Dom Gentil Diniz Barreto bispo de Mossoró, Alcides Belo ex-prefeito de Mossoró e o radialista José Maria Madrid - aparece de bigode - todos já falecidos. Foto: http://telescope.blog.uol.com.br
Foi um dos melhores e mais competentes radialistas de Mossoró. Tinha uma voz assustadora, mas na verdade, só a sua voz. José Maria Madrid era uma verdadeira criança. Educadíssimo, amigo dos amigos.
Conheci o Zé Maria Madrid nos anos 70, quando ele veio trabalhar na Rádio Difusora de Mossoró. Enquanto ele era empregado na Rádio Difusora, eu trabalhava na Editora Comercial S/A, numa sociedade: Cine Caiçara, Cine Jandaia e Cine Miramar de Areia Branca, mais a Rádio Difusora e a Editora Comercial S/A, cujos sócios eram:
Renato Costa é o nº. (1). O nº. (2) é Bibil Gurgel - proprietário do Banco S. Gurgel em Mossoró - ambos já falecidos - Foto: http://telescope.blog.uol.com.br
José Renato Costa, Dr. Paulo Gutemberg de Noronha Costa, irmão do primeiro, Milton Nogueira do Monte e José Genildo de Miranda; quatro homens que muito souberam respeitar os seus empregados.
Carlos Augusto Rosado e José Genildo de Miranda, já falecido.
Foto: http://telescope.blog.uol.com.br
Nenhum de nós que teve a oportunidade de trabalhar com estes homens, se falar mal de um deles ou de todos, é porque gosta mesmo de denegrir a imagem de qualquer ser humano.
Dr. Paulo Gutemberg era um homenzarrão, de andar apressado, de olhos azuis, alto, de cor clara, aparentando o fundador de Brasília, o ex-presidente do Brasil Juscelino Kubitscheck. Era advogado e chegou a ser promotor de justiça.
José Renato, filho de Renato Costa e sobrinho de Paulo Gutemberg - suicidou-se - Nilo Santos e Paulo Gutemberg - ambos faleceram de enfarto. Foto: http://telescope.blog.uol.com.br
Renato Costa, Dr. Paulo Gutemberg e Genildo Miranda, os três, tinham um respeito enorme pela pessoa de Milton Nogueira do Monte que era diretor sócio da sociedade, igualmente nós, operários. A paciência que tinha seu Milton, a maneira que ele falava com qualquer ser humano, por mais ignorante que fosse o sujeito, ele evitaria ter qualquer desentendimento com seu Milton Monte.
Zé Maria Madrid como era chamado pelos seus amigos e por nós todos que trabalhávamos na sociedade, tinha uma facilidade para decorar os textos que seriam lidos na Rádio, no horário do jornal, ao meio dia. Bastava ele ler uma vez, já sabia tudo sobre o assunto, e nem precisava mais das laudas para ler as notícias.
Zé Maria gostava da diversão nos bares, e tive oportunidade várias vezes de participar da sua mesa, lá no bar da Dona Neci, na Rua Frei Miguelinho, com o cruzamento da Rua Tiradentes, vizinho a antiga Sambra, esta sendo uma algodoeira, onde hoje funciona um Chopp.
A SAMBRA funcionava neste prédio. Foto:http://telescope.blog.uol.com.br
Nesse tempo, eu ainda era solteiro, e como havia saído da instituição escolar, a qual eu vivi oito anos, mas já estava vivendo de favores, por já ter passado dos dezoito anos, fui morar no Sindicato da Lavoura de Mossoró.
Geralmente, nós nos encontrávamos no bar citado acima. Eu já era freguês de meses, e Zé Maria Madrid, antes de começar o seu trabalho do meio dia, sempre estava no bar para ingerir algumas pingas, e vez por outra, o nosso patrão, Dr. Paulo Gutemberg nos visitava, fazendo parte do nosso almoço.
Conta-se que
um dia alguém perguntou a um dos homens mais ricos do mundo, Bill Gates:
"Há alguém mais rico do que você no mundo?"
