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sábado, 21 de dezembro de 2019

PROVAÇÃO, HERANÇA E UM LONGO AMOR.


Por João Filho De Paula Pessoa‎


Durvinha e Moreno em 1936 no cangaço e em 2006 (setenta anos depois) em Belo Horizonte.

Em 1930, Moreno trabalhava na fazenda do Sr. Antonim, em Pernambuco. Certo dia chegou lá o Bando de Moderno (Virgínio), composto por ele, Luiz Pedro, Maçarico, Fortaleza e Medalha e deixaram um recado para seu patrão de que voltariam em breve para pegar duzentos mil réis. Ao retornar, o bando trazia consigo um coiteiro amarrado que os teria traído. O bando recebeu o dinheiro e ficou três dias acampado na fazenda, com o refém.

Moreno se aproximou e conviveu estes dias com o bando. Na partida dos Cangaceiros Moreno manifestou vontade de acompanhá-los. Moderno então lhe impôs uma provação de valentia para seu ingresso, que seria matar o coiteiro traidor. Moreno então, mirou uma arma no peito do refém e atirou, matando-o friamente, sendo então aceito no bando. 

Luiz Pedro deu-lhe o apelido de Moreno, vez que seu nome era Antônio, e assim, seguiu no grupo. Logo após, Durvinha, também entrou no bando como mulher do chefe Moderno, formando um bonito e amoroso casal. 

Em 1936, Moderno foi morto em combate e o bando começou a se dispersar. Moreno levou Durvinha a uma estrada para que ela retornasse à sua família. Na despedida perguntou-lhe se ela queria seguir no cangaço em sua companhia, proposta que ela aceitou e assim retornaram à caatinga. Ele reagrupou o bando novamente e assumiu a liderança com firmeza e valentia, seguindo em frente naquela vida nômade e clandestina. 

No dia da Morte de Lampião em 1938, eles estavam em Mata Grande, distante 70 km da emboscada. Apesar da morte do capitão e o declínio do cangaço seguiram firmes, sem se entregar. 

Em 1940, com a morte de Corisco, resolveram então fugir, despojaram-se de seus adereços e armas do cangaço, esconderam na caatinga e seguiram para Minas Gerais, onde viveram no anonimato por quase setenta anos. Trabalharam, tiveram filhos e viveram em paz. 

Em 2005, pressentindo a aproximação da morte resolveram contar seu segredo à seus filhos, que tornaram aquela história de sobrevivência pública, com registrados em reportagens e livros. 

Durvinha e Moreno viveram juntos por 72 anos. Ela faleceu em 2008 com 92 anos, e ele em 2010, com 99 anos, na mais longa história de amor do cangaço. 

João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza, 20/12/2019.


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1929: HÁ 90 ANOS LAMPIÃO INVADIA QUEIMADAS , SAQUEAVA A CIDADE E PRATICAVA ORGIA DE SANGUE


Por Oleone Coelho Fontes


Véspera de Natal de 1929, um domingo, 23 de dezembro. Lampião acompanhado de 17 malfeitores assaltou a heroica cidade de Santo Antônio das Queimadas, na Bahia, e, covardemente, comandou um festival de derramamento do sangue de 5 soldados da polícia baiana. Fuzilou friamente os militares pegados de surpresa, em seguida assistiu um filme no cinema, organizou um baile com as moças da sociedade, arrecadou mais de vinte contos de reis, fez autoridades judiciárias e políticas passarem por constrangimentos e humilhações e escreveu num quadro-negro bilhete desaforado para o governador da Bahia, Vital Soares. Se disse governador do sertão e estar engordando desde que começou a ser perseguido e até já pensava em casar. Os delinquentes deixaram, pela madrugada, totalmente embriagados, uma comunidade traumatizada, como se nada de anormal houvesse ocorrido naquele domingo.

Artista Jesualdo Cândido

A irrupção na outrora Vila Bela de Santo Antônio das Queimadas teve início na fazenda Parelha, de José Lúcio da Silva, em Cansanção. Lúcio foi intimado a servir de guia até a sede do município. Na cidade de Cansanção, o falso capitão com falsa patente de oficial do Exército (recebida em 1926, no Juazeiro do Norte, Ceará), à testa de quase duas dezenas de bandidos, botou abaixo portas de vendas, armazéns e lojas, levou a cabo uma geral pilhagem. Não satisfeitos em abrir frascos de perfumes e derramar o líquido sobre suas roupas os ladrões deram banho de água de cheiro nos cavalos. Mercadorias foram distribuídas arbitrariamente com os que não tiveram tempo de fugir. Determinou o chefe da gangue que caminhão do IFOCS, (Inspetoria Federal de Obras contra as Secas, atual DNOCS) conduzisse a caterva até a vizinha Queimadas.
  

