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domingo, 20 de fevereiro de 2022

ANÁLIA FERREIRA DA SILVA, ERA A IRMÃ MAIS NOVA DO CAPITÃO LAMPIÃO.

 Por José Mendes Pereira

 

Anália Ferreira da Silva 

Não confundir Anália Ferreira da Silva com Amália Gomes de Oliveira. Anália Ferreira acima, era a irmã mais nova do capitão Lampião, isto é, dos Ferreiras. E Amália Gomes de Oliveira, era irmã de Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita do capitão Lampião. Está explicado.

Amália Gomes de Oliveira - Acervo João de Sousa Lima.

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A CANGACEIRA INACINHA DEPOIS DO CANGAÇO

 Por Sálvio Siqueira


O cangaceiro Santílio Barros, conhecido pela alcunha de “Gato do Chico”, índio da tribo Pankararé, da Baixa do Chico, região do Brejo do Burgo na vasta região do Raso da Catarina, no Estado baiano, tinha uma companheira, essa sendo sua esposa legítima, por nome de Antônia Pereira da Silva, que também pertencia à mesma população indígena. Dona Antônia tinha uma prima legítima chamada Inácia Maria das Dores, conhecida por todos como “Inacinha”.


“Gato” resolveu se envolver, também, amorosamente com Inacinha. Dona Antônia não aceitando esse triângulo amoroso, procura o chefe do bando Virgolino Ferreira da Silva, o cangaceiro Lampião, e lhe comunica da sua insatisfação. Certa noite, dona Antônia deixa seu companheiro, sua família ali localizada, e parte para esconder-se nas terras de um parente longe dali.


Essa tribo indígena foi ‘fornecedora’ de muita gente que compôs o bando de cangaceiros do “Rei do Cangaço”. Além de “Gato”, “Antônia” e “Inacinha”, vários outros acompanharam o “Rei Vesgo” na sua trilha de sangue. Os nomes mais conhecidos foram os dos seguintes cangaceiros: “Mourão, Balão, Mormaço, Açúcar, Azulão, Rosa, Ana, Catarina, Julinha, Lica e Joaninha”. Interessante é que todos eram parentes. Sendo irmãos e primos, citamos como exemplo as cangaceiras Julinha e Rosalina que eram irmãs do cangaceiro Gato. Não ficando só nesses, os componentes da tribo dos Pankararé a fazerem parte da saga do cangaço.


O casal de cangaceiros, Gato e Inacinha, seguem suas vidas aventureiras dentro das hastes do cangaço. O cangaceiro “Gato” é tido, pela maioria dos pesquisadores/historiadores, como um dos mais violentos e perversos, se não o maior, dentre todos aqueles que conviveram ao lado do “Rei do Cangaço” ao longo dos quase 20 anos do seu reinado sangrento.


Em determinada época, a volante comandada pelo tenente João Bezerra, pernambucano natural da fazenda Colônia, localizada próximo ao Distrito de Ibitiranga, município de Carnaíba, PE, e que era primo do chefe cangaceiro Manoel Batista de Morais, o cangaceiro ‘Antônio Silvino’, antecessor de Sinhô Pereira, chefe de Virgolino Ferreira da Silva, o cangaceiro Lampião, trava violento tiroteio contra o subgrupo de cangaceiros chefiado pelo cangaceiro “Gato” nas terras da fazenda Picos. Nesse embate, sua companheira, a cangaceira Inacinha, que se encontrava grávida de oito meses, é atingida, baleada, na parte glútea direita. O projétil rompe pele e músculos, porém, não sabemos o porquê nem como, não atingiu nervos, artéria e ossos, o mesmo saindo na parte anterior, na altura da virilha direita, sem atingir o feto.


Inacinha baleada é presa pela volante e conduzida até a cadeia da cidade de Olho D’água do Casado, AL. Alguns autores citam que o tenente levou a prisioneira para a cidade de Pedra de Delmiro, hoje Delmiro Gouveia, também em território alagoano. Veja bem, o combate na fazenda Picos, há uma distância de alguns quilômetros da cidade de Olho D’água do Casado. A cidade de Pedra, hoje Delmiro Gouveia, dista dessa, mais ou menos, uns trinta e dois quilômetros, e da cidade ribeirinha de Piranhas, QG das volantes, 40 quilômetros. Aí perguntamos: O que danado o tenente iria fazer com uma cangaceira, grávida de oito meses, baleada, numa localidade que ficaria distante da sede do comando, mais ou menos 40 quilômetros, que era em Piranhas, AL? A cidade de Olho d’água do Casado fica há uma distância de 18 quilômetro da cidade de Piranhas. Improvável esse movimento ao contrário, se distanciando mais 32 km do local para onde tinha que levar a prisioneira. Totalmente sem lógica. Portanto, cremos mesmo que Inacinha ficou presa na cadeia de Olho D’água do Casado, há 18 quilômetros da sede do comando, e que logo fora levada pela volante do tenente para Piranhas.


