua
esposa, D. Santinha, usava um lindíssimo trancelim de ouro no pescoço, tendo
para as jóias palavras de elogio e admiração. D. Santinha, farejando o
interesse do bandido por seu pingente de ouro, retira e o oferece a Lampião.
Este num ímpeto inesperado, do qual amargamente se arrependeria lhe declarou: -
A senhora agora tem o direito de me fazer um pedido. Dizem por aí que bandido
não tem palavra, mas eu quero mostrar à senhora que bandido também tem palavra.
Naquele momento a vida do sargento foi poupada. D. Santinha pediu por ele, que
sua vida fosse preservada, pois tratava-se de cidadão correto, crente,
excelente pai de família, homem temente a Deus, religioso e de muito caráter. E
continuou a tecer elogios até ser atendida. Notou, todavia, que Lampião ficara
constrangido e embaraçado, seguramente por não esperar pedido daquele porte. No
entanto, refazendo-se da surpresa, disse: - Nunca poupei vida de macaco, mas eu
já disse que à senhora tinha direito a um pedido e vou garantir a minha
palavra. Bandido também tem palavra. E se depender de mim o sargento só morre
de velho.
Realmente, a profecia aconteceu, e o sargento Evaristo morrreu de velho.
Lampião, depois do massacre, ainda deu um baile no Clube e foi embora com seu
bando pela madrugada do dia 23 de dezembro de 1929. Daquele dia trágico na
pacata cidade, de cidadãos ordeiros, ninguém esquece. O Quartel, ainda hoje,
maio de 2009 é o mesmo. Pessoas, tais como: João de Alice, Joel, Nôza, guardam
na memória aquele dia triste, marcado de muito sangue em Queimadas. Dizem que
as marcas de sangue dos soldados até o presente momento estão incrustradas no
passeio do Quartel.
ALGUMAS
AUTORIDADES DA ÉPOCA
1.Intendente:
Aristides Simões.
2. Delegado: Durval Marques.
3. Juiz de paz: Pedro Primo.
4. Coletor Federal: João Lantyer.
5. Escrivão da Coletoria Estadual: Francisco de Moura e Silva (pai do Sr.
Nôza).
6. Juiz Pretor: Dr.Hilario (um negro).
7. Serventuário da Justiça Estadual: Alvarino.
8. Dr. Sampaio.
9. Antonio Araújo – Banco do Brasil.
10.Waldemar Ferreira – comerciante.
VERDADE OU
MENTIRA?
No decorrer do
ano de 1960, dizem que Lampião, já sem a indumentária de cangaceiro, esteve em
Santa Luz, na casa comercial do Sargento Evaristo. Em 1962, - diz seu Nôza –
meu filho, Francisco, em Apipucos-PE, ouviu uma conversa entre dois senhores,
onde um afirmava estar Lampião, numa fazenda ali perto. Uma senhora de
Queimadas, que viajava sempre pra São Paulo, numa dessas viagens, num trem, em
Minas Gerais, encontrou-se com um senhor idoso que disse conhecer muito bem
Queimadas, indicando pontos reais. Ao despedir-se, o referido idoso falou que
era o cangaceiro Lampião.
O senhor Luiz Soares, juntamente com um amigo, esteve na residência de Lampião,
na fazenda Rio Verde em Teófilo Otone, em Minas Gerais, onde conversou com
Lampião que estava muito doente. Isso em 1977. O que supomos que o referido
cangaceiro, estaria com cem anos. Verdade ou mentira?
Rara
Fotografia de Lampião e Seus Cabras: em Queimadas na Bahia, Logo Depois do
Massacre a Vila de Santo Antonio Das Queimadas em 1929.
Vê-se na
Fotografia: 1-Lampião 2-Corisco 3- Marreco 4-Azulão 5-Luiz Pedro 6-Cravo Rôxo
7-Moita Braba 8-Português 9-Volta-Sêca.
A Fotografia é em Frente a Antiga Delegacia de Queimadas Bahia em 22 de
Dezembro de 1929.
A ARRECADAÇÃO
EFETUADA POR LAMPIÃO E SEU BANDO EM QUEIMADAS BAHIA
EM DEZEMBRO DE 1929.
