Por José Mendes Pereira
Uma das
figuras mais emblemáticas do jornalismo do Rio Grande do Norte, sem sombra de dúvida, foi o jornalista Francisco Canindé Queiroz e Silva, ou simplesmente Canindé Queiroz, como era mais conhecido em todo o Estado, e principalmente, em sua cidade de origem - Mossoró.
O jornalista esteve à frente de várias empresas na cidade, e algumas delas, fazia parte da sociedade, como por exemplo, FITEMA, que durante muitos anos, sustentou uma porção de funcionários nesta empresa de fiação e tecelagem.
Fundou no dia 30 de abril de 1977, a GAZETA DO OESTE, um jornal no interior do Rio
Grande do Norte, e posteriormente, fundou a Rádio Gazeta do Oeste.
No dia 26 de maio de 1989 registrou o seu nome na Academia
Mossoroense de Letras, Cadeira nº 32, sendo patrono patrono Manoel de Almeida
Barreto.
Clique aqui: https://www.uern.br/museu/default.asp?item=museu-historia
Eu nunca fui funcionário do Jornal Gazeta do Oeste, mas, não por muito tempo, tive a oportunidade de fazer horas extras na gráfica daquele extinto jornal, e fui apresentado ao diretor Canindé Queiroz pelo então companheiro José Ferreira, posteriormente conhecido o "Ferreira da Gazeta", porque antes, na Casa de Menores Mário Negócio, nós fomos adeptos, e além do mais, trabalhamos na Editora Comercial S.A. Mas o tempo que passei no jornal, não passou de dois meses, e como meu auxiliar, eu tinha o amigo Alberto, irmão da professora Albinha, como era conhecida na educação, cuja, foi minha professora de português.
Ferreira da Gazeta.
Desisti de continuar por lá, devido o horário de trabalho no jornal ser a noite, e atrapalhava com a minha faculdade, e durante o dia, eu era funcionário da Editora Comercial.
Tive também a honra de ser operador desta máquina, que em Mossoró, só existiam 4. Uma na Editora Comercial S.A. que eu a operava. Outra no jornal "Gazeta do Oeste" e duas no jornal O Mossoroense.
Esta máquina para quem teve a oportunidade de conhecê-la, disse Railton Melo, que foi uma das invenções mais maluca que Ottmar Mergenthaler desenvolveu em sua cabeça; Incrível!
Mas mesmo com toda essa mecânica, eu desmontava quase tudo dela, para manutenção, e depois eu montava novamente sem sobrar nenhuma peça.
Veja o que escreveu Wilian Robson sobre o famoso jornalista de Mossoró, o nosso conterrâneo Francisco Canindé Queiroz e Silva.
Memória. O que eu sei sobre Canindé Queiroz. Quem conviveu com Canindé, sabe que existiram duas figuras distintas: a destemida da coluna diária e a sensível do convívio
Por William Robson - abr 8, 2022
Na manhã do
dia 7 de abril de 2022, data em que se celebra o Dia do Jornalista, tomo
conhecimento da morte do jornalista Canindé Queiroz. Parte da minha vida
jornalística foi ao lado dele, em diversas situações: como repórter, editor em
vários segmentos, editor-assistente e diretor de redação do seu jornal, a
Gazeta do Oeste. Não tenho como me dissociar da figura impressionante de
Canindé. Inclusive, a Gazeta, que costumávamos grifar com letras maiúsculas
(GAZETA), e vou continuar, foi minha primeira experiência enquanto
profissional. Escola onde convivi também com outros grandes jornalistas.
Canindé
Queiroz, em seu escritório, em 2002
A GAZETA se
notabilizou por ser o “jornal de Canindé” e, ao mesmo tempo, por consolidar-se
como relevante central de informações da sociedade mossoroense. Na página 5 do
seu jornal, fundado em 1977, estava a coluna “Penso, Logo…”. Canindé abordava
os mais diversos temas, em escrita elegante e recheada por seu conhecimento
intelectual notável. A política era o carro-chefe do espaço de meia página na
vertical que ocupava. E de lá saíram muitas polêmicas também, como a famosa
coluna agredindo as freiras do Colégio Sagrado Coração de Maria. Não poupava
nos palavrões e nos apelidos pejorativos contra aqueles que o contrariavam.
Estes
episódios não foram suficientes para atenuar a façanha de Canindé em oferecer a
Mossoró um jornalismo forte. E de oferecer a oportunidade a jovens que
gostariam de seguir nesta atividade, antes mesmo do surgimento da faculdade de
jornalismo. Cheguei na GAZETA em 1995, através de sugestão do jornalista
Emerson Linhares, que deixara o diário e onde editava o caderno de cultura.
Como já colaborava com o jornal, através de artigos sobre música e cinema, fui
convidado. O editor-geral na época era o Pedro Carlos. E, com poucos dias de
trabalho, deslumbrado e feliz, eu, com pouco mais de 20 anos, fui apresentado
para Canindé Queiroz.