“Gato”, sabedor da prisão de sua companheira, pede auxílio aos chefes cangaceiros Corisco e Moderno, para irem até Piranhas, resgatar sua amada. O que Gato não sabia era que sua companheira não se encontrava presa em Piranhas. No campinho para Piranhas, Gato transforma o caminho em uma estrada de sofrimentos, sangue e morte. Todo aquele que o cangaceiro encontrava pela estrada, o matava. Sua última vítima foi um jovem de 15 anos que o mesmo tinha pegado e lhe perguntado se havia soldados na cidade. O jovem sabia que não havia soldados em Piranhas e que, os poucos que lá estavam, largaram das armas e deram no pé, deixando a população indefesa. No entanto, a cabroeira ao começar a entrar pelas ruas da cidade, uma saraivada de balas é disparada em sua direção, nesse momento, achando que o jovem o estava enganando, “Gato” o sangra na frente da sua mãe.


Quem os combatia eram as pessoas do local, os moradores, que pegaram em armas e fizeram das paredes das suas casas trincheiras, com muita valentia e determinação, defenderam suas moradias, suas famílias, seu lugar, suas vidas. Nesse confronto, o cangaceiro índio da Baixa do Chico é atingido na altura da coluna lombar, ou mesmo sacrococcígea, essa última, apesar de não ter medula, é bastante irrigada, motivando uma grande hemorragia quando submetida a algum trauma. Gato é levado pelos companheiros para a caatinga, no entanto, dias depois os moradores encontram seu corpo rodeado por aves carniceiras.

Após essa luta nas ruas da cidade de Piranhas, o tenente João Bezerra chega trazendo sua prisioneira. Ela é colocada na Cadeia Pública de Piranhas, mas, em pouco tempo é liberada devido a seu estado gestacional. Apesar de ter sido pouco o tempo em que ficou encarcerada, Inacinha conhece e se engraça de um dos soldados, começando um namoro com um de seus carcereiros.


Ganhando a liberdade, Inacinha permanece na cidade ribeirinha, dando prosseguimento ao namoro com o saldo conhecido pela alcunha de ‘Pé-na-Tábua’. O filho nasce e recebe o nome de José Maria, o qual é batizado na Igreja da cidade e, sua mãe, apresenta-se como sendo sua madrinha. Logo depois a criança é doada. Aqueles que a adotaram, o fizeram secretamente, e o criaram. Algum tempo depois, a ex cangaceira casa-se com ‘Pé-na-Tábua’. Não bastando tantas atribulações em sua tenra vida, fica viúva, seu novo esposo vai a óbito. Depois desse acontecimento, não querendo mais ficar morando em Piranhas, volta para o seio da sua família que moravam em Brejo do Cruz.

Lá estando, surge um novo amor na sua vida. Dessa vez é um primo, ‘Estevão Rufino Barbosa’. O qual casa-se com Inacinha e, infelizmente, não tiveram filhos. Mesmo assim, vivendo exclusivamente da agricultura, ele consegue faze-la feliz.

O casal segue sua vida normal, dentro do possível, e vão rompendo os anos da vida. A década de 1930 se finda, iniciando-se a de 1940, chega o final do ciclo do Fenômeno Social Cangaço. Na segunda metade da década de 1950, mais precisamente em 1957, a senhora Inácia Maria das Dores, a ex cangaceira e viúva de um soldado de volante Inacinha, começa sentir dores estranhas em determinadas parte de seu corpo. Não dispondo de transporte automovível, ela é colocada em cima do lombo de um animal e seu esposo a leva para a cidade de Paulo Afonso, BA.

Na metrópole baiana estando, ela é assistida pelos médicos ‘Mucini e Brito’, que pela anamnese relatada, e os exames de apalpamento, solicitam exames, os quais mostram que Inacinha é vítima de um carcinoma. Após ser informado, seu esposo se desfaz de algum bem e começa-se o tratamento. Apesar do esforço dos familiares, o tratamento não surtiu o efeito esperado e, vendo-se tornar-se uma esquelética, sem aliviarem suas dores, a paciente dona Inácia Maria das Dores foge do Hospital em que se encontrava internada. Procurando um conhecido na cidade, pede a esse que envie um recado para o esposo vir busca-la. Montado em um burro, mula macho, e puxando as rédeas de outro, Estevão vai até onde estava sua esposa.