Bill Gates
terá respondido: "Sim, há uma pessoa mais rica que eu".
Depois contou
uma história:
"Foi
durante o tempo em que eu não era rico nem famoso. Eu estava no aeroporto de
Nova Iorque quando vi um vendedor de jornais. Eu queria comprar um jornal, e ao
tê-lo nas minhas mãos descobri que não tinha moedas suficientes. Então, deixei
de lado a ideia de comprar e devolvi o jornal ao vendedor. Eu disse-lhe que não
tinha moedas.
O vendedor
disse: 'eu estou-te dando isso de graça'.
Diante da sua
insistência, levei o jornal.
Dois ou 3
meses depois, aterrei no mesmo aeroporto e novamente faltavam-me moedas para
comprar um jornal. O vendedor ofereceu-me o jornal de graça novamente. Eu
recusei e disse-lhe que não podia aceitá-lo porque nessa ocasião também não
tinha um tostão.
Ele disse:
"você pode levá-lo, estou compartilhando isso dos meus ganhos, não estarei
perdendo nada". Peguei o jornal e segui.
Dezanove anos
depois, já famoso e conhecido pelas pessoas, lembrei-me desse vendedor. Comecei
a procurá-lo e encontrei-o após cerca de mês e meio de busca.
Perguntei-lhe
se me conhecia e ele respondeu: "Sim, você é Bill Gates".
Perguntei-lhe
de novo: "Lembra-se de uma vez em que me deu um jornal grátis?"
O vendedor
disse: "Sim, eu lembro-me, dei duas vezes".
Eu disse-lhe :
"quero pagar a ajuda que você me deu essas duas vezes. O que você quiser
na sua vida, diga-me, eu dou".
O vendedor
disse: "Senhor Bill Gates, acredite que ao fazer isso não poderá igualar a
minha ajuda?"
Eu perguntei a
razão. Ele disse: "Eu o ajudei quando eu era um pobre vendedor de jornais
e agora você está tentando me ajudar quando se tornou o homem mais rico do
mundo. Como pode a sua ajuda igualar a minha?"
Nesse dia,
percebi que o vendedor de jornais era mais rico do que eu, porque ele não
esperou ficar rico para ajudar alguém.
As pessoas
precisam entender que os verdadeiramente ricos são aqueles que possuem um
coração rico, em vez de muito dinheiro. É realmente importante ter um coração
rico para ajudar os outros. É muito fácil dar quando nos sobra, o difícil é
presentear, ainda sem ter muito para dar.
Um dos
melhores texto que já li.
Tem pessoas
que são tão pobres, mas tão pobres... que só tem dinheiro
Muita alegria
tive em visitar a Rádio onde eu tinha um programa chamado “Santana, Terra da
Gente”. Era um programa informativo com base musical de Luiz Gonzaga. Fui
encontra ali o apresentador Ginaldo, ex-colega da rádio que continua como
profissional, respeitadíssimo. Íamos falar sobre o livro que continuo
escrevendo “100 Milagres Nordestinos”, atribuídos ao padre Cícero Romão
Batista, inéditos. A gentileza do apresentador Ginaldo, fez com que o diálogo
ficasse mais fácil entre nós, saindo uma gama de informações para o público
ouvinte. A Rádio Cidade progrediu, comprou sede própria e hoje funciona na Rua
Joaquim Ferreira, onde fala para Alagoas e para o mundo como diz seu
apresentador.
PRÉDIO ONDE FUNCIONOU A RÁDIO CIDADE (FOTO B. CHAGAS/LIVRO 230).
Difícil é
sustentar um único tema, em uma entrevista em que o entrevistador quer
perguntar e o entrevistado quer responder. Assim, fomos variando do núcleo do
tema para a periferia, enriquecendo os nossos conhecimentos e espalhando o
aprendizado pelas mais diferentes regiões de boa parte das Alagoas. Ficou
acertado no ar, a divulgação das minhas crônicas diárias, na própria “Rádio
Cidade”. Crônicas essas que estão próximas ao número simbólico 3.000,
distribuídas nos sites “Santana Oxente” e no “Blog do mendesemendes”, Face e em
nosso blog. Crônica oral somente há muito na “Rádio Correio do Sertão” quando o
apresentador Edilson Costa lia a nossa crônica diariamente com o título
“Crônica do Meio-dia”.
