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terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

CONTANDO O TEMPO

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de fevereiro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.064

   Numa festa de formatura do ABC fiquei impressionado com a dimensão dos festejos, com a organização, elegância, desenvoltura dos pequenos e as palavras da diretora. Foram inúmeras apresentações dos formandos, como danças, músicas e discursos. Apesar de toda aquela alegre agitação que orgulhava pais, avó, avô, tios e tias, não deixei de ficar atento às palavras da mestra: “Eles estão preparados. Eu afirmo, que eles estão preparados”. E por tudo que eu vi ali no “Espaço Jaraguá”, tive a certeza absoluta que sim, que eles estavam preparados para os próximos desafios, inclusive um dos três netos, o formando Davi José. E se ele quer ser cientista, acho que vai conseguir.

GINÁSIO SANTANA. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).

       Naquele momento lembrei-me do Ginásio Santana, de Santana do Ipanema. Participei como aluno de uma sequência de sete anos no antigo Ginásio Santana, com os seguintes diretores, não necessariamente pela ordem: Alberto Nepomuceno Agra, Eraldo Bulhões, Mileno Ferreira da Silva, Padre José Araújo, João Yoyô Filho, Tavarinho (juiz), Adelson Isaac de Miranda e José Pinto de Araújo. Mas teve uma sequência de bedéis também: Duda Bagnani, Lulinha, Sebastião Veríssimo, Costinha, José Augusto e Wellington Costa. Na oitava série, conclusão do Curso Ginasial, o doutor. Adelson Isaac de Miranda como despedida da turma, pronunciou palavras de incentivo aos estudos. Disse ele que nunca parássemos de estudar. Que por mais que nós tivéssemos pais sacrificados com despesas de escola, “apertássemos as goelas deles”, contanto que não parássemos os estudos.
       Claro que o doutor queria apenas enfatizar o valor do Saber. Muitos ginasianos não sentiam ânimo para ir além da oitava série. Mas, com a base que adquirimos no velho casarão, ninguém passaria vergonha nem em Maceió, nem no Recife onde todos os santanenses eram elogiados e admirados pelo conteúdo trazido do Sertão.
       E se ontem nós apertamos nas goelas, hoje nossas goelas são apertadas. Benditos apertos.
        Lamentamos apenas pelos que se perderam na caminhada.


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A VELHA SENHORA, A COCADA BRANCA E A MORINGA NA JANELA

*Rangel Alves da Costa

Delurdes já estava pra mais de setenta anos. Contudo, pela vida de luta, sacrifícios e sofrimentos, parecia já ter descambado acima dos oitenta.
Viúva desde muito, com filhos morando distantes e esquecidos da existência da própria mãe, outra coisa a velha senhora não fazia senão viver na ilusão da felicidade.
E que dolorosa ilusão! A fuga da nostalgia, da solidão e das cruéis recordações, exigia-lhe reinventar a existência.
Conversava sozinha, inventava um mundo que só existia no seu pensamento, procurava povoar aquele vazio lar numa normalidade inexistente.
Daí que se danou a fazer cocada branca para vender numa mesinha colocada rente a parede de barro da frente, bem pertinho da janela.
E pertinho por que logo ali, no umbral, uma velha moringa dormia e amanhecia para que a fresca na água fosse garantida.
Só existia um problema: como vender a cocada e oferecer caneca d’água se por ali dificilmente passava gente? Mas parecia que ela não se importava muito com isso.
Começava a ralar coco assim que levantava. Aprontava o fogão de lenha, juntava garrancho por baixo, colocava o tacho por riba com as chamas já levantadas.


Com a água na moringa não havia preocupação, vez que dia e noite a jarreta de barro em cima do umbral na janela sempre aberta.
Depois de mexer e remexer e de a cocada ficar no ponto, ela cuidadosamente despejava numa forma de madeira. Estava pronta a cocada branca.
Depois de esfriar um pouco, logo ela seguia para colocar o seu doce na mesinha no lado de fora. Depois sentava numa cadeira de balanço debaixo dum pé de pau logo adiante.
A cocada ali, mas ninguém passava para experimentar. A água de moringa ali, mas ninguém passava para matar a sede.
Enquanto isso, conversando sozinha, Delurdes parecia noutro mundo. Noutro mundo distante, como se encontrando ou reencontrando pessoas do seu passado.
De vez em quando, quando a palavra lhe faltava ou silenciava por algum motivo, as lágrimas desciam e encharcavam sua face enrugada de tempo. O lenço molhado testemunhava a angústia da solidão.
A noite chegava e ela ia recolher o que havia restado da cocada. Restado, mas como se nenhum caminhante por ali havia passado? Sim, não havia passado, mas havia chegado. Seu falecido esposo tanto gostava de cocada como a levava para agradar os amigos do além.

Escritor
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A MAIS NOVA ARTISTA PLÁSTICA DE MOSSORÓ NICOLLY DE SOUSA

Por José Mendes Pereira

Uma nova artista mirim nasceu no mundo da arte plástica em Mossoró, é a Nicolly de Sousa. Um talento excepcional. Viva Nicolly de Sousa, o mundo artístico com as telas, tintas, pincéis e cera. A sua visão ver com maiores formas, e assim, no seu imaginário, cria os seus personagens que eles são capazes de se movimentarem, de falarem, de rirem, de chorarem, mas somente para você. Igualmente você que acompanha os seus passos, fala com eles, rir em gargalhadas, e não chora, apenas os acalenta.  