Oleone Coelho Fontes e Manoel Severo no Cariri Cangaço Poço Redondo, 2018

Em Queimadas o grupo foi estrategicamente dividido em duas alas. Uma se apoderou da estação ferroviária, deu voz de prisão ao chefe e ao telegrafista, cortou os fios do telégrafo. Outra ala, Virgulino à frente, tomou de assalto, o quartel, trancafiou os soldados e soltou os presos.
Ao final da tarde os soldados foram fria e barbaramente fuzilados, sem direito a defesa, pessoalmente por Lampião e outros bandidos, entre os quais Volta Seca que, segundo testemunhas, teria limpado com a língua a lâmina do punhal.

Soldados assassinados: Olímpio B. de Oliveira, Aristides Gabriel de Souza, José Antônio Nascimento, Inácio Oliveira, Antônio José da Silva, Pedro Antônio da Silva e o anspeçada Justino Nonato da Silva. Relação publicada em boletim da Polícia Militar. O sargento Evaristo Carlos da Costa, comandante do destacamento, foi salvo por um trancelim. Na residência de D. Santinha, batizada Austrialina, Lampião elogiou joia de ouro que a senhora da sociedade queimadense portava no pescoço. D. Santinha prontamente retirou o pingente e ofereceu ao bandoleiro. Este, para se mostrar grato, declarou que lhe podia fazer um pedido. Dona Austrialina pediu pela vida do sargento Evaristo pondo em relevo seus atributos de homem religioso e que jamais perseguira cangaceiros. Constrangido, Lampião disse garantir a palavra e que “bandido também tem palavra”. Reparem que ele próprio se reconhece bandido, e hoje, passados 81 anos de sua morte, grande número de lampionófilos negam, chamando-o apenas de cangaceiro.

 
Oleone Fontes, José Edson, Bezerra Irmão e Leandro Cardoso no 
Cariri Cangaço Floresta 2017

Quando adolescente conheci Evaristo Carlos da Costa na cidade de Santa luz, reformado da Polícia e proprietário de uma venda que ele e os amigos chamavam de espelunca. Avesso a repassar o trágico episódio, Evaristo, por ter sido amigo de meu pai, Paulo Martins Fontes, e servido com meu avô, João Martins Fontes, em Bonfim, no destacamento policial, me concedeu entrevista que merece ser lida em Lampião na Bahia, em 11ª edição. Este facínora sanguinário, cruel, covarde e desumano, responsável por terror, tortura, saque e depredações implementados nos sertões do Nordeste, pretensos historiadores insistem em considerar herói.

Oleone Coelho Fontes, escritor de ficção, historiador, estudioso de temas nordestino, colaborador de A Tarde.
Salvador - BA