Vou ver se vai
dar certo, gravar as minhas crônicas diárias com a minha voz e enviá-las para a
Rádio Cidade, todos os dias úteis a partir da próxima
segunda. Avisar também que hoje,
quinta-feira, termos podcast, no site AlagoasNanet, com o Lucas Campos,
iniciando às 20 horas. Esteja esperto. Virei menino, ao ser convidado para
sempre aparecer na citada Rádio e falarmos sobre os mais diversos temas, sempre
visando tudo que envolve a nossa cidade. Portanto, fica aqui os nossos
agradecimentos, meus e de minha esposa, professora Irene Ferreira das Chagas
que esteve presente me dando força, como sempre. Outra satisfação foi saber e
constatar que a Rádio Cidade, continua no Bairro Camoxinga, aumentou o seu
alcance hoje sua sede própria é bem agradável, como pude constatar. Quero sim,
voltar mais vezes ao lugar onde me sinto em casa. Era aviso de 10 minutos,
passou a ser entrevista de 2 horas e nem sentimos o tempo passar.
APANHOU DE PAU Horácio era um vaqueiro que se tornou Cangaceiro de Lampião, a polícia batene de pau, mas a Vingança foi Macabra, Lampião o rei do sertão ficou enfurecido e manda um grupo de cangaceiros ajudar Horácio amigo de Lampião
Horácio com extrema valentia, planeja uma emboscada ao sargento Ananias e mais dois soldados que lhe bateram de pau, quase o matando, o plano deu certo o sargento cai na armadilha, e a vingança foi macabra.
Virgulino
Ferreira da Silva, de alcunha Lampião, foi o cangaceiro mais conhecido do
Brasil, sendo a partir
de 1926, oficialmente, capitão do batalhão patriótico, e ainda, segundo a
imprensa “uma
revivescência cabocla de Átila”, ou “Lampeão o Átila sertanejo”, ou ainda, “O
Imperador dos Sertões. Esse
ano foi sem dúvida muito especial para consolidação de sua fama. Era o seu
sétimo ano de
banditismo sendo o quinto como chefe de bando.
Apresento
neste trabalho a transcrição de matérias dos jornais publicadas no ano de 1926,
em que Lampião,
com seus companheiros de armas, foi protagonista das notícias ligadas a sua
atuação nos estados de
Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Ceará.
Não faço
afirmações nem análise, apenas coloco à disposição dos pesquisadores e
estudiosos, os fatos como
eles foram divulgados na época em que aconteceram. Faço somente a atualização
dos nomes das
cidades na época relacionada ao ano de 1926: Vila Bela, hoje Serra Talhada-PE,
Paulo Afonso, atual
Mata Grande-AL, Meirim, atual Ibimirim-PE, Leopoldina, atual Parnamirim-PE, povoado Nazaré
ou Carqueja, atual Nazaré do Pico, Floresta-PE, Alagoa de Baixo, atual
Sertania-PE.
A iconografia
deste trabalho está restrita ao ano de 1926, com algumas exceções para enriquecer as
transcrições que seguem em ordem cronológica, mas, os jornais não cumprem nenhuma
prioridade geográfica, sendo o critério utilizado na pesquisa, o tratamento
jornalístico por cada órgão
noticioso, mês a mês. Observem que a imprensa apresenta o nome Lampeão sempre grafado com
“e”, mas, em novembro de 1926 o Jornal Pequeno grafou com “i”, foi um fato
isolado e mesmo depois
vemos sempre a palavra escrita com “e”, Lampeão.
