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sábado, 3 de julho de 2021

PEDRA DO REINO

 Por Carlos Alberto

O cenário messiânico da Pedra do Reino, localizado na serra do Catolé, pertencente ao município de São José de Belmonte-PE: teve inspiração direta nas obras literárias de Araripe Júnior, José Lins do Rego e Ariano Suassuna. Resultante da visita durante a realização do Cariri Cangaço, em 2018. Salve!

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BARRAGEM

 Clerisvaldo B. Chagas, 2 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.567


Barragem é palavra comum para a maioria das pessoas, entretanto, para aqueles que nasceram e cresceram perto de uma delas, o significado e a amor são profundos.  Estar na barragem em Santana do Ipanema durante as cheias do rio, é assistir mais uma vez a ópera das águas que atrai a metade da população para o espetáculo. Cada cheia, uma corrida para apreciação como se fosse a primeira vez. Barragem com rio seco, é assoreada. Jardim formado pela Natureza nas areias grossas, na parte de cima. Na parte de baixo, pedregulho ligado às sete passagens das águas as quais os santanenses a identificam com as “sete bocas” da barragem. Mesmo com o rio seco, o lugar reflete nostalgia sem fim para os que a conhecem de perto.

(BOCAS DA BARRAGEM - DIVULGAÇÃO)

Muitos ali fazem convescotes. Outros sentam solitário nas suas bocas a meditar e beber. Lugar bom de pesquisar sobre a fauna e a flora, de acampar, de caminhar e de entender o que se procura da vida. Quando a barragem foi construída no início da década de 50, também formou uma casinha do outro lado do rio que originou o bairro do mesmo nome e que progrediu bastante e hoje está irreconhecível. O bairro dos cassacos (construtores de estradas) faz parte da BR-316, nela está enraizado e conta a epopeia da construção da rodagem antiga e da barragem que seria a grande fornecedora d’água para Santana. A barragem seca ou cheia sempre foi um ponto atrativo da cidade. A sua ponte continua sem nenhum retoque desde a construção. Coisa bem feita no tempo que os homens tinham vergonha.

Mas, para a exigência moderna, a ponte ficou estreita e as passarelas laterais amedrontam os pedestres, pois, além de estreitíssimas, têm baixa altura. Muitos transeuntes preferem esperar o trânsito momentâneo de automóveis, caminhões e carretas, para atravessarem correndo antes do próximo bicho de motor. Não é fácil porque a ponte é comprida igual a uma semana de fome.

Contudo, a velha barragem continua romântica e nostálgica como um idílio. Naturalmente algumas pessoas não conseguem enxergar doçura num monte de concreto. Mas, bem dizem os que entendem, “os poetas enxergam diferente”.

Fazer o quê?


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VOLANTE UTILIZANDO OS DESPOJOS DE LAMPIÃO.

 Por Cultura Nordestina

Na sociedade rural Nordestina o tamanho da Lâmina das facas era um indicativo do Poder que o sujeito detinha. Não apenas Cangaceiros, mas coronéis e figuras políticas utilizavam facas de Longas Lâminas. O Punhal de Lampião detinha uma lamina de 67cm de comprimento, mais parecendo uma espada.

Créditos da imagem: O Cangaço na Literatura

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LANÇAMENTO.

 Por Geraldo Júnior

Acaba de ser lançada a segunda edição do livro "CANGAÇO: BIBLIOGRAFIA COMENTADA" de Melchíades Pinto Paiva.

Uma obra que faz uma análise detalhada e criteriosa a respeito de outras diversas obras literárias sobre o tema cangaço.

Para adquirir é só entrar em contato através dos telefones:

(83) 99911-8286 - Professor Francisco Pereira Lima

franpelima@bol.com.br

ou ainda:

(85) 99987-1646 - Ângelo Osmiro Barreto

Adquiriam.

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MONTAGEM

 Por Helton Araújo

Do mesmo jeito que fiz uma montegem de cangaceiros, agora fiz uma das volantes. Antes que digam que tem mais personagens na foto dos volantes, o motivo é o seguinte : Para eles se tem mais opções de fotos em melhor resolução.

Espero que gostem dessa edição.

