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sexta-feira, 1 de março de 2019

FAZENDA PACHECO - BARRA DO MENDES - BA

https://www.youtube.com/watch?v=39Y7AqOWXhc

Publicado em 26 de jan de 2018

Fazenda Pacheco, Barra do Mendes - Bahia. O historiador Liandro Antiques narra o que aconteceu nessas terras em 1940, quando Zé Rufino fez o cerco a Corisco e Dadá. Dona Isabel Ferreira, neta de Seu Pacheco e testemunha ocular dos fatos, também comenta sobre suas lembranças e sua amizade com Zefinha, a menina que acompanhava o casal de cangaceiros.

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CANGACEIRO, VÍTIMA DA JUSTIÇA


 Por Luiz da Câmara Cascudo
Luiz da Câmara Cascudo


“Aqui no Nordeste brasileiro nós sabemos que o cangaceiro não é uma formação espontânea do ambiente. Nem sobre ele influi a força decantadamente irresistível do fato econômico. Nas épocas de seca a fauna terrível prolifera, mas nenhum componente é criminoso primário. Os bandos têm sua gênese em reincidentes, trânsfugas ou evadidos. Nunca a sugestão criminosa levou um sertanejo ao cangaço. É cangaceiro o já criminoso. E criminoso de morte.

Depois de tanta discussão explicativa fica-se sem saber de que elementos estranhos sai o tipo hediondo, que outrora inda conservava o tradicional “panache” do heroísmo pessoal, do respeito às mulheres e aos velhos e da solidariedade instintiva à bravura. Nunca um cangaceiro digno desse nome matou um homem reconhecidamente bravo. Quase sempre ficavam amigos ou mutuamente se distanciavam.

Mas qual seria o fator psicológico na formação do cangaceiro? Para mim é a falta de Justiça, que no Brasil é corolário político. A vindita pessoal assume as formas sedutoras dum direito inalienável e sagrado. Impossível fazer crer a um sertanejo que o tiro com que ele abateu o assassino de seu pai deve levá-lo à cadeia e ao júri subsequente. Julga inicialmente um desrespeito a um movimento instintivamente lógico e que a Lei só deveria amparar e defender. Daí em diante surgirá o cangaceiro vítima de sua mentalidade. Ele descende em linha reta das “vendettas” e da pena do Talião.
  

Arte de Carybé...

Este é o aspecto raro. O comum é o sertanejo matar o assassino que ficou impune e bazofiador. Neste particular a ideia de prisão é para ele insuportável e inadmissível. Surge, fatalmente, o cangaceiro. A desafronta constitui a característica inicial do “bravi”. Numa alta proporção de oitenta por cento o cangaceiro do Nordeste brasileiro apareceu num ato de vingança. E são estes justamente os grandes nomes que o sertão celebra num indisfarçado orgulho que não dista da possível imitação.

Adolfo Rosa quis uma prima e o tio mandou prendê-lo num tronco. Dois dias depois o tio estava morto e surgia Adolfo Velho Rosa Meia Noite, chefe de bando, invencível e afoito. É uma das figuras mais representativas do velho cangaceiro típico, generoso e cavalheiresco. Jesuíno Brilhante tornou-se cangaceiro defendendo os irmãos contra a Família Limão. Baixo, loiro, afável, risonho, Jesuíno é uma lembrança cada vez mais simpática para o sertão. E sua morte é guardada como a dum guerreiro:

Jesuíno já morreu
Acabou-se o valentão.
Morreu no campo da honra
Sem se entregar à prisão.

Antônio Silvino matou o que lhe matara o pai. Jesuíno, no ódio que tinha da Família Limão, declarou guerra a todos os limoeiros que encontrava. Destruía-os totalmente, mastigando os limões entre caretas vitoriosas. Antônio Silvino “acabou a raça” dos assassinos do pai.
  

Jesuíno Brilhante

O horrendo Rio Preto, hercúleo e feroz, não seria abatido se não fosse vingança doméstica. Os Leites, ajudados por meu tio Antônio Justino, fizeram guerra de morte ao moleque demoníaco. Se a Justiça chamasse Leite ou o negro Romão (escravo alforriado por meu tio, e que matou Benedito, o herdeiro de Rio Preto) às contas, estes se tornariam infalivelmente cangaceiros.