As matérias
mostram a efervescência política do momento, com discussões e opiniões, cartas de leitores,
com denúncias que retratam a genuína preocupação dos habitantes daquelas
paragens, para que os
jornais divulguem os tormentos passados, nas diversas localidades de ação dos cangaceiros,
instigando o poder público, cobrando uma ação mais efetiva. Fica claro também a preocupação do
estado na luta contra o banditismo, apresentando os telegramas trocados pelas autoridades,
as justificativas pela demora em conter o bando de Lampeão ....
A imprensa
oposicionista denuncia o governador de Pernambuco que proíbe a divulgação dos telegramas
informando a atuação dos cangaceiros no interior do estado.
As primeiras
medidas tomadas pelo governador Estácio Coimbra ao assumir o governo de Pernambuco,
conjuntamente com o governador de Alagoas, senhor Costa Rego, foi ordenar a
prisão dos
proprietários sertanejos que protegiam o bando de Lampião, isto em dezembro de
1926.
Um ano em que
o próprio congresso nacional sediado na época, no Rio de Janeiro, que era a capital do
Brasil, através de seu representante se dedicou nas sessões legislativas para
tratar do legalismo em
que Lampião foi levado, através das articulações do padre Cícero, prefeito de
Juazeiro do Norte, e
Floro Bartolomeu deputado federal pelo Ceará, na luta do governo de Artur
Bernardes contra o
movimento tenentista e sua coluna denominada de Prestes e Miguel Costa.
A imprensa
fala sempre das correrias do bando de Lampião e que ele não enfrenta a polícia.
Veja o que o
Dr. Atualpa Barbosa Lima, então um conhecido político cearense, que esteve na região do
Cariri responde ao redator do Correio do Ceará, sobre essa questão. Segundo o
Dr. o irmão de Lampeão
teria lhe dito “primeiro porque não tem interesse em matar soldados, pois o governo tem
muitos para substituir os que morrem, segundo porque gastam inutilmente a sua munição,
terceiro porque se desviam dos seus fins, que é para matar e roubar a quem tem
dinheiro e joias,
quarto porque arrisca a pele sem proveito. Brigamos, em último caso, quando não
há meio de escapulir,
aliás, o segredo de nossa vitória está em que sabemos brigar e fugir na ocasião
precisa.
Achamos sempre
melhor correr, do que brigar, e quem sabe correr raramente morre”. Nessa entrevista o
Dr Atualpa faz declarações de fatos que ainda não foram confirmados.
Para aqueles
que duvidam da liderança de Lampião com seus cabras, leiam neste trabalho o trecho do
jornal quando o caixeiro da Standard Oil Company fez o pedido para que o cabra
de Lampião
devolvesse a sua aliança de casamento.
Em outubro de
1926 aparece a notícia de “Lampeão, o Bonelli Brasileiro”, talvez a primeira tentativa de
publicação de um livro sobre Lampião. Ao que parece não foi publicado.
Interessante
também a entrevista do professor Lourenço Filho, importante figura nacional, sobre o
lançamento de seu livro “Juazeiro do Padre Cícero”, onde ele aborda as relações
do padre com o cangaço.
Acrescentei
uma matéria de setembro de 1933, para enriquecer um fato relevante acontecido em 1926.
Trata-se da entrevista feita com Pedro de Albuquerque Uchoa, “ajudante de
inspetor agrícola no
Juazeiro”, sobre sua participação no episódio da lavratura da patente de
capitão do batalhão
patriótico do Juazeiro a Lampião e de tenente ao seu irmão Antônio Ferreira.
Estive na
capital de São Paulo cerca de 10 vezes, tendo sido hóspede do mestre Antonio Amaury. Nas
nossas longas conversas sobre o cangaço, fiz-lhe inúmeras perguntas e ele me respondeu
todas. Certa vez perguntei ao mestre quem estava com o padre Cícero e Lampião quando este
recebeu a patente de capitão do batalhão patriótico do Juazeiro do Norte. Eis a resposta: - eu
entrevistei João Ferreira, irmão de Lampião testemunha ocular do fato, que
estava acompanhado de
sua esposa Joaninha, ele já um homem feito, com 22 anos de idade. Sobre os presentes no
local ele me falou que recordava que estavam presentes no recinto no momento em que Pedro de
Albuquerque Uchoa escrevia as patentes: ‘além de Lampião e Padre Cícero, Benjamim
Abrahão, meu irmão Antônio Ferreira, Sabino, Luiz Pedro’, e lembrou-se que João Ferreira pouco
depois cita Zabelê, além de uma quantidade não contada de outros cangaceiros no recinto.