Da. Esquerda para direita em primeiro plano :

Odilon Flor, Zé Rufino, Mané Neto, Manoel Flor, João Bezerra

Segunda linha mais acima da esquerda para direita :

José Lucena, Teófanes Ferraz Torres, Antônio Jacó, Luiz Mariano, Euclides Flor, Sinhozinho Alencar, Chico Ferreira e Liberato de Carvalho.

Edição : Helton Araújo

Cangaço Eterno

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NA TRILHA MALIGNA DO CRACK

 Por Archimedes Marques

Para produzir o crack, usam-se a borra da pasta base da cocaína, ou seja, o lixo da cocaína que é diluída em solventes e misturada a outros produtos químicos. O ácido sulfúrico está entre eles. Outra substância com capacidade parecida de destruição é o ácido clorídrico que, quando inalado, pode causar ferimentos graves na garganta e na boca do usuário. Também são usados  bicarbonato de sódio ou amônia, a cal virgem e a gasolina ou querosene que manipulados se transformam em uma espécie de pedra meio tenra facilmente quebrável, de cor branca caramelizada e de boa combustão, para daí entrar no comércio negro do tráfico de drogas ilícitas e proibidas.

O usuário ao fumar toda essa parafernália aspira o vapor venenoso para dentro de seus pulmões, entrando em conseqüência na sua corrente sanguínea. Como o crack é inalado na forma de fumaça e possui toda essa gama de produtos químicos altamente nocivos à saúde de qualquer ser vivo, ele chega ao cérebro muito mais rápido do que a cocaína ou de qualquer outra droga, causando também um malefício mais abrangente para o usuário que sempre vicia a partir do primeiro experimento.

A ação do crack atua sobre o sistema nervoso central, provocando aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, dilatação das pupilas, suor intenso, tremores, excitação. Os usuários apresentam problemas no sistema respiratório como congestão nasal, tosse e sérios danos nos pulmões. A droga também pode afetar o trato digestivo, causando náuseas, dores abdominais, perda de apetite com conseqüente excessiva eliminação de peso e desnutrição.

Os efeitos psicológicos imediatos do crack são a euforia e a sensação de poder. Com o uso constante da droga, aparecem cansaço intenso, forte depressão e desinteresse sexual. Em grande quantidade, o crack pode deixar a pessoa extremamente agressiva, paranóica e fora da realidade, como se estivesse em outro mundo, noutra vida. O cuidado pessoal do usuário passa a não mais existir e sua autoestima rasteja aos mais baixos níveis.

A droga destrói os neurônios e promove a degeneração dos músculos do corpo, fenômeno conhecido na medicina como rabdomiólise, causando a aparência esquelética no indivíduo, com ossos da face salientes, pernas e braços  finos e costelas aparentes.

O usuário do crack pode ter convulsão e como conseqüência desse fato, pode levá-lo a uma parada respiratória, coma ou parada cardíaca e enfim, a morte. Além disso, para o debilitado e esquelético sobrevivente seu declínio físico é assolador, como infarto, dano cerebral, doença hepática e pulmonar, hipertensão, acidente vascular cerebral (AVC), câncer de garganta e traquéia, além da perda dos seus dentes, pois o ácido sulfúrico que faz parte da composição química do crack assim trata de furar, corroer e destruir a sua dentição.

O crack vai destruindo o seu usuário em vida ao ponto dele perder o contato com o mundo externo, se tornando uma espécie de zumbi, ou morto-vivo, movido pela compulsão à droga que é intensa e intermitente. Como os efeitos alucinógenos têm curta duração, o usuário dela faz uso com muita freqüência e a sua vida passa a ser somente em função da droga.

Além dos citados problemas de saúde que recaem para os usuários do crack, as ocorrências no seu terreno familiar e social sempre passam para a área criminal e vão caminhando rapidamente em largas vertentes para dias piores. A vida vivida pelos envolvidos com o vício do crack parece sempre transpor os inimagináveis pesadelos, pois do crack e pelo crack são capazes de praticar qualquer crime.

Na trilha maligna do crack, o seu usuário encontra o desencanto, a dor, a violência, o crime, a cadeia, a desgraça e o cemitério precocemente. O crack traz o ápice da insanidade humana. Alguns que se recuperaram do poder aniquilador do crack disseram que dele sentiram o gosto do inferno.

Por sua vez, apesar de tudo isso, apesar dessa realidade brutal e com perspectivas de piorar ainda mais com a sua crescente problemática, sentimos o poder público ainda meio tímido, sem verdadeira vontade política para debelar tal situação, assertivas essas comprovadas pelo andamento de alguns projetos que já se mostraram ineficientes e outros que se mostram apenas paliativos em ação.