A arte é uma mistura de inteligência e sabedoria que nasce na mente de pessoas criativas para florescer uma nova vida e uma nova cultura. O artista ver as coisas com mais detalhes, e por isso, produz as suas fantásticas criações chamando a atenção de quem as ver. 

O que mais o artista necessita é de oportunidade para desenvolver o seu talento que não se inventa, quem o tem, já nasce com ele, apenas põe em prática.

Parabéns Nicolly de Sousa, o mundo artístico é todo seu e de mais ninguém!  Quero que ainda dê tempo para eu ver você brilhante entre os outros que também riscam e dão formas e cores às suas imaginações. 

Eu acredito que você será uma artista plástica de muita fama, porque se ver a partir da sua idade, que já faz coisas incríveis. 

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HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA DE MOSSORÓ - 1ª PARTE

Por Geraldo Maia do Nascimento

A província do Rio Grande do Norte, durante a segunda metade do século XIX, foi assolada por várias doenças que, em pouco tempo, assumiram um caráter epidêmico, ou seja, atingiram uma grande quantidade de indivíduos, como a cólera, febre amarela e a varíola. Essas epidemias geraram além de um grande número de contaminados, uma elevada mortalidade, principalmente entre as décadas de 1850 a 1890. 


O primeiro registro que temos sobre epidemias em Mossoró está no livro “História do Rio Grande do Norte – Ministério da Educação e Cultura – Rio de Janeiro – 1955 – pág. 278”, de Luís da Câmara Cascudo, onde consta que em 1856 o Estado do Rio Grande do Norte foi visitado pela “Cólera Morbo”, uma doença infecciosa e contagiosa aguda, causada pelo Vibrio cholerae, transmitida sobretudo pela água e caracterizada por diarreia abundante, prostração e câimbra. Essa peste deixou um saldo de 2.563 pessoas mortas na província, sendo 75 em Mossoró. Não existia serviço médico nem botica em Mossoró, que é como se chamava a farmácia daquela época, sendo os doentes tratados com ervas e rezas. Natal, capital de província, possuía apenas um médico e uma botica, insuficiente para atender até a própria população, ficando os demais municípios entregues à própria sorte. No período de 1877 a 1879 o município foi mais uma vez castigado com alto índice de mortalidade causada, principalmente, pela terrível seca dos dois sete. Essa seca sacudiu para a cidade de Mossoró, que na época contava com uma população de pouco menos de 8.000 habitantes (dados de maio de 1873), uma multidão advinda dos municípios do Oeste potiguar e das províncias vizinhas da Paraíba e do Ceará, de quase 40.000 emigrantes, aqui chegada quase que por um milagre, nus, famintos e afetados de inchação das extremidades inferiores. A Câmara oficia ao Presidente da Província a 16 de agosto de 1877, a existência de febres intermitentes e biliosas gastro-interites, angina de diversos graus e interites ulcerosas, tendo esta última moléstia vitimado um crescente número de crianças, segundo nos informa o historiador Luís da Câmara Cascudo em seu livro “Notas e documentos para a história de Mossoró – Fundação Vingt-un Rosado – Coleção Mossoroense – 5ª edição – pág. 136. A maioria dessa gente, sem teto que servisse de abrigo, passava os dias e as noites expostas às intempéries do tempo, ao sol e ao relento, resultando numa espantosa mortalidade que atingia a 40 pessoas por dia, de formidáveis epidemias como a beribéri, a febre, o sarampo e posteriormente a bexiga. Diante do exposto, o Presidente da Província mandou para Mossoró, em 1878, o médico Henrique Câmara com uma botica, e em meados de 1879 chegou o doutor Luís Carlos Lins Wanderley como médico em Comissão para atender aos doentes cujo número continuava crescendo, que por aqui permaneceu por alguns meses. Em 1881 chegou a Mossoró o cearense Dr. Francisco Pinheiro de Almeida Castro. Era o que podemos chamar de um homem múltiplo: Médico humanitário, formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro na turma de 1880, cidadão boníssimo,  Chefe político de incontestável prestígio em Mossoró e zona Oeste do Rio Grande do Norte e Venerável da Loja Maçônica “24 de Junho” de 1895 a 1900. Foi jornalista e como tal um dos mais assíduos colaboradores do jornalista João da Escóssia na publicação de “O Mossoroense”  jornal esse do qual foi diretor de 1920 a 1922. Era Sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Fez parte da Constituinte de 10 de maio de 1891. Foi Presidente da Câmara Municipal de Mossoró no triênio 1890-1892. Foi representante do Rio Grande do Norte na Câmara Federal, em cujo mandato de deputado veio a falecer em 22 de julho de 1922, aos 64 anos de idade, sem nunca ter saído de Mossoró. Sobre o Dr. Almeida Castro, Câmara Cascudo depõe: “ Havia também o Dr. Castro, valendo uma permanência fenificiente e polimática, médico, orador, amigo forte, cirurgião que a necessidade improvisava, devoto dos magistrais, formulando sempre, mesmo quando seus futuros colegas haviam  rendido às seduções cômodas dos remédios de frasco. Corria a fama curativa de suas receitas. Era forte, possante, simpático, impecavelmente vestido, amando a dança, o discurso, o Cognac”. Foi o Dr. Castro quem trouxe o farmacêutico Jerônimo Ribeiro Rosado de Catolé do Rocha para instalar sua farmácia em Mossoró  em 1890. Já no primeiro quartel do século XX o município foi atacado mais uma vez por uma epidemia. Governava o município o farmacêutico Jerônimo Rosado, que havia assumido a Intendência para o triênio de 1917 a 1919. Foi um administrador dinâmico que, entre outros feitos, fez levantar grande área de cercas e preparar terrenos, que foram doados a agricultores pobres, promovendo assim a primeira reforma agrária do município. Mas foi também nesse ano que se deu a eclosão da “Influenza Espanhola”, ou “Gripe Espanhola”, moléstia terrível do após guerra. A gripe espanhola apareceu no final da I Guerra Mundial e, em menos de um ano, matou milhões de pessoas. A epidemia foi tão severa que nos Estados Unidos, onde um quarto da população foi infectada e 675 mil pessoas morreram, a expectativa de vida caiu 10%. A denominação "gripe espanhola", segundo alguns autores, surgiu na Inglaterra, em fins de abril de 1918. Duas são as principais hipóteses para essa denominação: a primeira partia do pressuposto errôneo de que a moléstia havia se originado na Espanha e/ou lá fizera o maior número de vítimas. Outra explicação afirmava que a Espanha, país neutro durante a Primeira Guerra Mundial, não censurava as notícias sobre a existência da gripe epidêmica, daí a dedução equivocada de que a enfermidade matava mais naquele país. A primeira notícia do vírus da gripe espanhola no Brasil foi de setembro de 1918, logo depois da chegada de um navio com imigrantes vindos da Espanha. Vários deles apresentavam sintomas da gripe. Outro relato dizia que alguns marinheiros sentiram estranhos sintomas a bordo de um navio que ancorou em Recife. O fato é que no início de novembro de 1918 a doença já tinha alcançado vários pontos do Brasil. As cidades portuárias foram as que mais sofreram. No Rio de Janeiro, morreram 17 mil pessoas em dois meses. Os familiares, desesperados, jogavam seus mortos na rua com medo de contrair a doença. As avenidas ficaram cheias de cadáveres e presidiários foram obrigados a trabalhar como coveiros. Os bondes circulavam abarrotados de corpos. Na frente das principais igrejas, milhares de famílias se reuniam para pedir ajuda a Deus. Em São Paulo, foram mais de 8 mil mortes. Entre as vítimas da gripe estava o presidente da República, Rodrigues Alves. Eleito para o cargo pela segunda vez, não pôde tomar posse e morreu no dia 16 de janeiro de 1919. Os médicos, também alarmados, não sabiam o que receitar e indicavam canja de galinha. O resultado foram saques aos armazéns atrás de frangos. Os jornais afirmavam que o tratamento deveria ser feito à base de pinga com limão ou uísque com gengibre. No Rio, o sanitarista Carlos Chagas comandou o combate à enfermidade. Em Porto Alegre, foi criado um cemitério especialmente para as vítimas da gripe espanhola. Em todo o país foram cerca de 300 mil mortos. Em Mossoró, logo após os primeiros casos, o Prefeito mobilizou todos os recursos de assistência disponíveis, quer improvisando isolamento de doentes, quer pessoalmente dirigindo socorros médicos em remédios e alimentos aos pobres abandonados. Dessa forma, salvaram-se vítimas. A quantidade de mortos não foi tão grande, mas muitos dos que escaparam ficaram com sequelas. Foi a maior epidemia da história, uma pandemia. Ao passo que a Primeira Guerra Mundial, de 1914-1918, matou, aproximadamente, 8 milhões de pessoas, a gripe espanhola foi fatal para mais de 20 milhões de seres humanos em todo o mundo. Nada matou tanto em tão pouco tempo. O vírus mutante da gripe assumiu características tão singulares em 1918, que a chamada influenza espanhola, até hoje, apavora quem procura entender o que aconteceu naquele ano.


