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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

QUEM FALOU A VERDADE, VILA NOVA OU O CANGACEIRO BALÃO?

Por José Mendes Pereira

No dia 14 de novembro de 1938 Iziano Ferreira Lima, o afamado cangaceiro VILA NOVA, afirmou ao “Jornal A Noite”, que estava na Grota de Angico no momento do ataque das volantes ao grupo de Lampião, na madrugada de 28 de julho de 1938. Vejam o que ele fala:


“ – Escapei pela misericórdia de Deus, afirma. Vi quando o CHEFE (o chefe que ele se refere é Lampião) caiu se estrebuchando pelas forças do tenente Ferreira (ele fala no tenente Ferreira, nas ele quis se referi ao tenente Bezerra). 

Tenente João Bezerra

Meu padrinho Luiz Pedro caiu ferido nos meus pés. Pediu que o matasse, logo. O que fiz, foi apanhar o seu mosquetão e fugir para as bandas do riacho onde o fogo era menor. 

O cangaceiro Zé Sereno

Depois da fuga fui me esconder na Fazenda Cuiabá, onde me encontrei com ZÉ SERENO, e outros que puderam fugir do cerco. Ali soubemos que junto com o capitão tinha morrido mais 11 cabras, inclusive D. Maria Bonita”. 

Ele fala que junto com o capitão haviam morrido mais 11 cabras. Verdade, lógico que lá morreram contando com Lampião 12. 11 cangaceiros e o volante Adrião Pedro de Souza.

O cangaceiro Balão - fonte pesquisada - http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2009/08/cangaceiro-balao-sensacional-entrevista.html

Já o cangaceiro Balão afirmou à “Revista Realidade” em novembro de 1973 sobre Luiz Pedro o seguinte:

Luís Pedro ainda gritou: "Vamos pegar o dinheiro e o ouro na barraca de Lampião". Não conseguiu, caiu atingido por uma rajada. Corri até ele, peguei seu mosquetão e, com Zé Sereno, consegui furar o cerco. Tive a impressão de que a metralhadora enguiçou no momento exato. Para mim foi Deus.

As duas entrevistas destes dois cangaceiros cedidas ao Jornal A Noite e à Revista Realidade ficam meio confusas, que cabe aqui esta pergunta? 

O cangaceiro Luís Pedro carregava dois mosquetões no momento em que tentava fugir do cerco policial? 

O cangaceiro Vila Nova disse que pegou o mosquetão do Luís Pedro e deu no pé. O Balão também afirma a mesma coisa.

Também as duas afirmativas deles deixam a gente novamente confuso sobre a morte de Luís Pedro. Por quê?

Volante Mané Veio que segundo ele, assassinou o cangaceiro Luíz Pedro

O volante Mané Veio disse aos pesquisadores e repórteres que foi ele quem assassinou o cangaceiro Luís Pedro, e pelo que ele diz, levou um bom tempo para matá-lo, saiu perseguindo, perseguindo entre pedras e ele tentando salvar a sua vida, mas finalmente o assassinou.


Sobre a morte do cangaceiro Luís Pedro você poderá ler em ”Lampião Além da Versão Mentiras e Mistério de Angico”, escrito por Alcino Alves Costa.

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NOVO LIVRO DE SABINO BASSETTI LAMPIÃO - O CANGAÇO E SEUS SEGREDOS


Através do e-mail sabinobassetti@hotmail.com vocês poderão estar adquirindo o mais recente trabalho de José Sabino Bassetti intitulado "Lampião - O Cangaço e seus Segredos".

O Livro, como o próprio título já diz, trará em suas páginas alguns segredos e informações, sobre o cangaço e seu representante maior, até então desconhecidas da grande maioria dos simpatizantes e estudiosos do assunto.

Um trabalho que foi desenvolvido através de pesquisas sérias e comprometidas com a verdadeira história, baseado em depoimentos e declarações de testemunhas oculares dos acontecimentos.

O Livro custa apenas R$ 40,00 (Quarenta reais) com frente já incluído, e será enviado devidamente autografado pelo autor, para qualquer lugar do país.

Não perca tempo e adquira já o seu!
Texto: Geraldo Junior

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2015 UM ANO PARA NÃO SE ESQUECER !!!