É fácil de concluir que o perfil da sociedade brasileira se transformou e os problemas familiares, sociais, da saúde e da segurança pública mudaram consideravelmente para pior a partir do advento do crack. Dentro desse contexto também cresceram e continuam crescendo todos os índices de crimes possíveis, destarte os crimes de furto, roubo, latrocínio e homicídio.

Assim, por justo o povo clama por solução adequada, por remédio curativo, não paliativo. Projetos verdadeiros e efetivos devem entrar em ação com urgência urgentíssima, pois os problemas deixados na maligna trilha do crack crescem em proporções geométricas e atingem em cheio a nossa sociedade.

Archimedes Marques é Delegado de Policia no Estado de Sergipe. Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Segurança Publica pela Universidade Federal de Sergipe. Email archimedes-marques{at}bol.com.br

https://www.ecodebate.com.br/2011/01/13/na-trilha-maligna-do-crack-artigo-de-archimedes-marques/

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LAMPIÃO EM NOSSA SENHORA DAS DORES

 Por Archimedes Marques

Lampião entrou pela primeira vez na cidade de Nossa Senhora das Dores, em Sergipe, no dia 25 de novembro de 1929 em ação considerada amistosa, ou seja, bem diferente do que ocorrera dias depois quando impiedosamente atacou a cidade de Queimadas na Bahia assassinando fria e covardemente sete indefesos soldados da polícia militar local, então aprisionados e imobilizados, em fatídico dia 22 de dezembro daquele ano, data essa que ficou marcada para sempre como sendo das maiores atrocidades praticadas pelos cangaceiros nas terras nordestinas.

Em Nossa Senhora das Dores, como sempre fazia Lampião quando iniciava as suas investidas criminosas chegando à determinada cidade, seqüestrou e manteve como sendo seu prisioneiro o vaqueiro de uma fazenda das cercanias da Serra do Besouro para que o mesmo servisse de guia para o bando composto então de sete cangaceiros sob o seu comando, vez que antes, estrategicamente, ali mesmo, para despistar e confundir as autoridades locais dividiu os grupos colocando-os sob os comandos de Corisco e Zé Sereno que então seguiram pela Serra do Boqueirão e adjacências

A ação inicial do bandido Lampião sempre objetivava extorquir os mais abastados cidadãos mediante ameaça de invasão, saque às casas comerciais, dentre outros tantos crimes que em decorrência da violência usada pelos cangaceiros por certo ocorreriam caso não fosse atendido.

A cidade vivia um dia de feira como tantos outros dias de feira que antecederam aquela data, entretanto, a chegada de Lampião fez aquele dia de feira diferenciado e tornou um verdadeiro pandemônio entre toda a população dorense, pois só o seu nome fazia tremer o mais valente dos valentões. A exemplo dos outros lugares, muitos correram a se esconder e outros mais corajosos e/ou curiosos aglomeraram-se para ver de perto o famoso bandoleiro sanguinário que tanto aterrorizava os nordestinos. Não distante do seu modus operandi, Lampião mandou dois cangaceiros até o alojamento da polícia militar onde se encontrava apenas dois praças que logo foram convencidos a não reagirem sob pena de morte, enquanto outro bandido tomou conta do telegrafo para que não fosse passada nenhuma mensagem para as cidades circunvizinhas. Com o restante do grupo, Lampião dirigiu-se até a residência do Padre João de Souza Marinho – pároco que atuou em Nossa Senhora das Dores de 1928 a 1933 e que foi o responsável pela inauguração da bonita e majestosa Igreja Matriz dessa cidade em 1930 – e depois de pedir a benção ajoelhado aos pés do vigário e de ser abençoado, o próprio Padre também passou a ser usado pelo cangaceiro chefe na sua trama criminosa. A partir de então o Padre Marinho ficou encarregado juntamente com o Intendente do Município, Coronel Manoel Leonidas Bomfim, de arrecadar junto à sociedade local a vultosa soma de cinqüenta contos de reis para que não houvesse derramamento de sangue, violência excessiva ou crimes diversos entre o povo dorense. Entretanto, essa quantia exigida não foi alcançada pelos involuntários arrecadadores da extorsão. Alguns dizem que fora arrecadado somente a metade do exigido, outros, porém, alegam que a quantia não passou de oito contos de reis. De uma maneira ou de outra, o fato é que de pronto a soma que não era pouca fora aceita pelo chefe dos bandidos, embora conste da história que, além disso, houve pequenos saques a algumas lojas comerciais. Na loja de Pedro Vieira Teles, mais conhecido por Mestre Pedrinho Alfaiate, alguns cangaceiros se apossaram de vários pares de meias, assim como também, tomaram à força algumas peças de tecidos e perfumes na loja de Manoel Leônidas. Houve momentos de algazarra na loja de Manoel Jose de Jesus logo contidos por interferência de Lampião que inegavelmente exercia grande voz de comando perante os seus asseclas.

