O alagoano
Cristino Gomes da Silva Cleto foi um ‘cabra’ de Lampião em dois períodos
distintos. O primeiro período foi nas quebradas do sertão pernambucano, na
região do Pajeú das Flores, onde recebera a alcunha de “Corisco”, e tendo como
chefe direto o cangaceiro “Jararaca”, José Leite Santana, natural de Buíque,
PE, muito curto, e o segundo, já na fase baiana, mais longo, no entanto, sem
ter tanta participação constante entre os dois bandos. Há não ser quando
Corisco era convocado, assim como os outros chefes dos subgrupos também eram,
para uma empreitada maior de tempos em tempos. Com essa ‘convocação’ o “Rei dos
Cangaceiros” lembrava a seus ‘súditos’ quem comandava.
“(...) um novo
componente do bando de Lampião chamou a atenção do cangaceiro Jararaca, um dos
seus lugares-tenente mais valentes e perigosos. O novo cangaceiro era Cristino
Gomes da Silva Cleto, soldado desertor do Exército que servira em Aracaju,(SE),
nascido em 10/08/1902(...) nas encostas da Serra da Jurema, próximo a cidade de
Matinha de Água Branca (atual Água Branca). Cristino entrara para as fileiras
do cangaço no dia 24 de agosto (de 1926)( quatro dias antes do ataque (a
fazenda Tapera)) na vila de Santa Maria (atual Tupanaci), à margem direita do
rio Pajeú, sendo recebido por Lampião, na casa do senhor José Bezerra. Era
valente no combate e da boca de seu rifle papo amarelo parecia sair fogo. A
rapidez com que se movia lembrava um raio, rolava pelo chão, atirava e gritava
descompondo o inimigo. Surgiu ali o apelido que o acompanhou para o resto de
sua vida: “CORISCO”(...).” (“AS CRUZES DO CANGAÇO – Os fatos e personagens de
Floresta – PE” – SÁ, Marcos Antônio de. E FERRAZ, Cristiano Luiz Feitosa.
Floresta, 2016)
Cristino
inicia sua saga no pequeno Estado sergipano, quando era soldado do Exército
brasileiro, destacando, servindo, no 28º Batalhão de Caçadores de Aracaju,
durante a Revolta Militar de 1924, iniciada em São Paulo, SP, e tendo como
consequência na Capital do Estado de Sergipe, Aracaju, uma ‘revolta’, ou motim,
onde se tentou dar um golpe, sendo o mesmo abafado pela Força legal no interior
do Estado e outra frente vinda do vizinho Estado baiano. Com a derrota dos
‘revoltosos’, Cristino e boa parte dos homens que participaram sob ordens
superiores, fogem e tornam-se desertores.
Havia bons
motivos para eles andarem longe um do outro, Lampião e Corisco. Primeiro para
confundirem as volantes que os cassavam dia e noite, e o segundo, as
companheiras, de Lampião, Maria Gomes, a cangaceira Maria Bonita, e de Corisco,
Sérgia, a cangaceira Dadá, não se ‘bicarem’ muito. Essa ‘distância’ entre os
grupos, prevista e projetada entre os dois bandos, era uma tática que deu bons
resultados. Ocorreram fatos em dias iguais, em lugares distantes e diferentes,
deixando as Forças que os perseguiam desnorteadas. E foi motivo de manchetes em
jornais da época essa façanha empregada pelos cangaceiros, onde noticiaram
Lampião e seus homens estarem agindo em lugares distantes e distintos, isso em
jornais de cidades diferentes. Quanto às companheiras, acreditamos que o
temperamento das duas era igual, faltando muito pouco para elas irem ao
estremo. Maria, certa feita, condena uma cangaceira, companheira do chefe de
subgrupo, o cangaceiro “Português”, que teve um ‘romance’ com o cangaceiro
Gitirana, ‘cabra’ de Corisco, a morte.
Era ‘lei’
dentre os cangaceiros que se houvesse traição, a mulher traidora seria
condenada a morte. Ocorreram casos do tipo. Porém, nem o cangaceiro Gitirana,
nem a companheira de “Português”, a cangaceira “Cristina”, nesse caso, são
condenados em princípios, coisa que só depois “Português” encomenda a morte de
sua companheira, principalmente pela intervenção direta de Corisco na defesa do
seu ‘cabra’. O cangaceiro “Português” não teve coragem de matar sua
companheira, como ditava a regra, a cangaceira Cristina, nem tão pouco de
‘topar’ o cangaceiro “Gitirana”, pois, no momento, teria que enfrentar o “Diabo
Louro”.