Por Manoel Severo

O ano de 2015 foi sem dúvidas muito especial, definimos mais uma vez uma agenda intensa de atividades e em todas elas a marca inegável do trabalho em equipe e da firme disposição da integração da verdadeira alma nordestina. O Cariri Cangaço; esse empreendimento que tem a cara do sertão, une a cada ano, o Brasil da tez queimada pelo sol da caatinga na direção do fortalecimento de nossa memória e inigualável história.

Já somamos 5 estados; Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe; somos 16 municípios unidos ao sentimento de perpetuar o que temos de mais precioso. O Cariri Cangaço assume a cada ano o desafio de se reinventar, com ousadia e muito trabalho chegar a todos os recantos de nosso Brasil, aqui nosso principal combustível é o entusiasmo e a certeza de que vale a pena, e como vale !

A Emblemática Princesa Isabel...

Já havia muito tempo que planejávamos chegar a Princesa Isabel e a São José de Princesa, com sua emblemática Patos de Irerê, na querida Paraíba. As sagas de Zé Pereira, Marcolino Diniz, Xanduzinha, Quelé, enfim; não poderiam ficar fora de nosso Cariri Cangaço, pelo imenso significado que possuem para a historiografia da temática e para a própria história do Brasil...

Os primeiros contatos foram feitos através do amigo Carmelo Costa Manduque acabou proporcionando um momento precioso entre os organizadores do Cariri Cangaço; curador Manoel Severo e os Conselheiros Narciso DiasJorge Remígio e ainda o assessor Heldemar Garcia e Jair Tavares na residência do querido João Mandu, onde os contatos com Socorro Mandu e Emmanuel Arruda foram definitivos juntamente com a visita maravilhosa a Patos de Irerê com João Antas, para realizarmos o sonho chamado Cariri Cangaço Princesa 2015.

Depois recebemos a visita do prefeito de Princesa Isabel, Dominguinhos em Juazeiro do Norte ao lado dos secretários Valmir Pereira e Emmanuel Arruda, quando ao lado de Pedro Barbosa começamos a definir o formato do grande evento. Ali foi também definitivo o apoio de São José de Princesa com Rubia Diniz Matuto e toda a comunidade de Patos de Irerê. Marcamos a data: O Cariri Cangaço Princesa 2015 seria no período de aniversário da cidade, 19 a 21 de março.

Não teria palavras para definir o grande significado do Cariri Cangaço Princesa, não só pelo público espetacular, com mais de 500 pessoas na noite de abertura e nos seguidos momento da agenda. Testemunhar a família princesense unida para contar a sua própria história não teve preço. Em Patos de Irerê, terras de São José de Princesa, do Coronel Marçal e pouso de Marcolino e Xanduzinha, território livre da guerra de princesa e dos memoráveis combates de trinta, a festa foi simplesmente espetacular; tendo a frente Rúbia Matuto e João Antas. Presença de amigos de todo o Brasil; mais de 100 pesquisadores invadiram a Paraíba num dos mais emblemáticos Cariri Cangaço de todos os tempos.
Poderia passar o dia inteiro citando e agradecendo a tantos e tantos amigos e valorosos colaboradores; mas não poderia esquecer da grande família Cariri Cangaço de Princesa e São José: Dominguinhos, Emmanuel Arruda, Valmir Pereira, Thiago Pereira,Sabrina Barbosa, os queridos amigos da família Mandu; Carmelo, Socorro, Pacelli MandúMarcelo Mandu,Sandro Alberto Costa Mandú e os talentosos artistas do Abolição, além dos estimados Rosane Pereira e Roberto Gonçalves, Fábio Arruda e tantos outros como o impagável Paulo Mariano, o sensacional João Antas,Damião Ferreira BezerraJosefa Gomes Neta e o povo querido de Patos, sem falar na espetacular Rúbia Matuto. Vocês foram os grandes responsáveis por tudo isso: Inesquecível Cariri Cangaço Princesa 2015!

Veja tudo visitando em nossa aba superior no ícone:

A Belíssima Piranhas...