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HISTÓRIAS DE UM SERTÃO

*Rangel Alves da Costa

Sou divinamente agraciado por haver nascido em solo sagrado de um sertão amado. Minha pátria é sertaneja, minha nação é sertaneja, meu país é o sertão. Ninguém mais noutro lugar nasce com história tão esplendorosa quanto a sertaneja. Nos caminhos que eu caminho um dia passou Antônio Conselheiro, Lampião, Frei Damião das Missões, Zé de Julião, Dona Zefa da Guia, Alcino de havaianas... Vou ao Alto de João Paulo, ao Poço de Cima, ao Curralinho, a Maranduba, a Areias, a Angico, a Queimadas, a Riacho Largo... E quanto mais caminho mais tenho vontade de caminhar, de viver, de sentir de perto e dentro da alma e do coração este sertão. A velha senhora me recebe com alegria, “Parece com Alcino, você é filho de Alcino, meu filho?”, ela indaga enquanto puxa o tamborete. O velho sertanejo já está à porteira quando da chegada. De início, com poucas palavras, mas depois passando na voz as contas de um rosário inteiro de causos, histórias e proseados... E pelos beirais da estrada, pertinho dos tufos de mato, eu vou encontrando e dialogando com mandacarus, xiquexiques, facheiros, jurubebas, pedras, espinhos e flores do campo... Há um mundo bem ali que precisa ser conhecido. A cidade, talvez, seja apenas para viver, mas o conhecimento maior está mesmo depois da curva da estrada, mais além do caminho. E que não me canso de procurar!
Sempre entristeço ante o silêncio melancólico das casas tristes nos beirais das estradas. Portas e janelas fechadas, sem cheiro de café torrado ou de tripa de porco torrando no fogão de lenha. Procuro pelo menino Zezim, procuro pela menina Joaninha. Mas nada. Nem um cachorro magro nem a voz de um papagaio falador. Murchou a bela flor que outrora era avistada no umbral da janela. Esturricou a planta que antes descia pelo caqueiro pendendo no pé de pau. Tenho vontade de ir até lá e bater à porta. Oi de casa, oi de casa! Chamar assim. Desisto, enfim. E sigo pelos meus sertões em busca de portas abertas e daquilo que me dê alegria. Zezim, onde tá você? Joaninha, onde tá você? É o que pergunto em meu pensamento. E entristeço e choro. E silencioso pranteio a dor de todas as ausências do mundo!


Dona Tibúrcia gostava de ouvir o sino da igrejinha tocar quando a boca da noite já estava aberta. A escuridão chegando com aquele badalar solene lhe fazia mais esperançosa e cheia de fé. Gostava daquele ecoar do sino, mas nem tanto assim. E tudo por causa da comoção que logo lhe tomava o peito com cada som que ouvia. Mais ainda quando, ajoelhada perante o velho oratório, rezava pelos seus vivos e seus mortos e a luz da vela lhe parecia sorrir ou chorar. “Pai Nosso que estais no céu...”, e então sua mente reencontrava o rosto de sua mãe como numa névoa de luz. “Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, criador do céu e da terra...”, e então sentia como se alguém partido tão jovem lhe chegasse passando a mão sobre seus cabelos. Após as orações, de cabeça baixa, contrita, mãos entrelaçadas na força da fé, simplesmente deixava que todos chegassem perto de si. Quanta saudade, quanta saudade, quanta saudade! Levantava o rosto envelhecido e encharcado de lágrimas e perante o luzir da chama, outra face parecia avistar: um sorriso lindo e perfeito de seu Deus de Fé. Suspirava, estava refeita, ou parecia. “Que nunca me falte meu Deus, que proteja os meus aqui na terra e nos céus. Amém!”, e então fazia o sinal da cruz para retornar aos seus ofícios no lar. O cuscuz estava pronto, os ovos na frigideira, o café no bule, bastava colocar sobre a mesa. Seguia até a porta para avistar o mundo e dizer: “Que a noite seja um manto iluminado pela paz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém Senhor da Lua. Amém!”.
O restante da noite chorou por causa de um sonho terrível e agonizante. Seu sertão não era mais sertão, aquele seu mundo era outro mundo. Ouvia apitos, gritos, buzinas, ribombos, os sons mais assustadores. Não ouviu, em nenhum momento sequer, o cachorro magro latindo, o gado berrante, o cavalo relinchando, muito menos o cantar do galo nem o chiado da fervura de banha de porco na estaladeira em riba do fogão de lenha. Correu à porta da frente e a escancarou para ter certeza de que não estava noutro lugar. Ainda era madrugada escurecida, silenciosa, com uma lua vaga entre os escondidos das nuvens. A brisa daquela hora lhe chegava como remédio bom. Respirava e suspirava seu sertão. Ainda bem, disse a si mesmo. De repente o galo cantou. E quando o galo canta é sinal de começo de tudo, ainda que o sertanejo comece a cantar sua luta bem antes do canto de qualquer galo. Lavou o resto na cuia, afastou de si todo o temor existente. Benzeu-se num ramo de catingueira, afagou o cachorro que logo chegou a seus pés. Estava feliz, contente. Seu mundo era aquele ali, era outro não. Caminhou em direção ao quintal, juntou lenha no fogão e logo as chamas faziam o café borbulhar. Procurou na despensa um naco de preá da noite passada, levou a carne magra e seca ao braseiro e depois jogou por cima de um punhado de farinha. Bebeu do café, mordeu a perna do preá, agradeceu a Deus. Lançou mão do cantil, trouxe para si o embornal, apanhou seu chapéu de couro, vestiu sua roupa surrada, calçou seu roló todo troncho e saiu para o lado de fora. A vaquinha pastava por ali, o jumento se escondia num canto, a malhada era um galinheiro só. Levantou as mãos para o alto e disse, quase num grito sem medo de ser ouvido: Meu Senhor Jesus Cristo, meu Padim Ciço e Frei Damião, que nada em mim seja vão na luta nesse sertão!