“(...)
tratou-se do desfecho do relacionamento amoroso entre Cristina e Português. Ela
o havia traído com um integrante do bando de Corisco - o cangaceiro Gitirana -
e Português contratara Catingueira para “limpar sua honra maculada” (...) Maria
Bonita e Lampião estavam no mesmo acampamento e, por acaso, se aproximaram
deles. Maria Bonita adiantou-se, sugerindo a Catingueira que a pessoa a ser
eliminada deveria ser Cristina (a verdadeira culpada, segundo ela) e, não,
Gitirana. Naquela hora, Corisco retrucou: Ela deu o que era dela! Ninguém tem
nada com isso! Insatisfeita com a resposta, Maria Bonita continuou defendendo a
contrapartida masculina: É, mas Português vai ficar desmoralizado! Já
impaciente com aquele confronto, o Diabo Louro deu um basta à discussão:
"Ele que
cuide da mulher dele! Do meu rapaz, cuido eu!"
“(...) Em relação àquele desenlace amoroso, Lampião deu total apoio a Corisco.
Cristina permaneceu com o bando, escondida durante alguns meses. Todavia, como
era de se esperar, ela foi morta quando ia para a casa de familiares, já que
Português contratara outros cangaceiros para matá-la. Neste sentido, não
restava dúvidas: o adultério feminino não era tolerado nos bandos do Nordeste
(...).” (VAINSENCHER, Semira Adler. Corisco. Fundação Joaquim Nabuco).
Corisco foi um
dos cangaceiros, já como chefe de grupo, que fez muita bagunça por onde andou.
Sua maneira de ‘tratar’ o inimigo, soldado, ou suas vítimas, com grandes
requintes de crueldades, torturas, tornaram-no num grande terror nas regiões
dos três Estados em que mais agiu, Bahia, Sergipe e Alagoas.
Após a morte
do “Rei dos Cangaceiros”, em 28 de julho de 1938, no leito do Riacho “Angico”,
na Fazenda Forquilha, no município de Poço Redondo, SE, afluente da margem
direita do Rio São Francisco, seu lugar, para alguns historiadores, seria
ocupado pelo chefe cangaceiro Corisco. Vejam bem, nessa época existiam vários
subgrupos chefiados por diferentes chefes e, a nosso ver, qualquer um poderia
assumir o comando geral, no entanto, talvez pela valentia, disposição e/ou
aproximação com Lampião, muitos escritores o colocam como sendo o sucessor
direto de Virgolino no comando do Cangaço.
“(...) Essa
fazenda é conhecida como fazenda Angico, porém, apenas a título de curiosidade,
seus atuais proprietários, descendentes da família de Pedro de Cândido, ou
seja, descendentes de D. Guilhermina, me disseram que a fazenda é registrada
com o nome oficial de fazenda Forquilha (...).” (“LAMPIÃO – O CANGAÇO E SEUS
SEGREDOS” – BASSETTI, José Sabino. Salto, SP, 2015)
A maneira de
Corisco agir, apesar de ter tido escola militar, diferenciava-se totalmente
daquela usada pelo “Rei dos Cangaceiros”, principalmente em termos de
planejamento, o que era essencial para dar-se prosseguimento a existência do
bando, colocando a emotividade a frente do projeto de ataque, defesa e fuga.
Tanto ele, como os outros chefes, citando como exemplo, ao enviarem os famosos
‘bilhetes’ de extorsão, em vez de terem a quantia, ou parte dela enviada pela
pessoa alvo, recebiam outro bilhete com desaforos e mandando irem, eles mesmos,
buscarem a quantia exigida.
A verdade é que com a eliminação de Lampião, o cangaço desmorona-se ficando os
cangaceiros restantes, feito baratas tontas, sem saberem o que fazerem. Nem
munições sabiam onde irem buscar ou mandar que enviassem. Esse tipo de
fornecedor Lampião não disse, já que ele próprio era quem fornecia, vendendo-a
diretamente aos chefes dos subgrupos, pelo menos que saibamos, quem era.
Documentos foram encontrados com ele, em seus espólios, porém, o conteúdo
verdadeiro que continham não fora exposto ao público.
