Por Daniel Neves Silva
Lampião foi o chefe cangaceiro mais famoso da história
brasileira e esteve à frente de seu bando de 1922 a 1938, sendo morto em uma
emboscada em Sergipe.
Lampião foi chefe de um bando de cangaceiros de 1922 a 1938,
sendo a mais famoso chefe do cangaço.[1]
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Lampião foi o mais famoso chefe cangaceiro que existiu
no país e teve atuação entre 1922 e 1938. Ele era de uma família de posição
razoável, mas que se viu despossuída de tudo por uma disputa de terras. Lampião
liderou um grupo de homens que aterrorizou o interior do Nordeste com
seus saques. Foi morto em uma emboscada, em 1938.
Acesse também: As secas do
Nordeste ao longo da história brasileira
Resumo sobre Lampião
Nasceu em Serra Talhada, e sua data de nascimento é alvo de
informações conflitantes.
Pertencia a uma família de posição social razoável e foi
alfabetizado.
Sua família perdeu tudo que tinha em uma disputa de terras
com Zé Saturnino.
Ingressou no bando de cangaceiro de Sinhô Pereira, em 1921,
e, no ano seguinte, tornou-se líder do bando.
Sua parceira foi Maria Bonita, que aderiu ao cangaço em
1930, e juntos tiveram uma filha em 1932.
Morreu em uma emboscada, em Sergipe, em 1938. Sua cabeça foi
exposta por diversos locais.
Videoaula sobre Lampião
Origens de Lampião
Virgulino Ferreira da Silva nasceu em Serra Talhada, no
estado de Pernambuco,
em 7 de julho de 1897, e pertencia a uma família de lavradores que levavam vida
dura, mas tinham algumas posses. Conhecido na história brasileira como Lampião,
sua data de nascimento é alvo de polêmica, uma vez que suas biografias
apresentam diferentes datas.
O 7 de julho de 1897 é uma das datas aceitas
porque é a que consta no seu registro civil. Entretanto, outros
biógrafos consideram que o dia 4 de junho de 1898 é a data mais
confiável, por estar na sua certidão de batismo.
Independentemente disso, sabe-se que ele foi o terceiro filho de José
Ferreira dos Santos e Maria Lopes.
Sabemos que a família de Lampião teve uma condição financeira razoável e
garantiu que ele fosse alfabetizado, assim, o jovem Virgulino Ferreira aprendeu
a ler e escrevia bem. Isso porque seu pai possuía algumas terras que ele
comprou e herdou, além de trabalhar como almocreve.
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A alfabetização de Virgulino Ferreira foi um processo
realizado em apenas três meses, e logo na sua adolescência ele já trabalhava
com seu pai no ofício de almocreve. Nesse trabalho, ambos conduziam uma
espécie de caravana puxada por burros que levava mercadorias pelo interior do
Nordeste.
Nesse período, Lampião passou por diferentes estados da
região Nordeste, entre eles: Bahia, Sergipe, Alagoas,
Pernambuco, Paraíba e Ceará. Esse
trabalho deu-lhe conhecimentos muito úteis para o seu futuro, pois lhe permitiu
ter uma rede de conhecidos espalhados pelo Nordeste, além de conhecimento
acerca dos caminhos no sertão, dos melhores locais de repouso e de onde poderia
encontrar água.
Acesse também: Coluna
Prestes – um dos movimentos rebeldes mais importantes do Brasil
Tragédia na família de Lampião
A partir de 1915, a tranquilidade que a família de Lampião
vivia começou a ser abalada. Isso porque José Alves de Barro, conhecido
como Zé Saturnino, começou a ascender politicamente na região em que
a família Ferreira morava. José Ferreira, pai de Lampião, era vizinho de Zé
Saturnino, e logo uma disputa por terras surgiu entre as duas famílias.
As relações políticas que Zé Saturnino tinha também
contribuíram para uma ação contra os Ferreira. Logo alguns desentendimentos
começaram a acontecer entre Zé Saturnino e os filhos de José Ferreira, entre os
quais estava Lampião. Zé Saturnino começou a usar a sua rede de influências
para prejudicar a família Ferreira.
Os Ferreira eram politicamente menos influentes na região, e
o pai de Lampião teve de se mudar para resolver a disputa com Zé Saturnino. O
propósito da disputa era a concentração de terras na região da
ribeira de São Domingos. A situação foi se agravando para os Ferreira, que
foram obrigados a se mudar outras vezes.
A cada mudança, a família se empobrecia mais ainda. Esse
contexto levou Lampião e alguns de seus irmãos a vingarem-se pela desgraça
familiar. Sobre isso, o pesquisador Guerhansberger Tayllow aponta que, já em
1920, Lampião agia como cangaceiro ao vingar-se de Zé Saturnino e de todos que
perseguiam sua família.|1|
A perseguição contra os Ferreira resultou no assassinato
de José Ferreira, no dia 18 de maio de 1921. A essa altura, Lampião já era um
cangaceiro, e mais tarde ingressou, como veremos, num bando importante da
região.
O cangaço
Como chefe de cangaceiros, Lampião sabia muito bem se
movimentar pela Caatinga, além de saber apagar os seus rastros.
O cangaço é
entendido pelos historiadores como um fenômeno de banditismo que se
espalhou pelo Nordeste brasileiro a partir do século XIX, sendo muito atuante
por boa parte da primeira metade do século XX. O surgimento do cangaço é
explicado pelo contexto social, político e econômico dessa região.