Desde o ano de 2013, ainda no começo de nossas iniciativas com as Avante-Premiere na direção de alcançar outros públicos além do estado do Ceará; Piranhas através de nosso Conselheiro, talentoso pesquisador e turismólogo Jairo Luiz Oliveira se apresentou como uma das mais espetaculares empreitadas com a Marca Cariri Cangaço. Na mais bela cidade ribeirinha do Brasil, às margens do Velho Chico, foi possível realizar um evento único que une qualidade, responsabilidade e uma beleza incomum, nascia o Cariri Cangaço Piranhas, no estado das Alagoas, já em sua terceira edição !

A tradição piranhense e seu legado dentro da historiografia do cangaço se consolidou de forma efetiva neste ano de 2015. Sob a batuta espetacular e um trabalho primoroso de Patrícia Brasil RodriguesCelsinho Rodrigues,Sonia Jacqueline Rodrigues, e toda a equipe da municipalidade e demais parceiros, realizamos entre os dias 25 e 28 de julho uma edição para não ser esquecida. Uma surpreendente caravana de mais de 200 pesquisadores de todo o Brasil marcaram presença em terras alagoanas para vivenciar toda a magia de mais um Cariri Cangaço Piranhas.

A essa edição do Cariri Cangaço Piranhas 2015 tivemos a adesão de mais um estado; Sergipe com Poço Redondo; terra do inesquecível Alcino Alves Costa. Poço Redondo veio se somar ao evento trazendo o toque da homenagem especial ao querido Decano Caipira com a inauguração de Avenida e do Memorial Alcino Alves Costa, tendo a frente Rangel Alves da Costa e o casal, Conselheiro Cariri Cangaço, Archimedes Marques e Elane Marques, além da família do homenageado, numa recepção inesquecível, tendo a frente a querida Maria Eliene Costa, a Lena.

Piranhas definitivamente firmou sua posição no Brasil como sede de um dos eventos mais qualificados sobre o tema cangaço no país. O Cuidado com toda a programação, o elenco de conferencistas, os temas, as visitas e todo o zelo dos organizadores com os mais de 200 convidados, tendo a frente o grande Celsinho Rodrigues, fizeram do Cariri Cangaço Piranhas 2015 um evento espetacular. Tivemos no total um público de mais mil pessoas em nosso Cariri Cangaço Piranhas, sensacional!

Não não poderíamos deixar de agradecer aos queridos amigos da Família Cariri Cangaço de toda Piranhas... Celsinho Rodrigues, Patrícia Brasil, Jaqueline Rodrigues; prefeito Manoel Brasiliano, estimado deputado Inácio Loiola e dona Chatia, Secretária Melina Freitas, amigos Reginaldo Rodrigues, Petrucio Luiz Rodrigues, Cacau, Francisco e Washington Correia, e as presenças mais que honrosas de Seu Celso Rodrigues e o casal querido Paulo Britto e Ane Ranzan e toda família Piranhense.

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No Ceará tem disso sim...

E em nossa quinta edição em terras cearenses, mais uma vez a festa e o calor alencarinos, se fizeram presentes com destaque para as espetaculares Lavras da Mangabeira e Missão Velha. Crato e Juazeiro do Norte completaram as honras da casa, encerrando a Agenda Cariri Cangaço 2015.

Desta vez um recorte especial sobre o personagem emblemático que foi Padre Cícero Romão Batista. Em Lavras da Mangabeira, sob a sombras das árvores e com uma platéia mais que especial tivemos o "Pacto dos Coronéis" e depois em dois momentos em Juazeiro do Norte a figura do Santo Padre, com o "Muro do Valado" na serra do Horto e "As várias Faces do Santo do Juazeiro" no memorial que leva seu nome, sem dúvidas foram momentos marcantes para a grande festa que foi o grande Ano V.

Na bela RFFSA em Crato a magia de "Os Últimos Cangaceiros" trouxe ao debate o papel da sétima arte com direito a revelações maravilhosas da querida Neli Conceição, filha de Moreno e Durvinha em noite memorável e abertura no berço do Cariri Cangaço com Wolney Oliveira.

