Seguidores

domingo, 24 de novembro de 2013

PERSONAGEM DE UMA VIDA FRUTÍFERA (CONSIDERAÇÕES DE UM AMIGO SOBRE A BIOGRAFIA DE ALCINO)

Por Antonio José de Oliveira*
 
Comentar o livro TODO O SERTÃO NUM SÓ CORAÇÃO - Vida e obra de Alcino Alves Costa, é de indubitável facilidade. Isto porque, o ilustre e experiente escritor Rangel Alves Costa, transmitiu para seus leitores todo o percurso da vida do mestre Alcino, numa didática completamente compreensível para todas as classes que amam a leitura.

"Fico a pensar como seria o sertão nordestino se Deus não tivesse nos presenteado com Alcino Alves Costa. Com certeza seria imensamente pobre, além de menos conhecido". Estas são as palavras do Psicólogo e Pesquisador Júlio Cesar Ischiara. 


Concordo plenamente com o nobre pesquisador Ischiara: Alcino, com o excelente desenvolvimento da sua inteligência, proporcionou e legou imensa riqueza para nós, pesquisadores, para sua querida gente de Poço Redondo, e para a Sociedade nordestina e brasileira.


O mestre Alcino não foi apenas um profícuo pesquisador e escritor, mas, foi muito além: Poeta, compositor, radialista, político competente, e enfim - um grande amigo. E, ainda fazendo minhas as palavras do Dr. Julio Ischiara, devo dizer: O mestre Alcino deixou muita saudade.

Mas, como descrever algo sobre o livro de autoria de Rangel, sem fazer alusão às primeiras páginas do mesmo, na introdução do Delegado e Escritor Arquimedes Marques com a sua experiência de longos anos na escrivaninha de um gabinete de delegacia de polícia e mesmo no silêncio do escritório de sua residência, dando vida às ideias dos seus escritos, sejam artigos ou livros.
 

Arquimedes fala da sua honrosa incumbência em elaborar a introdução de uma biografia tão merecida de um personagem que fez história, numa trajetória de bem vividos SETENTA E DOIS ANOS neste Planeta Terra, logo que, vivo ele continua em outra Esfera de vida.

Arquimedes fala: "A história do pai contada pelo filho é uma história real". E, "Quem herda não furta", são ainda suas palavras sobre a dupla de poetas: Rangel (filho); Alcino (pai).

 Kiko Monteiro, Alcino Alves Costa e Rangel Alves da Costa

Quando leio os escritos do Dr. Rangel, muitas vezes me confundo, pensando que estou lendo ALCINO, pela grande semelhança do poeta e escritor pai, com o poeta e escritor filho.

Na introdução, o Dr. Arquimedes começa fazendo um relato dos grandes feitos da vida do seu amigo Alcino, e, o autor do livro não oculta nada da trajetória do biografado, nem mesmo ter sido Alcino, sobrinho do ex-cangaceiro Zabelê, que, após abandonar o cangaço, aquele "pássaro" levantou asas em direção a terras desconhecidas, onde nunca mais a família teve notícias do seu paradeiro.

O amigo Alcino, (gestor do seu município por três vezes), veio a ser, salvo melhor juízo, o mais novo prefeito da sua terra nos tempos passados: Aos 26 anos, eleito Prefeito de Poço Redondo; novamente aos 32 anos; depois, aos 42 anos. Comprovação que soube fazer uma grande administração.

Outra coisa que admiro em Alcino: Possuindo apenas o curso primário, deixou um grande legado de produções, e teve o cuidado e a responsabilidade de formar médicos, advogado e engenheiro, alguns dos seus filhos, inclusive o autor desta grande obra - Advogado Rangel Alves Costa.

Abraços para o amigo Rangel, na passagem de um ano da transferência de seu pai para Eternidade. 

Antonio José de Oliveira - Povoado Bela Vista - Serrinha/BA.

23 de novembro de 2013

NOTA DO AUTOR DA BIOGRAFIA




Antonio Oliveira se fez amigo sem a necessidade de estar presente. Lá, de sua Serrinha, no Povoado Bela Vista, alçou voo até as terras sergipanas como numa proeza descomunal do destino. 

Homem de formações outras, desde especialidades em saúde pública aos conceitos teológicos, é também um apaixonado pela história sertaneja e pelas suas vinditas de fogo e sangue, principalmente no que se refere ao fenômeno cangaço e seu representante maior. A esse respeito nos deve um opúsculo em construção. 

Pois bem. Lá das terras baianas o grande pássaro lançou seu olhar mais adiante e veio cortando nuvens até chegar aos esturricamentos sertanejos, paisagem e chão de Alcino, naquele Poço Redondo que hoje vive com saudades. Apreciador da obra do Caipira de Poço Redondo, encontrou no seu filho o diálogo de outras sertanejices.

E se fez um companheiro inseparável deste coito virtual, comentando as publicações, opinando sobre os escritos, participando da estrada sertaneja que vai sendo aberta. E mais: quando soube que a biografia de Alcino estava pronta para ser publicada, logo se predispôs a ajudar no que fosse possível.