Entraves da sociedade brasileira, como a desigualdade social,
a pobreza e a falta de acesso à Justiça e a
outros serviços fornecidos pelo Estado, foram fundamentais para o surgimento do
cangaço. Isso porque boa parte da população no interior do Nordeste vivia em
condição de pobreza e estava sujeita aos interesses das poucas famílias
poderosas que governavam.
Essas poucas famílias poderosas usavam de seu poderio
econômico para conquistar poderio político e transformavam a política em um
palco de troca de interesses, fazendo com que a população mais carente não
tivesse acesso a nenhum tipo de benesse. Desavenças eram resolvidas por meio
das armas, uma vez que a justiça só atendia aos poderosos.
Do ponto de vista econômico, a situação da população
nordestina era de pobreza e o trabalho do povo era intensamente explorado. O
sofrimento das famílias se tornava maior nos períodos de seca, que atrapalhava
a obtenção do sustento via agricultura e criação de animais. Esse cenário
propiciava o surgimento do banditismo, e foi exatamente assim que o cangaço se
consolidou.
Os cangaceiros eram grupos de bandidos que perambulavam
pelo interior do Nordeste, promovendo ataques e saques por onde passavam.
Eles se deslocavam pela Caatinga e
evitavam grandes confrontos. Obtinham suas armas por meio do saque contra as
forças policiais e se juntavam em pequenos grupos. Eram vistos como heróis por
parte da população e recebiam ajuda de algumas pessoas conhecidas como coiteiros.
Acesse também: Padre Cícero
– figura relevante na religiosidade do brasileiro
Como Lampião entrou para o cangaço?
Em 1921, Virgulino Ferreira aderiu ao bando de Sinhô
Pereira, um dos cangaceiros de maior expressão no Nordeste. Nesse bando, ele
prosperou como cangaceiro, tornando-se o mais famoso e temido do Brasil. Ficou
conhecido como Lampião porque sua capacidade de atirar rapidamente fazia com
que ele iluminasse a noite.
Sob a liderança de Sinhô Pereira, Lampião aprendeu muito.
Ele foi ensinado a sobreviver no cangaço, a esconder seus rastros, a evitar
confrontos abertos com a polícia e a como se comportar nos ataques. Em
julho de 1922, Sinhô Pereira abandonou o cangaço, e Lampião assumiu a
liderança do grupo.
Lampião então passou a liderar ataques contra propriedades e
cidades à procura de riqueza. Ele saqueava o que podia, pedia resgate de
determinados itens que saqueava, e, muitas vezes, extorquia determinados
locais, exigindo um pagamento para que ele não os atacasse. Ele também soube
desenvolver uma rede de coiteiros que o auxiliavam sempre que fosse necessário.
Lampião liderou seu bando de cangaceiros de 1922 até
1938, promovendo inúmeros ataques nesse período. Ele enfrentou por diversas
vezes as tropas volantes, isto é, as forças policiais móveis que atuavam no
combate aos cangaceiros. Entretanto, ele evitava confrontos muito abertos para
não ter perdas de homens e desperdícios de munição.
Durante suas andanças, Lampião conheceu Maria Gomes de
Oliveira, mulher que fazia parte de uma família de coiteiros. Ela ficou
conhecida como Maria Bonita e apaixonou-se por Lampião,
abandonando seu marido para ficar com o chefe cangaceiro. Ela aderiu ao bando
de Lampião em 1930, e tornou-se a primeira mulher a fazer parte do cangaço.
Até então, as mulheres não faziam parte do cangaço, mas,
devido a Lampião, isso mudou, e os seus homens passaram, em geral, a ser
acompanhados por suas mulheres. A chegada de Maria Bonita se deu já na fase
decadente do cangaço e contribuiu para que as medidas de segurança dos
cangaceiros se afrouxassem porque os períodos de descanso tornaram-se maiores.
Juntos, Lampião e Maria Bonita tiveram uma filha, em 1932, chamada Expedita Ferreira Nunes.
Confira no nosso podcast: As
verdades sobre a vida das mulheres no cangaço
Morte de Lampião
Em 27 de julho de 1938, Lampião e seus homens se
estabeleceram para descansar na fazenda Angicos, localizada em Poço
Redondo, no estado de Sergipe. Acontece que a posição de Lampião foi denunciada
(não se sabe até hoje por quem), e as tropas volantes foram ao encontro do seu
bando.
Na madrugada do dia 28 de julho de 1938, o bando de Lampião
foi pego de surpresa por um ataque das tropas volantes. Seu
líder foi atingido por três tiros e faleceu no local. Seu cadáver foi
decapitado e sua cabeça foi levada para diferentes locais em exibição de sua
morte. Isso se deu porque ele era um dos homens mais caçados do Nordeste.
Outras teorias surgiram explicando sua morte. Alguns
pesquisadores afirmam que ele pode ter sido envenenado um dia antes do ataque,
enquanto outros apontam que ele pode ter fugido e se escondido pelo restante de
sua vida. Essas hipóteses, entretanto, não são aceitas, e considera-se que ele
foi realmente assassinado no ataque surpresa.
Notas
|1| SARMENTO, Grassberger Taillow Augusto. Virgulino
cartografado: relações de poder e territorializações do cangaceiro Lampião
(1920-1928). Dissertação de Mestrado: UFRN, Natal, 2019.
Por Daniel Neves Silva
Professor de História
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escolar ou acadêmico? Veja:
SILVA, Daniel Neves. "Lampião"; Brasil Escola.
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/lampiao.htm. Acesso em
23 de dezembro de 2021.
https://brasilescola.uol.com.br/historiab/lampiao.htm
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