Lavras da Mangabeira em sua primeira realização dentro da Edição Oficial; anteriormente havia feito duas avante-première em 2013 e 2014; e Missão Velha, presente em todas as nossas edições foram simplesmente sensacionais e dessa vez, Missão Velha com as homenagens marcantes aos coronéis do cariri, com destaque para Quinco Vasques, Cel Santana e o Edson Olegário, mostrou a força das família caririenses.

O Edição de Luxo - Ano V, com o envolvimento dos organizadores tendo a frente Cristina Couto em Lavras e João Bosco André em Missão Velha tornaram suas programações simplesmente momentos para não se esquecer, aqui tivemos a estréia de quatro novos conferencistas que honraram sobre maneira a família Cariri Cangaço: Urbano SilvaHeitor F. MacêdoFeitosa Lailson e Emerson Monteiro, sejam bem vindos! Nos resta agradecer; muito obrigado aos queridos amigos de nosso amado Cariri; Cristina Couto, estimado Tavinho; Ruy GabrielCicera Girlania,Maria Cecilia E SilvaJeová Batista de Moura (in memorian) e toda a equipe de Lavras; Bosco André, Tardiny, amigo Cicero Meneses MacedoNiltim Macedo, Dr Cícero Landim, grande Antonio Edson Olegário, Cel Vasques Landim e todas as queridas famílias de minha Missão Velha.

Outro ponto marcante de nossa Edição de Luxo foi a posse no novo Conselho Cariri Cangaço , uma plêiade de verdadeiros gigantes, talentosos e apaixonados pelo seu chão e por sua história. O Cariri Cangaço tem a honra de ter dentre seus Conselheiros, homens e mulheres que dignificam a Alma Nordestina...A eles e a toda família Cariri Cangaço desta grande Nação chamada Brasil, a nossa enorme gratidão.

Conselho Alcino Alves Costa do Cariri Cangaço 2015/2017
Napoleão Tavares Neves, Barbalha CE
Juliana Pereira, Quixadá CE
Ivanildo Silveira, Natal RN
Angelo Osmiro Barreto, Fortaleza CE
Honorio de Medeiros, Natal RN
Narciso Dias, João Pessoa PB
Sousa Neto, Barro CE
Geraldo Ferraz, Recife PE
Wescley Rodrigues, Sousa PB
Ana Lucia Souza, Petrolina PE
Kiko Monteiro, Lagarto SE
João De Sousa Lima, Paulo Afonso BA
Archimedes Marques, Aracaju SE
Rostand Medeiros, Natal RN
Aderbal Nogueira, Fortaleza CE
José Cícero Silva, Aurora CE
Antonio Vilela, Garanhuns PE
Bosco André, Missão Velha CE
Múcio Procópio, Natal RN
Paulo Gastão, Mossoró RN
Kydelmir Dantas , Mossoró RN
Cristina Couto, Lavras da Mangabeira CE
Jorge Remígio, Custódia PE
Professor Francisco Pereira Lima, Cajazeiras PB
Leandro Cardoso, Teresina PI

Só nos resta ressaltar o extraordinário trabalho e apoio dos Grupos de Estudo do Cangaço, parceiros de todas as horas, companheiros de jornada e sem dúvidas baluartes na defesa e manutenção de nossa memória. O Cariri Cangaço tem a honra de ter como "irmãos" nesta jornada a SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço,o GECC - Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará e GPEC - Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço.

Vamos em frente, muito obrigado 2015
Então que venha o iluminado 2016.
Cariri Cangaço, Onde o Brasil de Alma Nordestina se Encontra!
Manoel Severo Barbosa

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ESPEDITO SELEIRO, FILHO DO CRIADOR DA SANDÁLIA DE LAMPIÃO, VIROU GRIFE VALORIZADA NO MUNDO DA MODA E DO DESIGN

Fernanda da Escócia de nova Olinda (CE) para a BBC Brasil

"O cabra chegou para meu pai e disse que queria uma sandália diferente, de solado quadrado, sem marca da curva da sola do pé. Mostrou um modelo desenhado. Meu pai disse que fazia. Dias depois o cabra veio buscar a encomenda e perguntou a meu pai se ele sabia para quem era a sandália. 'Não é para você?', meu pai perguntou. 'Não, é para o Capitão Virgulino'. 'Pois leve a sandália e nem precisa pagar'".

