O sertanejo,
nordestino puro, sempre teve uma posição sobre sua honra quanto à vingança por
mortes ou lavar sua honra por outros motivos, hoje tidos como menos agressivos,
porém, naquela época era motivo de morte. A vingança de um ente da família, ou
sobre um deles muitas vezes era respeitada por ambas as partes não dando
prosseguimento com o caso. No entanto, um simples roubo de animais jamais fora
perdoado.
Devido a uma
mentira, os familiares de Maria Gomes de Oliveira, Maria de Déa, a ‘Maria
Bonita’, "Rainha do Cangaço" se envolvem, familiarmente numa confusão
de lágrimas, dor, sangue e mortes.
Um vendedor de
peles não conseguindo vender seu produto ao costumeiro comprador, devido as
mesmas não serem de boa qualidade, procura um primo da “Rainha do Cangaço” para
que o mesmo consiga vender a outro comprador. Esse primo de Maria de Déa
chamava-se Gêncio.
Gêncio é
incumbido por Odilon Cazé, o vendedor de peles, para que o mesmo vendesse um
fardo de peles que fora ‘refugada’ pelo grande comprador, Dionísio Pereira,
para outro comprador, Cícero Cazé, na fazenda Lagoa Seca. Colocando as peles no
lombo de um animal, na madrugada daquela quarta-feira, coloca os pés no caminho
e segue em direção à fazenda do comprador. No caminho, já com o sol bem alto,
Gêncio ao passar pela Malhada da Caiçara, resolve fazer uma visita a
Teodorinho, seu irmão, e vai até a casa dele. Seu irmão não estava em casa, só
sua filha chamada Servina encontrava-se na moradia. Após conversar com sua
sobrinha Gêncio retorna à estrada e segue de caminho afora com as peles. No
caminho encontra-se com seu primo José Gomes de Oliveira, conhecido por Zé de
Déa, irmão de ‘Maria Bonita’. Gêncio diz para o primo que estava levando as
peles dos animais para vender ao comprador da Lagoa Seca, Cícero Cazé. Zé de
Déa presta atenção na mercadoria e segue fazendo o caminho ao contrário do
primo. Chegando à casa de Teodorinho, seu primo e irmão de Gêncio, pergunta a
jovem Servina o que seu tio havia dito que faria recebendo a resposta de que
ele lhe dissera que iria vender as peles a Cícero da Lagoa Seca. Nesse momento
a jovem sobrinha de Gêncio tem um sobressalto com o que Zé, irmão de Maria
Bonita diz:
“-Tá vendo
aquelas peles? Elas são roubadas. São de João de Teixeira, do Riacho e tava no
meio das minhas criação e desaparecero!” (LIMA, pg 73, 2011)
Não pensando
duas vezes, talvez pela força da inocência, a sobrinha corre atrás do tio e lhe
diz que não venda as peles que as mesmas são roubadas. Gêncio fica incrédulo
com o que acaba de escutar da sobrinha e lhe pergunta de onde danado ela havia
tirado aquilo. A sobrinha Servina lhe diz que fora Zé de Déa quem lhe havia
dito.
“- Tio Gêncio!
Tio Gêncio! Num venda essas peles não que Zé de Déa disse que era roubadas!
(diz a Servina)
- Mais num é possível! Onde é que você ouviu essa história?” (responde
Gêncio)(LIMA, 2011)
Gêncio vira
uma fera. Com muita raiva dá meia volta e retorna para a casa do irmão, pai de
Servina, Teodorinho, para ver se encontrava Zé de Déa para tirar aquela
história a limpo. Lá chegando não encontrou seu primo, porém seu irmão já se
encontrava em casa. Após contar para ele o que havia dito Zé de Déa, disse que
ele, o irmão de Maria Bonita, teria que, vendo as peles, mostrar se eram
realmente roubadas.
Havia ali próximo a casa de um amigo chamado Toinho Fabiano, e foi nessa casa
que Gêncio resolveu ficar e pedir para o amigo ir chamar Zé de Déa na casa do
pai, o senhor Zé Felipe. Teodorinho, conhecendo o temperamento do irmão Gêncio,
resolveu chamar mais dois irmãos, “João de Dô e Zé de Dô”, para que, se
precisasse esses interviriam na tentativa de apaziguar os ânimos.