Por lá chegando, ele escuta a narração da esposa referindo-se da não evolução do tratamento e, sabedora do pouco tempo que lhe restava de vida, queria morrer em sua casa. Seu esposo no mesmo momento procura fazer o pedido da esposa e, chegando a casa, após alguns dias, dona Inácia Maria das Dores consegue deixar de sofrer. Vitimada pelo câncer, a ex cangaceira Inacinha parte em busca de reencontrar seus antepassados.

Ao receber a notícia da morte de sua’ mãe’ biológica, José Maria, acreditamos que aconselhado por alguém, vai até onde a mesma morava procurar saber se seria herdeiro, e de que. Foi informado que sua mãe havia deixado uma pequena casa de taipa, e uma grandiosa saudade no seu peito do viúvo.

“(...) Estevão falou que a herança que ela deixou foi uma casinha de taipa e a saudade que ficou (...).” ( “Lampião em Paulo Afonso” – LIMA, João de Sousa. 2ª Edição. Paulo Afonso, BA. 2013)

Inacinha foi a óbito em 1957. Seu esposo, ‘Estevão Rufino Barbosa’, narrou para o autor da obra citada, sua convivência, a disposição que sempre existiu naquele corpo pequenino, as dores da doença e a morte de sua esposa, ainda lagrimejando seus cansados e idosos olhos de sertanejo, em abril de 2002... Nas quebradas do sertão baiano.

Fonte “Lampião em Paulo Afonso” – LIMA, João de Sousa. 2ª Edição. Paulo Afonso, BA. 2013
Foto Ob. Ct.
Benjamin Abrahão
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2ª. Fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira
Grupo: Ofício das Espingardas
Link: https://www.facebook.com/groups/545584095605711/permalink/843744712456313/

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AS FACES E OS RELATOS DAS VÍTIMAS DE LAMPIÃO NA BAHIA AS FACES E OS RELATOS DAS VÍTIMAS DE LAMPIÃO NA BAHIA

 


– Nos velhos tempos do sertão nordestino, na época do cangaço, onde quase sempre a justiça estava junto aos mais fortes e destemidos, uma…

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INACINHA DE GATO E O CANGACEIRO CATINGUEIRA.


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Clique neste link e conheça um pouco sobre Inacinha e Gato:

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O FOGO DA MARCELINA

 Por Epitácio Andrade

José Firmo Limão sendo entrevistado no São Francisco pelo pesquisador Epitácio Andrade - Julho de 2020.

“Como a ‘força’ não conhecia a região, contava com o apoio dos Limões na perseguição aos Brilhantes”.

Localizado na comunidade rural São Francisco, em Catolé do Rocha, no Sertão paraibano, o serrote da Marcelina foi palco de um dos combates mais cruéis do cangaço dos Brilhantes contra os Limões.

Cruzeiro da Comunidade São Francisco

Narra Alício Gomes Arruda Barreto (1901-1965), em seu raríssimo livro “Solos de Avena” que, por volta da segunda metade da década de 70 do século XIX, estavam os Brilhantes entrincheirados numas pedras, quando a ‘força’ apareceu no caminho próximo ao sítio Colina na estrada que liga Catolé do Rocha a Patu/RN. Jesuíno Brilhante foi o primeiro que atirou, derrubando um dos soldados da vanguarda. 

Serrote da Marcelina

A ‘força de linha’, quando recebeu os tiros recuou e tentou cercar a emboscada dos Brilhantes, que conheciam essa estratégia. Eles revidaram com uma descarga e fugiram para outro lugar de onde procuraram dar tiros certeiros. Depois, correram para bem longe. Por adotar essa tática de guerrilha, os Brilhantes sempre levavam vantagens nos embates. Depois dessa escaramuça, “o governo tomou em consideração e as diligências engrossaram”. Jesuíno Brilhante cercou os Limões que restavam, numa casa velha no sopé do serrote da Marcelina. Depois de renhida luta, acabaram-se as munições do inimigo e Jesuíno, conhecendo de quem se tratava, gritou: “O que tentar sair morre na bala”. Mandou cobrir de lenha a velha casa pelos feirantes que passavam e ateou fogo. Dentro de pouco tempo as chamas invadiram totalmente o casebre e os “miseráveis” morriam gritando com as dores das queimaduras. Pedro Limão ainda saiu se queimando, quando foi alvejado e caiu morto. A casa foi incinerada e os cadáveres reduzidos a carvão. Assim havia concluído sua jura assinalada com cruzes nos bacamartes dos brilhantes. Estava terminada a tarefa. Acreditou Jesuíno Brilhante (1844-1879), “o grande leão sertanejo”, assim alcunhado por Barreto. Esta narrativa foi ratificada pelo depoimento do senhor José Firmo Limão, no ano de 2012, aos 99 anos. Seu José era filho de Maria Francisca da Conceição, sobrinha de Preto Limão, único sobrevivente do ‘Fogo da Marcelina’ e comandante da diligência que matou Jesuíno Brilhante, no Serrote da Tropa, na zona rural de São José de Brejo do Cruz/PB.

