Por Antônio Corrêa Sobrinho
O relógio de
um dos apartamentos do Hospital da Polícia Militar de Pernambuco marcava
exatamente 7h45m do dia 3 de novembro deste ano, quando falecia um dos maiores
heróis da história do combate ao cangaço em Pernambuco. Tratava-se do coronel
Manoel de Souza Neto, conhecido em seus Estados do Nordeste como Mané Neto e
apelidado por Lampião como Mané Fumaça, pois segundo a lenda, aparecia
repentinamente em vários locais ao mesmo tempo.
Manoel Neto
vivia sozinho, residindo num dos hotéis da cidade de Ibimirim, quando foi
acometido de uma doença renal. Ao tomar conhecimento de que o coronel era
portador de moléstia incurável, o comandante da Polícia Militar de Pernambuco,
João Lessa, determinou a sua imediata remoção para o Hospital Geral do Derbi.
Lá o velho combatente do cangaço faleceu aos 88 anos, após 14 dias de
internamento. Seu corpo foi trasladado para o município de Carquejo, onde foi
sepultado com honrarias militares.
Além da luta
ao bando de Lampião, Manoel Neto também participou de revoluções, chegando
inclusive a ser o homem de confiança dos governadores Carlos de Lima Cavalcante
e Estácio Coimbra. Perdeu a farda por ocasião da derrota do partido que
defendia, mas conseguiu voltar à ativa em virtude do reconhecimento de seu
trabalho e atos de bravura.
MORREU
SOLITÁRIO O HOMEM QUE LAMPIÃO MAIS TEMIA
Por Marco
Túlio
Manoel de Souza Neto
Manoel de
Souza Neto nasceu no dia primeiro de novembro de 1901, num lugar denominado
Ema, no município de Floresta dos Navios. Não tendo estudado no período da
infância, em virtude da falta de professores no Sertão, dedicou-se então ao
trabalho agrícola. Era destemido, demonstrando desde cedo tendências para a
vida militar. Apreciava com muita curiosidade o movimento de tropas e de
cangaceiros na região, transformando-se mais tarde num justiceiro, que combatia
impiedosamente os cangaceiros que assolavam os sertões nordestinos.
Durante toda a
adolescência conservou-se como um rapaz igual aos outros sertanejos, cuidando
da agricultura, do gado e comovendo-se com a paisagem e o pôr do sol. Um dia,
no entanto, após uma caminhada a pé pelo município de Rio Branco, conseguiu uma
passagem para vir ao Recife, onde com a ajuda de Antonio Boiadeiro, ingressou
na Força Pública.
Inicialmente
foi destacado para servir em Santo Amaro, bairro conhecido, na época, pelos
altos índices de criminalidade e onde prestou relevantes serviços. No dia 24 de
janeiro de 1925 foi mandado para Vila Bela, atualmente Serra Talhada, a fim de participar
da força volante sediada naquele município para dar combate ao cangaço.
PRIMEIROS
COMBATES
Dias após ter
chegado a Vila Bela, o então soldado Manoel Neto comandado pelo capitão Pedro
Cavalcante foi para a cidade de Triunfo, onde Lampião e seu bando havia cercado
a fazenda de Clementino de Sá. Destacando-se no combate, Manoel Neto foi
elogiado por seu superior e considerado o soldado mais corajoso da volante.
Nessa batalha Lampião foi obrigado a fugir, sendo perseguido até à fronteira da
Paraíba, de onde a volante teve que regressar, pois o Governo paraibano não
permitiu que os soldados pernambucanos entrassem em seu território, o fato que
contribuía para que Lampião se reorganizasse e voltasse a atacar.
Em 10 de
novembro de 1925, na localidade de Cachoeira, distrito de São Caetano, ocorreu
outro combate contra Lampião. Na ocasião, morreram ou fugiram da luta o
sargento José Leal e o seu auxiliar direto João Terto. Manoel assumiu então o
comando da volante, conseguindo uma vitória surpreendente contra Lampião, que
passou a se interessar pela valentia do “macaco” que conseguira lhe infligir
tão grande derrota. Em função da façanha, Manoel Neto foi promovido ao posto de
anspeçada, isto é, intermediário entre soldado e cabo.
OUTRAS
BRAVURAS
A partir desse
episódio, Manoel Neto passou a ser o terrível perseguidor de Lampião, sempre
lhe mandando recados, desafiando-o para que lutassem de homem para homem, numa
batalha para pôr fim aos crimes do Sertão.
No tiroteio da
fazenda Favleo, localizada no município de Floresta, Manoel Neto foi emboscado
pelo bando de Lampião, ficando gravemente ferido, com duas pernas quebradas.
Segundo contam, sempre ia à frente de seus comandados, alegando que como
comandante cabia a ele receber ou disparar o primeiro tiro. Certa ocasião, foi
chamado pelo tenente João Bezerra, da Polícia Militar de Alagoas, para
arquitetarem o plano da morte de Lampião por envenenamento.
Manoel Neto
mostrou-se imediatamente contrário àquele tipo de assassinato, dizendo para o
tenente: “Lampião é meu inimigo pessoal e ele também me considera assim. Se eu
puder pegá-lo no ponto do meu mosquetão, acabarei com ele. Porém não o matarei
envenenando a água que beba, pois Lampião sabe que o rastejo e nunca envenenou
a água que eu bebo, mesmo lhe perseguindo”.
Certa vez, no
município de Triunfo, vários bandoleiros que habitavam uma serra, resistiam à
ação da Polícia Militar. Sem condições de subirem a montanha, os soldados eram
duramente repelidos a tiros de rifles. Ao tomar conhecimento do fato, o capitão
Manoel Neto, fazendo-se acompanhar de oito soldados, subiu a serra e
aproveitando o silêncio da noite, foi invadindo casa por casa. Ao amanhecer
todos estavam amarrados e desmoralizados.
Foto de Mané
Neto, colorizada por Rubens Antonio.
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