"Antônio Ignácio
da Silva" que no cangaço se chamava "Moreno", que em Minas Gerais
passou a se chamar "José Antônio Souto", que ganhou o apelido de
"Pernambuco", que era respeitado e temido por todos.
Fotografia gentilmente cedida pela família dos ex-cangaceiros Moreno e Durvinha.
Meu velho pai,
você foi um cangaceiro bravo, mas um pai que só nos ensinou coisas boas a
sermos honestos. Mas era brabo!!! Kkk, mas deixou saudades, que deus o tenha em
um bom lugar... Já esqueci a bengalada rsrs. - Neli Conceição
LEMBRAVA DE
"VINTE E UM"... DEPOIS PERDEU AS CONTAS.
"Lembro de ter matado vinte e um, fora os que baleei durante os combates
e caíram se "estrebuchando" e não sei se morreram depois, ou
não".
Professor
Leandro Duran da Universidade Federal de Sergipe
A noite de
encerramento do Cariri Cangaço Piranhas 2015 reservou dois dos mais esperados
momentos de toda edição. De início a apresentação dos primeiros trabalhos
desenvolvidos pela Universidade Federal de Sergipe, através do professor
Leandro Duran, que contou com a participação de dois de seus alunos, Dalila e
Marcos Vinícius, sobre a Arqueologia voltada para a temática Cangaço.
Durante sua
apresentação o professor Leandro Duran, ressaltou a grande colaboração que a
ciência arqueológica está dando a este novo momento do estudo
e aprofundamento do Cangaço. Um olhar científico que sem dúvidas auxiliará
em muito o entendimento do que foi e das capilaridades desse tema que é tão
peculiar e com tanta influência nas sociedades sertanejas daquela época.
Universitário
Marcus Vinícius, Leandro Duran, Dalila Feitosa e Manoel Severo
Em princípio
os convidados Cariri Cangaço que lotaram as dependências do Centro Cultural
Miguel Arcanjo, acompanharam a apresentação do trabalho da universitária da
área de arqueologia Dalila Feitosa sobre o estudo das vestimentas e os tecidos
utilizados pelos cangaceiros e cangaceiras nos idos de 1920 até 1940. Logo
após, o universitário Marcus Vinícius apresentou os primeiros resultados de seu
trabalho sobre o arsenal bélico usado pelos vários grupos cangaceiros.
Marcus Vinícius realizou e apresentou um detalhado estudo das armas
e munições usadas pelos grupos cangaceiros, realizando uma catalogação a
partir do acervo de dois pesquisadores de Paulo Afonso, João de Sousa
Lima e Luiz Ruben, que disponibilizaram suas coleções particulares
para o estudo acadêmico.
Pesquisador
Narciso Dias no sítio arqueológico da Fazenda
Patos, cenário do primeiro trabalho de
pesquisa arqueológica a ser desenvolvido pela equipe da UFS.
Amigos, nosso trabalho, A VOLTA DO REI DO CANGAÇO, além vendido direto por mim, no MERCADO ALMEIDA JUNIOR, também pode ser encontrado na PAPELARIA AQUARELA, ao lado do Correio, também na PANIFICADORA MODELO, com Ariselmo e Alessilda e no MERCADO POPULAR, de Daniel ClaudinoDaniel Claudino e Gicele Santos.
Também pode ser encontrado com o Francisco Pereira Lima, especialista em livros sobre cangaço.
Sexta-feira
próxima, dia 21 de agosto, a partir das 18 horas, o INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE (IHGRN), na Rua da Conceição, 622, Cidade
Alta, promoverá a TERCEIRA FEIRA DE LIVROS, com música ao vivo, bebidas e
comidas.
