Por Raul Meneleu Mascarenhas
Leiam o que
três autores de livros, registraram sobre esse perigoso cangaceiro. Existem
desencontro de informações. Qual deles aproxima-se mais da vida real de
Sabino?
Nas páginas
56-58 do livro ENSAIO CONTRA VERSÕES ROMANESCAS – CEL. JOSÉ PEREIRA de Roberto
Sávio de Carvalho Soares ele nos diz:
"Há
livros afirmando que Sabino das Abóboras, conhecido cangaceiro, nasceu nas
Abóboras, zona rural de Serra Talhada/PE, enquanto outras obras informam que
foi na cidade de Princesa Isabel. Disseram ainda que ele era filho do Cel.
Marçal Fiorentino Diniz, fora do casamento, e que tinha sido o seu vaqueiro. O
certo, porém, é que o cangaceiro Sabino era natural de Olho D'água, Estado da
Paraíba, região do Piancó. Era da família Gore. Na cidade natal, morava com o
pai, a mãe e os irmãos. Tinha dois tios que trabalhavam como vaqueiros do Cel.
Marçal, na Fazenda "Abóboras", sendo que um deles era muito conhecido
por causa da surdez. Assim, com aproximadamente 11 anos de idade Sabino foi
acolhido por esses tios na citada propriedade e, em especial, pelo Cel. Marçal,
sua mulher e filhos. Chegando lá, a esposa de Marçal observou que ele era
bastante inteligente e resolveu colocá-lo na escola.
Já rapaz, tornou-se uma espécie de homem de confiança, gerente e contador de
Marçal, mas nunca foi seu vaqueiro. Era o responsável pelas contas, pagamento
do gado e negócios. Posteriormente, foi trabalhar com Marcolino, filho de
Marçal e sobrinho de José Pereira, no primeiro Jornal de Cajazeiras/PB, "a
cidade que ensinou a Paraíba a ler", frase divulgada pela população.
Ressalte-se: o aludido jornal era editado por Praxedes Pitanga, um dos maiores
advogados da Paraíba que, fora promotor, deputado estadual e federal. Em
Cajazeiras, na condição de administrador do jornal, era bem relacionado na
sociedade, chegando a jogar baralho com pessoas importantes da cidade. No
entanto, impressionado com as histórias de Lampião que lhe eram contadas por
Marcolino, resolveu engajar-se a esse bando de cangaceiros, tornando-se um dos
mais esclarecidos do grupo. No entanto, sem sombra de dúvida, essa versão
autêntica não vai alterar a trajetória de Sabino das Abóboras no cangaço. Dois
registros: havia uma ligação do Major Floro Diniz (sogro de Marcolino e pai de
Xanduzinha da música) com "Senhor Pereira". O Cel. Marçal também se
relacionava com esse antigo cangaceiro. Certamente daí surgiu o elo de Lampião
com o Cel. Marcolino Diniz, filho de Marçal. Certo dia, o Cel. Marçal teve uma
refrega com Marcolino, pelo fato de o seu filho ter destratado José Pereira,
quando este o criticara pela estreita ligação com cangaceiros."
Já na página
138 do livro “Lampião a Raposa das Caatingas” de José Bezerra Lima Irmão, ele
registra:
SABINO DAS
ABÓBORAS
"Fazenda
Abóboras, covil de jagunços Não há como contar a história do cangaço sem falir
na formidável fazenda Abóboras, do coronel Marçal Florentino Diniz, um dos
maiores latifúndios do sertão pernambucano daquela época. Muitos autores do
cangaço dizem que essa fazenda ficaria na Paraíba, mas na verdade ela fica em
Pernambuco, embora a poucos quilômetros da divisa. Situa-se no município de
Serra Talhada. antiga Vila Bela, à esquerda da estrada que vai para Triunfo,
antes de Jatiúca. No passado, o coronel Marçal, homem corpulento e simpático,
amigo da família Pereira, acolhia em sua fazenda os cabras de Sinhô Pereira.