A seguir,
damos uma relação das quantias arrecadadas, conforme reportagem de João Muniz
Barretto, publicada no " O Jornal", de 26/12/1929, diário que se
editava na Capital da Bahia. João Muniz Barretto se achava em Queimadas na
ocasião, no desempenho de sua atividade de representante de algumas firmas
deste e de outros estados.
Foi arrecadada a importância de vinte e dois contos trezentos e cinco mil e
setecentos réis (22:345$700), do seguinte modo:
* Waldemar
ferreira, representante de Fernandes, Mota & Cia.... ......400$000 e um
relógio e cadeia de ouro.
* Francisco Machado Bastos, representante de José Bastos & Cia....400$000 e
um par de mostruário.
* Lauro Pomponet, representante de Lopes, C ardoso & Cia............400$000
e uma mala do mostruário.
* Isaac Araújo, representante de Antonio Bacelar e Cia, de Serrinha.400$000
* Estação da Estrada-de
Ferro.........................................................217$700
* Telegrafista Joaquim Cavalcanto, tomados a Antônio Araújo...........500$000
* Agente Manoel
Evangelista...............................................................45$000
* Antônio Francisco da Silva.............................................................500$000
* Dr.
Sampaio................................................................................1:000$000
* Umbelino santana, fora
mercadoria...............................................1:000$000
* Hermelino Barbosa......................................................................1:000$000
* Luiz
Sant'Anna.............................................................................1:000$000
* Ezequiel Pereira ..........................................................................1:000$000
* Jayme Antônio (coletor
estadual)....................................................500$000
* Francisco Moura( Escrivão da coletoria
estadual)............................500$000
* Coletoria Federal.........................................................................1:150$000
* Elias
Marques.................................................................................500$000
* Manoel Ferreira
Silva......................................................................500$000
* Celso
Lantyer..................................................................................600$000
* José Lino da
Costa..........................................................................500$000
* Antonio Salles..................................................................................550$000
* Antonio Araújo (correspondente do Banco do
Brasil)....................2:500$000 e animal, arreios, etc...
* Irênio Marques................................................................................200$000
* Bento Coelho de
Sousa...................................................................340$000
* Pedro
Andrade................................................................................500$000
* Pedro
Primo....................................................................................900$000
* Araújo e
Oliveira...........................................................................1000$000
do mesmo em mercadorias.................................................................600$000
* Tertuliano
Lino................................................................................500$000
* André
Martins................................................................................943$000
do mesmo em
mercadorias................................................................200$000
Total:............................................................................................22:345$700
Depois da
coleta o grupo sinistro se dirigiu para o quartel da força pública para
consumar a tragédia.
Fonte: (Nonato
Marques. Santo Antonio das Queimadas. pag. 141)
Túmulos dos
soldados Aristides e Justino (foto de Sérgio Dantas)
A MATANÇA NO
QUARTEL DE QUEIMADAS EM 1929.
Eram 18:30
horas, aproximadamente. Depois de embolsar o dinheiro extorquido, Lampião
resolveu liquidar os soldados que estavam presos, o que fez covardemente, com o
maior sangue-frio, do lado de fora da cadeia, na calçada de cimento que, por
algum tempo, conservou a mancha vermelha do massacre. Foram tirados do xadrez,
um a um, e cada qual de per si receberia um tiro de mosquetão na cabeça e era,
logo após, sangrado barbaramente.
Lampião, pessoalmente, realizou a execução, auxiliado por outros cabras, dentre
os quais se salientou Volta Seca que sangrava as vítimas depois de baleadas e
que, após a chacina, ainda andou publicamente lambendo a lámina do punhal
ensanguentado, reclamando que o padrinho Lampião só lhe dera quatro macacos
para sangrar. Labareda diz, em seu relato, que Volta Seca o que fez foi por
ordem de Lampião que tinha que ser obedecido. Diz também, que ele tomou parte
no massacre igual com os outros, juntamente com os grandes do cangaço.
Segundo depõe Labareda, quando Lampião deu ordem para a matança dos soldados,
houve tiros, e muita gente correu pensando que tinha irrompido uma
"brigada". Acrescenta ele que uns dois macacos morreram de
"fazer gosto", enquanto os outros esmoreceram. Só pediam para viver. Houve
o caso de uma anspeçada, homem carregado de filhos, que chegou a se ajoelhar e
rogar que não o matasse porque ele daria baixa da polícia. Lampião não o
poupou, dizendo-lhe: - " Quando eu encontro macaco da Bahia, mesmo que
esteja com os dedos furados de rezar rosário, eu não perdôo". E executou o
pobre homem que tinha uma família numerosa de nada menos de nove filhos.
