Por: Geraldo Maia do Nascimento
O povo
mossoroense, pacato por natureza, não se amedronta quando precisa lutar por
seus direitos. Em diversos momentos de sua história provou seu valor. Tanto
assim que Edgar Barbosa deixou gravado no bronze, uma frase que é um verdadeiro
cântico ao povo de Mossoró: “Eis porque Mossoró resistiu sempre sustentada em
Deus e no estoicismo da sua gente. Gente digna de levar-se a uma cruzada, a uma
expedição, a toda empresa que necessite de fé.”
Em 13 de junho
de 1927 Mossoró foi atacada por um grupo de facínoras chefiados pelo famosa
cangaceiro
Grupo de facínoras que atacou Mossoró em 13 de Junho de 1927
Virgulino Ferreira da Silva, apelidado Lampião, que pretendia
dominar a cidade que era, já naquela época, polo de influência comercial de
todo oeste potiguar, além de parte da Paraíba e do Ceará. Exigia, para não
cometer tal atrocidade, uma indenização no valor de 400 contos de réis, quantia
considerada muito elevada para a época. Sem poder contar com reforços
policiais, a população pegou em armas e foi as ruas defender a cidade, tendo
como comandante
Prefeito Rodolfo Fernandes
o Sr. Rodolfo Fernandes, então Prefeito de Mossoró. O resultado
da luta foi que o bando de cangaceiro, depois de mais de uma hora de batalha,
fugiu deixando um cangaceiro morto, o bandido conhecido como Colchete, e outro
gravemente ferido que seria preso um dia depois, e justiçado pela polícia que
foi o cangaceiro José Leite de Santana, conhecido no bando como Jararaca.
José Leite de Santana - o cangaceiro Jararaca
Entre a prisão
e a morte, Jararaca permaneceu cinco dias preso na Cadeia Pública de Mossoró,
no prédio onde hoje funciona o Museu Municipal. E antes mesmo de qualquer
depoimento em inquérito policial, Jararaca começou a responder as perguntas
feitas pelo jornalista mossoroense
Jornalista Lauro da Escóssia
Lauro da Escóssia, numa entrevista que se
tornaria um dos mais sensacionais furos de reportagem, publicada na edição de
“O Mossoroense” do dia 19 de junho de 1927, com uma tiragem de 5.400
exemplares. Em 1973 o jornal “Estado de São Paulo” em sua edição de 30 de julho,
recordando o ataque de Lampião à nossa cidade, assim narrou com certo destaque:
“O JORNALISTA
ADENTRA A CADEIA E NUM FURO DE REPORTAGEM ENTREVISTA O HUNO DA NOVA ESPÉCIE –
Num sensacional furo de reportagem, o jornalista Lauro da Escóssia, filho do
dono do jornal O MOSSOROENSE, que no ano passado completou 100 anos, conseguiu
entrar na Cadeia Pública para entrevistar, com absoluta exclusividade o
cangaceiro Jararaca, ferido em batalha de Mossoró, a Cidade Invicta. Jararaca,
sentado numa preguiçosa, com um buraco de bala no peito e outro na perna,
recebeu bem o repórter, estava divertido, sorridente. O resultado dessa
sensacional entrevista ocupou parte da primeira página de O MOSSOROENSE, Nº
844, ano XXVI, edição de 19 de junho de 1927.
Manchete:
HUNOS DA NOVA ESPÉCIE: Sub-manchete: O famigerado Lampião e seu grupo de
asseclas atacam Mossoró. Chamadas que deveriam ser lidas ao som de marchas
militares: A Heroica Defesa da Cidade: É morto o bandido Colchete e gravemente
ferido o lombrosiano Jararaca!”
Na
entrevista Jararaca começou dizendo que se chamava José Leite, que tinha 27
anos e nasceu no dia 5 de maio em Buíque, Pernambuco. Segundo declaração de
Lauro da Escóssia “ele era moreno, muito moreno mas não era negro.” Era
solteiro e andava com Lampião há um ano e alguns meses. Tinha um fuzil mauser e
cartucheiras de duas camadas, mas 560 mil réis no bolso e uma caixinha com
obras de ouro no valor de 1 conto de réis. Disse ainda que o ataque a Mossoró
foi idealizado por
O cangaceiro Massilon Leite
Massilon Leite e que Lampião relutou um pouco, por causa da
história das duas Igrejas. Que quando Lampião chegou a Mossoró não gostou nada,
nada daquela “Igreja da bunda redonda” (Igreja de São Vicente) de onde estavam
partindo os tiros contra o bando. Lauro perguntou:
Igreja de São Vicente de Paulo - Mossoró-Rn.
- “Mas, enfim,
Jararaca, para que Lampião queria tanto dinheiro?
- Era
para comprar os volantes de Pernambuco.”
Lauro da
Escóssia Nogueira nasceu em 14 de março de 1905 em Mossoró/RN e faleceu em 19
de julho de 1988, aos 83 anos de idade.
Autor:
Geraldo
Maia do Nascimento
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