É assim que Espedito Velozo de Carvalho, o Mestre Espedito Seleiro, 77 anos, resume como surgiu a sandália mais famosa de tantas de seu ateliê em Nova Olinda, cidade do interior do Ceará, a 500 km de Fortaleza.

A sandália de solado quadrado era mesmo para o Capitão Virgulino Ferreira, o Lampião, chefe do bando de cangaceiros que impunha medo, respeito e fascínio no interior do Nordeste nos anos 1930.

O solado quadrado, sem indicar qual era a frente da sandália, tinha um propósito: despistar as volantes, como eram chamadas as equipes policiais que caçavam os cangaceiros pelo sertão. "O solado quadrado deixava uma pegada quadrada, de modo que a volante não conseguia saber para que lado Lampião tinha ido, se estava indo ou voltando", explica Espedito Seleiro.

O filho do criador da sandália de Lampião se transformou, nos últimos anos, em uma assinatura valorizada no mundo da moda, do cinema e do design. Espedito (assim mesmo com S) Seleiro fez peças para marcas como Farm, Cavallera e Cantão.

Em 2006, participou da São Paulo Fashion Week. Sua obra foi tema da exposição "Da Sela à Passarela", que passou por São Paulo e Rio de Janeiro. É criação de Espedito Seleiro o gibão colorido de couro usado pelo personagem do ator Marcos Palmeira no filme O Homem que Desafiou o Diabo (2007).
  

Seleiro apareceu no programa da global Regina Casé, cliente de suas sandálias. Recebeu em 2011 a Ordem do Mérito, concedida pelo Ministério da Cultura a personalidades do setor. Seu trabalho cheio de referências do sertão, com couro colorido e enfeitado, atraiu os designers Humberto e Fernando Campana, que fizeram em 2015 uma parceria com Seleiro para uma linha de móveis intitulada Coleção Cangaço, juntando madeira, palhinha e couro, e os móveis são a novidade em seu trabalho.

"É bom variar, fazer coisas novas", filosofa o artesão.

TALENTO E APRENDIZADO

Ainda menino, Espedito aprendeu com o pai, Raimundo Seleiro, que aprendeu com o pai dele, Gonçalves Seleiro, filho de Antônio Seleiro, a arte de tratar e transformar o couro de boi e de cabra em peças usadas pelos vaqueiros, como selas, cintos e chicotes.

Para vaqueiro, mesmo, ele nunca teve talento: no primeiro dia em que montou no cavalo para laçar um boi levou uma queda tão feia que desistiu da profissão.

Quando ele ainda era criança, sua família fugiu da seca e trocou o sertão dos Inhamuns, área mais árida do Ceará, pelo quase sempre verde Cariri, na região sul do Estado, divisa com Pernambuco. Aos 16 anos, em busca de uma vida melhor, Espedito foi embora para o Paraná. Ficou três anos, sempre trabalhando com couro, e voltou para o Cariri.

Um dia, cansado de tantas peças parecidas - sandálias de couro são uma tradição no interior do Ceará, vendidas em cada esquina e cada mercado popular-, viu que precisava inovar. Usando produtos naturais, como a tintura da casca do angico, árvore comum na região, tingiu o couro.


O criador das sandálias coloridas ganhou a admiração da então secretária de Cultura do Ceará Violeta Arraes - de uma família tradicional do Cariri e irmã de Miguel Arraes, cearense que fez carreira política em Pernambuco, Estado que governou três vezes.Fez sandálias vermelhas, azuis, amarelas e roxas, cheias de desenhos. Levou para um conhecido no mercado vender. No outro dia vieram pedir mais, e as sandálias coloridas abriram caminho para que ele se diferenciasse dos demais artesãos.

O diretor de TV e cinema Guel Arraes, filho de Miguel Arraes, também se tornou cliente das sandálias de couro de Seleiro, e a fama do artesão foi se espalhando.

Um dia, o educador Alemberg Quindins, criador da Fundação Casa Grande, premiada organização de Nova Olinda que capacita crianças e jovens para as artes, pediu a Seleiro que fizesse uma sandália igual à de Lampião para uma exposição sobre o Cariri.