Não é fenômeno peculiar à zona nordestina do Brasil. Em São Paulo há o caso do jovem Aníbal Vieira. Quatro empregados duma fazenda violentaram lhe uma irmã. Aníbal não “foi à Justiça”, que por retarda e tardonha desanima. Armou-se com seu pai e matou dois dos violentadores. Os dois restantes fugiram para Mato Grosso. Aníbal viajou para Mato Grosso e matou-os. Julgou-se de contas saldadas. Fora um justiceiro. Mas a Justiça não entendeu desta forma. Mandou prender Aníbal. A tropa de polícia que o perseguia encontrou-se com ele em Três Lagoas. Aníbal fez frente à força militar. Feriu dois soldados e fugiu. Aí estará o movimento inicial dum Dioguinho.”

Fonte: Diário Nacional, São Paulo, 03 de junho de 1930.


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CRATO SE PREPARA A FESTA DE 10 ANOS DO CARIRI CANGAÇO



Por Manoel Severo
Wilton Silva, Honorato Feitosa e Manoel Severo

A manha do último dia 22 de fevereiro marcou a primeira reunião de trabalho da curadoria do Cariri Cangaço com representantes do município de Crato para a realização do grande Cariri Cangaço 10 Anos a se realizar nos próximos dias 24 a 28 de julho de 2019 na região do Cariri e tendo como anfitriões as cidades de Crato, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Barro e Lavras da Mangabeira.

Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço e Ingrid Rebouças receberam em Fortaleza para reunião o Secretário de Cultura de Crato, Wilton Silva - Dedê, junto com o produtor cultural Honorato Feitosa da empresa Lumiar Comunicação e Cultura. Na oportunidade foram definidas as principais linhas do evento que terá sua abertura solene na noite do dia 24 de julho de 2019 na cidade do Crato. Para o Secretário de Cultura , Wilton Silva, "será uma enorme honra realizarmos a noite de abertura do Cariri Cangaço 10 Anos, que inclusive teve seu nascimento aqui na terra de Frei Carlos".

O Cariri Cangaço - 10 Anos terá como anfitriões: Crato, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Barro e Lavras da Mangabeira

O encontro marcou os principais pontos que serão abordados durante o evento em sua noite de abertura em Crato; a conferencia de abertura, as homenagens às instituições culturais da região e à personalidades de destaque do universo da cultura e da arte do cariri sem falar nas visitas técnicas, debates e outras atividades que o encontro promete. "Na verdade é muita coisa para mostrar e celebrar em tão pouco tempo, mas faremos um esforço danado para contemplar da melhor forma a todos os nossos convidados com o que temos de melhor" ressalta Manoel Severo, criador do Cariri Cangaço.

Honorato Feitosa, Manoel Severo, Ingrid Rebouças e Wilton Silva

Segundo Wilton Silva, Crato deverá realizar uma grande festa cultural na abertura do Cariri Cangaço 10 Anos. Além das principais linhas para realização do encontro em Crato ficou marcada uma nova reunião de trabalho no próximo mês de março, desta vez em Crato, quando serão acertados os detalhes; palestras, debates, visitas;  do evento que acontece em Julho. O Cariri Cangaço - 10 Anos em Crato tem como co-realizadores a Prefeitura Municipal de Crato e o ICC - Instituto Cultural do Cariri.

Reunião de Trabalho
Cariri Cangaço - Município de Crato
Fortaleza, 22 de Fevereiro de 2019

Crato, Anfitrião Cariri Cangaço - 10 Anos...

