Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
Elane Lima Marques
Pessoal,
neste dia Internacional da Mulher, vamos homenagear uma mulher muito especial,
da época do Cangaço, Sila, muito bem apresentada pela escritora e pesquisadora
Elane Lima Marques.
Elane Lima
Marques nasceu em Aracaju em 17 de março de 1959. Na graduação, é formada em
Pedagogia pela Faculdade Pio X, com especialização em Administração Escolar. Na
pós-graduação cursou Psicopedagogia Institucional e Clínica.
Na área de
voluntariedade notabiliza-se no Lions Club International, tendo ocupado a
Presidência do Lions Clube Atalaia, assim como os cargos de Coordenadora do
Gabinete de Integração, Assessora da Mulher e da Família, Assessora Distrital
das Crianças, Assessora Distrital de Eventos, Presidente da Divisão D, e
atualmente exerce o cargo de Presidente da Região D do Distrito LA3 que abrange
Pernambuco, Alagoas e Sergipe. É sócia também do Woman’s Club International of
Sergipe onde ocupa o cargo de 2ª Vice-Presidente.
“Satisfação
pessoal em ver o meu trabalho sendo divulgado, propalado, lido, por vezes elogiado
pelo público; enfim, deixando como parâmetro para pesquisas de futuras
gerações.”
Boa leitura!
Escritora
Elane Lima Marques, é um prazer contarmos com a sua participação na Revista
Divulga Escritor. Conte-nos, o que a motivou a ter gosto por temáticas voltadas
para o cangaço?
Elane Marques
- Sendo Conselheira do Movimento Cariri Cangaço e acompanhando o meu
companheiro, escritor Archimedes Marques, também me apaixonei por esse tema
culminando em escrever o livro “Sila, do Cangaço ao Estrelato”, uma obra que
minucia a história de vida dessa cangaceira, companheira de Zé Sereno, uma
mulher que sobreviveu ao cangaço e também venceu na grande metrópole São Paulo.
Em que momento
pensou em escrever “Sila, do Cangaço ao Estrelato”?
Elane Marques
- Na qualidade de autêntica representante da mulher, conforme sempre
procurei ser em todas as áreas de minha atuação, quando me inteirei mais
profundamente do tema cangaço, procurei dentre as cangaceiras aquela que melhor
fizesse parte do meu perfil, pois pretendia escrever algo a seu respeito.
Assim, em uma dessas pesquisas de campo alguns anos atrás, próximo a Curituba,
município de Canindé do São Francisco, em Sergipe, conhecemos uma pessoa
encantadora, humilde, um homem simples e castigado pelo tempo: José de Souza
Lins Ventura, mais conhecido por Zé Leobino, vaqueiro aposentado, nascido na
fazenda Cuiabá, em 3 de fevereiro de 1924. Zé Leobino, nos seus doze anos de
idade, conheceu Lampião, Maria Bonita e diversos outros cangaceiros, dentre os
quais Sila, que sempre se acoitavam naquela propriedade pertencente à
portentosa família Brito que dominava o baixo São Francisco. Após sermos
apresentados, depois de uma curta conversa, ele foi logo dizendo que eu era
bonita e bem feita igual a Sila, com uma “anca” bem torneada, também uma mulher
determinada, decidida e acima de tudo, uma mulher que demonstrava saber o que
queria, enfim, o retrato em pessoa de Sila. Oportunamente fizemos outra visita
ao simpático Zé Leobino, e novamente esse “galanteador” asseverou estar olhando
para Sila, para ele a mais bela das cangaceiras. Desse modo, vaidosa como
sempre fui, me despertou a ideia fixa de melhor pesquisar essa mulher, uma
brava cangaceira do passado e uma grande mulher no período pós-cangaço. Aquele
cansado homem me fez ver o que estava “escrito nas estrelas”, ou seja, que eu
deveria escrever sobre Sila, e assim foi feito.
Apresente-nos
a obra.
Elane Marques
- O envolvimento de Sila com o cangaço se deu na segunda metade de 1936,
quando passou a conviver maritalmente com o então cangaceiro Zé Sereno (José
Ribeiro Filho) que pertencia ao bando de Lampião. Esse acontecimento mudou para
sempre a vida dessa jovem sertaneja, natural de Poço Redondo, Sergipe, menina
nos seus 13 anos de idade que, juntamente com sua família, se tornou a partir
de então alvo das perseguições das Forças Policiais Volantes que atuavam no
combate ao banditismo pelos sertões.
Sila e seu
companheiro estiveram presentes em alguns combates e sobreviveram à emboscada
realizada pela Força Policial Volante de Alagoas, comandada pelo então Tenente
João Bezerra, que vitimou Lampião, Maria Bonita e outros nove cangaceiros, além
de um soldado da Força Policial, fato ocorrido em 28 de julho de 1938 na grota
do Angico, em Sergipe.
Após a morte
de Lampião, o casal se entregou às autoridades em troca da anistia prometida
pelo governo Vargas, e pouco tempo depois de serem liberados pela Justiça,
seguiram perambulando a pé pelas estradas vivendo grandes aventuras, com
destino ao sul da Bahia, indo posteriormente para Minas Gerais e por fim para a
grande São Paulo, onde se estabeleceram definitivamente.