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FENÔMENO DENOMINADO CANGAÇO

Por Sálvio Siqueira

O fenômeno social denominado cangaço, contrário ao que muita gente pensa, tem seu início por volta de 1756, mais ou menos, com o cangaceiro "Cabeleira", o qual foi gerado, nascido, dentro de outro fenômeno social denominado "coronelismo".



Durante esse tempo surgiram chefes que destacaram-se como Jesuíno Brilhante, Chico Chicote, Antão Godê e outros... falaremos nessa matéria de Manoel Batista de Morais, alcunhado nas hastes do cangaço por "Antônio Silvino", o rifle de ouro. 



Antônio veio certamente de devoção da família pelo Santo Antônio, pois até uma capela foi erguida em sua homenagem no terreiro da Fazenda Colônia, Lugar de seu nascimento, e Silvino de um pare.



Lampião e o seu cangaço surgiram nos últimos anos do fenômeno, inclusive foi seu último grande chefe.


Boa leitura

https://www.facebook.com/groups/374700339699870/?multi_permalinks=569259066910662&notif_id=1550577014975705&notif_t=group_highlights

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ENTREVISTA COM A ESCRITORA ELANE MARQUES NA TV ATALAIA

https://www.youtube.com/watch?v=e24fkB5yq3k&feature=share

Confira detalhes do livro Sila, do Cangaço ao Estrelato - Você Em Dia

Publicado em 18 de fev de 2019

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LUIZ RODRIGUES DE SIQUEIRA, O CANGACEIRO “LUIZ PEDRO”


Muitos dos nomes das pessoas nesse sertão de meu Deus são apelidados por sua descendência. Por aqui, ainda hoje, se conhece alguém, quando citado após o nome, de quem a pessoa é filho (a)., como por exemplo Rona ou Rosa de Marote, Beto de Pajé, Júnior de Beto... E assim sucessivamente. Naquele tempo, no tempo do cangaço, também era assim.