As terras às margens do rio Jaguaribe-Mirim (e seus afluentes) e da Chapada do Araripe eram habitadas por diversas etnias indígenas, dentre elas os Kariri, Aquijiró, Guariú, Xocó, Quipapaú e tantas outras,antes da chegada das entradas e/ou missões religiosas dos portugueses,italianos e até baianos, paraibanos e sergipanos. Com a expulsão dos neerlandeses do nordeste brasileiro, os portugueses puderam adentrar e explorar de forma efetiva as terras do "Siará Grande". Acredita-se que a primeira penetração no território do Cariri aconteceu durante século XVII, com a bandeira dos irmãos Lobato Lira. Desta bandeira, participaram dois religiosos: um padre secular e um frade capuchinho, que ganharam a confiança dos índios Kariri e conseguiram aldeá-los. Estes exploradores subiram o leito do Jaguaribe-Mirim e instalaram nos arredores da cachoeira dos Kariri (cachoeira de Missão Velha).
Tempos depois, o frade capuchinho Carlos Maria de Ferrara organizou, às margens do rio Itaitera (água que corre entre pedras), o maior e mais importante aldeamento de silvícolas na região. Este recebeu o nome de "Missão do Miranda", em homenagem a um dos chefes da tribo batizado com esse nome. Mais tarde, também aparecem as denominações "Miranda" e "Cariris Novos". A Missão do Miranda, sob a administração dos capuchinhos, prosperou, devido à fertilidade do solo e abundância de água, que possibilitaram o cultivo da cana-de-açúcar, mandioca e cereais. Manuel Carneiro da Cunha e Manuel Rodrigues Ariosto requereram, através da lei de sesmaria, a posse das terras adjacentes ao Rio Salgado, fato que culminou na elevação da missão a povoação.
A primeira manifestação de apoio eclesiástico aconteceu em terras doadas pelo capitão-mor Domingos Álvares de Matos e sua mulher, Maria Ferreira da Silva. Doação de terras feita aos índios Cariús da Missão ratificada perante o tabelião Roque Corrêia Merreiras no dia 13 de dezembro de 1743. Essa doação localizava-se, inicialmente, em terras encravadas a dois quilômetros a sudeste da povoação, transferindo-se, em data posterior, para a margem direita do rio Granjeiro. Os trabalhos da primitiva Igreja, dedicada a Nossa Senhora da Penha de França e São Fidélis de Sigmaringa, tiveram início em 1745, tendo como responsável, o frei Carlos Maria de Ferrara. Em 1762, foi criada a Paróquia, na aldeia do Miranda, sob a invocação de Nossa Senhora da Penha.
A edificação desse primitivo templo revela o atraso de sua época, considerando sua estrutura como as paredes de taipa, piso de barro batido e coberta de palhas, tendo ainda os caibros e ripas trançados de cipós. A permanência desses religiosos, no que se chamou de Missão do Miranda, estendeu-se por espaço de dez anos.
A povoação de Miranda elevou-se à categoria de vila em 16 de dezembro de 1762, tendo sido instalada em 21 de junho de 1764 como Vila Real do Crato, no século XVIII, desmembrada da cidade de Icó e constituindo com essa, Lavras e Umari os mais importantes núcleos de povoamento na época colonial no interior do nordeste. Foi tornada cidade pela Lei Provincial nº 628, de 17 de outubro de 1853.

Dona Bárbara de Alencar
No século XIX, já habitavam na vila do Crato famílias que enviavam seus filhos para estudar em Recife, capital da província de Pernambuco. Foi por lá que muitos entraram em contato com os ideais de independência e adoção do regime republicano no país. Assim, José Martiniano de Alencar, subdiácono e estudante do Seminário de Olinda, deflagrou o movimento republicano no conservador Vale do Cariri, a ter o Crato como palco principal. Repercutindo os ideais da Revolução Pernambucana de 1817, Martiniano "proclama" a independência do Brasil no púlpito da matriz da cidade em 3 de maio de 1817. Com isso, a cidade do Crato foi considerada um país por um dia. O proprietário Leandro Bezerra Monteiro, o mais importante proprietário rural do Cariri, católico e monarquista, pôs fim ao intento republicano. Os revolucionários foram presos e enviados para as masmorras de Fortaleza entre os prisioneiros estavam Tristão Gonçalves de Alencar Araripe e Dona Bárbara de Alencar, irmão e mãe de José Martiniano. Recebem a anistia pela autoridade real posteriormente.
Em 1824 eclode em Pernambuco a Confederação do Equador. Tristão Gonçalves de Alencar Araripe mais uma vez adere ao movimento e é aclamado pelos rebeldes Presidente da Província do Ceará. Em 31 de outubro de 1825 morre em combate com forças contrárias ao movimento. Após tais acontecimentos, em Crato, assim como no Cariri, muitos se dividem entre monarquistas e republicanos. Com a renúncia de D. Pedro I, inimigos do monarquista aproveitam para se vingar e Pinto Madeira em sua defesa arma dois mil jagunços com a ajuda do vigário de Jardim, padre Antônio Manuel de Sousa. Invadem o Crato em 1832 para derrotar os inimigos políticos. Apesar de vitoriosos no começo, Pinto Madeira e Antônio Manuel sofrem reveses e, finalmente presos, são enviados ao Recife e Maranhão. Retorna ao Crato em 1834 e é condenado a forca, sentença posteriormente comutada para fuzilamento, em face do réu ter alegado sua patente militar de coronel. Tanto Tristão Gonçalves quanto Pinto Madeira dão nome a rua e bairro, respectivamente, na cidade nos dias de hoje.