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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40 ANOS EM NOVEMBRO ÚLTIMO, DA MORTE DO MAIOR PERSEGUIDOR DO CANGACEIRO VIRGULINO LAMPIÃO, O NOTÁVEL MILITAR PERNAMBUCANO MANOEL DE SOUZA NETO. O "DIÁRIO DE PERNAMBUCO", NA EDIÇÃO DE 11/11/1979, REGISTROU O SEU PASSAMENTO:

Por Antônio Corrêa Sobrinho

O relógio de um dos apartamentos do Hospital da Polícia Militar de Pernambuco marcava exatamente 7h45m do dia 3 de novembro deste ano, quando falecia um dos maiores heróis da história do combate ao cangaço em Pernambuco. Tratava-se do coronel Manoel de Souza Neto, conhecido em seus Estados do Nordeste como Mané Neto e apelidado por Lampião como Mané Fumaça, pois segundo a lenda, aparecia repentinamente em vários locais ao mesmo tempo.

Manoel Neto vivia sozinho, residindo num dos hotéis da cidade de Ibimirim, quando foi acometido de uma doença renal. Ao tomar conhecimento de que o coronel era portador de moléstia incurável, o comandante da Polícia Militar de Pernambuco, João Lessa, determinou a sua imediata remoção para o Hospital Geral do Derbi. Lá o velho combatente do cangaço faleceu aos 88 anos, após 14 dias de internamento. Seu corpo foi trasladado para o município de Carquejo, onde foi sepultado com honrarias militares.

Além da luta ao bando de Lampião, Manoel Neto também participou de revoluções, chegando inclusive a ser o homem de confiança dos governadores Carlos de Lima Cavalcante e Estácio Coimbra. Perdeu a farda por ocasião da derrota do partido que defendia, mas conseguiu voltar à ativa em virtude do reconhecimento de seu trabalho e atos de bravura.

MORREU SOLITÁRIO O HOMEM QUE LAMPIÃO MAIS TEMIA

Por Marco Túlio

Manoel de Souza Neto

Manoel de Souza Neto nasceu no dia primeiro de novembro de 1901, num lugar denominado Ema, no município de Floresta dos Navios. Não tendo estudado no período da infância, em virtude da falta de professores no Sertão, dedicou-se então ao trabalho agrícola. Era destemido, demonstrando desde cedo tendências para a vida militar. Apreciava com muita curiosidade o movimento de tropas e de cangaceiros na região, transformando-se mais tarde num justiceiro, que combatia impiedosamente os cangaceiros que assolavam os sertões nordestinos.

Durante toda a adolescência conservou-se como um rapaz igual aos outros sertanejos, cuidando da agricultura, do gado e comovendo-se com a paisagem e o pôr do sol. Um dia, no entanto, após uma caminhada a pé pelo município de Rio Branco, conseguiu uma passagem para vir ao Recife, onde com a ajuda de Antonio Boiadeiro, ingressou na Força Pública.

Inicialmente foi destacado para servir em Santo Amaro, bairro conhecido, na época, pelos altos índices de criminalidade e onde prestou relevantes serviços. No dia 24 de janeiro de 1925 foi mandado para Vila Bela, atualmente Serra Talhada, a fim de participar da força volante sediada naquele município para dar combate ao cangaço.

PRIMEIROS COMBATES

Dias após ter chegado a Vila Bela, o então soldado Manoel Neto comandado pelo capitão Pedro Cavalcante foi para a cidade de Triunfo, onde Lampião e seu bando havia cercado a fazenda de Clementino de Sá. Destacando-se no combate, Manoel Neto foi elogiado por seu superior e considerado o soldado mais corajoso da volante. Nessa batalha Lampião foi obrigado a fugir, sendo perseguido até à fronteira da Paraíba, de onde a volante teve que regressar, pois o Governo paraibano não permitiu que os soldados pernambucanos entrassem em seu território, o fato que contribuía para que Lampião se reorganizasse e voltasse a atacar.