Estarão lá,
para autografarem seus livros a serem vendidos a preço de custo, com renda
revertida para as obras do IHRGN, os escritores:
Assis Câmara
Augusto Leal
Bob Mota
Carlos Adel
Carlos Gomes
Claudionor
Barbalho
David Leite
Eduardo Cunha
Eduardo Gosson
Gutemberg
Costa
Honório de
Medeiros
Jorge Veras
Jurandir
Navarro
Marcos Aurélio
Cavalcante
Manuel Marques
Manuel Onofre
Marcos Cézar
Ormuz
Simonetti
Roberto Lima
Thiago Gonzaga
Tomislav
Femenick
Valério
Mesquita
Vicente Serejo
E os
escritores da
ACADEMIA
CEARAMIRINENSE DE LETRAS E ARTES (ACLA)
Lá estarei
autografando "Massilon - Nas Veredas do Cangaço e Outros Temas
Afins".
Se você tem interesse de adquirir esta maravilhosa obra entre em contato com o autor através deste e-mail:
O aspecto
físico de Lampião durante os vinte anos passados no cangaço evoluiu
consideravelmente.
Tentarei aqui,
através de fotografias, retiradas de sites da internet fazer uma reconstituição
de seu aspecto físico que sofreu modificações, talvez o deixando em
determinadas ocasiões de rosto desfigurado tanto pela dor quanto pelo ódio, mas
não temos fotos dessas ocasiões. Apenas das alegrias. Cito Elise
Grunspan-Jasmin quando diz das narrativas de "sertanejos que o conheceram
e testemunharam muito mais do que as fotografias, que mais ocultam do que
mostram feridas e deformidades; essas imagens o apresentam sempre em sua
integridade física, no auge do poder."
Vemos através
dos livros que fotografias não mostram com perfeição o que está dentro dele
pois Lampião ao tirar fotografias, fazia poses e modificava sua fisionomia
através de um marketing pessoal que impunha aos fotógrafos, para que só
tirassem as fotos com sua permissão. O aspecto físico de Lampião podemos
constatar melhor através das narrações dos sertanejos que o conheceram como se
diz, cara-a-cara.
Como
contraponto a uma ornamentação cada vez mais visível, o corpo de Lampião se
transforma à medida que sofre injustiças, sofrimentos e de lutos. Os jornais da
época, apenas evocavam a monstruosidade de Lampião e sua insensibilidade à dor
alheia, excluindo-o assim da sociedade dos homens e tornando-o um demônio que
infligia sofrimentos morais e físicos aos sertanejos.
Algumas
narrativas posteriores à morte de Lampião põem em relevo uma afetividade que se
expressaria em e por seu corpo. A vida de Lampião é uma sucessão de lutos: seu
pai é assassinado, todos os irmãos que o acompanharam no cangaço morreram um
após outro, o grupo que ele constituiu e que poderia aparentar uma família é
desmantelado e ele foge para a Bahia.
As
transformações do rosto de Lampião começam a surgir principalmente com a morte
de seus irmãos. Logo após essas mortes que se faz referência à transformação de
seu corpo, no qual se leem a tristeza e a revolta. Simbolizando o corpo
familiar machucado, o corpo de Lampião faz-se metáfora da dor. O escritor
sergipano Ranulfo Prata traz uma matéria em seu livro "Lampião" onde
ressalta o intenso afeto de Lampião pelos seus irmãos: "Em que pese toda a
sua fereza e insensibilidade, tem lá no fundo abismal do ser anômalo, como um
pingo de sol num paul, sentimentos fraternais. Amou os irmãos, sendo sempre
para com eles de extrema tolerância e benignidade, indo até a quebra da
disciplina do bando. Quer, muita vez, castigá-los, porque eles, Antônio, Livino
e Ezequiel, são impulsivos e violentos. Mas amolece, fraqueja e não lhes toca."
Com a morte de
seus irmãos e membros de seu bando mais chegados em intimidades, passa Lampião
ao mesmo tempo humanizar-se em choros e sofrimentos, fica cada vez mais também
mostrando o seu outro eu, feroz e impiedoso. E essa impiedade passou a se fazer
notar pelos sertanejos, testemunhas dessas mudanças com a morte de seu irmão
mais novo, Ezequiel. Muitos que viveram nesse tempo, conta-nos Elise
Grunspan-Jasmin, acreditavam que em seu corpo os estigmas do mal e da crueldade
existiam nas "marcas de uma diferença profunda, fazendo dele um ser que
escapa às normas humanas."
