Por José Romero
Araújo Cardoso
O envio de
tropas da Polícia Militar do Estado da Paraíba intuindo garantir o bom
encaminhamento das eleições marcadas para o dia 28 de fevereiro de 1930
assinalou o início da guerra de Princesa.
Contingente
comandado pelo Tenente Ascendino Feitosa tinha destino certo, a Vila de
Teixeira, situada em área montanhosa, assim como Princesa e
circunvizinhança. O comandante do pelotão militar tinha queixas
particulares contra a família que detinha a hegemonia naquela povoação perdida
nos confins do sertão.
Em uma briga,
Silveira Dantas havia levado vantagem sobre Ascendino Feitosa. Irado e
desmoralizado, o militar havia jurado vingança, a qual estava para se
concretizar com a decisão do Presidente João Pessoa em fazer valer sua
autoridade como chefe do executivo paraibano.
A família
Dantas fora pega de surpresa. Logo estavam encarceradas pessoas de destaque na
região. A cadeia de Teixeira nunca havia recebido gente tão importante e
bem situadas na hierarquia da sociedade sertaneja agropastoril.
Ameaças
veladas eram feitas constantemente, mas que não tinham ressonância na medida
exata como Ascendino Feitosa pretendia, pois àquela gente estava acostumada com
o clima tenso que marcou indelevelmente o sertão daquelas eras turbulentas.
O comandante
militar se dirigia aos presos ameaçando-os initerruptamente de sangrá-los.
“Hoje bebo o sangue dos Dantas!”, bradava Ascendino Feitosa, futuramente o
responsável pelas execuções de João Dantas e Augusto Caldas na Penitenciária do
Recife, em razão do assassinato do Presidente João Pessoa.
Dona Cota
respondia em tom de deboche: “Bebe, desgraçado, só assim terás sangue bom
nessas suas veias sujas!”.
Não tardou
para que o “Coronel” José Pereira Lima soubesse dos acontecimentos com os
importantes aliados na Vila do Teixeira. A decisão de libertar os Dantas logo
foi posta em prática.
Encourados,
vestindo gibões, com chapéus de couro quebrados na testa, perfazendo a mais
pura essência da estética sertaneja, quinhentos homens foram despachados por Zé
Pereira para a Vila do Teixeira.
Comandava-os
dois importantes cabos-de-guerra do “Coronel” Zé Pereira. Luiz do Triângulo ou
Luiz da Cacimba Nova, e Lindu estavam na vanguarda do pelotão do exército do
futuro Território Livre de Princesa.
Aboiando e
empunhando rifles winchester calibre 44, mandaram o recado para Ascendino
Feitosa e sua tropa. Se não soltassem os Dantas imediatamente iriam morrer no
cipó-de-boi, sem escapar um só.
Aflita e
completamente desnorteada, a tropa e seu comandante fugiram em direção ao
Estado de Pernambuco.
A família
Dantas foi solta e colocada em local seguro. Como prova de reconhecimento ao
gesto heroico, Ariano Suassuna imortalizou Luiz do Triângulo no Romance da
Pedra do Reino, concedendo-lhe título de nobreza.
Dessa forma se
consumava o primeiro episódio da guerra de Princesa, cuja declaração
efetivava-se em 28 de fevereiro de 1930, quando, a partir daí, intensificavam-se
os combates cruentos entre as tropas militares do governo do Estado da Paraíba
e o verdadeiro exército arregimentado pelo “Coronel” José Pereira Lima.
José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto do Departamento de
Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte.
Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso
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