De que forma
Sila se destacou após o cangaço?
Elane Marques
- Assim que chegou a São Paulo, nasceu o quarto filho com vida do casal;
entretanto, somente três estavam em sua companhia, pois o primeiro, nascido na
época de cangaço, fora entregue a terceiros para uma melhor criação. A exemplo
das outras paragens, sem dinheiro algum, comeram o “pão que o diabo amassou”
entre os paulistanos da periferia, não somente por terem um passado de sangue,
mas principalmente por serem sertanejos nordestinos, pior ainda, por terem sido
cangaceiros. Mas os dois foram à luta: Zé Sereno fazia “biscate” aqui e acolá
até que conseguiu um emprego fixo como vigilante e faxineiro em uma escola
municipal. Sila, por sua vez, mostrava seus dotes na costura. Costurava em
casas diversas ganhando diárias ou por encomenda. Costurava na sua residência
as roupas dos clientes da redondeza.
Devido ao seu
excelente desempenho, montou um atelier de costura nos Jardins, em São Paulo e
fez bicos de vendedora e enfermeira, virando-se como podia. Durante alguns
anos, trabalhou como costureira na TV Bandeirantes, costurou roupas para as
dançarinas do Chacrinha, foi camareira das atrizes Regina Duarte e Fernanda Montenegro.
Também fez figuração nas novelas “Sapos e Beijos” e “Os Imigrantes”.
Auxiliando nas filmagens da minissérie “Lampião”, da Globo, nos anos 80,
regressou ao palco de sua tragédia. Sila começou a viajar, dar palestras e
resgatar a epopeia do cangaço, que viveu na carne.
Mas Sila era
“ranhenta”, sempre queria mais. Quando descansava, estava lendo ou escrevendo
algo, aprimorando a língua portuguesa, daí virou escritora, autora de três
livros: (SOUZA, Ilda Ribeiro de. “Sila Uma Cangaceira de Lampião”. São Paulo:
Traço Editora e Distribuidora Ltda, 1984. / SOUZA, Ilda Ribeiro de. “Sila,
Memórias de Guerra e Paz”. Recife: Imprensa Universitária, 1995. / SOUZA, Ilda
Ribeiro de. “Angicos Eu Sobrevivi”. Oficina Cultural Mônica Buonfiglio,
1997).Pelo fato de ser conferencista em vários eventos, congressos e afins,
Nordeste afora, Sertão adentro e noutros tantos lugares do Brasil, passou a ser
mais conhecida ainda, dando entrevistas para muitas revistas, rádios,
televisões, jornais... Sila agora já era uma celebridade, uma estrela...
Quais os
principais desafios para a escrita do enredo que compõe o livro?
Elane Marques
- Os desafios e dificuldades vieram e se foram à medida que a “colcha de
retalhos” ia sendo remendada com a ajuda do meu companheiro, do amigo escritor
Paulo Gastão, do cineasta Aderbal Nogueira, do pesquisador Geraldo Junior e dos
remanescentes familiares de Sila, dentre tantos outros pesquisadores que
contribuíram para a grandeza da obra.
O que mais a
marcou enquanto escrevia o enredo que compõe “Sila, do Cangaço ao Estrelato”?
Elane Marques
- Sem sombra de dúvida, o que mais me marcou foi o falecimento de Gilaene
de Souza Rodrigues, a Gila, filha de Sila, pessoa que acolheu na totalidade os
meus propósitos, que me forneceu importantes informações, fotografias inéditas;
enfim, uma santa alma que se colocou à minha inteira disposição e que ficou
radiante com minha ideia de escrever sobre sua mãe. Uma pessoa extraordinária
que também deixou marcadas as suas considerações no meu livro em texto simples,
mas direto sobre seus pais. Uma pessoa que também viria pessoalmente para o
lançamento do meu livro, mas que infelizmente faltando apenas alguns dias para
o evento partiu para o outro mundo, quem sabe a se reencontrar com Sila e Zé
Sereno.
O que mais a
encanta na trama?
Elane Marques
- A lição de vida que nos traz a grande Sila, provando que quando há
perseverança se pode mudar da água para o vinho.
Onde podemos
comprar seu livro?
Elane Marques
- Nas livrarias: Leitura, no Shopping Boa Vista, em Salvador; e Escariz,
no Shopping Jardins, em Aracaju. Também por correspondência fazendo o pedido
pelo meu e-mail: marqueselane2@bol.com.br
Quais os seus
principais objetivos como escritora?
Elane Marques
- Satisfação pessoal em ver o meu trabalho sendo divulgado, propalado,
lido, por vezes elogiado pelo público; enfim, deixando como parâmetro para
pesquisas de futuras gerações.
Pois bem,
estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor a escritora
Elane Lima Marques. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor.
Que mensagem você deixa para nossos leitores?
Elane Marques
- Desejo que as pessoas não deixem os livros impressos morrerem. Adquiram,
leiam, continuem colecionando e engordando suas bibliotecas. Usem seus
computadores e celulares para outros fins, esquecendo um pouco dessa história
de livro virtual.
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