“(...) É -
mais que nunca - o tempo dos ‘bilhetes’, escritos para pedir dinheiro aos mais
afortunados. Contudo, estes já não têm mais o poder de outrora. Lampião está
morto e quase todos os bandoleiros se entregaram à polícia. Outro tanto fugiu
para lugar incerto. O proverbial ‘medo de cangaceiro’ começa a perder força por
entre a população sertaneja. Os antigos coiteiros em sua maioria, já não
prestam os favores dantes. O cangaço marcha célebre para o ocaso (...).”
(“CORISCO – A SOMBRA DE LAMPIÃO” – DANTAS, Sérgio Augusto de S.. Natal, 2015)
O velho ditado
já profetiza de que ‘quem tem, tem medo’, e referindo-se a própria vida, ou a
perda dela, aí é que o arrocho cresce, então começam a entregarem-se. Não viam
outra saída se não entregarem-se, e naquele momento foi à decisão mais correta
que tomaram, pois, do contrário teriam tombados todos pelas balas disparadas
pelas armas dos contingentes das Forças Publicas que os perseguiam. Apostaram
em que se entregando tinham uma chance de sobreviverem por mais um espaço de
tempo, no que acertaram em cheio.
É sabido por
todos que tanto cangaceiros quanto volantes bebiam bebidas alcoólicas em
demasia. Como em qualquer grupo de qualquer escala militar ou de guerrilheiros,
ou ainda, de cangaceiros, há aqueles que bebem por beberem, no entanto, tem
aqueles que bebem para perderem o medo, não só de matar, mas, e principalmente,
de morrer. Dentre todas as camadas sociais, existem alguns que já trazem uma
espécie de susceptibilidade ao alcoolismo em seus genes, e tornam-se
dependentes alcoólicos crônicos, inclusive hoje, já é tido como doença crônica.
Por outro lado, causas ou consequências no decorrer da vida de qualquer um, com
seus altos e baixos, dependendo de como o mesmo encara essas ocorrências, a
bebida torna-se um fator essencial para que, iludidos, pensem que embriagados
não ‘estariam’ com seus ‘espectros’ a perturbarem-nos, usando o álcool como um
meio de ‘fuga’ da realidade. Mais uma ilusão do ser humano.
Relatos de
vários historiadores, de ex-cangaceiros e de ex-volantes, nos dizem que Corisco
torna-se, a partir de determinado momento, um bebedor inveterado. O alcoolismo
toma conta do seu corpo e cérebro, não o deixando tomar determinadas decisões
importantes para o grupo. Com isso, sua companheira, a cangaceira Dadá, toma as
rédeas de chefia e passa a comandar os ‘cabras’. Num ‘mundo’ quase que
totalmente masculino, receber ordens de uma mulher, mesmo sendo a cangaceira
Dadá, é demais para alguns dos homens e esses terminam por deixarem o bando.
Após saírem do grupo de Corisco, alguns passam a fazerem parte de outros ou
fogem do cangaço procurando as autoridades e entregam-se. E, o já pequeno
grupo, diminui mais ainda.
“(...) Nas
raras horas em que está sóbrio, Corisco apresenta raciocínio embotado; humor
depressivo. É aí que Dadá, desnuda de qualquer cerimônia, se arvora na
qualidade de chefe da falange. Assume o comando do resto do grupo sem o menor
constrangimento – e sem qualquer resistência por parte do marido. Um dos
cangaceiros que trabalhou para o Diabo Louro neste delicado período, em
particular, ressaltaria, mais tarde, que “ela (Dadá) é que é a chefe do grupo.
Dá ordens, grita, manda. E Corisco obedece-lha, sem discutir”. (José Porfírio
dos Santos, o ‘Atividade II’, A Tarde, maio de 1940) (...).” (“CORISCO – A
SOMBRA DE LAMPIÃO” – DANTAS, Sérgio Augusto de S.. Natal, 2015)
No dia 8 de
agosto de 1939, um ano e onze dias após a morte do chefe mor do cangaço,
Virgolino Ferreira, o cangaceiro Lampião, Corisco é baleado nos braços pelo
soldado volante João Torquato dos Santos, que estando no momento sozinho, pois
seu companheiro, o soldado Francisco Amaral, se borra de medo e dar no pé. Pois
bem, além de ferir o chefe, termina por eliminar dois de seus homens, os
cangaceiros “Guerreiro” e “Roxinho”, terminando tendo, também, trocado tiros com Dadá, essa, ao ter ficado com a
pistola descarregada, sem munição para recarregar, agacha-se, apanha pedras e
as atira no soldado, ao mesmo tempo em que empurrava seu marido, Corisco, para
dentro do mato, procurando refúgio.
“(...)