Segundo consta das pesquisas do escritor Ranulfo Prata realizadas na própria época dos acontecimentos, os cangaceiros encantando-se com a beleza das moças da cidade pediram permissão a Lampião para organizarem um baile no sentido de haver um pouco de diversão, fato esse não concretizado em virtude da intervenção de terceiros. Desse ocorrido, complementa as pesquisas o escritor e advogado Jose Lima Santana, tendo inclusive entrevistado o Mestre Pedrinho anteriormente citado, asseverando que o cangaceiro que sugeriu o baile teria sido o jovem Volta Seca que na época contava com pouco mais de onze ou doze anos de idade, ao passo que quem teria contestado o pedido fora o escrivão Cotias e/ou o Coronel Figueiredo, entretanto, de um jeito ou de outro, o fato é que Lampião, além de não concordar com a realização da festa ainda mandou que Volta Seca refreasse o seu ímpeto de gaiatice e se mantivesse sem sair, como espécie de castigo, dentro da “marinete” pertencente a Joel Barreto de Souza, mais conhecido por “seu Jóia”, até que tudo terminasse.

E assim Lampião realizou a sua primeira visita de forma supostamente complacente a cidade de Nossa Senhora das Dores, tendo daí seguido viagem para Capela no automóvel pertencente a Otacílio Menezes, enquanto que os demais cangaceiros seguiram na citada “marinete” do “seu Jóia”. Em Capela, igualmente de forma “amistosa” e até assistindo um filme no cinema local, Lampião novamente conseguiu êxito na sua extorsão e ali também não houve derramamento de sangue, como de igual modo não houve em Aquidabã, a cidade seguinte dessa trina visita indesejada realizada pelo seu criminoso bando.

Seguindo o adágio popular de que “brasileiro só fecha a porta depois de roubado”, assim a cidade de Nossa Senhora das Dores fechou a sua. A Intendência Municipal que hoje é equiparada a Prefeitura contratou alguns corajosos homens para servirem de guardiões, de protetores da população. Das pesquisas realizadas nos arquivos municipais pelo escritor Jose Lima Santana ficou constatado através do achado das folhas de pagamento da época que Enock Menezes Campos, Pedro Francisco Dantas, Antonio Pedro dos Santos, Brasilino Vieira Ludugero, João Andrade e Arnaldo Gomes recebiam dinheiro mensalmente para dar segurança a população dorense, ou seja, uma espécie de guarda municipal armada pronta para matar e morrer em combate se preciso fosse.

Infelizmente esse exemplo não foi seguido por outros municípios e quase um ano depois o bando de Lampião fez a mesma incursão a essas três cidades, só que em sentido inverso, ou seja, Aquidabã, Capela e Nossa Senhora das Dores. Desta feita a visita de Lampião, além de indesejada não fora nada amistosa, muito pelo contrário, houve atrocidades diversas com rios de sangue e lágrimas em toda a sua trajetória.
Quando o bando de Lampião entrou na cidade de Aquidabã, o ínfimo contingente policial fugiu às pressas deixando as pessoas totalmente desprotegidas e nas garras dos cangaceiros. Jose Custódio de Oliveira, mais conhecido por Zé do Papel fora arrastado ruas acima e em frente a um armazém próximo da praça principal da cidade teve a sua orelha decepada a golpe de faca pelo próprio Lampião, depois do bando ter praticado saques no comércio local e tantos outros crimes de torturas contra pessoas amedrontadas, dentre os quais o assassinato de um débil mental de nome Souza de Manoel do Norte, mais conhecido por Abestalhado, sem esquecer que o endiabrado cangaceiro Zé Baiano pegou o roceiro Eduardo Melo e após espancá-lo com o coice do seu fuzil, também cortou a sua orelha seguindo o exemplo do seu chefe. Zé do Papel ainda viveu por muito tempo e viu o cangaço se acabar e seu carrasco morrer, entretanto, o Eduardo Melo não teve a mesma sorte e faleceu cerca de um mês depois da perversidade sofrida.

