Volta Seca
(Antônio dos Santos), compositor e instrumentista, nasceu no interior do
Sergipe em 13/03/1918. Ex-cangaceiro, pertenceu ao bando de Lampião e passou
vinte anos na cadeia.
Em 1957,
gravou o LP, então com apenas oito músicas,As cantigas de Lampião (foto
abaixo), com instrumentação do maestro Guio de Moraes.
Em 1959, teve
o baião A laranjeira, gravado por Zé do Baião, pela Continental. Em 1960,
José Tobias gravou na Todamérica a toada Se eu soubesse.
Em 2000, a
Inter CD relançou em CD o disco As cantigas de Lampião, com narração do
locutor Paulo Roberto. As composições levam a assinatura de Volta Seca, mesmo
as clássicas Mulher
rendeira eAcorda
Maria Bonita, tidas como de domínio público.
Estão
presentes no disco xaxados, xotes, baiões e toadas. Destaque para, além das
citadas, Escuta donzela e Ia pra missa, gíria usada pelos
cangaceiros para a convocação de batalha.
A prisão de
Volta Seca
Texto:
Gilfrancisco (Jornalista, professor da Faculdade São Luís de França e membro do
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe) - Jornal da Cidade 23/04/2009.
O medo da
prisão transforma o homem numa fera, é isto mesmo: os crimes dos “macacos”
foram iguais aos nossos. Mas nada aconteceu com eles, nem com os homens
importantes e ricos do sertão, que nos ajudaram, nos davam armas, dinheiro e
comida, continuam ricos e importantes.
Lampião não
foi o primeiro dos cangaceiros, mas sua presença marcou o rompimento entre o
cangaço e as outras formas de violência e autoridade. Seus antecessores estavam
ainda fortemente vinculados aos coronéis, ou às formas tradicionais de
controle. Em julho de 1938, Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros são mortos
em emboscada preparada pela polícia, na Fazenda Angico, em Sergipe. Um dos mais
importantes cabras do bando de Lampião, Volta Seca (Antônio Santos), fugitivo
da Penitenciária do Estado da Bahia, foi preso em Indiaroba, pela força
Policial do Estado de Sergipe, comandada pelo oficial do Exercito, capitão
Bernardino Dantas.
Volta Seca,
por duas vezes fugiu da cadeia. A primeira foi concedida um “passeio
experimental”, saiu e não retornou, ficou perambulando pelas ruas da capital. A
segunda vez fugiu em companhia de outro sentenciado e saiu pela porta principal
sem ser percebido. Apesar de não ter sido capturado em combate, a polícia
baiana ganharia notável publicidade com a prisão de Volta Seca, que ocorreu em
virtude do cansaço (longa caminhada a pé pela mata durante vários dias), do
companheiro de cárcere que ficou muito doente, ao ponto de querer desistir da
jornada. Volta Seca não o abandonou, levou-o nos ombros até o primeiro povoado
mais próximo, onde foi reconhecido pela população e denunciado a força pública,
em seguida preso e recambiado a Salvador
A notícia de
sua fuga do famigerado bandoleiro deixou a população sergipana preocupada,
porque ainda não havia desaparecido do espírito nordestino, a época de
terrorismo em que o banditismo de Lampião criou nos sertões de Pernambuco,
Sergipe, Bahia e Alagoas, e de tão graves consequências para o homem do campo.
Segundo o Departamento de Segurança, “Volta Seca fugiu da Bahia pelo litoral,
penetrando neste Estado pelo município de Estância, e sendo preso em companhia
de outro bandoleiro, entre os municípios de Indiaroba e Cristinápolis.” (Diário
Oficial. 5 de março, 1944)
Após tomar
conhecimento da fuga, as autoridades sergipanas, determinaram rápidas e
enérgicas providências, estabelecendo imediatamente contato, com os
destacamentos policiais de todo o interior e foi determinada severa vigilância.
A Força Policial do Estado, que relevantes serviços prestou no combate ao banditismo,
quando este esteve em plena campanha, traz de público, uma vez mais, a sua
disposição de combatê-lo, sempre com mais energia, defendendo, com a sua
coragem e a sua técnica militar:
“Transportado
de Indiaroba para esta capital, desde a sexta-feira última, que aqueles
foragidos estão recolhidos à Penitenciária do Estado, à disposição das
autoridades policiais do vizinho Estado da Bahia, de onde se evadiram.” (Diário
Oficial, 8 de março, 1944)
Quando foi
preso pela primeira vez, no final de fevereiro de 1932, Volta Seca submeteu-se
a exame psicológico realizado pelo Dr. Artur Ramos:
“Atitude de
humanidade. Fala arrastado, responde com precisão a questões que lhe propõem. A
este exame preliminar, parece haver um certo grau de mitomania. Aumenta um
pouco os relatos de crimes dos seus companheiros. Admiração incondicional pelo
compadre Lampião, o que denota um certo grau de erostratismo criminal.
