Por Jerdivan
Nóbrega de Araújo
Os três nomes
citados acima referem-se a uma única rua de Pombal, que ao longo dos últimos
200 anos teve três batismos: falo da Rua Estreita.
Encontrei documentos no Cartório, no caso o testamento do meu tetra avô
paterno, José Tavares de Araújo, escrito no ano de 1894, que se refere à rua
Estreita da seguinte forma: “rua do Giro, antiga rua Estreita desta cidade”.
Vejam que para se referir rua Estreita, em 1894 já se voltava ao seu antigo
nome, o que nos traz a informação que o primeiro nome da artéria foi mesmo “rua
Estreita”, e por algum motivo passaram a se referir a essa como “rua do Giro”.
Na década de 1950 a “rua Estreita” passou a ser denominada rua João Capuxu, em
homenagem ao um dos seus mais prósperos comerciantes, Capucho(meu tetra avô
materno). Mesmo assim a rua continuou a ser referenciada o com o seu primeiro
nome, passando a ser a “rua João Capuxu, antiga rua Estreita”, inclusive em
documentos importantes.
O prédio onde funcionou o comercio de José Tavares de Araújo, 150 anos depois
ainda continua do mesmo jeito, inclusive com as iniciais “JTA”, escritas em
alto relevo, no seu frontispício. Já o armazém de Joao Capuxu, ainda existe com
algumas modificações. La funcionou na década de 1970 a Marcenaria e Vidraçaria
de seu Zuca.
O que tem me intrigado é a mudança da denominação de “rua Estreita” para “Rua
do Giro”, que provavelmente ocorreu meados do século XIX. Cheguei a imaginar
que a palavra “Giro” se referisse ao comércio que ali existia, mas, as
construções da rua Estreita não nos levam a deduzir que ali fosse uma rua
exclusivamente comercial.
As construções, e a própria rua muito estreita, nos leva a crer que aquela
artéria era muito mais voltada a residências do que ao comercio, mesmo nos
séculos XVIII e XIX.
A rua Estreita, do seu início ao final é uma reta com apenas uma entrada à
esquerda de quem segue em direção ao “Castelo”. Não existe nada que nos faça
lembrar um “giro” ou uma “curva “para que esse nome “pegasse”
Até o final do século XIX a cidade de Pombal concentrava seu centro urbano, com
casas bem construídas, em umas poucas ruas centrais, como Rua dos Prazeres
(atual Rua do Comércio, onde estava inclusive situado o mercado ) rua do Rio, o
centro formado pelas duas igrejas e mais a sul a rua do Giro. A construção mais
afastada do centro era o Cemitério Nossa Senhora do Carmo.
A rua Estreita
terminava em um riacho que desaguava, no tempo de inverno, no leito do rio
Piancó que a época era temporária. Depois desse riacho as casas eram simples,
talvez em taipa e espaçadas entre elas. É o que se deduz das descrições do
processo do crime de Donária dos Anjos, fato ocorrido em 1877.
Então, o que
levou a mudança do nome rua Estreita para rua do Giro? Ora, o batismo popular
de uma localidade acontece por uma referência: alguma coisa que lembre o local
passou a e chamar de rua Estreita por que de fato a rua é muito estreita, Mas,
e o porquê de rua do Giro?
Busquei me
aprofundar nas pesquisas e encontrei referências a palavra “Giro” em edições do
“Jornal do Commércio”, Rio de Janeiro edição de 27 de março 1830 (foto anexa).
Passei a entender que no período Imperial a palavra “Giro” era a referência a
“Circulação”.
Encontrei no referido Jornal o discurso de um deputado do Rio de Janeiro, que
falava da dificuldade de se falsificar as novas moedas emitidas pelo império.
Dizia:
“Se o giro de
facto das notas do Banco, que eram muito mais fáceis de se imitar, não
ocasionou uma introdução de notas falsas nessas províncias, como a admissão, e
giro legal das novas notas, que são mais difíceis de imitação, possa ocasionar
essa introdução? ”
Continua:
“...apesar de não existe lei que autorize o Giro de notas nas províncias, a
necessidade de preencher as transações, tem introduzido em todas as províncias
limítrofes centos de conto de nota do Banco, apesar de não haver tope para
conferencia ou não tenha havido queixume algum de notas falsas...”
Isso nos levar
a deduzir que a denominação de “rua do Giro” deu-se por haver ali, algum fato
ou evento que dizia respeito a “circulação” de moedas.
Talvez fosse o local onde mais se faziam transações comercias, e onde o
dinheiro “girava” ou “circulava”, com mais abundância e, divagando um pouco
mais, até fosse aquela rua um local de troca de moedas estrangeiras por moedas
locais.
Aceito outras teses, e alerto que isto não é uma afirmação conclusiva: apenas
um ponto de partida para se chagar ao motivo da mudança do nome da “ruas
Estreita”” para “rua do Giro”, que certamente documentos da época ainda por
serem estudados nos darão tal repostas.
Agradeço ao Raphael Camilo pelas fotos atuais da ruas Estreita, ao tempo que
lamento uma rua central encontra-se em tal situação de abandono como revelado
nas fotografias.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com