E ajudou. O seu nome consta no livro como reconhecimento. Portanto, Antonio Oliveira, se fiz com que a história do Caipira fosse perpetuada, escrevendo a sua biografia, de pouca valia teria se alguns bons amigos não se dispusessem a apoiar a publicação. E quando gritei você respondeu. Obrigado mesmo.




Rangel Alves da Costa
http://blograngel-sertao.blogspot.com.br/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Bangu, Memória de um Militante - Lauro Reginaldo da Rocha - Bangu - Parte III

Por Brasília Carlos Ferreira – Organizadora, 1992

Lauro Reginaldo da Rocha era mossoroense - Insurreição Comunista de 1935 em Natal e Rio Grande do Norte.

“SEGUNDO DIA”

Na sala onde me colocaram puseram um investigador para me vigiar. Esse vigia sentado à minha frente, tinha ordens para me manter de pé num canto de parede, de maneira nenhuma devia deixar que eu sentasse, dormisse ou cochilasse.

No início o sentinela não teve dificuldade em cumprir sua missão. Dormir eu não podia, mesmo que quisesse. Logo após a minha retirada do “quadrado”, trouxeram para lá outras pessoas. Do canto onde eu estava ouvi vozes assustadas de homem e de mulher, choro de criança, as mesmas ordens de “tira a roupa” e, a seguir, gritos pavorosos martelaram os meus ouvidos.

A porta que dava para o “quadrado” estava aberta e eu a dois passos dela. Os gritos e os soluços eram tão perto que me abalavam os nervos, podia ouvir perfeitamente as batidas do sarrafo nos espetos de bambu, era como se estes estivesse penetrando em minha própria carne. As gargalhadas dos tiras, os deboches e os palavrões vinham de roldão com o gemido das vítimas e me invadiram os sentidos, sem que eu pudesse fugir daquele inferno, eu tinha que suportá-lo, até quando, não sabia. Perdi a noção do tempo, todas as janelas estavam fechadas, as luzes acesas, não podia distinguir a noite do dia. Distinguimos o dia da noite pela visão: luz e sombra. Agora outros sentidos entraram em função para a divisão do tempo. As horas de silêncio correspondem ao dia. E quando as carnes começaram a ser dilaceradas no “quadrado”, quando os gritos, os ais e as gargalhadas enchem o espaço, é porque a noite chegou.

Mas, o suplício não sofre intermitência. Durante a noite ele é violento, brutal, arrasador. De dia o sofrimento é lento, morre-se aos poucos pela fome, pela sede. Morre-se devagarinho, de pé, as carnes se consumindo, o corpo diminuindo e afinando até ficar um esqueleto, a pele colada aos ossos.

De vez em quando me vem um pensamento que procuro afastar: a mulher e os filhos. Não sei o que está havendo com eles mas não posso pensar neles, sei que qualquer sentimentalismo é perigoso, o melhor é mudar as ideias para outra coisa, fazer de conta que eles não existem, muito embora isto muito me custou.

Os dedos estão dormentes, não há dor localizada em nenhum ponto, porque é o corpo todo que me dói. Aperto os dedos e das unhas sai um sangue preto, pisado com mau cheiro.

Não sentia fome ainda mas a sede ia aumentando cada vez mais, percebi que ela ia se tornar uma obsessão, no meu maior tormento. Procuro também afastar do pensamento a palavra água, mas é impossível. No mictório ao lado, deixaram a descarga automática funcionando, o barulho da água chega aos meus ouvidos como o som de uma cascata, sem parar.

Começo a sentir as pernas bambas. Mas sou forçado a continuar de pé, sob a ameaça de uma correia larga que o investigador empunha, à minha frente.

O tempo foi se escoando até que a noite chegou, pois alí estava a turma de espancadores para confirmá-la. Fui novamente levado ao “quadrado”. Agora, os apetrechos são outros: uma enorme palmatória, maços de jornais, indicando que novas formas de torturas iam ser postas em prática.

Fui amarrado de forma a deixar as mãos livres para receber pancadas de palmatória. Esta passou a funcionar pelo braço dos espancadores, o revezamento era feito quando um se sentia cansado. As mãos ficaram inchadas, redondas. Depois passaram a bater nas nádegas, até deixar em carne viva. Por último, fui amarrado numa cadeira, esta foi deitada ao solo, deixando-me com os pés para cima. Reiniciaram as palmadas, agora na sola dos pés.

Nessa noite estava presente um rapazinho ainda moço, de uns 18 anos presumíveis, que estava treinando para espancador. Quando iniciaram a pancadaria, esse rapaz ficou de tal forma excitado que dava gargalhadas feito louco, fingia soltar foguetes, imitava o seu chiado e estampidos, pulava, subia nas portas feito macaco, saltava lá de cima ao solo, tornava a subir, tornava a pular, dava gritos histéricos, num espetáculo inédito, coisa nunca vista nem imaginável.