Quando menos se esperava, chegava a cabroeira para comer, descansar, cuidar de
feridos. O próprio Marçal encarregava-se de ir buscar médicos em Triunfo e
Princesa para tratar dos casos graves. Foi assim que Marçal conheceu Lampião —
como simples cabra de Sinhô Pereira. Depois que Lampião se mudou para a Bahia,
Marçal pensou que estava livre de cangaceiros em sua propriedade. Mas foi então
que seu genro, José Pereira Lima, inventou aquela rr aluquice sem fim — a
Guerra de Princesa. Em suma, a fazenda Abóboras parecia predestinada a acoitar
valentões. 448
O filho
bastardo do coronel Marçal
Foi justamente
ali que nasceu e viveu sua infância o terrível Sabino Gomes de Melo, um dos
mais destacados nomes da história cangaceira, mais audacioso do que o próprio
Lampião. Por ser da família dos Gregório, palavra dificil de pronunciar, quando
menino era chamado de Sabino Gore, o que levou alguns autores a supor que ele
se chamava "Sabino Góis". Tendo trabalhado algum tempo como ajudante
de vaqueiro na fazenda Goa, na Paraíba, era por isto também conhecido como
Sabino Goa, a mesma razão pela qual era igualmente chamado de Sabino das
Abóboras. 449
Frederico
Pernambucano de Mello faz uma revelação assombrosa, que não consta nos textos
dos autores da época: Sabino era filho natural do coronel Marçal com uma negra
cozinheira de sua casa. Sabino, mal completou 18 anos, tornou-se autoridade, ao
ser nomeado comissário das Abóboras. Em uma festa que houve num daqueles pés de
serra, ele se envolveu numa briga, e em virtude disso se mudou para o município
paraibano de Princesa, sob o amparo de seu meio-irmão Marcolino Pereira Diniz,
filho legítimo de Marçal. Quando se iniciou a construção do açude Boqueirão de
Piranhas, em Cajazeiras, Marcolino, que era homem influente ali, onde era
presidente do Clube Centenário, empregou o irmão nas obras da barragem,
executadas pela empreiteira norte-americana Dwight P. Robinson & Co. Inc.
Depois, aí pelo ano de 1921, como Marcolino precisasse de um sujeito de
confiança para sua proteção pessoal, Sabino passou a ser seu guarda-costas.
Na companhia
de Marcolino, o futuro cangaceiro teve oportunidade de conhecer as mais
destacadas figuras da sociedade de Cajazeiras e da própria capital paraibana.
Foi por esse tempo que, em alguns casos por conta própria e noutros instigado
por Marcolino a fim de perseguir seus desafetos, Sabino começou a fazer certos
"trabalhos" nas horas vagas: à frente de um grupo de malfeitores,
passou a pilhar pequenas localidades das vizinhanças de Cajazeiras. Andava
pelas ruas equipado com duas cartucheiras peitorais cruzadas em "X" e
outra na cintura, um rifle Winchester, uma pistola Colt e dois punhais
embainhados, com um lenço ao pescoço e chapéu de couro quebrado na frente e
atrás. 450
Rodrigues de
Carvalho traz uma versão diferente. Diz ele que Sabino Gore era natural de
Pedra do Fumo, município de Misericórdia (atual Itaporanga), na Paraíba. Na
grande seca de 1915, Sabino e seus irmãos, Gregório e Elói, mudaram-se para
Pernambuco. Ao passarem pela fazenda Abóboras, os retirantes encontraram
guarida e ficaram trabalhando para o coronel Marçal. Gregório e Elói trabalhavam
na lavoura, enquanto que Sabino era vaqueiro, mas na calada da noite fazia
roubos nas redondezas. Quando foi descoberto, assumiu abertamente a profissão
de cangaceiro, mas os irmãos não o acompanharam. Sabino já era cangaceiro
famoso — o temido Sabino das Abóboras — quando seus irmãos, aí por volta de
1925 ou 1926, foram assassinados de forma misteriosa: Gregário viajava sozinho
por uma estrada e foi encontrado morto com uma bala na cabeça; Elói foi morto
por uma bala "perdida" em um tiroteio num dia de feira em Afogados da
Ingazeira. Comentou-se que ambos foram mortos por engano — como os três irmãos
eram muito parecidos, quem os matou pensou que estava matando Sabino 451
Esse autor,
que é da região e foi contemporâneo desses fatos, descreve Sabino como sendo um
sujeito de "estatura acima de mediana, compleição robusta, pele sarará
pulverizada de sardas, cabelos foveiros e agastados". No convívio com os
companheiros, Sabino Gomes era um sujeito muito falante. Como cangaceiro, era
um dos mais perversos do bando. Não provocava ninguém, e quando tinha de
discutir alguma coisa baixava tanto a voz que parecia humilhar-se, como se
pedisse ao outro para não lhe bater, chegando a parecer covarde, mas ninguém se
enganasse: como uma cobra que se enrodilha para atacar, quanto mais Sabino se
encolhia, maior era o bote. 452
Erico de
Almeida diz que o conheceu antes de ele se tornar cangaceiro, dispondo de
crédito bastante em Princesa e Triunfo como vaqueiro e agricultor de escala
média. 453
Até 1923, Sabino Gore, ou Sabino das Abóboras, atuou como "cangaceiro
manso" com seu próprio bando nas serras que separam Pernambuco da Paraíba.