Nome dos
Mortos:- Soldados: Olímpio de Oliveira; Aristides G. de Sousa: José Antônio
Nascimento; Inácio Oliveira; Antonio José da Silva; Pedro Antônio da Silva e
anspeçada Justino N. da Silva.
Fonte:( Nonato
Marques. in Santo Antônio das Queimadas. pag.142)
EVARISTO
CARLOS DA COSTA- SOBREVIVENTE DA CHACINA DE QUEIMADAS EM 1929 (FOTO) POR OLEONE
COELHO FONTES:
Não foi tarefa
das mais fáceis conseguir entrevistar o sargento Evaristo, aos 85 anos de
idade, vivendo modesta e anonimamente na cidade de Santaluz, único sobrevivente
daquela chacina. todos os seus amigos, mesmo os mais íntimos, sabem-no um homem
ainda profundamente abalado pelos acontecimentos trágicos e inesquecíveis
daquela antevéspera do natal de 1929. Pr outro lado, Evaristo se acha bastante
enfermo, com sérios problemas circulatórios e cardiovasculares. conseguir
fotografá-lo, por exemplo, foi uma dificuldade que durou meses.
Ter escapado das garras de Lampião e seus facínoras com vida deixou-o, além de
traumatizado, com forte complexo de culpa, já que todos os seus comandados
foram massacrados friamente, às suas vistas, sem que ele nada pudesse fazer. A
partir daquele dia o sargento Evaristo se tem terminantemente recusado a
abordar o assunto: nunca deus entrevista a jornalista, jamais recebeu em sua
casa estudioso do fenômeno cangaço, em tempo algum permitiu que alguém tocasse
no assunto, mesmo de leve, mesmo indiretamente. E todos que com ele convivem
sabem-no um homem reservado, criterioso, sistemático, a ponto de não permitir
brecha para que aqueles fatos sejam ventilados. Considero, pois, uma façanha
não propriamente o ter entrevistado, mas conseguir que ele, de propósito,
aceitasse repassar o assunto. tive de apelar para velhas amizades de família -
do meu avô e do meu pai ele foi amigo íntimo.
- Eu me considero um homem protegido por Deus- afinal consegui escapar tanto
das garras dos bandidos como da própria justiça que me julgou após a chacina de
Queimadas. fui acusado de dessídia, de negligência, de ter feito pouco caso do
perigo que Lampião representava para aquela comunidade estava sob minha
proteção. Respondi a um inquérito que me deu muitas dores de cabeça. Por todos
os lados eu só escutava a palavra: " culpado". Houve até quem
sugerisse que eu deveria me suicidar. Mas suicidar por que? Eu fora poupado
pela proteção Divina, minha hora não havia chegado, como é que me davam um
conselho estúpido daquele? Foi, graças a Deus e a habilidade de dois grandes
advogados- Gilberto Valente e Nestor Duarte- que fui absolvido...por
unanimidade. na verdade eu não entendia porque me acusavam de negligente: eu
não tinha realmente conhecimento da presença do bando de Lampião naquela zona.
a última notícia que me chegara aos ouvidos era de que o grupo se achava lá
pros lados de Capela, em Sergipe. Como é que eu poderia imaginar que eles
chegariam de repente em Queimadas?
- No dia seguinte que estive à mercê dos bandidos não avreditei escapar de
jeito nenhum com vida. Eles não chegaram a me maltratar, mas um deles por mais
de uma vez sussurou juntinho de mim: " mais tarde o galo vai cantar nos
deus ouvidos". E aquela desgraça ocorreu justamente ba vespera de eu
viajar para Salvador, a fim de ir buscar o soldo dos soldados que, naquela
época, recebiam seus vencimentos na capital, por meu intermédio.
- Quando foi concluído o inquérito a que o senhor respondeu?
_ Em 1931. Fui (e repito) absolvido por unanimidade. E ainda ganhei um elogio
de Auditoria, através do major Alcebíades Calmon de Passos. Disse ele:"
Quem lhe absolveu não foram os advogados, nem os jurados, nem ninguém. Foi a
sua própria conduta de 21 anos de comportamento sem jaça".