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AOS 95 ANOS, ALAGOANA REVELA HISTÓRIAS DO CANGAÇO

 Texto de Março de 2009

A aparência frágil de quem já viveu 95 anos esconde uma mulher de garra e coragem, que possui uma memória invejável, capaz de ajudar na reconstrução de parte da história do cangaço. Natural de Canapi, a alagoana Aristéia Soares de Lima é uma das sete pessoas ainda vivas que fizeram parte do fenômeno ocorrido no Nordeste brasileiro no final do século XIX e início do século XX. Vivendo atualmente no povoado Jardim Cordeiro, localizado no município de Delmiro Gouveia, ela é um arquivo vivo do cangaço, presença feminina que expõe com lucidez o papel da mulher dentro do movimento.

Antes de ser entrevistada na casa onde reside, Aristéia entrou no quarto para se perfumar, hábito provavelmente herdado da época em que foi cangaceira já que, como ela mesma enfatizou após alguns minutos de conversa, os cangaceiros usavam um perfume muito bom, como ela nunca viu igual. “Perfume bom era o daquela época. A pessoa estava acolá e daqui a gente sentia o cheiro. Hoje não existe mais perfume desse jeito”, disse.

Como conta o historiador João de Souza Lima, vaidade era marca registrada entre os cangaceiros, que tinham a mulher como um objeto de ornamento. Elas andavam cobertas de joias, com colares e anéis em ouro, além das roupas feitas de mescla azul — tecido que era resistente às andanças pelo meio da caatinga. “A mulher era um enfeite, um símbolo sexual”, diz.

Apesar dessas características marcantes, nem todos as cangaceiras possuíam os mesmos privilégios. É o que conta Aristéia Soares. “Eu nunca vi nem o ‘azul’ do ouro. A única coisa que ganhei foi um par de brincos de Cruzeiro”, diz, explicando em seguida que Cruzeiro era um cangaceiro apaixonado por ela.

Para passar a fazer parte do movimento as mulheres tinham que ser casadas com algum cangaceiro. Todas elas acompanhavam seus maridos onde quer que eles fossem, mas não participavam diretamente dos saques e nem dos combates contra os volantes — que eram os policiais da época e, ao contrário do que muitos pensam, eram os verdadeiros vilões da história.

Aristéia conta que entrou para o cangaço porque os volantes perseguiam sua família, batiam no pai, no irmão e nos tios, tendo um deles morrido após ser espancado pela polícia. “Meu pai apanhou, meu irmão e um tio meu morreu de pisa porque a polícia achava que a gente era ‘coiteiro’, e ninguém era. Ou corria ou a polícia matava; foi por isso que eu entrei para o cangaço”, explica.

Ela não chegou a conhecer Lampião e nem Maria Bonita, pois fazia parte do bando comandado por Moreno, marido de Durvalina Gomes de Sá (Durvinha), mulher de quem fala com muito carinho e com a qual se reencontrou há dois anos, antes de ela morrer, no ano passado.

No reencontro, Durvalina e Moreno, por conta da idade já avançada, não reconheceram Aristéia em um primeiro momento. Somente depois que ela, fazendo uso da memória invejável que possui aos 95 anos, contou detalhes das aventuras vividas por eles na caatinga e conseguiu fazer com que o casal - que viveu junto até a morte de Durvinha — finalmente lembrasse dela.

Aristéia era casada com Cícero Garrincha, cangaceiro conhecido como Catingueira, única pessoa que diz ter visto morrer após ser baleado pelos volantes. Em seu último livro, intitulado Moreno e Durvinha — sangue, amor e fuga no cangaço -, João de Souza Lima conta que o tiro atingiu Catingueira no tórax, deixando seu coração exposto, a pulsar. Depois de baleado, Catingueira ainda levantou e foi levado carregado pelos amigos de cangaço por um bom tempo, até que não resistiu. “Moreno enterrou ele”, lembra Aristéia com tristeza.