Sempre que preciso, agia como o braço armado da família Diniz. No fim daquele
ano, conheceu Lampião e fez amizade com ele, mas continuou com seu grupo
independente. Depois do ataque à cidade de Sousa, em julho de ano seguinte,
Sabino passou a fazer parte do bando de Virgulino, como o quarto homem na
hierarquia do grupo, abaixo de Antônio e Livino."
NOTAS do
RAPOSA DAS CAATINGAS:
448 Coordenadas geográficas da casa-grande da fazenda Abóboras: 07° 52'
41.80" S, 38° 14' 51.70" W. - A fazenda Abóboras fazia parte das
terras arrendadas da Casa da Torre por Agostinho Nunes de Magalhães sob a
denominação de fazenda Serra Talhada, da qual foram desmembradas depois as
fazendas Saco e Abóboras, por força de sucessão hereditária. A fazenda Abóboras
foi fundada por seu neto, Braz Nunes de Magalhães. Depois a herdade foi vendida
a Marçal Florentino Diniz, de Princesa Isabel. Com a morte de Marçal, a fazenda
ficou para sua filha Alexandrina (Xandu), casada com o coronel José Pereira
Lima, de Princesa.
449 Alguns autores se referem a ele como Sabino Barbosa de Melo ou Sabino Gomes
de Góis.
453 Erico de Almeida, ob. cit.,, p. 95/97.
450 Frederico Pernambucano de Mello, Guerreiros do Sol, p. 125-126, 243/246 e
363-364. 451 Rodrigues de Carvalho, Serrote Preto, p. 1561167. 452 Idem, ob.
cit., p. 156-157.
Nas páginas
289-291 do Dicionário Biográfico CANGACEIROS & Jagunços de Renato Luís
Bandeira
Sabino -
Sabino Gomes de Góes
Nasceu no
lugar Serra do Fumo, município de Misericórdia (PB), mudando-se para Triunfo
(PE) em 1915, onde se tornou afilhado do poderoso coronel Marçal Florentino
Diniz, chefe político da Fazenda Abóbora no Pajeú pernambucano. Era chefe dos
jagunços de Marcolino Pereira Diniz, rico coronel e comerciante em Triunfo.
Passou muitos anos tendo vida dupla: durante o dia era vaqueiro e trabalhador,
mas na calada da noite salteador e cangaceiro, dando apoio ao bando de Lampião,
a partir de 1923. Tem Sabino, extensa ficha criminal em dezenas de investidas
na prática criminosa (...). De 1923 a 1927, cometeu as mais importantes ações
deliquentes no bando de Lampião (...). Fonte: Bismarck Martins de Oliveira.
(Nota do autor): Bismarck informa que Sabino Gomes de Góes também era conhecido
por Sabino Goré, Sabino Goa ou Sabino das Abóboras. Este cangaceiro estava com
Lampião e mais de 100 companheiros, no ataque à cidade de Mossoró, Rio Grande
do Norte. Sabino fez parte do grupo de Lampião, composto de 70 cangaceiros, que
visitou o padre Cícero Romão Batista em 12 de abril de 1926. Entre outros
estavam: Sabino, Luis Pedro, Jararaca, Ponto Fino, Juriti, Zé Baiano, Mormaço,
Jurema, Andorinha, Pintado, Criança, Trovão, Gato Brabo, Fogueira, Vicente
Marinho, Beija-Flor, Delicadeza, Lavandeira, Cícero Costa, Cajueiro, Cigano,
José Marinho, Antônio Marinheiro, Arvoredo, Cambaio, Moreno, Português, Moita
Braba, Algodão, Lagartixa, Cavanhaque, Ângelo Roque, Beleza, Cravo Roxo,
Fidalgo, Damião, Zé Venâncio, Linguarudo, Sete Léguas, Ananias, Porqueira e Zé
Baião. Fonte: Luiz Luna. (Nota do autor): Possivelmente este Sabíno seja o
citado a seguir.