- Como militar, onde o senhor serviu?
- Em Camaçari, Belmonte, Conceição do Coité (2 vezes), Santaluz, Itiúba, Senhor
do Bonfim, Juazeiro, Casa Nova, Barra (2 vezes), Carinhanha, Rio Branco (antigo
urubu, hoje Ubatinga), Barreiras, Nova Soure, Cipó, Monte Santo. Andei por este
mundo afora jogado de um lado para o outro, feito bola em campo de futebol. O
caso é que eu sempre fui muito rebelde a certo tipo de autoridade autoritária.
Estive ainda em Queimadas e em Santo Antonio de Jesus...
Para Nilton Oliveira, 52 anos, casado, negociante da cidade de santaluz, o
sargento Evaristo é um homem metódico, até certo ponto arejado, iste é, um
homem com hábito comum de leitura. Além de ser uma criatura muito bem
relacionada na cidade de Santaluz, tendo ali exercido a profissão de
comerciante varejista de gêneros alimentícios durante décadas, o que deixou por
força da idade.
Em Santaluz o sargento Evaristo por duas ou três vezes exerceu o cargo de
delegado de polícia, posição que desempenhou com dignidade e zelo. Como amigo-
finalizou - é um homem dotado de qualidades exemplares.
Para Hiran Carvalho Barreto, 43 anos, casado, atual prefeito de Santaluz, o
sargento Evaristo é uma pessoa " com quem mantenho os mais estreitos e
íntimos laços de amizade e companheirismo, por ser excepcionalmente honesto,
leal, homem de palavra, caráter incomum".
As atividades atuais do sargento Evaristo se resumem em ler diariamente a
biblia ( continua crente fervoroso Batista), receber amigos em sua casa para
prosa amena sobre os diversos problemas atinentes ao país, à Bahia e á sua
comunidade. Ele confessa não passar sem ouvir, todas as manhãs, " O
Trabuco", pela Rádio Bandeirante de São Paulo, apresentado pelo veterano e
cáustico Vicente Leporacem não deixando de ser, sobretudo, um homem
profundamente solitário.
Nota: O
sargento Evaristo faleceu pouvo tempo depois de haver sido publicada essa
reportagem.
Fonte: (Nonato
Marques. Santo Antonio das Queimadas. pag.155/156)
Foto: Sargento
Evaristo, sobrevivente da chacina cometida por Lampião em Queimadas- Bahia em
1929. Pousando ao lado do Quartel onde ocorreu o fato. Foto de 1928.
Foto: Apecto da Vila de Queimadas, 1920, 9 anos antes da passagem de Lampião
DEPOIS DA
MATANÇA O JANTAR- Queimadas, dezembro de 1929.
A dona da
Pensão se chamava Júlia, mulher um tanto corpulenta, cadeiruda, já andando, na
ocasião, pela casa dos quarentas anos. Era, portanto, uma madurona vistosa.
Para ela Lampião mandou por João Balaio o seguinte Bilhete:
" Sra D.
Júlia
Por este portador mande 500$000 sob pena de pedir mais- Lampião".
E pelo mesmo
portador mandou um recado: que preparasse jantar paea ele e para os
companheiros. Ao que Júlia teria respondido que não preparava jantar nenhum,
que fossem comer no inferno. João Balaio dá a resposta e Lampião ruma para a
Pensão, a fim de tirar satisfação.
Júlia é ameaçada de morte, mas se desmancha em desculpas, enquanto João Balaio
foge espavorido. Nada aconteceu além disso, porque Júlia conseguiu convencer a
Lampião não ter dito que " não preparava o jantar".
Lampião, jantando, declarou que desejava viver sossegado em lugar se o governo
não o perseguisse. Nessa mesma ocasião do jantar, um dos bandidos disse, com ar
de galhofa: - que " os soldados presos estavam com uma febre desconhecida
e que davam uma tremedeira e caíam" e perguntou às pessoas que por ali
estavam se " não tinham ouvido os estalos do cafuné?.
Os caixeiros viajantes que ali estavam hospedados, serviram de garçons,
juntamente com o Prof. Antonino Rocha, funcionário do Estado, que estava de
passagem por Queimadas.
