Por: Gilmar de Carvalho
BUMBA-MEU-BOI DA LIARA
Poucas vezes um artista cearense
enfrentou uma tarefa tão complicada e desafiadora instigante como a que se
propôs Liara ao dar forma ao seu “bumba-meu-boi”.
Só os dotados de muita
competência, determinação e fôlego para o trabalho (também braçal) podem chegar
a este conjunto que ela ofereceu à nossa fruição.
A proposta de Liara começa a ser
importante pela escolha da cerâmica como suporte. A argila se deixa domar e
ganha formas fortes, rebuscadas, delicadas, e poéticas, por meio de suas mãos
firmes e ágeis.
Diz a tradição que Deus teria
modelado o homem do barro, antes de lhe soprar a vida. Certo é que a cerâmica
se inscreve como das formas mais ancestrais de expressão, está presente em
praticamente todas as culturas, e veio a ser o material ideal para a modelagem
do bumba-meu-boi.
Estamos diante de outra
manifestação muito antiga. O reisado cristaliza uma representação que, antes de
ser arte, foi ritual. É uma manifestação anímica e Liara domina como poucos
este universo mítico e estético.
O bumba-meu-boi é dos folguedos presentes
em praticamente todos os Estados brasileiros. Conta, em poucas palavras, a saga
de uma rês morta para atender ao desejo da mulher do vaqueiro que estava
grávida. A partir daí, entram bichos, se encena um entrecho dramático, se
dança, o boi ressuscita e são renovadas as promessas de que ele voltará no
próximo ano.
Em boa parte do Brasil, faz parte
dos festejos do ciclo natalino. No Maranhão, no entanto, se inclui no
calendário das celebrações juninas.
Liara pesquisou muito para nos
dar este conjunto. Foi ao Maranhão, vasculhou o interior do Ceará, visitou
Pernambuco, e obteve mais referências no Rio de Janeiro.
O bumba-meu-boi foi mostrado em
muitos espaços, de vários Estados, e obteve uma aprovação da crítica especializada,
ganhou espaço nas publicações voltadas para a arte e a cultura, e se inscreveu
como referência no campo da escultura em cerâmica com uma “pegada” tradicional.
O diferencial é que Liara faz a
tradição dialogar com outras vertentes, com elementos da história da cultura e
com diferentes tendências artísticas. O resultado é rico e a aquisição deste
conjunto valorizará qualquer acervo de arte brasileiro ou estrangeiro que
queira contar com uma releitura atenta, sensível, e valorativa do bumba-meu-boi
e de seus brincantes, no contexto da cultura brasileira, que não deixa de ter
suas antenas voltadas para todo o mundo.
Gilmar de Carvalho
Jornalista, Professor da
Universidade Federal do Ceará
Doutor em Comunicação e Semiótica
pela PUC de São Paulo
Estudioso das relações da
Comunicação com a Cultura
Enviado pelo poeta, escritor e pesquisador do cangaço:
Kydelmir Dantas
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http://sednemmendes.blogspot.com
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