Surpreso se ver frente a frente com apenas um soldado. A surpresa lhe foi
fatal. Havia perdido precioso tempo. O tempo necessário para João Torquato
disparar a sua arma e atingi-lo, com incrível sorte, justamente nos dois braços
do lendário cangaceiro (...). A companheira de Corisco, aparece, com todo
esplendor de sua coragem e valentia, à frente daquele homem fardado que mais
parece um demônio. Não irá abandonar o seu amado em momento tão doloroso. Irá
defendê-lo até, se preciso fosse, a morte(...) atira no temível agressor. Os
disparos são contínuos. João desvia sua atenção de Corisco e se vê obrigado a
enfrentar a guerreira. Dadá atira sem parar. Atira e empurra o companheiro para
uma baixada ali perto. As balas de sua arma acabam e a cangaceira, como se
fosse uma suçuarana defendendo os seus filhotes se vale de um novo e inesperado
armamento: pedras. Apanhando-as sacode-as no maldito que queria matar o seu
grande amor (...).” (“LAMPIÃO ALÉM DA VERSÃO – MENTIRAS E MISTÉRIOS DE ANGICO”
– COSTA, Alcino Alves. 3ª Edição. Cajazeiras, PB, 2011).
Após esse
combate, Corisco, o cangaceiro não mais tem condições de lutar. Seu codinome
seguira só, sem seu dono, reaparecendo Cristino Gomes da Silva Cleto, só que
desta vez, cansado, mais velho e aleijado. Os ferimentos foram grandes,
romperam e destruíram tecidos essências a flexão, extensão e rotação dos
braços. O projétil termina rompendo vasos e atingindo músculos, nervos,
tendões, ligamentos e ossos, retirando a possibilidade de movimentação nos
membros superiores. Talvez até se tivesse tido uma assistência profissional,
adequada, Cristino não tivesse perdido tais movimentos, no entanto, sua
‘enfermeira’, sua ‘doutora’, fora sua esposa, Dadá. Ela, em um relato, muito
tempo depois, cita que até o odor era demais, nos mostrando o tamanho da
infecção. Ela, com o auxílio de uma pequena faca, cortava os tecidos
necrosados, mortos, fazendo uma espécie de ‘desbridamento’ forçado, retirando
as partes lesadas e lesando as sãs, também retirava pedaços de ossos que a bala
tinha fragmentado, fazendo os curativos na medida dos seus conhecimentos, e com
o equipamento disponível, faca e punhal, usando os remédios que a natureza,
através da caatinga, lhes fornecia.
A partir de então, aquele que fora tido como o maior dos terrores dos sertões
baiano, alagoano e sergipano, está definitivamente fora de ação. Não tem
condições de segurar uma arma para lutar. Seu, já pequeno grupo, acaba de
acabar e chega a ser composto por apenas ele, sua esposa Dadá, um cangaceiro,
Rio Branco, e sua companheira, a cangaceira Florência.
Cristino
tenta, por diversas vezes se entregar, porém, sua esposa não ‘consente’. Certa
vez, até fora marcado o local de onde se entregaria, após o mesmo dizer para um
comandante da Força baiana, onde estariam, ainda colocadas por Lampião,
escondidas certas armas, munição e joias, mas, não fora realizado, ainda dessa
vez não ocorreu à entrega do alagoano, mesmo o comandante achando a ‘botija’ e
a removendo para o quartel.
“(...) o
cangaceiro sustenta que teria informações valiosas sobre lugares onde estariam
escondidos ‘munição, algumas armas e joias de ouro e de prata’. Uma parte desse
material, segundo se fazia entender através destas cartas, era produto de
assaltos. A outra teria sido escondida há muito tempo, pelo próprio Lampião
(...).” (“CORISCO – A SOMBRA DE LAMPIÃO” – DANTAS, Sérgio Augusto de S.. Natal,
2015)
Já em maio de
1940, em sua segunda metade, Cristino, Sérgia, e o casal de cangaceiros,
solicitam de um coiteiro, a permissão para levarem sua filha com eles, já que
estavam em rota de fuga. O pai da menina, depois de ficar sabendo como sua
filha seria tratada, permite que a levem. Essa foi uma estratégia usada pelo
pequeno grupo, um cangaceiro, duas mulheres e um aleijado, para melhor
despistar os perseguidores, já que todos sabiam que cangaceiros não andavam com
crianças. Trocam de nomes, ensinam como a menina deveria chama-los e danam-se
de Bahia adentro, em busca da liberdade.