Fonte: (Nonato
Maques. Santo Antônio das Queimadas. pag. 144)
Lampião assiste
cinema- trecho do livro " Santo Antônio das Queimadas" de Nonato
Marques.
Após jantar,
arrotando e palitando os dentes, Lampião e sua gang se dirigem para a Sociedade
Filarmônica Recreio Queimadense, clube musical então presidido por Durval
Marques da Silva. No salão principal funcionava semanalmente um pequeno cinema
mudo que, nesse domingo, anunciava a projeção de uma fita intitulada Ninho de
Amor. O cineminha era de propriedade de Umbelino Santana.
Carta de
Lampião ao Governador
Na parede do
comprido salão da Sociedade, Lampião garatujou a lápis a seguinte carta ao
Governador do Estado:
"22 de
dezembro de 29
Peço desculpa ao Governadô em EU Capt. Lampeão dar Este Paceio aqui Em
Queimadas e assenti Em Um Senema lhe digo deveria não Endoide Seu Governadô
Vitá Suor apois com sua Perceguição.
Estou Engordando até penço que vou E mé cazar.
Virgulino Ferreira Lampião
Governadô do Sertão."
Escrita a
carta neste diapasão de chicana, Lampião mandou passar a fita programada, mas,
pouco tempo depois se aborreceu e mandou parar a projeção.
Depois te tudo
um forró ( passagem de Lampião em Queimadas -1929)
Junto ao
cinema morava Félix Rato ( pedreiro, mestre-de-obras) em casa que ainda hoje
existe do mesmo jeito que era naquela época. Para lá Lampião se dirigiu com seu
grupo. E em poucas horas, arrumaram uma festa que se prolongou até cerca de 3
horas da madrugada.
Labareda, ao rememorar o fato, diz que de noite foram dançar na Intendência,
com luz de motor, o que é um equívoco. A festa foi mesmo na casa de Félix Rato,
o mestre "grau" que tantas coisas construiu em Queimadas.
A propósito, informa Labareda: " Lampião preveniu os cabras que num quiria
farta de respeito com as famía. Us pessoá quiria mulé foi percurá as muié
sortera nas ponta de rua. Elas inté chamava a gente pra ganhá seu
dinheiro..."
A informação é absolutamente correta. Apesar de terem comparecido obrigadas (é
claro), as " moça novinha, as mulé casada e as sortera, tudo junto, e os
furdunço das dança pela noite toda," como relembrou Labareda, o baile transcorreu
sem nenhum atentado a moral.
Começaram dançando apetrechados , como estavam, armados com dois punhais, dois
revólveres e fuzil. Como o apetrecho era muito incômodo e dificultava os
passos, desarmaram-se, mas as portas ficaram guarnecidas por outros cabras que
ficaram rondando por fora como sentinelas.
Fonte: (Nonato
Marques.Santo Antônio das Queimadas. pag. 145)
Foto: Lampião
e seu bando em Pombal.
RELATO ISAAC
PINTO DA SILVA, DE ITIÚBA.
"Da
Tapera eles desceram para Camandaroba. Daí foram batê na Queimadas. Chegaram lá
de noite. Cortaram o fio do telegrafo. Prenderam os soldado que tinha. Soltaram
os presos e deixaram os soldados presos. E dançaram a noite todinha. No outro
dia, só era chamando de um e um. E era só atirando e o Volta Seca sangrano.
Mataram os sete. A finada Delmira e o finado Baró iam para a Várzea da Roça de
tardezinha. O Baró tinha um cavalo e ele levava a mulher na garupa. Quando
viram, se toparam de testa. Eles correram".
RELATO DE
ROBÉRIO PONTO DE AZEREDO DE ITIÚBA
"Ele aí
desceu em Dezembro de 1929. Eu era bem menino e vi a hora que chegou o portador
na casa do Capitão Aristides. Lampião tentou entrar em Itiúba. Passou pelas
cercanias duas vezes. Em 1929, ele desviou e a passagem dele foi para
Queimadas. Aquele dia foi trágico. Véspera de Natal. Lampião trucidou sete
soldados. Soltou os presos e depois matou um a um. Só deixou um sargento que
pediu para ele não matá-lo."
Foto: Germinia
Pinho da Silva Góes, Nascida em 23 de Junho de 1928. Mora em Araci-Bahia. Foi
visitada na infância pelo bando de Lampião. Relato feito em Dezembro de 2007 à
Fernando Tito.