Havia uma família, tendo seu Patriarca de nome Pedro Alexandrino de Siqueira que morava no sítio Retiro, no município de Triunfo, PE. “Siqueira”, sobrenome de uma família numerosa, que se estendeu por inúmeras regiões e municípios do Estado de Pernambuco, e não só pela região do sertão, como citam alguns autores, tendo, no decorrer dos anos, pessoas nas várias classes sociais da sociedade. De desconhecidos catingueiros aqueles que galgaram as mais altas patentes na hierarquia militar, integrantes da mais alta sociedade pernambucana, exercendo cargos políticos de vereadores a governador do Estado.

Pois bem, Pedro Vermelho, apelido de Pedro Alexandrino de Siqueira, casa-se duas vezes. No primeiro matrimônio nasceram, José Alexandrino de Siqueira e Júlia Rodrigues de Siqueira. No segundo casamento, tendo como esposa a senhora Rufina Maria de Jesus (ou Conceição), foram pais de dezoito filhos, dentre eles, para ser mais exato, o décimo filho, chamava-se Luiz Rodrigues de Siqueira, futuro cangaceiro “Luiz Pedro”. Alguns autores citam sendo o nome de Luiz Pedro como ‘Luiz Pedro Cordeiro’, o que não é verdade.


“(...) Dona Isaura, sobrinha do cangaceiro Luiz Pedro, me falou que mesmo sua família sendo conhecida como a família Pedro não se assinavam com esse sobrenome (...). Elvira Francisca da Conceição (irmã de Luiz Pedro), era casada com Joaquim Cordeiro da Costa (...)”. (“A MAIOR BATALHA DE LAMPIÃO” – LIMA, Lourinaldo Teles Pereira. Paulo Afonso, 2017).

Luiz Pedro, como todo jovem, gostava de fazer suas brincadeiras da época, ir para as festanças, forrozear, namorar e sonhar em viver com sua amada em um cantinho. O destino fez com que ele se apaixonasse por uma moça bonita, meiga, mas, de uma classe social acima da sua. Ela, jovem e bela, filha de um cidadão rico na cidade de Triunfo, PE, também se apaixona pelo jovem bonito, loiro, alto, de olhos azuis e de muita coragem. O pai da donzela não permite que Luiz namore sua filha por ele ser pobre. Mesmo assim, Luiz Pedro insiste em procurá-la e ela o aceita e, de quando em vez, foi não foi, o pai da moça a pega namorando ele.

“(...) O pai não queria o namoro porque dizia que Luiz era pobre. Por mais de uma vez disse o pai a Luiz que não queria que ele namorasse sua filha, mas noutro dia estava Luiz sentado na calçada do homem namorando, como se nada tivesse ouvido (...).” (“A MAIOR BATALHA DE LAMPIÃO” – LIMA, Lourinaldo Teles Pereira. Paulo Afonso, 2017).


Vendo que não tinha jeito, não havia como separá-los, o pai da moça bola um plano para resolver aquela questão. Inventa uma mentira desgraçada, dizendo que fora roubado e quem era o ladrão era Luiz Pedro. Chega a dar parte do rapaz. O delegado da cidade de Triunfo vai à procura do jovem do sítio Retiro e lhe dar a maior prensa, porém, nada é comprovado, ou provado. Mesmo assim, as pessoas põem em dúvida a honestidade do rapaz e ele fica com muita raiva daquele senhor, a ponto de querer matá-lo, no entanto, é aconselhado por seus familiares para não o fazer.

Desesperado, louco da vida, envergonhado, com raiva saindo por tudo que é canto, o jovem toma uma decisão desastrosa, a de entrar para o cangaço. Entra e começa a fazer parte do bando de Lampião, passando a ter como companheiros os irmãos Ferreira, Sabino Gomes e tantos outros tarimbados cangaceiros.

Luiz Pedro começa a destacar-se entre os companheiros do bando e ganhar a confiança de todos. A cabroeira gostando dele, insiste em lhes diga o porquê de tanta tristeza. Ele conta sua história. Eles então resolvem ajudar o rapaz a vingar-se daquela mentira que o pai de sua amada inventara.

Sabino Gomes, com parte do bando, entra na cidade de Triunfo, cerca e invade o comércio do senhor Antônio de Campos. Isso chama a atenção da Força Policial que guarnecia a cidade e todos vão dar combate aos cangaceiros, no intuito de proteger o comerciante. Luiz Pedro, estando sem ter quem o impeça, cerca a casa do pai de sua amada, invade a casa e o pega ainda deitado. Meio atarentado, o homem, no começo, não sabe do que se trate direito, porém, de repente, reconhece Luiz Pedro, e então percebe que está nas mãos daquele que ele inventou uma mentira, acusando-o de ser ladrão.


“(...) Enquanto Sabino Gomes chamava a atenção da polícia invadindo a bodega do senhor Antônio de Campos, Luiz Pedro cercava a casa da ex-namorada; pegou o ex-sogro ainda deitado e quando o velho percebeu estava nas mãos do homem que ele tinha acusado como ladrão (...).” (Ob. Ct.)

Choromingando muito, o velho ver seu destino selado na lâmina de um punhal ou no cano de uma das armas de fogo que aquele rapaz tinha em posse.

Luiz Pedro, pegando-o, diz:

“- Hoje você vai morrer pra nunca mais chamar homem de ladrão!" (Ob. Ct.)