Essa criança é a adolescente Josefa Erundina de Almeida, chamada por todos de
‘Zefinha’. Filha de um antigo coiteiro de Corisco, Braz Francisco de Almeida, alcunhado
por ‘Braz dos Couros’, que morava no município de Bebedouro.
“(...) Então,
o antigo lugar- tenente de Lampião propõe ao curtidor de couros:
- “Braz, quer me dar essa menina? Eu levo ela comigo para Bahia!”
O curtidor pensou um pouco e falou:
- “Se o senhor garantir que leva a menina para Bahia e bota nos estudos, eu
dou. Porque, aqui, não posso dar a educação precisa a ela” (...).” (“CORISCO –
A SOMBRA DE LAMPIÃO” – DANTAS, Sérgio Augusto de S.. Natal, 2015)
Vemos que não
ocorreu o tão famoso sequestro que tanto fora divulgado pela própria imprensa.
A fonte citada divulga uma espécie de ‘adoção’ feita pelo casal Cristino e
Dadá, onde estariam de acordo os pais da criança.
Um dos ‘cabras’ do grupo que debandaram, José Porfírio dos Santos, o cangaceiro
Velocidade II, ao entregar-se as autoridades, é interrogado. Nas revelações que
faz, ele diz que seu chefe não se entrega por que sua esposa não permite. Ainda
mostra o suposto ‘roteiro’ que pretendia fazer o pequeno grupo, além de contar
como estava fisicamente o cangaceiro “Corisco”, ou seja, dedurou que ele estava
aleijado, sem condições de lutar.
De posse no
relato do depoimento do cangaceiro que se entregara, o Jornal A Tarde publica,
isso, já em maio de 1940:
“Inutilizado,
incapaz de lutar, Corisco foge ameaçado de morrer, se tentar abandonar o
banditismo. Triste sorte esta para o antigo lugar-tenente de Lampião.”
O tenente Zé
Rufino, sempre citado que fora o maior estrategista dentre os comandantes das
volantes por vários pesquisadores, o que realmente fora, pois sua tropa foi
quem mais matou cangaceiros, está a muitas léguas de distância desse grupo em
fuga. Mesmo assim, resolve, segundo ele mesmo por ordens superiores, saírem em
sua pista. Em termos de estrategista, o comandante Zé Rufino se equipara aos
estratagemas de Lampião. Ele, como cita o antigo ditado, ’não colocava a mão em
cumbuca, sem saber o que tinha dentro’. Antes de qualquer ataque aos bandos que
enfrentou, analisava o terreno, para depois atacar, dava contraordens durante o
conflito, dependendo da situação e procurava, minuciosamente, detalhes após a
luta. assimilando conhecimentos para os próximos confrontos. No entanto, ele
envia aos superiores que o ordenaram a caçada, os capitães Felipe Borges e
Rehen, um telegrama da cidade baiana de Djalma Dutra, tendo a certeza do
encontro e da vitória diante dos fugitivos.
Ao
pesquisarmos outras informações prestadas pelo tenente Osório aos seus
superiores, anteriores a essa perseguição, jamais nos deparamos com ‘tanta
certeza’ quanto ao resultado do que viria, ou estava para acontecer nessa feita
ao cangaceiro “Corisco”. Esse detalhe só nos vem ‘dizer’ o quanto se sabia da
incapacidade de Cristino lutar. Ficando mais fácil enfrentar duas mulheres e um
só homem, o cangaceiro Rio Branco, jovem com 19 anos sem experiência em lutas.
Andaram muito
tempo a pé, romperam distâncias a cavalo e, por fim, encurtaram a distância em
cima de um caminhão. Vários dias depois, já na tarde do dia 25 de maio de 1940,
estão diante de um dos casais em fuga, o outro correu e não foram perseguidos,
abrindo um enigma muito grande, a nosso ver, pelo deixar pra lá, se era um
casal cangaceiro. Na verdade, a meta de Zé Rufino seria apenas e somente
Cristino? Pois só vemos alguma notícia de perseguir o outro cangaceiro, no mês
de junho daquele ano.
Jornais citam o ocorrido em tudo que é lugar. Na Capital do país, como sempre,
a imprensa prioriza o ‘confronto’ que resultou na morte do sucessor de Lampião.
O jornal O
Estado da Bahia, relata, em sua matéria de 1º de junho de 1940, como ocorreram
os fatos no ‘combate’ onde tombou o ‘Diabo Louro”.
