Foi uma manhã de outono como outra qualquer. No aspecto climático, pelo menos. No entanto algo estava estranho. O lugar era diferente do quarto que até então eu ocupara naquele hospital.
Estava num jardim arborizado onde pessoas caminhavam despreocupadamente e aparentavam felicidade. Confuso, eu tentava entender onde estava e o que fazia ali. O dia estava claro e uma brisa suave soprava de quando em vez causando-me sensação de frescor no rosto enquanto eu caminhava tentando reconhecer aquele lugar.
As pessoas continuavam a passar por mim e eu as olhava no rosto procurando reconhecê-las sem êxito. Quem eram aquelas pessoas? O que eu estava fazendo ali?
Após caminhar por algum tempo, finalmente deparei com alguém que me era familiar. Ao aproximar-me, e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, fui saudado de maneira gentil e entusiástica por aquele homem.
- Amado Mestre! Seja bem vindo! Estávamos todos aguardando sua chegada.
- Seu Rolando Lero! Que bom vê-lo aqui. Você parece bem disposto.
- Sou bem tratado aqui, Mestre, aliás, todos nós somos bem tratados aqui. O senhor também será.
- Todos nós? A quem você se refere, homem?
- Nós! Todos nós que deixamos a escolinha e vivemos aqui. Estávamos todos esperando sua chegada para finalmente começarmos nossas aulas.
- Deixe de conversa fiada! Quer dizer que todos os alunos da escolinha do Professor Raimundo que faleceram estão reunidos aqui? Esperando por mim? Isso é sério?
- Sim, amado Mestre. Estávamos todos à sua espera. Vamos. Venha comigo.
- (Vai comendo, Raimundo...)
Seguindo por uma alameda ladeada por amendoeiras, logo chegamos ao prédio onde, segundo Rolando Lero, os demais alunos esperavam ansiosos pela minha chegada.
Ao adentrar na sala, dei de cara com Dona Bela e com alegria exclamei: “Dona Bela, é um enorme prazer encontrá-la novamente (abrindo os braços para mensurar o tamanho do prazer). Imediatamente Dona Bela deu um grito, atirou-se no chão esperneando e dizendo. “Safado! Ainda continua pensando... Naquilo!”
O próximo que avistei foi “seu” Joselino Barbacena e, bastando que eu apenas olhasse na sua direção, imediatamente falou: “ Ai, meu Jesus Cristinho, até aqui ele já me descobriu... Larga d’eu, homem.”
- Sandoval Quaresma. Quanto tempo! Como o senhor veio parar aqui?
- Sandoval retrucou: Agora é que eu me estrepo. Não sei professor.
- Seu Eustáquiooo!!! Que satisfação revê-lo, homem.
- Aqüi. Qüe qüeres? Respondeu perguntando seu Eustáquio.
Eu estava ali extasiado revendo meus antigos alunos. Todos reunidos. Que maravilha!
- Seu Bertoldo Brecha. Tem um tempão que não o vejo.
- Veeeenhaaaaa.... Professor... Veeeenhaaaaa....
- Seu João Bacurinho, corinthiano doente.
- Tamos aí, professor. Orra, meu!
- Seu Baltazar da Rocha... grande Baltazar...
- Que é que há-lho?
- Seu Samuel Blaunstein. O senhor faz pouco tempo que nos vimos não?
- Fazemos qualquer negócio, Raimundo.
- Seu Galeão Cumbica. Quanta saudade!
- No aaaaaaarrr!!!! Atenção senhores passageiros....
- Dona Catifunda... Ainda fumando esse charuto...
- Saravá, professor... Saravá...
- Ah! Esse é um amigo do peito. Faço questão de abraçá-lo. Como vai, seu Mazarito?
- Nooooffaaa, Professor... quanto tempo!
- Seu Pedro Pedreira... Até o senhor está aqui. Que honra para mim.
- Há controvérsias. Me convença. Eu quero provas.
- Queridos alunos, quero manifestar a minha felicidade por reencontrá-los. Se por um lado deixei entes queridos e amigos chorando pela minha partida, por outro sinto-me imensamente feliz por estar aqui com todos vocês. E vamos começar a aula.
- O assunto de hoje não poderia ser outro senão o tempo que tempos de vida na Terra que é, oh...