Quem conviveu
com Canindé, sabe que existiam duas figuras distintas: a destemida da coluna
diária e a sensível do convívio. Não admitia que ninguém agredisse os seus
jornalistas. Era brincalhão e atencioso com todos. Preocupado com os
problemas de cada um. E sempre companheiro de dona Maria Emília. Mas, também
exigia dedicação quase que exclusiva à GAZETA, coisa que todos faziam sem
maiores dificuldades, afinal, a gente adorava aquilo tudo. Ás vezes, lembrava
muito o Assis Chateaubriand, na biografia do Fernando Morais. “Chatô, o Rei do
Brasil”, aliás, era um dos livros preferidos do jornalista.
Ao lado da
esposa Maria Emília, e com padre Sátiro, Canindé celebra a primeira edição da
GAZETA, em 1977
Enquanto fui
editor, entre 2000 e 2002, tive convivência direta com ele. Aprendi muito
observando as conversas, estratégias, perspicácia e discernimento de Canindé
sobre os temas locais, sobremodo, os políticos. Constantemente recebia visitas
em seu gabinete, onde eu, já na condição de editor-geral, passava boa parte do
tempo discutindo os rumos do jornal, detalhes gráficos e linha editorial. Ele
estava sempre entusiasmado e apostava em toda novidade que eu trazia dos
congressos que participava pelo país. Orgulhava de sua equipe e de ter, segundo
ele, “o melhor jornalista de política do RN” na época, o Carlos Santos.
Governadores,
prefeitos, senadores, artistas nacionalmente conhecidos, jornalistas renomados,
religiosos, ativistas, todos tinham de passar pelo escritório de Canindé
Queiroz, caso pisassem na Terra de Santa Luzia. A influência de Canindé, num
mundo sem internet, era imensa. O que ele publicava em sua coluna, ganhava
repercussão instantânea e absurda, que estremecia a cidade, a ponto de provocar
inveja aos melhores digital influencias atuais. A força de sua
máquina de escrever espraiava pelo Estado.
Os anos 90 e
início dos anos 2000 foram os mais emblemáticos para a GAZETA e para Canindé.
Desafiador também, porque a internet estava começando e modificando as
estruturas do jornalismo. Lembro que conseguimos transpor a GAZETA para a web,
quando Canindé foi terminantemente contra. Ele não queria, mas apoiava. Depois,
se rendeu. Mostrava-se encantando com a possibilidade de acessar bibliotecas
antes inescrutáveis.
Foi neste
período que o jornal foi segmentado. Até então, era um caderno apenas, de pouco
mais de 20 páginas. Convencemos Canindé de que o período exigia que
atendêssemos a públicos variados. Ele aceitou, na condição de que sua coluna
não deixasse a “página 5 do primeiro caderno”. E assim aconteceu. Este espaço
ficou tão marcado que outros jornalistas se espelharam e escolheram a página 5
como referência para as suas colunas. O que fazia a diferença não era só o
espaço, mas o conteúdo também.
Este período
foi marcante ainda pela qualidade da equipe que inovou no jornalismo impresso
da época. De Esdras Marchezan a Ivonete de Paula. De Carlos Santos a Dorian
Jorge Freire. De Julierme Torres a Paulo Linhares… Foram muitos. Sem falar de
nomes do passado igualmente importantes, como Kleber Barros, Emery Costa,
Milton Marques, Nilo Santos, Phabiano Santos, Renato Severiano, Gutemberg
Moura, só para citar alguns.
Canindé estava
sempre presente na redação e na diagramação, onde costumava brincar com todos
da equipe, como Abel Rodrigues, Galdino, José Ferreira. À noite, escrevia a sua
coluna, martelando a sua Olivetti. Praticamente, fechava o jornal, ao lado de
Ferreira e o revisor. Muitas vezes, entrava a madrugada com a gráfica esperando
apenas as suas notas. Do original o Canindé lia e relia por muitas vezes,
riscando expressões e acrescentando trechos com caneta. Depois, Ferreira
passava tudo para o computador e, enfim, para a impressão.
E
inegável a contribuição de Canindé Queiroz para o jornalismo mossoroense. Com a
GAZETA e o “vetusto O Mossoroense”, como costumava se referir ao jornal
centenário de nossa cidade, o jornalismo local se transformou. Tudo o que vemos
hoje tem a parcela valiosa de Canindé Queiroz.
A geração de
jornalistas formada na GAZETA aprendeu com Canindé. Sua escrita, a forma de
fazer jornal, os incentivos, as críticas e os conselhos que extrapolavam a
redação. A GAZETA encerrou suas atividades em 2016, após 38 anos de atuação,
jornal que se confundiu com a vida de Canindé.
Como o
jornalismo não é, mas está sendo (parafraseando Paulo Freire), em Mossoró, ele
segue o espírito do fundador da GAZETA.
Abril sempre
foi um mês que esperávamos com expectativa na redação pelo aniversário do seu
jornal. Este mês agora se eterniza celebrando o jornalismo, a GAZETA e Canindé
Queiroz. E, por isso, sempre estará vivo!
https://williamrobson.com.br/o-que-eu-sei-sobre-caninde-queiroz/
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