Ranulfo Prata
ficou fascinado com as mãos de Lampião. Mãos cadavéricas, secas e finas,
dotadas de uma vida própria, mãos de assassino que provocavam repulsa e pavor:
"O que mais impressiona no seu físico chocante são as mãos. São
terrificas, expressivas, revelando um temperamento, uma vida.
Extraordinariamente longas, no dorso, sobre um leque de tendões enrijados,
dançam-me arabescos escuros de veias turgidas; recobre-lhe as palmas uma crosta
áspera e acinzentada como pele de batráquio; os dedos finos, ósseos, compridos,
terminados em unhas córneas e pontiagudas, engraecidas como equimoses, ostentam
inúmeros anéis, falsos e verdadeiros. Mãos ferozes, convulsivas, astuciosas,
brutais e ávidas. Parecem sempre febris, frementes, animadas de estranha vida
como se cada músculo e cada nervo estivessem a receber continuamente a
excitação de uma agulha elétrica. Mãos que possuem hábitos horrendos, paixões
furiosas. Se se elevam no ar, traçam gestos de punhaladas, de estrangulamentos
de gorjas."
Ranulfo Prata
ressalta também seu cheiro forte e sua animalidade: "Não só ele como todos
os cabras têm fortes almíscar, cheiro ativo e acentuado de rancho de cigano.
Por onde passam, deixam o ar impregnado por longo tempo. E uma mistura de
sujeira de corpos e perfumes de variadas qualidades, com que ensopam cabelos e
lenços. Sátiro, dominado sempre de super-sexualismo, denunciador do desequilíbrio
somático evidente, tem uma amante famosa, que o acompanha, Maria Déa, de 20 e
poucos anos, cabocla simpática de cabelos negros..."
Com essas
transformações Lampião fornece aos jornais da época uma imagem que não foi
encontrada pelo Benjamin Abrahão Botto, a de "uma besta-fera, meio homem
meio animal, barbas e cabelos crescidos até quase o meio das costas, interna-se
nas caatingas e ataca as fazendas, incendeia, assassina, desonra e comete as
mais inconfessáveis barbaridades." - artigo do jornal sertanejo A
Voz de Pesqueira de 10 de abril de 1937 onde é mostrado claramente o tema da
monstruosidade visível.
O sertanejo
João Circinato, ex-fazendeiro originário de Vila Bela, que foi sequestrado por
Lampião durante algumas horas, descreve-lhe o rosto "onde transparecia seu
caráter demoníaco: "De cara que parecia a cara de cão; ele não era feio,
mas a cara dele matava todo mundo. [...] E a gente tinha até medo de encarar para
ele. Que era a cara de uma serpente, direitinho. Se ele tivesse com raiva era
com raiva e se não tivesse, era a mesma cara feia." - Cangaceiros invadem Serra
Talhada - Jornal da Cidade 09/11/1947.
Segundo Elise
Grunspan-Jasmin, os soldados "também sempre tiveram pavor do aspecto
físico de Lampião. Dizem que os autores ou os jornalistas da época insistem no
medo dos soldados diante do aspecto inquietante e mesmo demoníaco de Lampião
porque eles pertencem ao mundo "arcaico" do sertão, vítimas de todas
as superstições. Lampião sabe muito bem quem são seus adversários e quais são
as imagens e os aspectos de seu corpo e de sua personalidade que é preciso exibir
para atemorizá-los. Segundo seus autores, somente a civilização do litoral, religiosa,
mas não supersticiosa, "civilizada" e não "bárbara", tem os
meios psicológicos de se apropriar do corpo de Lampião e destruir sua
imagem."