Seleiro tinha guardado os desenhos do pai e reproduziu a sandália "cobertão", de solado quadrado. "Mudei o nome para sandália Lampião. E quando me pediram um modelo para mulher, fiz a sandália Maria Bonita", explica o artesão.

TRADIÇÃO E INOVAÇÃO

Do Cariri para o Brasil, aos poucos o E.S. de Espedito Seleiro, numa letra bem desenhada, foi marcando sandálias, bolsas e mochilas em couro que se espalharam no circuito fashion.

O trabalho atraiu também a atenção da pesquisadora Heloisa Bueno Rodrigues, que fez de Seleiro personagem principal de sua dissertação de mestrado defendida em outubro de 2015 no Programa de Cultura e Territorialidades da UFF (Universidade Federal Fluminense) e intitulada Espedito Seleiro: filho dos Inhamuns, mestre do Cariri e artista do Brasil.


Num estudo sobre economia criativa e cultura, apresentado num seminário na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, a pesquisadora analisa como Seleiro se diferenciou dos demais artesãos ao inovar dentro da tradição popular, mantendo sua identidade. Ao mesmo tempo, explica que o trabalho de Seleiro não é só produto de sua sensibilidade individual de artista, mas resultado de um conjunto de conhecimentos, histórias e tradições.

"O Ceará é muito marcado pelo que historiadores como Capistrano de Abreu chamam de civilização do couro, um ciclo econômico baseado na criação de gado. A obra de Espedito Seleiro traduz essas tradições dos vaqueiros, dos cangaceiros, dos ciganos, desses homens que se espalharam pelo interior do Nordeste. E ele conseguiu manter sua originalidade dentro dessa tradição, conseguiu se diferenciar", afirma a pesquisadora.

Assim como aprendeu o ofício em família, Seleiro ensina o que sabe aos filhos, netos e sobrinhos, e juntos eles mantêm a cooperativa Associação Familiar Espedito Seleiro, que reúne 22 profissionais.

Mestre Seleiro é um professor exigente, que acorda de madrugada, cobra qualidade em cada passo do trabalho e manda recomeçar tudo se achar algo errado. "Eu ensino, eles fazem, eu vejo se ficou bom. Se estiver boa, assino a sandália. Se estiver ruim, desmancho e mando fazer de novo".

Em sua oficina, entre aprendizes e cortes de couro, Seleiro recebe quem chega e tem sempre tempo para um dedo de prosa. Ao lado da oficina criou o Museu do Couro, que conta a história de sua obra e também a saga dos vaqueiros no sertão.

Seleiro sabe que é imitado por muitos, mas não liga. Às vezes pensa em registrar sua marca, às vezes não. De olho nas novidades, investe em capas para celulares e tablets e selas de moto. Comprada na lojinha de Seleiro em Nova Olinda, a sandália Maria Bonita custa R$ 80.

Entre bolsas, mochilas, carteiras e sandálias, as peças trazem tons e desenhos inusitados. Lembram vestidos coloridos numa quadrilha, disputas de vaquejadas, cangaceiros em luta, leques ciganos, flores brotando - e todas as cores do sertão em dias de chuva depois dos meses de seca.

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/12/1724368-filho-do-criador-da-sandalia-de-lampiao-vira-icone-do-mundo-fashion.shtml?cmpid=compfb

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ASSENTAMENTOS DO MST: A CASA E A TERRA

Por Rangel Alves da Costa*

Não faz muito tempo que percorri estradas que entrecortam assentamentos oriundos do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) no município de Poço Redondo, no Alto Sertão Sergipano do São Francisco. Aliás, é neste município que está o maior número de assentados de todo o estado, numa expropriação para apropriação que vem desde o ano de 1986, quando o latifúndio da Barra da Onça passou a simbolizar toda a luta pela reforma agrária na região.

Em tal percurso fui percebendo alguns frutos da aguerrida - e muitas vezes violenta - luta pela terra. Os lotes se espalham por todos os lugares, com casas de alvenaria e até avarandadas, algumas com garagens e outras ladeadas por benfeitorias. Situação ainda mais promissora - ao menos nas construções - se observa no Assentamento Queimada Grande, mais próximo à sede municipal, onde muitas ruas calçadas foram abertas e já foram erguidos templos religiosos, escolas e ginásio esportivo, além de infraestrutura de verdadeira povoação.