De Aquidabã o bando seguiu para Capela, mas aí a população fora avisada com antecedência e se armou para enfrentar os bandidos que não conseguiram transpor as barreiras bem articuladas pelos bravos cidadãos capelenses. As noticias das atrocidades em Aquidabã e da resistência em Capela logo se espalharam via telegrafo tal qual rastilho de pólvora. Assim, a cidade de Nossa Senhora das Dores que já estava guarnecida pelos seguranças contratados pela Intendência Municipal também ganhou reforço da própria população que se armou do jeito que pode para aguardar o facínora. O calendário marcava o dia 15 de outubro de 1930 quando o bando agora com 18 componentes pisou pela segunda vez as terras de Nossa Senhora das Dores. Lampião estava de tudo furioso, “soltando fogo pelas ventas” tal qual um imaginário dragão da Idade Média, pois além da derrota sofrida em Capela, também sabia que ali as trincheiras o aguardavam.

Além de ser um excelente estrategista, um verdadeiro general maléfico das caatingas, Lampião tinha uma eficiente rede de informações. Assim, chegou ao subúrbio Cruzeiro das Moças, por volta das 20:00 horas daquele dia, e temendo reação idêntica à de Capela, dirigiu-se à casa de Jose Elpídio dos Santos, filho de José Raimundo das trincheiras, justamente um dos guardiões contratados para defender a cidade. O seu objetivo era saber onde estavam montadas as trincheiras, a quantidade homens existentes, suas armas e munições dentre outros informes, entretanto, o interpelado cidadão reagiu soberbamente e não traiu os entrincheirados nem tampouco o povo de Nossa Senhora das Dores, fato que valeu a sua própria vida depois de barbaramente torturado em vão para delatar os seus conterrâneos dorenses. Do brutal assassinato de Jose Elpídio dos Santos fora gerado o único Processo Criminal contra o famigerado Lampião no Estado de Sergipe.

Consta das informações coletadas e colacionadas no referido Processo Criminal que a vítima Jose Elpídio dos Santos após ser sequestrada fora amarrada em um dos cavalos que serviam de montaria ao bando seguindo junto com os cangaceiros pelas cercanias da cidade. Na bodega pertencente a Manoel Martins Xavier, mais conhecido por Santo Bodegueiro, que por sinal não se encontrava presente no momento, houve saque e até o sequestro da sua mulher, Sergina Maria de Jesus, também conhecida por Constância, deixando os seus filhos pequenos sozinhos, sem os cuidados maternos pelo resto daquela noite.

Na Fazenda Candeal Lampião e a sequestrada Sergina Maria de Jesus dormiram no mandiocal, um amarrado ao outro, ou seja, os braços dela amarrados a uma das pernas dele, enquanto os outros cangaceiros e o sequestrado Elpídio dormiram na beira da estrada, todos próximos uns dos outros.

Na madrugada de 16 de outubro, após varias tentativas de obter informações não conseguidas, Lampião matou Elpídio e mandou Sergina voltar para casa. No laudo de corpo cadavérico anexado ao referido Processo Criminal, consta que o corpo da vítima estava perfurado a balas, e havia, ainda, um "rendilhado" de punhal. Os dedos das mãos, sob as unhas, estavam perfurados e a barba estava queimada. Ou seja, tal documento comprova que Lampião e seu bando torturaram Elpídio, antes de matá-lo, com requintes crueldade e covardia. A vítima preferiu morrer a delatar o seu pai e os demais guardiões da cidade. Um homem de coragem e determinação sem dúvida. Um homem que apesar de todo o atroz sofrimento que viveu não ficou no rol dos traidores do seu povo. Um homem que merece ser mais bem reconhecido pelas Autoridades constituídas de Nossa Senhora das Dores da atualidade.