Seminário São José em Crato
No início do século XX, a cidade dividiu com o recém criado município de Juazeiro do Norte a liderança política do vale do Cariri. Joaseiro, como era conhecido, era uma localidade pertencente à Crato e seu processo de autonomia política seria encabeçado por, entre outros, padre Cícero.Em 20 de Outubro de 1914, é criada a Diocese de Crato pelo papa Bento XV. A Igreja Católica foi responsável pelo progresso material e social de Crato inicialmente, pois aí fundou o Seminário menor de São José (primeiro do Interior cearense), a pioneira cooperativa de crédito (Banco do Cariri), escolas, hospitais e a Faculdade de Filosofia de Crato, embrião da atual URCA fundada no ano de 1986. Ainda em 1914, Crato foi palco de confrontos da Sedição de Juazeiro, levante que levaria à deposição do Governador Franco Rabelo.

O município de Crato foi palco da noite de abertura das Conferências da primeira edição do Cariri Cangaço em Setembro de 2009, há exatos 10 anos e hoje será novamente palco da noite de abertura da festa de 10 anos do Cariri Cangaço.

http://cariricangaco.blogspot.com/2019/02/crato-se-prepara-festa-de-10-anos-do.html

O ÚLTIMO DIA DE LAMPIÃO HD | O CANGAÇO NA LITERATURA | #214

https://www.youtube.com/watch?v=BJBlcCGRkoY

Publicado em 14 de set de 2018

Um dos trabalhos mais incríveis sobre a morte de Lampião, depoimentos arrepiantes até do famoso "Joca Bernardo". Produção: Rede Globo 1975 Diretor: Maurice Capovilla Narração: Sergio Chapellin Pesquisa: Antônio Amaury Fotografia: Walter Carvalho Música: Zé Ferreira e Oliveira Francisco Montagem: Laécio Silva Som: Mário Masetti Supervisão: Carlos Augusto de Oliveira

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PALCO DE LUTAS

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de fevereiro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.069

PRAÇA DOS MARTÍRIOS. (FOTO: B. CHAGAS).
          Sob temperatura de moer gente vamos passando na Praça dos Martírios. Não tem como não lembrar as bravas e renhidas batalhas travadas naquele logradouro. Tempos duros, difíceis, perigosos onde tivemos que desaguar nas batalhas inesquecíveis do SINTEAL. Governadores desalmados pressionando a categoria através de políticas mesquinhas e escravocratas. SINTEAL, cabeça erguida com uma Alba Correia, um Milton Canuto, uma Jarede Viana... E nós, da Sede de Santana do Ipanema, engajado nas lutas ferozes com o trio da primeira diretoria, professores Clerisvaldo Braga das Chagas, José Maria Amorim e Tadéia Macedo. Praça lotada, carro de som bradando e uma categoria intimorata gritando slogan. Lutas e lutas empolgantes contra os tiranos da classe trabalhadora.
          No interior também, muitas outras batalhas foram travadas contra os ambiciosos do poder. Não somente contras os senhores feudais, mas contra outra classe peste, os bajuladores do poder e amantes de carguinhos públicos. E lá mesmo, no interior, o professor José Maria Amorim, faleceu. A professora Tadéia foi embora e chegou a ser ameaçada, já depois de nossa gestão. Várias outras diretorias foram formadas na sede do SINTEAL, em Santana do Ipanema. Até hoje nem uma delas lembrou o trio pioneiro que nunca foi convidado para um “muito obrigado”. O que tiver de ser feito, façamos pelos nossos ideais, sem pensar em homenagem, reconhecimento... Troféus. Entretanto, fica seu orgulho para você mesmo e Deus, o único que não esquece os heróis da terra.
          E lá na Praça dos Martírios, mesmo com o abafado fazendo suco, passa rapidamente pela cabeça uma sucessão de rígidos episódios. Sol queimando e bandeirinhas a tremular. Palácio dos Martírios de tanta opressão e coisas escabrosas resolve expulsar seus ocupantes. Eles agora se abrigam por trás, no mesmo terreno, num tal Palácio República dos Palmares. Todo exterior envidraçado para ver sem visto as caras amarguradas dos que lutam pelo pão de cada dia. E a antiga e imponente sede feudal, vira museu, Museu Palácio Floriano Peixoto, onde as coisas invisíveis vagueiam. E o branco das paredes, dos muros, dos jardins, trazem lembranças das palavras de Jesus sobre os túmulos caiados.
          Sim, sertanejo é sábio: “andar para frente que atrás vem gente”.