Ranulfo Prata
nos diz textualmente que "Como todos os companheiros, traz longos cabelos
sobre os ombros, compondo assim, uma máscara que atemoriza os soldados, terror
que cresce nos tiroteios com os alaridos que fazem os cabras, relinchando,
zurrando, latindo, praguejando, chamando Deus e pelo diabo, a agitar. Furiosos
como íncubos, as cabeleiras, e a pular como símios. Os soldados crendeiros, que
têm nas almas as mesmas superstições, julgam que estão diante do sobrenatural,
empolgando-se de pavor, e quando não debandam contidos pela energia férrea do
comandante, tiram o olhar de semelhante espetáculo, e começam a atirar a esmo,
sem pontaria, com a cabeça enfiada entre os braços nervosos que empunham a arma
sem firmeza. Quando voltam dos encontros confessam, á puridade, sinceramente,
que na hora do fogo, os bandoleiros, como se tivessem rolado nos espojadouros
das mulas-de-padre, tinham virado demônios."
O artigo do Diário
de Pernambuco de 21 de janeiro de 1932 evoca o medo que inspira a aparência
selvagem de Lampião aos soldados das Forças Volantes: "Os que compõem as
tropas volantes lançadas nas catingas para combater o banditismo são filhos
desta zona calcada por tantas misérias e tantas provações. São homens cheios de
superstições e que se apavoram ante qualquer possibilidade de castigo de Deus.
Lampeão disso se aproveita. Indivíduos de cor escura, quase preta, mas de
cabelos corridos, o bandido não corta os cabelos e deixa-os cair sobre os
ombros. A maioria dos seus cabras imitam-no. Nos combates com as tropas, os
bandidos soltam gritos terríveis e relincham."
Realmente
podemos notar tanto pelos livros quanto pela imprensa, o forte mito que Lampião
e seus cangaceiros, tinham parte com o "tinhoso" e isso ajudava os
que não o viram pessoalmente, a formar a imagem de uma "besta-fera"
perdida nas caatingas do sertão. De tudo que está escrito, só podemos tirar
mesmo o parecer de expressão do mal e da dor de Lampião, através das poucas
fotografias que temos dele.
Abaixo, o
filme 14 minutos de Lampião. Esse filme não foi aceito pelas autoridades da
época pois traziam imagens de Lampião e seus cangaceiros, felizes e alegres nas
caatingas nordestinas, que era seu reino. Essas imagens não poderiam passar
para a imprensa e nem cair às mãos do povo.
14 minutos de filme de Lampião
Os jornais da
época, em suas matérias tendenciosas, aumentavam e muito as façanhas de
Lampião, para torna-lo um pária da sociedade, assim como é feito até hoje com
qualquer um que se atreva a ser contra a elite brasileira. As fotos abaixo
são do filme 14 minutos de Lampião. Não, o governo de Getúlio não poderia
aceitar essas imagens de alegria, de pessoas trajadas com o fardamento limpo e
inconfundível do cangaço e Lampião, seu comandante ditando ordens e organizando
sua tropa de homens corajosos.
Clique no primeiro link para ver uma boa parte das fotos de Lampião
Figura
responsável pelos mais preciosos registros iconográficos do Cangaço, Benjamin
Abrahão Botto conheceu de perto, por vários meses, a rotina de diversos bandos
cangaceiros, inclusive os dos notáveis Corisco e Lampião. Ele foi por muitos
anos secretário de Padre Cícero em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará, até
que com a morte do sacerdote em 1934, colocou em prática seu projeto mais
ambicioso: filmar e fotografar Lampião e seu bando.
Se
aproveitando da ligação de Lampião com Padre Cícero, Abrahão facilmente se
aproximou do cangaceiro. Lampião era uma figura extremamente vaidosa,
característica que o consolidava como Rei do Cangaço, se deixando acompanhar
pelo jornalista. O material coletado ao longo de cerca de 2 anos (1936 e 1937)
era de extrema preciosidade e foi recebido nas grandes metrópoles como um
verdadeiro escândalo. O Cangaço era uma ofensa ao Estado Novo de Getúlio
Vargas, que tratou de censurar e confiscar o registro de Benjamin.