A morte do marido representou o fim do cangaço para ela, que decidiu se entregar à polícia, apesar de ter recebido a proposta de Cruzeiro para que ela passasse a ser sua esposa e, assim, pudesse continuar suas andanças pela caatinga com o bando. “Ele queria, mas eu não. Preferi me entregar. Moreno e Durvalina me aconselharam a sair”, contou.

Na época, Aristéia estava grávida do primeiro filho e deu à luz no município de Santana do Ipanema, onde ficou presa após se entregar. A criança foi entregue às tias dela e, depois que cresceu, ganhou o mesmo apelido do pai: Catingueira. Mesmo se o marido não tivesse sido morto e Aristéia não tivesse se entregado à polícia, o filho dela seria, obrigatoriamente, deixado com outra pessoa, pois era assim que acontecia cada vez que uma cangaceira dava à luz.

Aristéia foi presa em abril de 1938 e, em julho do mesmo ano, Lampião e Maria Bonita foram assassinados, motivo que fez com que o movimento do cangaço enfraquecesse, chegando ao fim, definitivamente, pouco tempo depois. Ela chegou a ver as cabeças do casal de cangaceiros mais conhecidos da história do Nordeste expostas em Santana do Ipanema, enquanto permanecia presa.

Além da sofrida morte do marido, Aristéia também teve que superar a morte da irmã Eleonora, que era casada com o cangaceiro Serra Branca — líder de um outro grupo. Ela foi assassinada junto com o marido pelos volantes e teve a cabeça decepada.

A idade avançada não fez com que Aristéia esquecesse das amizades que fez no período em que foi cangaceira. Ela lembra com saudade das amigas já mortas Durvalina, Quitéria, Cristina e Nacinha, destacando que todas elas eram muito bonitas e lembrando que nunca conheceu Maria Bonita. “Durvalina era muito bonita e boa. As outras eram também graciosas, mas Maria Bonita eu nunca conheci não”, diz. Quando questionada se sente saudade da época do cangaço, Aristéia é rápida ao responder: “Deus me livre”. Para ela, assim como para outras pessoas, o cangaço era uma opção, um estilo de vida.

“As pessoas entravam para o cangaço pelas mais variadas razões. Uns queriam se vingar de alguém, outros queriam ter uma vida melhor com os saques, alguns queriam matar a fome e outros queriam fugir da perseguição da polícia, que, na verdade, era quem matava e estuprava. Algumas mulheres entraram para o cangaço porque achavam o estilo de vida dos cangaceiros bonito, outras foram raptadas e trocadas por ouro, como é o caso da cangaceira Dadá, que só se apaixonou pelo marido Corisco tempos depois, e morreu, em 1994, ainda apaixonada por ele, mesmo estando casada com outro”, conta João de Souza, que há 12 anos se dedica a estudar o cangaço.

Ele foi o responsável por dar vida novamente às histórias que estavam guardadas a sete chaves na memória das pessoas hoje quase centenárias, sendo o responsável pela descoberta da alagoana Aristéia — que até então ocultava essa parte de sua história. “Daqui a dez anos essas memórias estarão perdidas, temos que resgatá-las enquanto ainda é tempo”, afirma.

João fala da dificuldade para fazer com que os ex-cangaceiros — sejam eles homens ou mulheres — falem sobre a época vivida na caatinga do Nordeste. É como se o medo da polícia ainda prevalecesse. Aristéia não confessa o medo, mas afirma que até hoje não gosta de falar no assunto. “Não gosto de falar, mas é o jeito. Antes eu não contava porque ninguém me perguntava”, disfarça, sem ter muita noção da importância do seu depoimento para compor a história do Nordeste brasileiro.

Hoje, mais de 70 anos depois do fim do cangaço, Aristéia leva uma vida normal, cercada pelo carinho do filho Pedro Soares, da nora Damares Rodrigues, dos seis netos e dos cinco bisnetos que moram com ela.

Aristéia fala com entusiasmo sobre duas viagens de avião que fez em 2007 e 2008, como se as suas aventuras mais recentes fossem, de fato, as melhores de sua vida. “Um dia eu tava na roça com minha amiga e vi uns urubus voando, aí falei pra ela que um dia eu ia voar também. Minha amiga ficou ‘mangando deu’. Queria que ela estivesse viva pra eu mostrar a ela que consegui voar. É bom demais. Você não sabe se o avião tá parado ou tá voando. Gostei demais”, conta sorrindo.