Alguns frutos da luta pela terra no sertão sergipano estão ali e em muitos outros rincões adentro, ao menos na parte estrutural dos assentamentos. E assim porque residências, ruas, garagens e carros, não permitem afirmar o alcance dos objetivos primordiais da reforma agrária empreendida: terra, trabalho e produção. Alguns lotes, principalmente nas proximidades do Rio São Francisco, são irrigados, mas não são avistadas plantações suficientes para se afirmar sobre o ideal aproveitamento da terra. Situações pontuais existem onde a colheita é farta, mas noutras nada parece vingar.

A verdade é que as construções e benfeitorias encontradas nos assentamentos escondem uma realidade conhecida, mas pouco disseminada. A terra conquistada é pouco valorizada, pouco trabalhada, quase rejeitada pela maioria dos assentados. Todo o sustento, ganhos e benefícios, chegam por meio das políticas governamentais para o setor. Há oferta de crédito diferenciado, há programas específicos de distribuição de renda, há recebimento de cestas de alimentos, há uma série de programas destinados especificamente à valorização e manutenção do assentado. Numa situação tal, pouco importa que a terra seja trabalhada para produzir o sustento próprio.


De certa forma, ser assentado passou a significar uma profissão, mas não um ofício no labor da terra. E profissão rentosa, com ganhos garantidos a cada semana ou mês, segundo vão chegando os recursos públicos destinados. E quando há atraso nos repasses, logo se vê uma multidão murchando de armas em punho, invadindo cidades e tomando órgãos públicos. Tudo isso com a certeza de que não há lei que os castigue ou ameace. Daí o bon vivant na lassidão e na impunidade.

O descompromisso com a terra é uma marca sempre presente nos assentados. Apenas uma minoria faz do pedaço de terra conseguido um compromisso de vida, sobrevivência e talvez fartura. A outra se compraz da situação de assentado apenas para auferir das dádivas e dos benefícios. Ademais, muitos são os que fazem dos lotes meros objetos de venda e troca. Quer dizer, invadem, se assentam, conquistam a terra e depois vendem o lote por qualquer preço ou faz troca por carros velhos ou motocicletas. E corre para novas invasões.

O contexto observado - em recorte diminuto, se diga - não condiz com a luta da terra nem com sua conquista. Como afirmado, a aparência dos assentamentos contraria o que se tem depois da porta dos fundos ou pelos arredores. Enquanto assentados ganham pela indolência e lassidão, a terra continua tão improdutiva quanto antes de ser invadida e tomada no grito e na força. Logicamente que há produtividade, que lotes produzem o máximo possível, mas apenas uma minoria em meio a um mundo de terras que continuam nuas e desprovidas de qualquer grão.

Tal situação parece ser de menor importância tanto para o MST como para o governo e assentados. O que se apregoa é a conquista da terra através da reforma agrária, e basta. É o fim do latifúndio, ainda que produtivo, para distribuir a terra entre muitos que parece suficiente. Contudo, outra é a motivação para que governos, políticos e lideranças tanto se empenhem na entrega de lotes a cada um que carregue a bandeira vermelha: o voto.

Não é por mera casualidade que os excluídos da terra são ideologicamente transformados antes de começarem a agir, invadindo, usurpando, violando. Após a conquista da terra, passam a dever obediência às lideranças do movimento. E estas, sempre fazendo dos assentados uma prova de força eleitoral, ou vendem apoios políticos ou eles mesmos se lançam como candidatos. Garantindo-se no encabrestamento da maioria, avalizam eleições e redesenham as forças políticas locais.

Assim os assentamentos, em realidades distintas desde as residências aos campos de trabalho. Para muitos, simbolizam a reforma agrária que deu certo. Para outros, apenas um aglomerado de forasteiros tirando a paz e o sossego da população nativa. Mas nem menos nem mais, tão somente uma nova realidade pelos campos sertanejos. E num mundo onde alguns verdadeiramente trabalham e tiram da terra o seu fruto, e outros apenas constroem varandas para armar redes e espreguiçadeiras.

Poeta e cronista
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