A data da
morte de Antônio Ferreira, sempre me causou dúvidas, pois pesquisadores
escreviam que foi em
janeiro de 1927, mas, nas minhas pesquisas a imprensa informava que o fato
ocorreu entre 10 e 15
de dezembro de 1926. Vejam na matéria do Jornal do Recife de quinta-feira, 16
de dezembro de
1926: “Corre com insistência, aliás, com algum fundamento, pelo sertão, que o
célebre bandoleiro
Antônio Ferreira, irmão e ‘lugar tenente’ do bando chefiado por Lampião foi
morto em dia da semana
passada, nas imediações do lugar Poço do Ferro, do município de Tacaratú.” Esse jornal
publicou com detalhes, inclusive o acidente com Luiz Pedro. Já o Diário de
Pernambuco do dia 18 de
dezembro publica que foi uma luta travada com a polícia no município de
Floresta, dias depois, essa
mesmo jornal repete a versão do Jornal de Recife.
Nesses anos
todos de pesquisa em jornais e outros documentos, observei que nunca foi
consenso a quantidade
de cangaceiros divulgada pela imprensa ao longo do ano de1926, que variava
entre 49 e 200 homens.
Surpreendeu-me
a diferença dada a fatos como a batalha de Serra Grande, e o sequestro praticado por
Lampião, do representante da Souza Cruz e Standard Oil Company, ocorridos na mesma semana.
A batalha foi pouco explorada e divulgada, no entanto, o sequestro foi muito
bem documentado,
com entrevistas e matérias de vários jornais.
Alguns fatos
que foram publicados no período proposto por esse trabalho não foram destacados,
embora tenham a mesma importância dos que foram aqui lembrados.
Boa leitura
Luiz Ruben F.
de A. Bonfim
Economista e
Turismólogo - Pesquisador de Cangaço e Ferrovia
Lançamento de
“Cangaço em Perspectiva- Sertão em Lutas”, dentro da Visita Técnica do Cariri
Cangaço a tradiciLançamento de “Cangaço em Perspectiva- Sertão em Lutas”, dentro
da Visita Técnica do Cariri Cangaço a tradicional e histórica cidade de Jardim
, no alto da Chapada do Araripe , no Cariri cearenseonal e histórica cidade de
Jardim , no alto da Chapada do Araripe , no Cariri cearense.
Quando Lampião e sua horda de cangaceiros estiveram no Rio Grande do Norte, entre os dias 10 e 14 de junho de 1927, com o objetivo de atacar Mossoró, um personagem deste drama entrou na história quase sem querer, tornando-se por algum tempo um estafeta do “Rei dos cangaceiros”. Este personagem foi o motorista Francisco Agripino de Castro, conhecido em Mossoró como “Gatinho”.
Nascido em 1905, “Gatinho” era um jovem de boa índole, simples, que buscava na profissão de motorista uma nova perspectiva em sua vida. Estava ainda na fase de aprendizado, sendo seu mestre o motorista João Eloi, conhecido como “João Meia-Noite”. A prática ocorria em um Chevrolet 1925, cujo proprietário era o Sr. Francisco Paula, para quem “João Meia-noite” trabalhava.
Seja por esperteza, medo ou desinformação, naquele dia 12 de junho de 1927, um domingo, João cedeu o veículo para “Gatinho” fazer o serviço que surgisse e ganhar mais perícia na condução.