Em 10 de novembro de 1925, na localidade de Cachoeira, distrito de São Caetano, ocorreu outro combate contra Lampião. Na ocasião, morreram ou fugiram da luta o sargento José Leal e o seu auxiliar direto João Terto. Manoel assumiu então o comando da volante, conseguindo uma vitória surpreendente contra Lampião, que passou a se interessar pela valentia do “macaco” que conseguira lhe infligir tão grande derrota. Em função da façanha, Manoel Neto foi promovido ao posto de anspeçada, isto é, intermediário entre soldado e cabo.

OUTRAS BRAVURAS

A partir desse episódio, Manoel Neto passou a ser o terrível perseguidor de Lampião, sempre lhe mandando recados, desafiando-o para que lutassem de homem para homem, numa batalha para pôr fim aos crimes do Sertão.

No tiroteio da fazenda Favleo, localizada no município de Floresta, Manoel Neto foi emboscado pelo bando de Lampião, ficando gravemente ferido, com duas pernas quebradas. Segundo contam, sempre ia à frente de seus comandados, alegando que como comandante cabia a ele receber ou disparar o primeiro tiro. Certa ocasião, foi chamado pelo tenente João Bezerra, da Polícia Militar de Alagoas, para arquitetarem o plano da morte de Lampião por envenenamento.

Manoel Neto mostrou-se imediatamente contrário àquele tipo de assassinato, dizendo para o tenente: “Lampião é meu inimigo pessoal e ele também me considera assim. Se eu puder pegá-lo no ponto do meu mosquetão, acabarei com ele. Porém não o matarei envenenando a água que beba, pois Lampião sabe que o rastejo e nunca envenenou a água que eu bebo, mesmo lhe perseguindo”.

Certa vez, no município de Triunfo, vários bandoleiros que habitavam uma serra, resistiam à ação da Polícia Militar. Sem condições de subirem a montanha, os soldados eram duramente repelidos a tiros de rifles. Ao tomar conhecimento do fato, o capitão Manoel Neto, fazendo-se acompanhar de oito soldados, subiu a serra e aproveitando o silêncio da noite, foi invadindo casa por casa. Ao amanhecer todos estavam amarrados e desmoralizados.

Foto de Mané Neto, colorizada por Rubens Antonio.


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HÁ MESES. NOITES E DIAS...



... tenho lutado para recuperar um antigo áudio que foi gravado inicialmente em Fita K7 e convertê-lo para o formato MP3, para finalmente disponibilizá-lo ao conhecimento de todos. Nessa gravação o antigo cangaceiro chefe de subgrupo do bando de Lampião, Zé Sereno, fala, entre outros assuntos, a respeito do momento crucial de sua rendição e de sua gente às autoridades policiais, durante o tenso e turbulento período das entregas.

Um momento difícil para quem estava até então acostumado a se impor e a se garantir através do poder das armas.

Após a anistia concedida pelo governo Vargas aos cangaceiros que desejassem abandonar o cangaço, ocorreram alguns casos de traições e covardias por parte de policiais contra alguns cangaceiros que desejavam baixar suas armas, fatos que geraram insegurança aos anistiados e fizeram com quê o período das rendições fosse prolongado.
Onde e a quem se entregar passou a ser o grande dilema dessa gente que buscava a duras penas fugir e se esconder da intensa e implacável perseguição inimiga. Cientes de que sem a presença e liderança do grande chefe cangaceiro, estavam predestinados à morte e nas melhores hipóteses... à prisão.

Nessa primeira parte do depoimento de Zé Sereno ele fala a respeito do tenso momento em que ele e seus companheiros de cangaço se renderam e entregaram suas armas aos antigos inimigos fardados.

Um material inédito e exclusivo que foge as mesmices habituais.

Abaixo um pequeno trecho da fala de Zé Sereno.

Breve.


"Ele escalou o sargento Macedo pra
receber o arma... Duro foi pra
entregar o armamento.
Pelo amor de Deus. Aquilo foi duro.
Eu falei pra minha turma. Eu digo:
- Olha! Se houver um minuto de traição.
Ficou desconfiado.
Mesmo que nós "teja" desarmado. Morra
quem morrer, mas nós tem que se armar
com as próprias armas dos soldados.
Se atraca e tira".