Das pesquisas também consta que fora assassinado nesse trajeto um pobre rapaz, que era alienado mental, na saída do povoado Taboca. Dito rapaz, não identificado, teria na sua insanidade mental mexido com o cavalo de Lampião, segundo dizem, e por isso fora barbaramente executado a tiros pelos bandoleiros sem dó ou piedade.

Consta das grandes atrocidades que ficou para sempre marcada na história cangaceira, a castração do cidadão Pedro José dos Santos, vulgo Pedro Batatinha, que vinha da Malhada dos Negros, a fim de arrancar um dente em Nossa Senhora das Dores. Após ser imobilizado, de um só golpe em amolada faca foi decepado os seus testículos por um covarde cangaceiro aos olhares e risos dos seus colegas comandados por Lampião.

O pobre do Batatinha, enfim, fora socorrido  e encaminhado para Aracaju, onde o Dr. Belmiro Leite tratou do seu grave ferimento. Batatinha escapou e, segundo informações colhidas, morreu, na década de 1990, em São Paulo, por sinal casado, embora sem notícias de que o mesmo realizava as suas obrigações sexuais. Além de Ranulfo Prata e Jose Lima Santana, outros autores que escreveram sobre o cangaço registraram o fato da covarde e cruel capação de Batatinha.

Com a divisão efetiva do grupo de cangaceiros por Lampião em virtude da prisão de Volta Seca em 18 de fevereiro de 1932, formaram-se subgrupos chefiados por Corisco, Zé Baiano, Zé Sereno, Labareda e Pancada, sendo que cada um deles tinha o seu campo delimitado de atuação. Assim, o cangaceiro baiano de Chorrochó, Jose Ribeiro Filho, mais conhecido por Zé Sereno, ficou atuando criminosamente nas terras de Nossa Senhora das Dores e adjacências. Dentre as batalhas travadas pelo bando de Zé Sereno com populares, resistentes ou com a polícia volante, há de se destacar o “Fogo do Salobro”, no qual um dos cangaceiros, o Lírio Roxo, foi morto e decapitado, e o “Fogo do Cajueiro”, combate de bravura e resistência ocorrido no final da década de 30, bem próximo a chacina de Angico ocorrida em 28 de julho de 1938, cujo fato é hoje destaque no Projeto Memórias muito bem coordenado pelo historiador João Paulo Araujo de Carvalho na cidade de Nossa Senhora das Dores, sendo inclusive tema de um filme com o mesmo título em longa metragem que está sendo rodado com a participação de abnegados artistas da terra. Consta das pesquisas desse dinâmico jovem professor, escritor, historiador e porque não dizer também cineasta – com a ajuda inequívoca de outros participantes do Projeto Memórias, destarte para o incansável trabalho do artista plástico e historiador Manoel Messias Moura – em entrevistas diversas com os moradores mais antigos das localidades dorenses, em especial, a história contada por dona Isaura Lopes Clementino, testemunha viva do fato que em breve fará 99 anos de idade. Do seu relato observa-se que o seu pai, João Clementino, que anteriormente, no município de Triunfo em Pernambuco tivera um entrevero com Lampião, desta feita, então residente na Fazenda Cajueiro de propriedade do seu compadre o Coronel Vicente de Figueiredo, mais conhecido como Coronel Vicente da Tabúa, homem poderoso dono de cinco fazendas naquele município além de outras em Gararu e Aquidabã resistiu com a ajuda inequívoca dos seus amigos a um ataque de Zé Sereno e seus sequazes comandados, entrincheirados dentro da casa sede dessa fazenda, bravamente lutando e contra-atacando os bandidos à bala, através das famosas “torneiras” então existentes nas largas paredes de tal prédio. Do Fogo do Cajueiro há também de se destacar a coragem e a destreza de Pedro Clementino, filho de João Clementino e irmão de Isaura Clementino que inclusive chegou a salvar a vida do Coronel Figueiredo.

O rude Coronel Figueiredo que tinha verdadeira ojeriza a ladrões a ponto de torturá-los dentro da prensa de fazer os fardos de algodão – produto abundante nas suas terras – desse dia em diante passou a mais ter ódio aos bandidos, em especial ao bando chefiado por Zé Sereno. Apesar do grupo de Zé Sereno ser composto por somente cinco homens, fizeram os mesmos um grande estrago na Fazenda Cajueiro, vez que não conseguindo romper a resistência, mataram como vingança aproximadamente uma dúzia de vacas que estavam nas cercanias da casa.
O tema cangaço que tem sido recorrente nas pesquisas do Projeto Memórias, resgata não somente a história de Nossa Senhora das Dores, mas também alarga a história de Sergipe, pois além de tudo gera resultados na produção de artigos, documentários, filmes e discussões com o povo que por certo abraça essa idéia e que no futuro próximo pode gerar rendas e dividendos para muitos quando colocar de vez o seu município na rota de turismo do cangaço.