Muitos anos depois de fazer parte de fatos que marcaram a história do Nordeste brasileiro, hoje, Aristéia passa seus dias em casa, junto à família. O que ela mais gosta de fazer? Ir à missa ou assisti-la na televisão. “Eu assisto à missa todos os dias, de manhã e à noite. Eu adoro”, diz.

Evento lembra centenário de Maria Bonita

Na semana passada, um evento ocorrido na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em Paulo Afonso, lembrou o centenário de Maria Bonita, primeira mulher a entrar para o cangaço. Coincidência ou não, a mulher conhecida como a “Rainha do Cangaço” faria 100 anos no dia 8 de março — data conhecida como o Dia Internacional da Mulher.

O historiador João de Souza expôs na universidade todo o material que conseguiu colher ao longo de 12 anos de pesquisa. Em meio às fotos, vestimentas e mosquetões, um objeto merecia atenção especial: um punhal que pertenceu à Maria Bonita. “Uma vez ela foi baleada perto de Garanhuns (PE) e Lampião pagou a um homem para carregá-la ferida. No meio do caminho, ela deixou cair o punhal, que foi encontrado pelo mesmo homem que a carregou e a deixou no local indicado por Lampião ao voltar pelo mesmo caminho”, contou.

O 1º Seminário Internacional “O Centenário de Maria Bonita — a Rainha do Cangaço -, além da mostra cultural sobre o cangaço, contou com palestras, peça teatral, exibição de filmes, lançamento de livro e diversas palestras. Entre as presenças ilustres, o evento — encerrado na última sexta-feira — contou com participação da ex-cangaceira alagoana Aristéia Soares de Lima, 95 anos.

Todo o material exposto na Uneb será doado pelo historiador a um museu que contará parte da história do cangaço no Nordeste e que ficará localizado no município baiano de Paulo Afonso.

 https://www.douradosnews.com.br/noticias/aos-95-anos-alagoana-revela-historias-do-cangaco-60eb0edd9368e0ea2cfd5/353824/#:~:text=Arist%C3%A9ia%20era%20casada%20com%20C%C3%ADcero,ap%C3%B3s%20ser%20baleado%20pelos%20volantes.&text=Depois%20de%20baleado%2C%20Catingueira%20ainda,tempo%2C%20at%C3%A9%20que%20n%C3%A3o%20resistiu.

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CANGACEIRO "MEIA-NOITE I" - BIOGRAFIA.

Por Cangaçologia
https://www.youtube.com/watch?v=vxpwpay1wXA&ab_channel=Canga%C3%A7ologia

Um resumo biográfico do cangaceiro Meia-Noite I, apontado na história do cangaço como um dos homens mais valentes a fazer parte das hostes cangaceiras de todos os tempos. Confiram! Assistam e ao final deixem seus comentários, críticas e sugestões. Inscrevam-se no canal e não esqueçam de ativar o sino para receber todas as nossas atualizações. Forte abraço... Cabroeira! 

Geraldo Antônio de Souza Júnior - Criador e administrador do canal. 

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ANÉSIA CAUASSU, ENTREVISTA PUBLICADA NO JORNAL "A TARDE", 25/10/1916

 Material do acervo do pesquisador Rubens Antonio

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CANGACEIRO ESPERANÇA SUA PRISÃO E SUA HERANÇA

 Por João de Sousa Lima

Cangaceiro "Esperança" ao centro.

A fazenda Quirino, no povoado São Francisco, Macururé, Bahia, era um  dos coitos do bando de Lampião e principalmente reduto dos cangaceiros nascidos entre Macururé, Brejo do Burgo, Santo Antonio da Glória  e Chorrochó. Entre eles Gavião, Azulão, Esperança, Cocada, Zé Sereno, Zé Baiano e Gato. No povoado São Francisco a mãe de Esperança, dona Andressa, tinha terras por lá, porém ela residia na Várzea da Ema.

O comandante de volante que destacava na Várzea da Ema era Antonio Justiniano e dois dos soldados que ele comandava eram irmãos de Esperança: Vicente, apelidado de Medalha e Ananias. A fazenda pertencia a Ludugero, tio do cangaceiro Esperança.

Ludugero, tio de Esperança, dono da fazenda Quirino.

João e Jovelina Barbosa, irmã do cangaceiro Azulão, 
povoado São Francisco.