(José Ribeiro Filho "Zé Sereno")


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OS CANGACEIROS LUIZ PADRE E LUIZ PEDRO ESTÃO UM POUCO ESQUECIDOS PELOS PESQUISADORES E ESCRITORES DO CANGAÇO

Por José Mendes Pereira
Luiz Padre está à direita

Eu não sei se estou falando a verdade ou apenas falando por falar ou muita besteira, mas acho que dois cangaceiros que foram as grandes estrelas do cangaço o Luiz Padre no tempo do Sinhô Pereira, e Luiz Pedro no tempo do rei Lampião, ambos, quase, não são lembrados na literatura cangaceira.

Eu sei que os escritores e pesquisadores já fizeram muito pela a organização da literatura do cangaço do Nordeste, perdendo tempo pelas caatingas, enfrentando chuva, sol, poeira, fome, sede, com o intuito de encontrarem todas as peças do xadrez do cangaço, mas poucos cados se tem destes dois delinquentes, que pouco aparecem nos escritos cangaceiros.


Luiz Pereira da Silva Jacobina nascido no ano de 1891, nas Ribeiras do Pajeú (São Francisco) Belmonte-PE, de uma família de 5 irmãos, 3 homens e 2 mulheres, filho de Manuel Pereira da Silva Jacobina (Padre Pereira) e Francisca Pereira da Silva (Dona Chiquinha Pereira), neto paterno do Coronel Francisco Pereira da Silva e Ana de Sá, neto materno de Andrelino Pereira da Silva (Barão do Pajeú) e Maria Pereira da Silva. (Venício Feitosa Neves). 

Segundo me informou Moema Covello que é neta do ex-cangaceiro Luiz Padre, este era primo legítimo do Sebastião Pereira da Silva, o afamado cangaceiro Sinhô Pereira, pois os seus pais eram irmãos.

Luiz Pedro cangaceiro

Luiz Pedro ou Luiz Pedro do Retiro era pernambucano da localidade chamada Retiro, município de Triunfo-PE. Apesar de ser um cangaceiro afamado poucas informações sobre sua vida foram registradas, apelidado de Caititu por Maria Bonita segundo alguns escritores, que tinha por costume colocar apelidos em todos os componentes do grupo de cangaceiros. Luiz Pedro foi um dos homens de maior confiança de Lampião, e há quem diga que ele era chamado de príncipe do cangaço devido a sua elegância.

"Sabe-se que Luiz Pedro abandonou sua família para entrar definitivamente no cangaço, e para isso utilizou o próprio nome, e não alcunha (apelido) como era comum entre os cangaceiros, como prova de bravura e coragem, uma vez que teria sua verdadeira identidade conhecida por todos, inclusive por ferozes e implacáveis inimigos. Luiz Pedro era um cangaceiro vaidoso, rico e elegante, dono de muitas joias, ouro e dinheiro, fruto de seus sucessivos assaltos". (Geraldo Júnior).

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CANGACEIRO LUIZ PADRE



Última fotografia de Luiz Padre primo legítimo e companheiro de Sinhô Pereira, chefe de Lampião.

Fonte: MACEDO, Nertan.
Sinhô Pereira o comandante de Lampião. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora Renes, 1980.



DONA LINA.

Por Luis Bento de Sousa

Alina Eponina de Sá, (dona Lina). Assim era conhecida por todo jatiense. Tive a honra em conhecê-la na minha adolescência. Uma senhora retracada de pouca conversa. Aparentemente trazia em seu rosto, marcas de uma vida sofrida. Não era filha natural de Jati, mas com a convivência dos tempos passados por nossa terra, conquistou a amizade de muitos, em apresentar um comportamento de conservadora amizade ao próximo.

Alina Eponina de Sá, nasceu em 02 de fevereiro do ano de 1903. Serra talhada Pe.

Filha de: José Oliveira de Sousa e Filomena Eponina de Sá.

Faleceu: Em 15 de julho do ano de 1972. É sepultada no cemitério público de Jati Ce, no túmulo (FOTO), da família Pereira maroto. Por se considera uma Pereira e companheira de longas jornadas, lado-a-lado de Sebastião Pereira da Silva.

Dados informativo do(Cartório Silva de 1° ofício. Tabelião, Wilton da Silva Brito.
Pesquisador Luis Bento de Sousa
( Luis Carolino ).


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AS ENTREGAS.