O amor faz coisas que ninguém imagina. A paixão dos dois jovens termina por fazer que ocorra na entrada de um deles nas trilhas do cangaço. No entanto, veja o quanto o amor verdadeiro é forte. E entre aqueles dois sertanejos, o amor existiu simplesmente.

Luiz Rodrigues de Siqueira, o cangaceiro “Luiz  Pdro” - pelas teclas coloridas do 'mago dos pincéis' Rubens Antonio.

No momento em que Luiz Pedro prepara-se para matar o homem, sua amada aparece. Corre e abraça-se com ele. Sem olhar em seus olhos, pede pela vida do pai. Afastando-se um pouco, encara seu amado e diz amá-lo e que caíra na vida cangaceira junto com ele, basta ele querer.

“ – Luiz, eu lhe amo, vou mais você para onde você quiser, mas vou lhe fazer um pedido: Não mate meu pai não o que vai ser de minha mãe e de mim? Como vou me sentir vendo o homem que eu amo matando meu pai? Poupe a vida dele e vamos embora, vou viver com você!” (Ob. Ct.)

Cabeças dos cangaceiros mortos na Grota do Riacho 'Angico', na Fazenda Forquilha, em Poço Redondo, SE.

É nessas horas que não tenha valente que não esmoreça. Quando se ama alguém, não se quer que nada de ruim aconteça com aquela pessoa amada, ou que algo a faça sofrer. E naquele momento, mesmo sua honra tendo que ser lavado com sangue, o jovem cangaceiro pára, sentindo o calor do corpo da amada, seu perfume entrando pelas narinas e seu hálito quente a soprar seu rosto, lhe diz:

“ – Não posso levar uma moça como você para uma vida tão difícil, gosto demais de você para desgraçar a sua vida, de desgraçada já basta a minha!” (Ob. Ct.)

Toma uma decisão correta. E mais uma vez, resolve diferente daquilo que tinha planejado. Encara o pai da moça de frente, com dureza em sua voz, lhe diz:

“ – Agradeça todo dia a sua filha, hoje você ia morrer e ia ser sofrendo, mas por ela vou lhe dispensar!” (Ob. Ct.)

Vira-se para a jovem que treme feito vara verde, abraça-a, dar-lhe um beijo e se despede dela:

“- Vá viver sua vida, por que eu sou cangaceiro e não posso mais mudar isso!” (ob. Ct.)

O destino aproximou os jovens, mas, a ganância, o preconceito e o despreparo dos homens, impediram a realização de uma bela união. Como essa outras adesões foram feitas ao cangaço por jovens inexperientes, sofridos e vítimas de acusações falsas, além daquelas que a única saída como sobrevivência, infelizmente, era a trilha sangrenta do cangaço. Antes de julgarmos os cangaceiros, devemos analisar as causas que o fizerem em tal bandido, analisando-as primeiramente, julgando-as em primeiro plano, pois ninguém nasce bandido, torna-se, ou fazem com que se torne.

O futuro de Luiz Rodrigues de Siqueira, o cangaceiro “Luiz Pedro”, todos sabemos. A jovem jamais namorou outro, morrendo solteira, submersa em suas lembranças, com seu sofrimento e ilusões... Na solidão das noites frias da serra de onde fica a bela cidade de Triunfo.

Fonte “A MAIOR BATALHA DE LAMPIÃO” – LIMA, Lourinaldo Teles Pereira (Louro Teles). Paulo Afonso, 2017
Foto Ob. Ct.
Benjamin Abrahão
PS// FOTOGRAFIA DO CANGACEIRO LUIZ PEDRO COLORIZADA, DIGITALMENTE, PELO AMIGO Rubens Antonio

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O MARTÍRIO DE HERCULANO




Após o embate entre o bando de Lampião e a Força Volante comandada pelo tenente Arsênio Alves de Souza, na Lagoa do Mel no qual tomba o terceiro irmão do “Rei dos Cangaceiros”, Ezequiel Ferreira, segundo alguns autores, já alguns pesquisadores e estudiosos acham que trata-se de mais uma ‘tramóia’ do chefe cangaceiro pernambucano, conhecido pela alcunha de ‘Ponto Fino’, dá-se uma quantidade enorme de mortes violentas, torturas e muito sangue na vasta área que compunha os municípios das cidades de Jeremoabo e Santo Antônio da Glória, no Estado baiano, em forma de represália e vingança.


O cangaceiro Corisco, chefe de um dos subgrupos do bando de Lampião, retorna para o esconderijo, acampamento ou coito, como queiram, onde tinha deixado sua amada, a cangaceira Dadá, sob os cuidados dos ‘cabras’ Baliza’ e ‘Mourão’, mais a cangaceira Rita.

Dadá ao ver as condições em que se encontrava seu amado, chega a pensar que ela estivesse tomado um tiro, tamanha era a quantidade de sangue que tinha em suas roupas. Porém, nada disso tinha acontecido. Era o sangue das vítimas que eles fizeram. Após esses acontecimentos, os cangaceiros resolvem adentrarem no grande Raso da Catarina, pois eram cientes da represália que sofreriam, numa grande caçada humana, por parte da Força Pública.