Sabino das
Abóboras
Era vaqueiro e
agricultor. Contava 35 anos de idade quando acompanhou Lampião. De estatura
média, gordo cabelos crespos e era bastante supersticioso. Nasceu em Vila Bela,
Estado de Pernambuco. Chefiou subgrupo de Lampião. Ocupou, por vários anos,
posto de destaque no bando. No seu fardamento via-se um galão. Era 29 tenente
promovido em Juazeiro, em 1926. Fez parte do grupo, quando da visita do Rei do
Cangaço ao Padre Cícero Romão Batista, em 9 de abril de 1926, na cidade de
Juazeiro, Ceará. Sabino teve morte horrível na Piçarra. Ferido, ocultou-se nos
matos e faleceu devorado pelos bichos, dentro de um valado. Gostava de viver
cantando. Tinha ótima voz. Fonte: Aglae Lima de Oliveira. (Nota do autor):
Muitas vezes citado simplesmente, Sabíno. Cangaceiro do bando de Lampião.
Esteve em Limoeiro do Norte, Ceará. Aparece na foto com todo o grupo do Rei do
Cangaço. Fonte: Ricardo Albuquerque, apud Iconografia do Cangaço. Sabino Goré
ou Sabino Goa. Seu nome Sabino Gomes de Góis, era pernambucano da localidade
Abóboras, município de Serra Talhada. Era chefe dos jagunços de Marculino
Pereira Diniz, rico coronel comerciante em Triunfo, Pernambuco que era casado
com a filha do coronel Zé Pereira, de Princesa Isabel. Era vaqueiro e
cangaceiro e dava apoio a Lampião quando passava por lá. Há uma versão que
Sabino saiu ferido gravemente num tiroteio em Piçarra, ficando definitivamente
imprestável para empunhar armas, assim teria fugido para um estado longínquo,
para viver as custa da fortuna que acumulou no tempo do cangaço. Fonte:
Bismarck Martins de Oliveira. Sabino das Abóboras morreu em combate a noite, ao
pé da Serra do Araripe, perto de Porteiras, quando o bando de Lampião foi
surpreendido pela Força comandada pelo sargento Manoel Noto e David Jurubeba.
Fonte: Optato Gueíros. Sabino. Gomes de Melo ou Goré, Goa ou ainda Sabino Gomes
de Góes é o mesmo sabino das Abóboras, chefe do subgrupo que atacou Cajazeiras
na Paraíba em 28 de setembro de 1926. Fonte: Diversas obras copiladas por
Kydelmir Dantas.
Sabino Gomes
Cangaceiro de
Lampião morto em combate na Fazenda Piçarra, em março de 1928. Fonte: Alcino
Alves Costa. Sabino Gomes. Este afamado cangaceiro chamava-se Sabino Gomes de
Melo. Fonte: João Gomes de Lira. Numa refrega com a polícia durante a noite
chuvosa, Lampião e os cabras fugiram agachados. O esgotamento da munição forçou
a retirada. Sabino Gomes foi baleado. Ocultou-se. Dias depois foi encontrado
morto num valado. Fonte: Aglae Lima de Oliveira. (Nota do autor): É provável
que se trate do precedente.
Sabino Goré
Do bando de
Lampião. O famigerado Sabino, no dia 6 de junho de 1926, assaltou com seu grupo
a cidade de Triunfo, matando um policial e incendiando diversos
estabelecimentos comerciais. Fonte: Érico de Almeida. (Nota do autor): É
provável que este, seja os mesmos acima descritos. Vale ressaltar, que Sabino
Goré até 1921, era um agricultor honesto e bem conhecido nas praças de Princesa
e Triunfo.
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