“Gatinho”, como todos em Mossoró, estava apreensivo com a notícia da invasão do bando ao Rio Grande do Norte, os boatos sobre o tiroteio ocorrido no dia 10 de junho, no lugar Caiçara (próximo ao atual município potiguar de Marcelino Vieira), as muitas informações desencontradas, a movimentação para a defesa da cidade, a fuga dos moradores e outras situações que alteraram aquela inesquecível semana na “Capital do Oeste”. Mesmo assim “Gatinho” estava pronto para realizar qualquer viagem.
Na tarde daquele dia, o carro de Francisco Paula foi contratado pelo comerciante e fazendeiro Antônio Gurgel do Amaral, um rico proprietário que possuía uma fazenda no lugar “Brejo do Apodi”, próximo a então vila de “Pedra de Abelha” (atualmente município de Felipe Guerra). Gurgel estava preocupado com sua esposa, pois a mesma se encontrava na sua fazenda e desejava trazê-la a Mossoró.
Por volta da uma da tarde, os dois seguiram direção sul.
A viagem prosseguia tensa, como não poderia deixar de ser diante da situação reinante. O veículo trafegava por uma estrada irregular, não mais que um caminho estreito, que mal dava para um carro pequeno seguir.
Por falta de conhecimento ou nervosismo, “Gatinho” errou o trajeto e levou seu passageiro para o lugar Apanha Peixe, a 13 léguas da vila de São Sebastião (hoje município de Governador Dix-Sept-Rosado). Nas proximidades se localizava a fazenda “Santana”, de propriedade de Manoel Valentim, que neste momento tinha a sua residência invadida e era prisioneiro do bando de cangaceiros de Lampião.
Eram mais ou menos quatro horas da tarde quando “Gatinho” ouviu tiros que não sabia de onde vinha. O motorista se protegeu como pode, Antônio Gurgel ordenou a parada do veículo. Nove balaços de mosquetão teriam atingido a carroceria do veículo.
Ao levantar a cabeça, “Gatinho” viu um cangaceiro com um fuzil apontado para ele. Era um moreno forte, de estatura elevada, que por esta razão tinha a alcunha de “Coqueiro”.
Este cangaceiro, junto com outros membros do bando, mandou o motorista e o passageiro renderem-se e passou a rapinar os seus pertences. Do fazendeiro Gurgel foram arrecadados uma aliança, um par de óculos, uma caixa com cinquenta balas de rifle Winchester calibre 44, um conto de réis e uma pistola tipo “mauser”. Provavelmente uma pequena pistola com calibre 7,65 m.m., das marca “FN” ou “Colt.
O cangaceiro “Coqueiro” exultava a todo o bando de facínoras a prisão de um “coronelão de muito dinheiro”.
Depois da “coleta”, os dois prisioneiros foram levados à presença de Massilon Leite e Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”.
Junto ao líder dos bandidos estava José Tibúrcio e Fausto Gurgel, irmãos de Antônio Gurgel, que tiveram seus resgates estipulados em um conto e quinhentos mil réis. O bandido Sabino, depois de uma rápida palestra com o novo prisioneiro, estipulou a vultosa quantia de quinze contos de réis para a sua liberdade. Sem condições dos prisioneiros ponderarem, ficou decidido que o irmão Fausto retornaria Mossoró com “Gatinho”, para buscar a dinheirama.
E era realmente muito dinheiro.
Para se ter uma ideia deste valor, vamos observar como exemplo a edição de 18 de junho de 1927, do jornal “A Republica”, onde se encontra um balanço financeiro, listando as rendas postais apuradas em cada uma das agências dos correios existentes no Rio Grande do Norte em 1926. Na progressista Mossoró de então, que possuía Banco do Brasil, um forte comércio de algodão e até funcionava uma Alfândega, os Correios e Telégrafos apuraram em todo aquele ano 10.255$300 (dez contos, duzentos e cinquenta e cinco mil e trezentos réis).
Diante da quantia pedida, Antônio Gurgel preparou uma carta para ser entregue a seu cunhado Jaime Guedes, então gerente da agência do Banco do Brasil em Mossoró e pessoa certa para lhe salvar desta situação.