Logo após a Revolução de 1930, já em 1931, o governo revolucionário toma uma decisão notadamente para prevenir-se de uma eventual reação por parte da população contra ele e implanta o desarmamento. Essa é uma medida, e um fato histórico, que todo governo quando quer deixar a população inerte, a sua mercê, toma. Desarmada a população, ela fica sem condições de qualquer levante contra o que o governo queira fazer contra os cidadãos da Nação. Em contra partida, os civis desarmados, facilitou as ações dos grupos de cangaceiros agindo nos sertões nordestinos.

Depois de um longo tempo acoitados no Raso da Catarina, os cangaceiros resolvem voltar a ativa. ‘Aprontam’ em várias frentes ao mesmo tempo, um dos motivos da divisão do grande bando em pequenos grupos feito pelo “Rei do Cangaço”, denominados de subgrupos, deixando a Força combatente desnorteada, sem saber, na verdade, onde estariam com certeza. A coisa fica tão espalhada, que alguns catingueiros pensando em arrecadar dinheiro ‘fácil’, inventam de passarem por chefes de subgrupos, inclusive por Corisco, como foi o caso do senhor Manoel Inácio, preso pelo comandante de volante tenente Agnaldo Celestino, agindo descaradamente em terras sergipanas. Corisco e seus homens tomam um rumo diferente dos demais, roubando, extorquindo e recebendo resgates por suas vítimas.


Há muito tempo atrás, Cristino Gomes, futuro cangaceiro Corisco, o “Diabo Louro”, tinha sido preso por um cidadão, Herculano Borges de Sales, na povoação de Santa Rosa de Lima, território baiano, que exercia o cargo de subdelegado nessa localidade. Sentindo-se humilhado pelo então subdelegado, Cristino Gomes da Silva Cleto, jura um dia vingar-se daquela ação. Sabedor do paradeiro de Herculano, Corisco chama dez homens e faz uma longa caminhada até as terras que circundam o, então, Distrito de Santa Rosa de Lima, município de Jaguarari, BA, para cumprir sua promessa.

Sem poderem-se mostrarem-se as pessoas, os cangaceiros passavam a maior parte do tempo escondidos nas moitas, vendo-as, porém, sem deixar serem notados. Após uma noite de descanso, estavam os cangaceiros nas terras da fazenda Bom Despacho, entocados. O local que eles estavam era nas margens do leito de um riacho, ou um rio, temporário onde o proprietário tinha cavado uma cacimba, poço, para retirarem o líquido precioso e darem de beber aos animais e outras serventias.

Pois bem, lá pelo meado da tarde, próximo a essa cacimba, chegam dois homens, almocreves, param a burrarada em cima da barreira e começam a aprontá-los para que bebessem. Pegando algumas ‘moringas’, um deles desce a barreira e vai até junta da água da cacimba. O que ficou com os animais, de repente se ver cercado por um bando de cangaceiros. Antes de escolher aquele determinado local, Corisco, tendo ido ao povoado, estava ciente de que Herculano não mais exercia a profissão de subdelegado, e sim de comerciante e almocreve. Conhecedor do terreno em volta, sabia o alagoano que era até uma obrigação de quem viajava com animais, parar naquele ponto para dar de beber aos mesmos. Só que nunca imaginaria que um empregado do seu inimigo seria a primeira pessoa a aparecer. Após colocarem o prisioneiro em frente do chefe, esse começa a ‘interrogar’ o cidadão.

Sem nada saber, Higino o ajudante de Herculano, e mesmo se soubesse não dava mais para esconder, diz para Corisco que trabalhava para ‘Herculano Borges’ e que o mesmo estava enchendo uns objetos com água para levarem nos lombos dos burros.

“(...) Corisco não consegue esconder a satisfação em ter ouvido aquele nome. Finalmente chega a hora da desforra. Herculano Borges! – O homem que, em seu entender, um dia lhe submetera a maus-tratos e a uma prisão desnecessária, está ali, ao alcance da mão (...).” (“Corisco – A Sombra de Lampião” – DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. 1ª Edição. Natal, RN, 2015)


O “Diabo Louro” dá ordem para que alguns dos cangaceiros desçam, prendam e tragam o homem. Imediatamente os ‘cabras’ cumprem a ordem e, em poucos instantes, Herculano Borges de Sales, ex - subdelegado, está diante de um dos homens mais cruéis que passou pelas ‘veredas’ do Cangaço. Conhecedor dos fatos que circulavam sobre o cangaceiro que estava em sua frente, com certeza, Herculano sabia sua sina.

A cabroeira pega sua vítima e logo a arrastam-na para um local mais distante da cacimba, para dentro do mato, e a amarram em um pé de aroeira, planta nativa da caatinga. Em seguida, eles vão até onde estavam os animais e os retiram de onde estavam, escondendo-os.

Após ser amarrado, Herculano olha para Corisco e nada escuta dele. Apenas sente o olhar duro, frio, a lhe fitar, parecendo estar vendo sua alma. Assim as horas vão se passando e a angustia do ex - subdelegado aumentando, e permanecem até quando as primeiras sombras da noite começa a envolver o sertão baiano com seu negro manto.

Naquele momento silencioso, no fim de um ocaso, a voz do chefe cangaceiro ecoa mais forte do que de costume.

“- Vosmicê não está lembrado de mim não, cabra ordinário? Vosmicê não lembra que um dia eu quis viver sossegado e por conta de uma besteira você não quis deixar? Está lembrando agora? O que é que um homem deve fazer com um safado como você, Herculano?” (Ob. Ct.)

Quanto mais Corisco fala, mais o prisioneiro fica calado e assombrado. Corisco continua com seu terrorismo, vendo que sua vítima ficava, a cada instante, mais amedrontada. 