Esperança, Cocada, Pancada e Gavião, encontravam-se acoitados próximo ao sítio Quirino. Dentro de um cercado os cangaceiros catavam imbu quando chegou o dono do terreno e Cocada o prendeu e depois o soltou. O sertanejo correu e foi avisar policia do encontro que teve com os cangaceiros.
   
Dona Andressa sempre que precisava ir ver suas criações no São Francisco tinha que pedir autorização ao comandante do destacamento e foi em uma dessas viagens que ela travou diálogo com o contratado Reginaldo que lhe sugeriu pedir para que Esperança se entregasse que nada lhe aconteceria, de preferência que ele trouxesse a cabeça de um companheiro que sua vida tava garantida. Andressa levou o recado ao filho que mesmo relutante acabou cedendo aos apelos da querida mãe. Reginaldo mandou roupas novas de mescla azul para Esperança. O cangaceiro ainda relutante disse a mãe que não tinha coragem de se entregar e a mãe saiu triste.
   
Era março de 1933, no coito encontrava-se Esperança, Cocada, Gavião e Pancada.  Esperança chamou Cocada para irem pegar água em um caldeirão ali próximo. Os dois seguiram na direção do caldeirão. Diante quando chegaram ao caldeirão sentaram-se e ficaram conversando. Cocada limpou sua arma e depois pediu a arma do amigo para ele limpar e Cocada entregou seu mosquetão. Esperança limpou, colocou uma bala na agulha e detonou. O cangaceiro com o impacto do tiro caiu uns dois metros de distância e sem saber de onde tinha partido o disparo pediu socorro:
- Me acode Esperança, não deixe os “MACACOS” me matar!
Esperança pegou o facão da marca jacaré, partiu na direção do moribundo e o degolou ainda com vida. Pegou os bornais, armas, a cabeça do cangaceiro e foi se entregar a policia.

 Cabeça do Cangaceiro Cocada,
morto pelo "colega" Esperança

Na Várzea da Ema ele se entregou  as autoridades, contou detalhes da morte que fez, denunciou os coitos dos cangaceiros na região. Com dez dias  depois  foi encaminhado para a cidade de Uauá, onde o capitão Manoel Campos de Menezes que o livrou da prisão e o incorporou na volante policial do tenente Santinho como contratado . Ficou sendo o corneteiro do grupo. Trabalhou em Jeremoabo e faleceu tempos depois na cidade de Juazeiro, Bahia.

Ainda na prisão em Várzea da Ema.

O cangaceiro Esperança quando preso, já atendendo agora por Mamede, seu nome real, encontrou o com o jovem sobrinho José  Gonçalves Varjão, apelidado de Pororô e lhe confidenciou que na frondosa árvore lateral a casa de sua família, enterrado próximo ao seu tronco, tinha um material guardado e que ele tirasse e entregasse a seu pai. Pororô procurou ao redor da árvore mais diante da pouca idade não encontrou forças para continuar a empreitada de escavação no duro chão de cascalhos.

O tempo passou, Pororô cresceu e retornando certo dia de uma caçada, quando se aproximava de sua velha residência, viu quando seu cachorro passou acuando um preá, o cachorro parou próximo a antiga e frondosa árvore, Pororô se aproximou e viu o cão rosnando e olhando para um pé de macambira, Pororô tirou a cactácea e avistou uma lajota cobrindo um buraco, tirou a pedra, o preá correu com o cachorro latindo atrás, Pororô puxou um tecido em farrapos que cobriam algumas peças, entre elas: Uma colher de prata, 160 cartuchos de fuzil, um punhal, uma espora e algumas moedas.

 Colher de prata de Esperança 
presenteada ao escritor João de Sousa Lima pelo sobrinho do cangaceiro.

Era esse o tesouro de Esperança que ele havia pedido para o sobrinho guardar. Pororô vendeu os cartuchos a um dos prefeitos de Macururé. A colher de prata, algumas moedas, o punhal e uma das esporas ele me presenteou. Na colher encontramos as letras: MA. Talvez o cangaceiro tenha tentado escrever seu verdadeiro nome: MAMEDE. No punhal tem um “NA” ou “NH”.

Detalhe do cabo do punhal de Esperança

Pororô ainda reside e seu irmão Izidoro ainda residem no São Francisco e os Quirino é herança que ficou com a família. Aquele longínquo pedaço de chão ainda guarda as histórias do cangaço vivido em suas terras, memórias ainda latentes de um tempo que teima em não ser esquecido e nem deve....

João de Sousa Lima ladeado por Izidoro e José Pororô
Sobrinhos de Esperança.

