Por: Rostand Medeiros
José
Rabelo Meira de Vasconcelos – 27/09/1922 – 30/03/2013
Lamentamos
informar que faleceu José Rebelo Meira de Vasconcelos, veterano
piloto de caça da Força Aérea Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. O
Comandante Meira participou de 93 missões de combate nos céus da Itália.
Tive
oportunidade de apertar sua mão e conversar um pouco com ele alguns anos atrás
aqui em Natal. Pessoa séria, mas altamente acessível, simples, de ótimo trato e
que em nenhum momento se mostrava com algum arroubo de heroísmo.
Em Natal-RN no
ano de 2008
Ao lhe
comentar que gostaria de escrever sobre a vida de um ex-combatente na época da
guerra, elogiou a iniciativa e disse-me uma coisa que não esqueci; “Que as
memórias da guerra jamais deveriam ser esquecidas, para que não se repetissem.
Mas que jamais deveria ser enaltecido para tornar alguém um herói”.
Conheci alguns
pracinhas da FEB que também traziam na mente o mesmo pensamento.
Quando conheci
o veterano norte-americano Emil Anthony Petr, que foi navegador de radar de um
bombardeiro B-24 da USAAF, que tinha a sua base na Itália, completou 39 missões
de combate pela 15ª Air Force e passou oito meses prisioneiros dos nazistas, a
primeira coisa que ele me pediu foi que nunca o tratasse como um herói, pois
isso ele não havia sido de forma alguma. Deste encontro nasceu o nosso livro
intitulado “Eu Não Sou Herói-A Biografia de Emil Petr”, lançado ano passado.
Percebi que as
pessoas que participaram e vivenciaram o maio conflito da história da
humanidade, conforme a idade avança, possuem o desejo que aqueles fatos sejam
conhecidos, para que eles não se repitam. Mas não desejam de forma alguma serem
tratados como heróis.
Reproduzo
matéria do jornal O Estado de São Paulo, publicada em 25 de agosto de 2012,
onde o Comandante Meira comentou sobre a sua experiência durante a Segunda
Guerra Mundial.
“Se eles fossem
descobertos, seriam fuzilados por alemães” – Depoimento: José Rebelo Meira de
Vasconcelos, major brigadeiro da FAB e piloto de caça.
Por que alguém
bota sua família em risco por um sujeito que nunca viu na vida? Meu colega foi
abatido, saltou em território inimigo e ficou escondido na casa de uma família
italiana. Se eles fossem descobertos, seriam fuzilados por alemães. Não consigo
entender. Essa pergunta fica até hoje na minha cabeça: por que eles ajudavam?
Porque o fascista não perdoava: ia a família inteira. Anos depois, a Franca,
que era a jovem que cuidou do meu amigo, veio nos ver no Brasil. Nós éramos
todos jovens e voluntários. Todos.
Eu era
instrutor de pilotagem da Escola da Aeronáutica quando abriu o voluntariado
para o 1.º Grupo de Aviação de Caça. Cumpri 93 missões durante a 2.ª Guerra
Mundial. Minha primeira missão foi um passeio. Eu era o número quatro da
esquadrilha. Normalmente, o mais novo era o último que mergulhava. Ia sempre
atrás do seu líder. É claro que todo mundo sabia que ia levar tiro. Não podia
passar pela cabeça de ninguém que você ia para um negócio daqueles (guerra) sem
acontecer nada. Mas o tiro a gente não via. Você ouvia o barulho: páááááá. Não
dava nenhuma sensação. Naquele momento, sua cabeça estava preocupada com a missão
a realizar.
P-47 do
Comandante Meira na Itália
Eu me lembro
do dia em que fui atingido. Deve ter sido por uma granada de 20 mm. Num
determinado momento, o comandante da esquadrilha disse: “See, atenção, vamos
fazer um break para a direita de 90°”. O break era uma curva fechada porque
estávamos com um campo de vida franca pela frente. Campo de vida franca era um
campo de aviação. Era um terror, pois eles eram tremendamente defendidos. Esse
break era justamente para sair de lá. Mas me esqueci de que havia uma pista
nova nessa base e, quando acabei minha curva, vi na minha frente aquela faixa
preta das explosões. Aí eu já levei uma cacetada direto – baaaannnn -, que
quase joga o avião no chão. Joguei fora o tanque extra e colei no chão para
voar o mais baixo possível e fugir da artilharia antiaérea. O avião (P-47) era
um monstro, era uma coisa inacreditável de forte.
Eu voei no
último dia da guerra. Tudo já estava praticamente decidido. Sabia-se que ia
haver uma parada do alemão. Nesta missão, foram dois pilotos: eu e meu ala. A
ordem era fazer reconhecimento armado, como a gente chamava, sem atirar. Só o
faríamos se fôssemos alvejados pelo inimigo. Mas, na realidade, quando chegamos
estava todo mundo na rua. Todos com lenço, aquela euforia maluca de que a guerra
tinha acabado. Milhões de pessoas tinham ido embora, mas o resto estava salvo.
Voamos baixo. A gente passava, todos faziam sinal com a mão. Foi como se fosse
um 7 de setembro. / M.G. e E.F.
Extraído do blog do historiógrafo e pesquisador do cangaço:
Rostand Medeiros
http://tokdehistoria.wordpress.com/