Herculano, como qualquer outra pessoa, vendo que sua vida está prestes a terminar, a ter um fim antecipado, só ver uma saída, tentar justificar sua ação em tempos passados, dizendo:

“- Mas eu era delegado. Tinha que cumprir as ordens!

- Que ordem, que nada! Eu bem que podia deixar passar, mas não deixo! Eu jurei me vingar e graças a Deus o dia chegou! (diz Corisco) (Ob. Ct.)

O chefe cangaceiro não arreda um centímetro da sua decisão. O prisioneiro faz outras argumentações, como se morrer deixará os filhos órfãos e até uma quantia em dinheiro ofereceu por sua vida. Porém, Corisco não muda em nada em executar a sua vingança. Em tanto ouvi-lo suplicar, Corisco resolveu fazer com Herculano, aquilo que, segundo ele, o subdelegado não fez.

“(...) Olhe, Herculano, eu vou ser homem como vosmicê não foi. Não vou lhe matar agora. Antes, vou deixar vosmicê escrever um bilhete prá modo de se despedir de sua mulher e dos seus filhos. A mim, eles nada devem. Não tenho nada contra ele. Meu negócio é só com você(...).” (Ob.Ct.)

Corisco sempre andava com papel e lápis no bornal, era necessário para escrever os famosos ‘bilhetes’ de extorsão. Pegando-os, entrega-os ao prisioneiro, o qual já estava desamarrado, para que ele faça sua missiva de ‘despedida’ para a família. Após terminar sua escrita, Herculano a entrega ao cangaceiro que manda que tragam seu empregado, Higino, e determina que esse vá, suma-se dali, e leve aquele bilhete para a esposa do ex-subdelegado. Higino, mesmo sendo ainda madrugada, com pouca ou sem nenhuma claridade, sai numa carreira que nem bala o alcançava.

Corisco então ordena que seus homens amarrem novamente o prisioneiro, só que, dessa vez, de cabeça para baixo, pelos tornozelos, sendo que esses ficassem distantes um dos outro, ou seja, de pernas abertas, e suas mãos fossem amarradas em troncos, ou tornos, rentes ao solo.



Em seguida a ‘sessão de tortura’ inicia-se. Os cangaceiros pegam seus punhais e começam a perfurar o corpo do pobre infeliz. Perfuram tanto, que o torturado implora para que o matem de uma vez.

Alguns autores, nesse trecho do ocorrido, colocam em suas entrelinhas, que o chefe de subgrupo começa a retirar a pele, couro, em tiras do corpo de Herculano, ele ainda vivo. Seguimos, então, com a obra pesquisada, onde após essa sessão de torturas, e tendo escutado Herculano implorar pela morte, Corisco atira no peito do mesmo, que, após estrebuchar um pouco, morre. Depois da execução, Corisco deixa que seus ‘meninos’ se divirtam, profanem, e lacerem o corpo do ex - subdelegado.

Após desamarrarem o corpo inerte do prisioneiro, os cangaceiros retiram tiras da pele do mesmo como se estivessem retirando o couro de um bode. Com os facões, eles o ‘dividem’, partem, em várias partes.
“ – Juntem esses pedaços, porque quero deixar eles no curral da fazenda Bom despacho, para o povo ver quem é Corisco e o que ele faz com gente que não presta.” (Ob. Ct.)

Assim foi feito. A caterva junta às partes do corpo de Herculano Borges e os leva até a sede da fazenda. Lá, um cangaceiro adianta-se e, chamando o proprietário, o sr. Quinto Evangelista, diz que Corisco está ali e quer falar-lhe. O dono da fazenda atende ao chamado imediatamente, e escuta do chefe cangaceiro a seguinte ordem:

“- Isso vai ficar aí uns dias como ‘de comer’ para urubu, tá ouvindo? Lá prá sábado o senhor enterra onde o senhor quiser. Mas não enterre antes disso, senão venho aqui acertar as contas.” (Ob.Ct.)

O senhor Quinto tinha um filho, que no momento estava com o pai, e os dois veem os cangaceiros, um a um, colocando partes do corpo de Herculano na ponta das varas e estacas da cerca, sendo que a cabeça fora colocada em um mourão.

Segundo outro cangaceiro, o Volta Seca, que não estava no local, mas disse ter escutado alguns ‘cabras’ dizerem:

“- ‘terminada a tarefa, o local ficou semelhante a um matadouro e Corisco andou pendurando os membros e órgãos de Herculano pelas árvores vizinhas.” (Ob. Ct.)

Oficiais da Força Baiana também deram seu parecer, achar, daquela morte cruel praticada por Corisco. Anos depois do ocorrido, o oficial Felipe de Castro referiu sobre a barbárie, o seguinte:

“Não há em toda essa história, ao longo de doze anos desenrolada nos nordeste da Bahia, outro fato praticado pelos cangaceiros chefiados por lampião, cuja execução se revestisse de maior e mais cruel brutalidade”(Ob.Ct.)

Sabedor da horrenda notícia da morte de Herculano, o Interventor baiano, na ocasião, Juracy Magalhães, faz um relatório detalhado, e envia-o ao Presidente da República, Getúlio Vargas.

Grande repercussão tem esse fato ocorrido no sertão baiano em todo Nordeste. As autoridades, a imprensa e a população pedem as autoridades melhores, eficientes e eficazes providências da parte delas. Porém, como de outras vezes, as coisas vão novamente sendo jogadas para ‘baixo do tapete’, e as vítimas voltam a perecerem sub as pontas agudas dos punhas dos cangaceiros.