Sabendo dos
rumores que Lampião estava nas redondezas, meu pai José Tibúrcio da Silva, ao
viajar para Queimadas mandou que minha mãe, Marcionília Pinho da Silva, fosse
dormir na casa do cunhado (Martinho Pereira da Silva) que ficava perto, eu
Germinia Pinho da Silva tinha apenas seis meses de idade. José Tiburcio da
Silva como proprietário da Fazenda Paraíba, transportava daqui peles de ovinos,
bovinos e caprinos que levava para Queimadas pois lá havia um curtume que era
do Coronel Vicente Ferreira da Silva, que era primo de José Tiburcio da Silva.
Ao chegar lá ele deixava as peles para serem curtidas e as que já estavam curtidas
ele pegava para trazer, completando a carga com sacas de café que vinham de
Jacobina para Queimadas.
Meu pai era
dono de uma tropa de oito burros, sendo seu tropeiro o Senhor Higino morador da
Fazenda Roda, ao chegar aqui na Vila do Raso, como era conhecido na época, meu
pai tinha que ir prestar contas ao Coronel Vicente Ferreira da Silva, pois era
ele que dava os fretes para meu pai conduzir. Foi no período desta viagem que
Lampião chegou em João Vieira arraial de Araci, no mês de Dezembro de 1928,
procurou saber quem era fazendeiro e quem tinha tropas de burros, alguém que se
dizia ser amigo de meu pai informou a Lampião sobre meu pai e Lampião mandou o
cangaceiro Corisco ir até a Fazenda Paraíba guiado por esta pessoa, pois não
sabiam onde era a Fazenda, ao chegar não encontrando ninguém colocaram fogo na
casa.
Quando foram
cinco horas da manhã, pois eu acordava muito cedo para comer, minha mãe chamou
as meninas para ir tirar leite das cabras, pois eu só tomava leite de cabra,
ela me levava nos braços, ao chegar na malhada ela avistou o fogo em cima da
casa e logo viram os cangaceiros com os fuzis, os burros amarrados e etc.
Ela
respeitando os cangaceiros não seguiu, pediu que uma das meninas que ela criava
que voltasse na casa do meu tio Martinho para chama-lo para poder encorajá-la,
pois ele ia enfrentar eles, ao chegar trazendo consigo nos braços o garoto José
Brígido da Silva (Zeles) que tinha apenas dois anos e dois meses de idade, ele
se reuniu com minha mãe que estava comigo nos braços, ao se aproximar da
fazenda ela avista a fumaça em cima do telhado, pois eles já tinham arrombado a
porta e entrado, pegado dinheiro, peças de tecido de seda, saquearam a casa e
depois pegaram querosene, que na época meu pai comprava querosene em lata,
destelharam a cumeeira da casa ensoparam com o querosene e puseram fogo.
Santo Antônio
das Queimadas-Bahia às 19:35
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6 comentários:
Rubens
Antonio2 de outubro de 2013 20:52
Prezado
É com prazer que vejo que utilizou algumas imagens e informações que eu dispus
na internet.
Só gostaria de informar que a imagem do juiz e as imagens do sargento Evaristo
não são oriundas do caro Oleone, mas eu que as localizei e divulguei.
Um abraço
Rubens Antonio
Responder
Archimedes
Marques12 de novembro de 2013 13:35
Parabenizando pela excelente matéria. Gostaria de entrar em contato com o
gerente do site, mas não estou conseguindo acessar o seu endereço de e-mail.
Segue o meu: archimedes-marques@bol.com.br
Atenciosamente,
Archimedes marques
Responder
Antônio Crespo
Lemos26 de julho de 2018 15:36
Meu nome Antônio José Crespo Lemos Costa, sou neto de José Crespo e Sobrinho de
Carmem Crespo de Queimadas na Bahia, gostaria de contatos de parentes da
familia Crespo de Queimadas na Bahia.
Responder
Passarelli8 de
janeiro de 2019 10:42
Excelente matéria...Parabéns!!!
Responder
Unknown18 de
maio de 2019 09:51
queria saber sobre a passagem dele em queimadas bahia
Responder
Unknown16 de
setembro de 2019 19:07
História de fato bem contata e que retrata o que meu pai dizia, já que ele presenciou
a entrada de Lampião em queimada ano 1929.
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