O amigo Toinho
Fabiano vai à casa de Zé Felipe e chama Zé de Déa, José Gomes de Oliveira, seu
filho para que fosse até sua casa dizendo que seu primo Gêncio precisava falar
urgentemente com ele. Sabedor do que seria o assunto Zé não se dispôs a ir,
porém, sua segunda esposa, Alaíde Marques, o atiça mandando que ele vá
‘resolver o caso’. Zé Gomes já estava na porta da casa quando sua mulher o
manda levar uma arma, coisa que o mesmo volta e, pedindo a arma a ela, coloca
um revólver na cintura.
Chegando Zé de Déa à casa de Toninho Fabiano, Gêncio, irado como estava, vai
logo perguntando que história seria aquela de que as peles seriam roubadas? Zé
de Déa explica, ou tenta explicar, que algumas criações de João Teixeira que
estavam junto as suas haviam ‘sumido’.
O pai de Maria
Bonita, José Gomes de Oliveira, mais conhecido por Zé Felipe, e também pai de
Zé de Déa, chega à casa de Toinho Fabiano acompanhado de outro filho chamado
Izaías Gomes nesse momento. Momento em que Gêncio desamarrando o fardo de
peles, as espalha, jogando-as aos pés de seu primo Zé de Déa. Gêncio manda que
José Gomes verifique as peles e procure dentre elas se se tratava de serem as
das criações roubadas. Zé responde que não iria verificar, pois as mesmas não
eram suas. Essa resposta de Zé deixou seu primo Gêncio mais irado ainda ao
ponto de mandá-lo novamente verificar as peles e já o chamando de covarde.
Dessa vez não ocorreu resposta alguma da parte de Zé, então Gêncio saca uma
pistola daquelas de ‘dois tiros e uma carreira’ e atira na direção do primo que
mesmo tentando esquivar-se do projétil esse penetra em uma de suas coxas.
Apertando novamente o gatilho, Gêncio dispara a outra bala da pistola e acerta
o alvo. Só que essa penetra no tórax do velho José Gomes de Oliveira, o velho
Zé Felipe. Em seguida atira a arma descarrega para o lado e saca de um facão
investindo na direção do outro filho de Zé Felipe, Izaías Gomes.
Zé de Déa
refaz-se do susto e, com esforço, consegue colocar-se em pé, saca do revólver e
dispara ferindo um dos irmãos de Gêncio, Zé de Dô, acertando-lhe um dos braços.
No meio da confusão, o pai de Servina, Teodorinho, outro irmão de Gêncio, tenta
saltar para fora da casa e é quando, nesse momento, Zé de Déa aperta o gatilho
duas vezes o atingindo e o mesmo ao chegar ao solo já se encontra sem vida.
Zé Felipe,
mesmo com um projétil entre as costelas, vendo Gêncio golpeando com o facão seu
filho Izaías, que já se encontrava caído no chão dando adeus a vida, mas o
‘velho’ não sabia, parte para cima dele a fim de defender a já perdida vida de
sua prole. Entrando no espaço entre o corpo do filho e o agressor, Zé Felipe é
ferido novamente. Desta feita o facão de Gêncio acerta a cabeça do pai de Maria
Bonita que ao receber o golpe cambaleia e desmorona. Nesse instante, Zé de Déa
dispara duas vezes na direção de Gêncio. Estava difícil acertar, pois o outro
irmão de Gêncio, João de Dô, o ‘comia’ na folha da ‘viana’, faca peixeira, o
ferindo várias vezes. Mesmo assim Zé de Déa conseguiu colocar os dois projéteis
no peito de Gêncio que corre para fora da casa, mas logo tomba e cai bastante
ferido.
Os lutadores
estavam sem condições de se agredirem mais. Alguns estavam mortos, Teodorinho e
Izaías, e o restante bastantes feridos, Gêncio e seus outros irmãos Zé e João
de Dô assim como Zé de Déa e seu pai Zé Felipe... Nas quebradas do Sertão
baiano.
Fonte “A
trajetória guerreira de MARIA BONITA – A Rainha do Cangaço” – LIMA, João de
Sousa. 2ª Edição. 2011.
Foto Ob. Ct.
OBS.: A FOTO
DE LAMPIÃO E MARIA BONITA FOI COLORIZADA DIGITALMENTE PELO AMIGO SÉRGIO Sergio
Roberto
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