Foi dentro desse contexto que Lampião pela terceira vez aportou em Nossa Senhora das Dores, desta feita no último dia 31 de agosto de 2012, com o livro LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE. Aos abnegados pesquisadores e historiadores, resgatadores da história cultural dorense, João Paulo de Araújo de Carvalho e Manoel Messias Moura que comandam o Projeto Memórias, exaro a minha eterna gratidão em poder dispor a minha obra literária e apresentar uma palestra bem movimentada a um público de pessoas interessadas e cultas que superlotou a galeria da Câmara Municipal nesse glorioso e inesquecível dia.

Do Projeto Memórias e das suas conseqüências relacionadas ao cangaço é trazido a tona fatos de relevância histórica até então desconhecidos da maioria, pois o que se sabia desse tempo de luta, sangue, dor e lágrimas em solo dorense, era somente que o seu povo apenas teria se humilhado aos pés de Lampião – o que de fato ocorrera quando da sua primeira visita a cidade sede – entretanto, conforme o dito, disso gerou reação e resistência comprovando assim a força, a pujança, a determinação, a bravura de homens que eram capazes de darem as suas próprias vidas em defesa dos seus propósitos como assim o fez Jose Elpídio dos Santos, sem dúvida um herói, um mártir ainda não reconhecido por Nossa Senhora das Dores.

Archimedes Marques (Escritor e Delegado de Policia Civil no Estado de Sergipe) archimedes-marques@bol.com.br

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.

 https://infonet.com.br/blogs/lampiao-em-nossa-senhora-das-dores/

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EXCELENTE CORDEL SOBRE A CANGACEIRA ARISTEIA SOARES DE LIMA

 Por João de Sousa Lima


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RANULFO PRATA - ESCRITOR DO TEMA CANGAÇO

Por Beto Rueda

Ranulpho Hora Prata nasceu em 4 de maio de 1896 na cidade de Lagarto, Sergipe. Filho do Coronel Felisberto da Rocha Prata e Ana de Vasconcelos Hora.

Iniciou os estudos primários no colégio Camerino em Estância, Sergipe. Certificou-se do curso ginasial em Salvador. Ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia onde estudou até o quarto ano. Concluiu o curso no Rio de Janeiro, em 1919.

Formado foi para Minas Gerais e clinicou na cidade de São Tomás de Aquino e no interior de São Paulo, na cidade de Mirassol. Conheceu e casou-se com dona Maria da Glória Prata nessa cidade em 1923.

Retornou ao Rio de Janeiro em 1925, por curto período. No mesmo ano mudou-se para Aracaju e implantou o serviço de radiologia do Hospital de Cirurgia. Em 1927 transferiu-se para Santos como radiologista na Santa Casa de Misericórdia e da Benefiência Portuguesa.

Colaborou com artigos em jornais e revistas da época. Escreveu várias obras como "O Tropeiro, 1916", "O Triunfo, 1918", "Dentro da vida, 1922", "A Longa Estrada, 1925", "O Lírio na Torrente, 1927, o qual ganhou o prêmio de melhor romance pela Academia Brasileira de Letras, "Lampião, 1934" e "Navios Iluminados, 1937". É Patrono da cadeira sete da Academia Sergipana de Letras e da cadeira vinte e três da Academia Santista de Letras.

Médico, escritor, romancista, contista, historiador, conferencista, faleceu de tuberculose aos 46 anos na cidade de São Paulo em 1942.

REFERÊNCIAS:

PRATA, Ranulfo. Lampião. 2. ed. São Paulo: Editora Piratininga, 2010. (Fac-símile de 1934).

GASTÃO, Paulo Medeiros. Quem é quem no cangaço. Natal: Sebo Vermelho, 2013.

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QUEM SÃO?

Por Adauto Silva

Amigos, essa a escritora Aglae Lima de Oliveira e o Cangaceiro Pássaro Preto… Obrigado a todos pela participação.

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