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NÃO ME ESCONDA NADA

*Rangel Alves da Costa


Eu nem precisava dizer isso, mas eu sei que você sabe que eu sei. Você nunca me escondeu nada, é verdade. Contudo, coisas existem que nem você diz a si mesma. E sobre tudo isso eu sei.
De sua boca nada ouvi. Muito você já me falou sobre sonhos, desejos, aspirações, porém nem tudo. Ninguém diz tudo o que sabe ou o que sente. Como dito, nem você mesma sabe tudo sobre tudo o que desejou. Mas eu sei.
E sei por que leio no seu silêncio, leio no seu semblante, leio no seu olhar, leio no seu passo, em tudo que há em você. Observo o seu jeito de sentar, de andar, de mirar o horizonte, de olhar para o vazio, de olhar pra mim.
Sei de sua mudez na palavra e no grito de seu silêncio. Sei das linhas e entrelinhas de tudo o que diz e até daquilo que tem vontade de dizer e não dizer. Por que sei? Não significa que você seja previsível, mas é que aprendi a ler seu livro: a sua vida.
Não precisava ter me dito nada, como de fato não disse. Mas basta chover e você se torna em verdadeira tempestade, em terrível tormenta. Sei bem que se revira por dentro, que faz tudo para não chorar. E acaba provocando um efeito contrário, pois mostra tudo o que sente.
Nada lhe entristece mais que dia chuvoso. Seus olhos, mesmo sem uma lágrima sequer, choram muito mais que a água escorrendo pela vidraça. E nem precisa se aproximar da janela para eu saber que você queria mesmo era estar nua e de braços abertos do lado de fora, encharcada, entregue ao tempo.
Menina, menina, eu sei o quanto representa cada pedacinho que ainda guarda da infância e da meninice. Sei onde sua boneca de pano fica guardada e que também ainda brinca e conversa com ela. Sendo sua amiga e confidente, também sei que chega a chorar com ela deitada no colo.
Mas também seu sorriso grande tendo ela enlaçada aos seus braços. Talvez recordando as traquinagens da meninice, as vezes que deixou a coitada da boneca completamente encharcada de banho da biqueira. Colocava no canto da casinha uma vassoura e depois pedia para que ela varresse a sala inteira.
Contudo, o mais importante é o que leio sempre nos seus olhos. Por isso mesmo que desde muito já não pergunta se ama, se me quer, se me deseja. Tudo está escrito no seu olhar. E por isso mesmo tanto amo você. Tudo na certeza infinita de um imenso amor revelado e guardado dentro do seu coração.
Leio sua tristeza na sua letra trêmula. Leio sua alegria na forma como limpa a casa e ajeita os livros da estante. Sei que não está bem se não cuida de cada cantinho e de cada coisa que tanto gosta. Não precisa me dizer nada quando eu a encontro debruçada no umbral da janela e mais adiante um por do sol.
Também leio o doce poema que de repente avisto nas páginas do seu silêncio. Estrofe a estrofe, na verdade tudo eu sinto do seu sentimento. Uma vontade imensa de ser cais, de ser onda de mar, de ser escrito na areia, de ser brisa que sopra ao entardecer.
Por tudo isso eu digo e sinto o que em você não consegue se esconder. Mas o que eu mais gosto é que você sabe que eu sei tudo de você, mas ainda assim nunca reclamou. E talvez também saiba de mim tudo daquilo que jamais revelei. Somos iguais, então. Um no outro na compreensão.
Mas somente sei por que você me deixou ler o seu livro. E por isso mesmo cuido dele como obra rara em minha vida.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