Segue em anexo a esse texto uma das cartas de interrogatórios realizados pela polícia e que mostra a importância desses lugares citados com a história do cangaço e a referência com pessoas da localidade. A carta vai transcrita na integra com os erros e incorreções:
“Aos três do mês de maio de 1932, no arraial de Várzea da Ema em casa de residência do segundo tenente Antonio Justiniano de Souza, sub delegado de policia, foi interrogado o bandido acima referido que disse:
   
“Em 1929, estando ele bandido, em seu rancho no lugar denominado São Francisco, foi surpreendido pelo grupo de Lampião que ali chegava a mando do Cel. Petronílio de Alcântara Reis, para que fosse as imediações do Icó e ali receber dinheiro enviado para Lampião, cuja importância era 20:000$000, mas só foram entregues 18:000$000 e que dois restantes Lampião disse que dava por recebido, quando lhe mandasse um cunheito de munição; o que não sabe-se se isso efetuou-se,  mais depois ouviu do bandido ferrugem a declaração de que teve referido Cel. Petronilio havia comprado munição. E que devido a esse encontrão foi ele depoente obrigado a refugiar-se nas Caatingas, pois as forças andavam a sua procura tendo por isso de quando em vez constantes encontros com os cangaceiros, merecendo do mesmo consideração a ponto de lhe ser entregue por “Lampião” um rifle com cem cartuchos, os quais conservou até a data de sua prisão, não tendo, porém feito uso da dita arma para a prática de crime.
 
 Sargento Otávio Farias, radiotelegrafista da policia baiana.
Serviu na Várzea da Ema, sempre enviava as mensagens contando os combates 
dos cangaceiros contra as volantes.
Que sempre foi seduzido por “Lampião”  para fazer parte do seu grupo, mas nunca aceitou, apesar de ter parente no grupo, como sejam: Azulão, Carrasco e Moita Brava. Que esses encontros se efetuavam no lugar denominado Quirino para Lagoa Grande, sendo os sinais convencionados para os referidos encontros, três  pancadas em um pau seco, ou então berrando como boi; que nunca recebeu dinheiro de “Lampião” a não ser algumas roupas dadas pelos cãibras.
   
Que nos últimos encontros que “Lampião” teve com as tropas. Ele respondendo notou que alguns companheiros estavam desgostosos por verem os sacrifícios da causa, que nessa data viajaram nos “cascalhos” das aroeiras com direção a Várzea pernoitando a três quilômetros de distância.
   
Que nessa mesma noite desligou-se do bando a meia noite com Manoel Sinhô de Aquileu, sem que fossem pressentidos pelos outros e vieram pairar nas “Canouas” onde foram informados por Pedro de Aquileu que havia garantia para todos aqueles que tinham ligações com cangaceiros, uma vez que procurassem as autoridades para se entregarem.
   
E baseado nisso em companhia de Pedro veio à procura do Tenente Justiniano em Várzea de Ema onde se acha. Disse mais que “Lampião” depois do combate do touro com o Tenente Arsênio cuja força foi emboscada e morreu quase toda, escapando o referido oficial, pois é um herói que enfrentou o grupo que era numeroso, com um fuzil metralhadora dando somente três rajadas conseguiu matar o irmão de Lampião, Ponto Fino e sendo forçado a abandonar a arma deixando-a inutilizada pelos bandidos.
    
 Tenente Arsênio Alves de Souza
Acervo Lampião Aceso
Que nessa ocasião encontrou Lampião cartas ao Cel. Petronilo acusando Lampião, por isso Lampião resolveu queimar algumas fazendas referido Cel. Petronilo.
   
Disse mais que ouviu de Lampião dizer que tinha mil tiros de fuzil enterrados em um ponto lá para baixo, não declarado ao certo o lugar e que ia também a Curaçá a procura de outros mil tiros que tinha para lá.
Quanto ao armazenamento sabe que Lampião tem alguns  rifles ensebados em ocos de pau (ensebados, para não darem o bicho próprio de madeira).
   
Perguntado quais são as pessoas que fornecem armas a Lampião respondeu que não conhece mais sabe que nas fazendas Juá, Várzea, e São José há “coitos” onde lhes prestam bastante serviços em abastecimentos.
   
E por nada mais dizer nem lhe ser perguntado deu-se por findo estas declarações ao presente auto que vae por todos assignados pelo tenente e testemunhas.

Várzea da Ema, 7 de maio de 1932”
João de Sousa Lima,
Historiador e escritor, Membro da ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso.
Membro do IGH- Instituto Geográfico e Histórico de Paulo Afonso
Membro do Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará- Fortaleza- CE.

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