Por Geraldo Júnior

Nesse trecho extraído de um depoimento prestado pelo ex-cangaceiro Zé Sereno, antigo integrante do bando de Lampião, notamos a tensão e a desconfiança gerada entre os cangaceiros que ainda perambulavam pelos sertões do Nordeste após a morte de Lampião. Eles sabiam que sem o grande chefe cangaceiro o cangaço não fazia mais sentido. Baixar as armas ou morrer em confronto com a polícia seria apenas uma questão de tempo e o grande problema dessa gente passou a ser onde e como se entregar.

Confiram o relato:

"Porque tinha uns colegas já matando um ao outro.

Cortando a cabeça e indo se entregar, né?

Já eu por exemplo. Eu como chefe eu não tinha confiança em nenhum cangaceiro meu pra sair sozinho com ele, porque já desconfiava, né?

Pode me matar e cortar a cabeça e ir se entregar, né?"

José Ribeiro Filho "Ze Sereno" antigo integrante das hostes lampiônicas.

Fonte da imagem: Jornal "Diário de Notícias".


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O HORROROSO RESGATE DA AMADA.

Por João Filho de Paula Pessoa

Em 1936 o sub-grupo do Cangaceiro Gato foi atacado na Fazenda Picos/Al, pelo ten. João Bezerra. No combate Inacinha, companheira de Gato, que estava grávida de 08 meses, foi baleada nas nádegas, tendo a bala atravessado seu corpo, sem contudo atingir o bebê. 

Gato tentou carrega-la, mas devido o peso e lesão não conseguiu, deixando-a para trás e fugindo para salvar sua vida. Logo após, Gato, o mais cruel e mortífero dos cangaceiros, que já tinha matado seu cunhado deixando sua irmã viúva e grávida, e mais sete pessoas de sua própria família, e tentado cortar a língua de sua mãe, resolve resgatar sua amada, convidando Corisco e Moderno para um ataque à cidade de Piranhas para tal fim, onde acreditava que Inacinha estava presa. 

No caminho Gato disseminou um rastro de horror, sofrimento e morte por onde passou, matou todos que encontrou à sua frente, pelo menos onze pessoas inocentes e ainda sequestrou um jovem de quinze anos na entrada da cidade a quem indagou se alí havia “macacos” (soldados), tendo o jovem respondido que não, pois tinha visto o Delegado e seus oito soldados fugirem da cidade ao perceberem a chegada dos cangaceiros, deixando os moradores desguarnecidos e a mercê da própria sorte, que sem alternativas se armaram e se entrincheiraram em suas casas para se defender. 

Ao entrarem na cidade, os cangaceiros foram recebidos à bala e acreditando que eram soldados, Gato achou que o rapaz tinha mentido e o sangrou na mesma hora na frente das súplicas de sua mãe, no entanto, logo após, o enlouquecido Gato levou um tiro certeiro na coluna, estraçalhando-a que o deixou moribundo, sendo carregado em agonia por seus companheiros na fuga, vindo a morrer dolorosamente três dias depois nas brenhas da caatinga. 

Inacinha não estava em Piranhas e sim em Olho D´água do Casado, chegando à Piranhas somente após o ataque, ficando pouco tempo presa em virtude do ferimento e da gravidez avançada, mas tempo suficiente para conhecer e se engraçar por um soldado chamado “pé na tábua” com quem se casou após a prisão. O filho de Gato nasceu e foi doado. 

(João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce) 10/12/2019.


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VÍDEO.. - CAMPINA GRANDE CANGAÇO - PAULO BRITO/ ELISA DANTAS/ MARISTELA SENA DIAS


Do Aderbal Nogueira

Campina Grande-PB - Cangaço - Paulo Brito ( filho do Cel João Bezerra - matador de Lampião/ Elisa Dantas ( filha do cangaceiro Candeeiro), ( / Maristela Sena Dias - prefeita da cidade Alagoana de Piranhas-AL...

OBS: Um vídeo com o selo e qualidade Aderbal Nogueira


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PESQUISADOR/ESCRITOR Louro Teles É HOMENAGEADO PELA CÂMARA DE VEREADORES DE CALUMBI, PE, PELO RELEVANTE TRABALHO CULTURAL PRESTADO.



A Câmera Municipal de Vereadores de Calumbi, através do seu Presidente, Robério de Lima e Silva concede ao escritor Lourinaldo Teles a Moção de aplausos pelo relevante trabalho divulgando a cultura deste Município.






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