Neste meio tempo, “Gatinho” realizava pequenas voltas pela propriedade, com o veículo cheio de bandoleiros. Muitos destes cangaceiros estavam tendo o seu primeiro contato com um automóvel. A brincadeira acabou quando a chamado de Lampião, o motorista e Fausto Gurgel receberam a missão de levar a carta de Antônio Gurgel para Mossoró.
O “Rei do cangaço” exigia dos dois “estafetas” a maior discrição sobre o caso, se não Antônio Gurgel pagaria com a vida.
No retorno, “Gatinho” e Fausto encontraram dois conhecidos que pediam condução na beira do caminho. Eram Alfredo Dias e Porcino Costa, que se dirigiam a Mossoró.
Achando estranho o fato de Fausto estar àquela hora de retorno a “Capital do Oeste”, Dias inquiriu-o sobre o que estava fazendo? De onde viam? Se sabiam notícias dos cangaceiros? Fausto no inicio desviou o assunto, mas diante da insistência cedeu e narrou o ocorrido e o suplício por que passava seu irmão.
Ao chegarem à vila de São Sebastião, atual município de Governador Dix-Sept-Rosado, os dois viajantes pediram para descer do veículo e seguiram para a estação ferroviária, onde deram um alarme para Mossoró através de um telefone existente neste local.
“Gatinho”, para desespero de Fausto, saiu a divulgar pela vila a notícia alarmante; “-Se prepare todo mundo que os cangaceiros vão invadir”. Cinquenta anos depois, em um depoimento prestado ao jornal dominical natalense “O Poti” (edição de 13 de março de 1977), Francisco Agripino afirmava que poucos em São Sebastião lhe deram crédito.
O motorista e Fausto seguiram para Mossoró. Por volta das oito e meia da noite, encontraram-se com Jaime Guedes e o prefeito Rodolfo Fernandes, onde foram narrados os fatos e entregue a carta de Gurgel. O prefeito só ficou satisfeito em relação à veracidade da notícia quando viu a lataria do Chevrolet perfurada de balas.
Nesta mesma noite de 12 de junho, “Gatinho” ainda ajudou na defesa de Mossoró, transportando fardos de algodão de depósitos existentes na cidade, para pontos que seriam utilizados como baluarte de defesa.
“Gatinho” não estava em Mossoró no dia do assalto, fora contratado para seguir para Fortaleza, às nove da manhã de 13 de junho, com a esposa e dois filhos do médico Eliseu Holanda. Segundo o motorista, depois deste episódio, não mais teve notícias se este médico e sua família retornaram a Mossoró, “nem a passeio”.
Em Fortaleza, o “estafeta de Lampião” passou alguns dias esperando a situação se acalmar.
Muitos anos depois, em sua residência na Praça Redenção, 183, na tranquilidade de sua velhice, “Gatinho” narrou ao repórter Nilo Santos, de “O Poti”, as suas inesquecíveis lembranças da meia hora que passou entre o bando de Lampião. Para ele, muitos dos cangaceiros eram demasiado jovens para aquela vida, “umas crianças” ele afirmava. Na sua memória Massilon marcou como um sujeito feio, carrancudo, grosseiro, ignorante, “que dava até medo em olhar para ele”. Lampião lhe deixou uma impressão positiva, apesar da fama, “parecia um sujeito educado, pelo menos neste dia não estava furioso”. Sobre “Coqueiro”, o condutor o considerava um moreno forte, bem disposto e “bastante alto para justificar o apelido”. Quando o cangaceiro “Mormaço”, foi detido, informou as autoridades que “Coqueiro” havia deixado o bando no Cariri e seguira para o Piauí, entretanto, segundo o pesquisador Raimundo Soares de Brito, este cangaceiro foi morto pela polícia cearense, no lugar “Cruz”, aparentemente no município de Maranguape.
Francisco Agripino de Castro se tornou um profissional do volante respeitado, era conhecido como uma pessoa calma, amigo de todos e faleceu em 16 de março de 1991.