Olhar móvel,
desconfiado, intimidado com a presença de várias pessoas – oficiais da Força
Pública – que o inquirem.
“Esta vaidade
criminal leva-o até a descrer no fracasso de Lampião, que julga
invulnerável...”
Segundo Zé
Sereno, depois da prisão de Volta Seca, ninguém nunca mais acampou no Raso da
Catarina, ou na serra do Chico. Quando o cangaceiro foi preso, Lampião ordenou
a divisão dos grupos, entregando o comando aos seus mais experimentados homens:
Luís Pedro, Zé Baiano, Velho Cirilo, Jararaca, Manuel Moreno. Cada um com seu
grupo formado saiu do Raso, para penetrar nas caatingas. Ao tomar conhecimento
da prisão de Volta Seca, Lampião soube que os irmãos Roxo, o haviam entregue à
polícia e decidiu vingar. Passou na casa dos irmãos e assassinou todos eles,
exceto a mãe e um irmão que encontrava-se viajando. Incendiou a fazenda e
destruiu plantações.
Um fato
curioso é que “desde que fora internado naquele estabelecimento penitenciário,
Volta Seca, com o interesse de captar a confiança de seus vigias, dedicara-se a
fazer flores de cera e se exercitava na ginástica, trazendo em si a ideia fixa
de uma evasão. Foi o que veio acontecer.” (Diário Oficial, 5 de março, 1944).
Sergipano de
Itabaiana, filho de Manuel Antônio dos Santos e Arminda Maria dos Santos, era o
6º dos 13 filhos do casal, nascera em 18 de março de 1918. Volta Seca havia se
juntado ao bando de Lampião em 1929, aos 11 anos, e não era a primeira criança
a ser aceita no bando: Beija-Flor, Deus-te-Guie, José Roque e Rouxinho. Essas
crianças eram utilizadas na lavagem dos cavalos, no carregamento de água, na
arrumação e assepsia de pousos e acampamentos, e foram muitas vezes usadas nos
serviços de espionagem. Portanto, a sua passagem pelo cangaço foi rápida, não
mais de 4 anos.
Volta Seca
saiu pelo mundo devido aos maus tratos da madrasta, pessoa violenta que
espancava constantemente os enteados. Percorreu sozinho, os sertões de Sergipe
e Bahia, até encontrar Lampião em Goroso, no município de Bom Conselho. Em
entrevista concedida ao jornalista Joel Silveira, em março de 1944, na
Penitenciária da Feira do Cortume, situado na Baixa do Fiscal, Volta Seca diz
que no princípio apanhava quase que diariamente de Lampião e outros cabras do
grupo. Mas depois endureceu o cangote e o “primeiro que me apareceu com ares de
pai, recebi com a mão no rifle.”
Por ser menor,
Volta Seca teve que aguardar a maioridade, 21 anos para ir a julgamento.
Transferido para Queimadas (BA), a fim de responder por crimes do banco naquele
local. Condenado a 145 anos de cadeia, no primeiro julgamento, Volta Seca teve
a pena reduzida para 30 anos de reclusão. Mais tarde, o processo foi revisto e
a pena reduzida para 20 anos. Em 1954, Volta Seca foi perdoado pelo presidente
Getúlio Vargas. Em liberdade, analfabeto e um homem marcado pela sociedade,
viu-se diante de um grande desafio. Casou-se e foi morar no Nordeste, quando
recebe um convite para morar em São Paulo, do cineasta e diretor Lima Barreto,
para assistir e criticar o filme, O Cangaceiro (1953), mediante uma
gratificação. O ex-cangaceiro condenou a cena em que Lampião chicoteia um cabra
na cara. Diz que nos sertões, não se faz isso com homem, se mata, pois cara de
homem no Nordeste é sagrada. Graças às novas amizades conseguiu emprego na
Estrada de ferro Leopoldina, onde trabalhou por vários anos.
Cantor e
compositor em 1957, Volta Seca gravou pela Continental um LP, com apenas 8
faixas, ‘As Cantigas de Lampião’, com instrumentação do maestro Guio de Moraes:
‘Acorda Maria Bonita’, ‘Escuta Donzela’, ‘Eu não pensei tão criança’, ‘Lá prá
Mina’, ‘A Laranjeira’, ‘Mulher Rendeira’, ‘Lampião e Sabino’, ‘Se eu Soubesse’.
Em 1959, teve o baião ‘A Laranjeira’ gravado por Zé do Baião, e no ano
seguinte, por José Tobias, a toada ‘Se eu Soubesse’.
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