MAIS UM MANO DA CASA DE MENORES MÁRIO NEGÓCIO FOI PARA A CASA DE DEUS.


Por José Mendes Pereira

O Josimar Gomes o Jota Gomes que tinha o bordão "NA MARCA DA EXCLUSIVIDADE' e foi interno juntamente comigo e outros mais na Casa de Menores Mário Negócio, segundo o "Jornal Tribuna do Norte" faleceu hoje pela manhã aos 61 anos na UPA do Potengi em Natal Rio Grande do Norte. 

Na Casa de Menores ele chegou lá ainda criança e que nós o chamávamos de Canarinho, porque ele era um pouco amarelinho. Foi repórter policial e chegou a trabalhar no SBT - Sistema Brasileiro de Televisão.


Na quinta-feira passada faleceu o mano Raimundo Feliciano que também era da Casa. Quando eu cheguei à Casa de Menores Mário negócio Raimundo já era interno de lá, mas o Jota Gomes da Silva só foi interno depois da minha chegada lá.

Raimundo Feliciano tinha muito o que falar sobre a Casa de Menores, mas infelizmente Deus o levou muito cedo.

Adeus manos, a casa do Senhor é mais segura do que aqui na terra. Um dia estarei aí também e todos os seus amigos que viveram lá na instituição de menores, e talvez não iremos pela mesma estrada que vocês foram, mas o caminho não haverá rodeio.

CORONEL JOÃO MARIA DE CARVALHO E A FAMÍLIA “CEARÁ”

Por Rangel Alves da Costa

Conforme já afirmado noutros escritos, o Coronel João Maria de Carvalho, voz maior de poder e de mando nas paragens da baiana Serra Negra, jamais se contentou em expressar sua força apenas nos limites de seu berço de nascimento, por fora e por dentro das porteiras e cancelas de seus latifúndios ou nas povoações vizinhas aos seus feudos. Do mesmo modo, não se limitou a ser dono de fazendas e rebanhos ou a comandar o mundo ao redor a partir dos sombreados de sua varanda. Foi muito mais além e agiu, de forma forte e impositiva, na vida política, econômica e social, até mesmo em outros estados, principalmente Sergipe e Alagoas.


Nas Alagoas, o mandachuva baiano mantinha fortes ligações com o também coronel Elísio Maia, dentre outras forças de poder. Mas foi em Sergipe onde atuou de forma decisiva. Não seria errôneo afirmar que João Maria possuiu mais influência e agiu com maior firmeza na vida política e social de Sergipe do que mesmo no seu estado. Os detalhes destas ações ainda não foram totalmente revelados, mas se tem como certeza o seu olhar mirando principalmente em direção a Canindé, Poço Redondo, Nossa Senhora da Glória e Ribeirópolis. Nesta, no antigo Saco do Ribeiro, o filho de Pedro Alexandre foi amado e odiado, desejado e temido, chamado e evitado. 

O motivo maior dessa ligação com Ribeirópolis estava em Dona Flora Santos, sua esposa, e esta integrante de uma família conhecida como “Ceará”. A família Ceará (assim conhecida pelo fato de denominar pessoas vindas do Ceará fugindo das secas) chegou à região agreste sergipana pelos idos de 1877, assentando-se primeiro no arruado conhecido por Cruz do Cavalcante (atual Cruz das Graças, município de Nossa Senhora Aparecida). Com o correr dos anos, os “Ceará”, já organizados como clã representado pela família Santos, passaram a ter forte influência econômica e política na região, chegando até Ribeirópolis.