Fonte “Corisco – A Sombra de Lampião” – DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. 1ª Edição. Natal, RN, 2015
Foto Benjamim Abrahão
Ob. Ct.


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A VINGANÇA DE CORISCO E OS SOBREVIVENTES.

Por Beto Rueda

Cristino Gomes da Silva Cleto, nasceu na Serra da Jurema, Matinha de Água Branca, atual Água Branca - AL. em 10 de agosto de 1902.

Seus pais, Manoel Gomes da Silva e Firmina Cleto. Era alto, feições finas, alvo, faces vermelhas, ativo e impetuoso.

Existem versões para a sua entrada no crime: Segundo Dadá, ele matou um rapaz em uma festa próximo à fazenda onde morava e fugiu para não morrer.

Teve vida difícil, questões familiares e situação financeira fizeram que ele brigasse com a família. Fugiu para Aracaju - SE.

Engajou-se no exército brasileiro, no Batalhão dos Caçadores de Sergipe, durante a revolta militar de 1924. 

Com a derrota dos revoltosos, Cristino abandonou o quartel, foi considerado desertor e perseguido.

Entra para o cangaço em 24 de agosto de 1926, quatro dias antes do ataque à Fazenda Tapera, na Vila de Santa Maria, às margens do Rio Pajeú. Foi recebido por Lampião, na casa do senhor José Bezerra.

Tempos depois, resolve deixar o cangaço e retorna para a sua Matinha de Água Branca, Alagoas. Trabalhou como ambulante de feira, negociador de carne de bode, entregador de leite e padeiro.

Foi preso quando um fiscal da prefeitura cobrou imposto indevido de 500 réis do chão da feira onde trabalhava por duas vezes. Ele pagou a primeira vez e se negou a pagar novamente. 

Maltratado e humilhado pelo delegado Herculano Borges, Corisco jurou vingança.

Vingou-se anos depois, em 1931, numa emboscada, na Fazenda Bom Despacho, município de Jaguarari, povoado de Santa Rosa de Lima - BA, esquartejando o corpo do delegado que o havia humilhado.

Por sua valentia e liderança, formou o seu próprio grupo, sempre ligado a Lampião.

No início dos anos 30, a polícia não dava folga, Lampião divide o seu bando em vários subgrupos liderados por Corisco, Moita Brava, Mariano, Labareda, Zé Baiano e outros.

No cerco a Angico, em 28 de julho de 1938, seu grupo estava descansando do outro lado do rio, na Fazenda Emendada, do Bié, no Estado de Alagoas.

Boatos espalharam-se rapidamente, Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros estavam mortos.

Dadá sentencia ao grupo : Se vocês são homens, tem que vingar a morte de Lampião!

No domingo, dia 31 de julho de 1938, Corisco foi a casa de Joca Bernardo, seu coiteiro, para saber de alguma pista. Joca, que tinha sido o delator, temendo a sua própria vida, contou a Corisco que o delator era Domingos Ventura, da Fazenda Patos, distante duas léguas de Piranhas e pertencente a Antônio José de Britto, avô e pai adotivo de Cyra Britto, esposa do tenente João Bezerra.

No dia 2 de agosto de 1938, Corisco, Dadá, e mais nove cangaceiros chegaram à Fazenda Patos.

Comeram com os Ventura amistosamente, falaram sobre o acontecido em Angico, todos lamentaram.

Corisco pediu papel e lápis e começou a escrever um bilhete.

Enquanto Corisco escrevia o bilhete, um cangaceiro pediu para Domingos e seu filho Odom para irem ao curral, pois queria conversar com eles.

Vieram buscar mais dois rapazes, José e Manoel. Daí em instantes, também as mulheres, dona Guilhermina Nascimento Ventura, a filha Valdomira Ventura e a nora Maria da Glória, mulher de Odom Ventura, esta levando nos braços o filho Elias, recém nascido. E mais três crianças - Antônio, Silvino e Carmelita, de 12, 10 e 11 anos, filhos do vaqueiro. 

As mulheres foram levadas para o outro lado do curral das pedras, todos foram mortos! Dadá salvou a criança de colo, Elias, interrompendo a matança.

Morreram seis. Escaparam da morte Maria da Glória e quatro crianças. Também escapou uma filha de Domingos que morava na cidade, com a família do coronel Antônio Britto.

Já era noite quando os cangaceiros foram embora.

Corisco enviou um bilhete a João Bezerra, dizendo que as cabeças deveriam ser divididas entre o tenente, o prefeito e o Interventor do Estado de Alagoas, para que eles as comessem.

As mulheres mortas foram para vingar Maria Bonita e Enedina.

No dia seguinte o sol esquentava os corpos decapitados e as poças de sangue na Fazenda Patos.

Triste fim de Domingos Ventura e sua família, morreram sem dever.

REFERÊNCIAS:

OLIVEIRA, Aglae Lima de. Lampião cangaço e nordeste. 2.ed.
Rio de Janeiro: Editora O Cruzeiro, 1970.
DIAS, José Umberto. Dadá.
Salvador: EGBA/Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1988.
ARAÚJO, Antônio Amaury Corrêa de. Gente de Lampião: Dadá e Corisco. 3.
Salvador: Ed.Assembléia Legislativa da Bahia, 2011.
IRMÃO, José Bezerra Lima. Lampião a raposa das caatingas.
Salvador: JM Gráfica, 2014.

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