“E saltando
pela porta dos fundos enquanto atirava com um enorme parabélium, Corisco logo
seguido pela sua mulher, que também fazia fogo correu para o mato (...).”
(Transcrito) (“Fim do Cangaço: As Entregas” – BONFIM, Luiz F. de A. Paulo
Afonso, 2015)
Nesse trecho
da notícia, o jornal tenta mostrar um homem em condições de lutar. No trecho
seguinte, também notamos essa ‘intenção’, vejamos:
“O bandido não
parava. Vez por outra, virava-se rápido, descarregando seu Parabélium, e a sua
figura hercúlea, com os cabelos louros, soltos ao vento, bem justificava o
apelido que o povo lhe deu.
Era o Diabo Louro em ação.” (Transcrito) ("Fim do Cangaço: As Entregas” –
BONFIM, Luiz F. de A. Paulo Afonso, 2015)
Além de outros equívocos, o maior seria dizer que estava com os cabelos longos,
não sendo verdade, pois o mesmo tinha mando cortar os cabelos, que não eram
louros, e sim, ruivos. Notamos que seus cabelos estão curtos, quando vemos a
foto dele morto.
Vejam bem, nos dois trechos mostrados, cita que ele atirava com seu Parabélium.
Pois bem, vejam no seguinte, em qual das mãos ele segurava a arma e atirava,
além de recarregar, pois se descarregou, tem que recarregar se não, não atira,
é citado:
“A uns dez metros de distância, o tenente Rufino viu que Corisco fora baleado
no braço direito, deixando cair a arma e gritou-lhe outra vez: - Se entrega
Corisco! (Transcrito) "(“Fim do Cangaço: As Entregas” – BONFIM, Luiz F. de
A. Paulo Afonso, 2015)
Ora, o braço
direito de Cristino deste há vários meses, agosto de 1939, que não servia nem
para ele pegar numa colher e comer. Alguns autores ainda citam que ele
conseguia, com muito esforço, segurar uma pistola com a mão esquerda, mesmo
sendo, segurar é uma coisa, manejar e atirar é outra totalmente diferente.
Quanto mais saltar uma porta, correr, atirar e recarregar a pistola? Totalmente
sem lógica.
Não sabemos se
realmente ele garantiu a vida de Cristino quando estavam naquela fazenda,
depois relatando que Cristino diz: “Estou satisfeito, sou homem pra morrer e
não para me entregar”. Esse dizer do militar não seria uma maneira de esconder,
ou desviar a atenção da população, sobre a covardia de matar um homem que não
tinha condições de lutar? Para nós aparece uma ‘cachoeira’ de porquês: Será que
sua intenção não era no ouro, nas joias ou no dinheiro que supunha levassem os
cangaceiros? Com certeza Zé Rufino sabia que o que fora arrecadado nos espólios
dos cangaceiros mortos em Angico, em 1938, fora uma soma bastante elevada, e
como sendo Cristino o sucessor direto de Lampião, segundo a própria imprensa,
também teria uma enorme soma, então daria de qualquer jeito o bote, mas, apenas
com a intenção nos espólios? Por que o comandante não autorizou aos homens
deceparem a cabeça do cangaceiro, ato costumeiro que lhe fez famoso e o ajudou
a galgar diversas patentes militares? Teria sido o temor de um castigo por
cortar, ou ordenar cortarem, a cabeça de um aleijado?
Zé Rufino, em
seu leito de morte, muito tempo depois daquela tarde de maio de 1940, manda
chamar Dadá e pedi-lhe perdão. Esse pedido teria vindo através de qual
‘pecado’? Só pede-se perdão quando se peca. Será que não fora a consciência
pesada por ter matado uma pessoa que não tinha condições físicas de segurar em
suas mãos uma pistola, nem tão pouco um fuzil, mesmo sendo Corisco?
Para nós, não ocorreu luta, e sim um assassinato. A tropa que assassinou
Cristino era entre 14 e 15 homens, no mínimo, esses homens não tinham a força e
coragem de pegar no braço um aleijado? Eles abriram foi fogo ao comando direto
do comandante, resultando na morte de um renomado cangaceiro cruel e assassino,
porém, na oportunidade, aquela pessoa só tinha o nome, impossibilitado de
lutar. Porém, não somos donos da verdades, apenas expomos o resultado do
confronto sobre pesquisas bibliográficas,ficando ao entender de cada um com a
sua interpretação.
Fotos Benjamim
Abrahão
“Fim do Cangaço: As Entregas” – BONFIM, Luiz F. de A. Paulo Afonso, 2015
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