A família Ceará se tornou de prole numerosa. Segundo José Gilson dos Santos em seu livro “Saco do Ribeiro (Ribeirópolis): Pedaços de sua História”, das raízes chegadas ao agreste sergipano, faziam parte da família Francisco Felipe dos Santos (Chico Ceará), seus filhos casados Antônio Felipe dos Santos e Andrelino Felipe dos Santos, e mais outros menores, incluindo José Felipe dos Santos (José de Ceará), bem como filhas solteiras e sobrinhos. Depois de casado com Maria das Graças, da prole de José de Ceará nasceram Guiomar Santos, Manoel Perciliano Santos, Jovelina Santos, Ana Santos, Fenelon Franscisco Santos, Flora Santos, José Francisco Filho, Adolfo Francisco Santos, Dalva Santos, Baltazar Francisco dos Santos, Florival Francisco Santos e Jaci Santos.

Pois bem. Esta Flora Santos, da família Ceará, mais tarde se tornaria esposa de João Maria de Carvalho da Serra Negra. Contraindo matrimônio com uma integrante da segunda geração dos Ceará, então o moço da Serra Negra logo estreitou seus vínculos com Sergipe e também com Ribeirópolis, vez que a família de sua esposa depois dos anos 30, e após investidas dos cangaceiros na região, passou a fixar residência nesta povoação. 

Anos depois, já em 1955, quando a família Ceará foi acusada - por desavenças políticas - de planejar e mandar executar o recém-empossado prefeito de Ribeirópolis, o udenista Josué Modesto dos Passos, logo integrantes desta família, já antevendo as cruéis perseguições que se dariam daí em diante - e de fato perpetradas sob as ordens do governo Leandro Maciel (inimigo declarado dos “Ceará” desde as eleições ocorridas em 50) - procuraram refúgio e proteção junto João Maria de Carvalho, na Serra Negra. 

Conforme afirma o já referido José Gilson dos Santos: “Quem não foi preso ou se apresentou, teve como única alternativa procurar refúgio no então Povoado Serra Negra, município de Jeremoabo, estado da Bahia, onde residia João Maria de Carvalho, casado com uma integrante da família ‘Ceará’”. (p. 65). Dona Flora Santos, pois, dessa linhagem familiar. E em busca de tal refúgio seguiu, dentre outros, o seu cunhado Baltazar Santos, ex-prefeito e futuro deputado estadual. 

Indignado com a proteção dada por João Maria aos “Ceará”, o governador Leandro Maciel até recorreu a Antônio Balbino, igualmente governador da Bahia. O governante sergipano não apenas queria alcançar os “Ceará” como também fraquejar o poderio de João Maria, já seu inimigo declarado. Foi então que o General Liberato de Carvalho, irmão deste e com grande influência na política baiana, tomou frente e mandou transferir todos os perseguidos para uma propriedade sua, como se dissesse que aqui ninguém bota a mão. E assim de fato ocorreu. Não demorou muito e todos retornaram às propriedades de João Maria.

Na proteção de seus cunhados, eis que com a certeza de suas inocências perante os episódios ocorridos em Ribeirópolis, João Maria teve que revidar duas investidas de “contratados” sergipanos contra Serra Negra. Também fora acusado de planejar um ataque à sede de Frei Paulo, município sergipano, para resgatar os demais integrantes da família Ceará que estavam presos e seriam submetidos a júri popular nesta comarca. Mas nada se confirmou, a não ser o temor constante causado pela força e o poder do filho de Pedro Alexandre. E ele, todo imponente, se fez presente no dia marcado para o júri não acontecido pela ausência dos jurados (logicamente por medo). Assim confirma, à pág. 79, José Gilson dos Santos:

“O velho João Maria de Carvalho também apareceu nesse dia, mas acompanhado do Capitão José Rufino, da Polícia da Bahia, famoso por sua atuação destacada na luta contra Lampião, tendo ambos circulado livremente pela cidade, sem qualquer incidente, embora o velho tenha trazido da Serra Negra alguns homens de sua confiança que ficaram o tempo todo confinados em um hotel sem ser molestados”.

Eis, assim, a presença sempre firme e inconteste de João Maria de Carvalho perante outros mundos e situações políticas e familiares que não somente as pertencentes a sua Serra Negra.



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