A pancadaria continuava, minhas carnes começavam a rachar, e o desgraçado do tarado a gritar e a pular como um possesso. A seguir fui amarrado em forma de crucificado, trouxeram os jornais, acenderam tochas e começaram a me chamuscar como que pela um porco. O cheiro de carne chamuscada e de cabelos queimados encheu o “quadrado”. Acenderam fogueiras aos meus pés, o calor tremendo e a fumaça me asfixiavam, a sede aumentou, a garganta ressecou. Os carrascos iam alternadamente lá fora, para respirar. Eu não podia sair dali. Estava sendo assado vivo.

E o miserável histérico a pular e gritar delirantemente.

CONTINUA...

 http://www.dhnet.org.br/memoria/1935/livros/bangu/04.htm#primeiro

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

O deleite de Volta Seca - O Pasquim encosta na parede O "Jésse James" do nordeste - FINAL


Jaguar - Quanto tempo você esperou pra ser julgado? Uns dois anos?
- Uns dois anos.

 

Ziraldo - Quando você foi julgado, aqueles dois primeiros crimes estavam no julgamento?
- Não, aqueles já tinham sido prescritos.

 

Ziraldo - Eles não ficaram sabendo daquilo, né? Aquilo era lá dos cafundós...

...Jaguar - Só foi julgado pelos casos do cangaço, né?
- Só, e eles mesmo num davam nada não.


Aparício - Quem te defendeu?
- Quem me defendeu foi Deus e eu mesmo. Não tinha ninguém por mim.

 

Ziraldo - Cê num teve advogado?...
 

Millôr - Cê num teve julgamento com promotor de acusação?
- Na hora teve uma moça, uma advogada, chegou e disse: "Eu vou defendê-lo e vou botá-lo na rua". O juiz num aceitou.

 

Ziraldo - Quem era esse juiz e essa advogada?
- Ela eu num me lembro do nome, não. Era uma moça de Vila Nova da Rainha. O juiz eu num quero nem tocar no nome dele, deixa esse negócio de juiz pra lá.

 

Millôr - Agora, Volta Seca, é verdade que você tem um jornal guardado pra fazer o Jorge Amado engolir?
- Isso eu falei, mas agora já acabou.

 

Millôr - Acabou o jornal ou acabou a pinimba?
- Acabou a pinimba.

 

Jaguar - Por quê?
- Ele escreveu num livro dele que me conheceu muito, em Água de Menino, na Bahia. E se ele me conheceu, foi quando fui preso, porque, na Bahia, eu nunca tinha ido na capital. E ele então escreveu que tinha visto eu em Água de Menino, sendo capitão de areia.

 

Sérgio Cabral - Ele falou mal de você?
- Me chamou de capitão de areia. Então, eu disse mesmo: "Eu tenho o jornal guardado pra um dia dar pra ele comer". Mas eu já deixei pra lá. Deixei até de ganhar dinheiro um dia desses, só porque me disseram que ele ia também. Era no Hotel Serrador, ia ter uma peça e ele ia também. Então, quando me falaram que ele ia, eu disse: "Pode me tirar fora, vou não".

 

Ziraldo - Num gosta de mentiroso...
- Eu não. Quando falar, fala verdade. Tá certo falar aquilo que aconteceu, mas mentir!...

 

Jaguar - Você cumpriu a pena onde?
- Na Bahia.

 

Jaguar - Fugiu quantas vezes?
- Só duas.

 

Jaguar - Voltou ou te pegaram?
- Pegaram, voltou o quê? Se eu fugia, cumé que eu ia voltar?

 

Ziraldo - Podia. Tá ruim cá fora, né?
- Tava não, eu fazia grana.

 

Millôr - Você viu, por acaso, aquele filme, Cangaceiro, do Lima Barreto?
- Eu trabalhei também. Aquilo tudo foi orientação mais minha.

 

Jaguar - Como você soube da morte de Lampião, cumé que foi?
- Ora, eu tava lá pertinho, a notícia correu logo.

 

Sérgio Cabral - Qual foi a sua reação quando soube que Lampião tinha morrido?
- Nenhuma.

 

Millôr - Agora, você não ficou revoltado com aquela exposição daquelas cabeças? Nós todos somos revoltados com aquilo.
- Tanto que eu saí daquilo. Aliás, eu pedi muito, porque aquilo que fizeram... Aquilo foi mais uma revolta. Aquilo seria uma grande revolta pra família, pra criar novamente a mesma coisa que era. Enterra, tá certo. Morreu, acabou. Mas aquilo... 

 

Millôr - Como se chama essa rua aqui?
- Eles chamam Rua da Barreira.

 

Millôr - Isso aqui é ramal extinto?
- Funciona, vai até a base.

 

Jaguar - Você é funcionário da Leopoldina, né?
- Sou.

 

Millôr - Você se dá bem com os seus vizinhos, né?
- Muito bem.

 

Ziraldo - Eles te chamam de seu Antonio ou de Volta Seca?
- De qualquer jeito que eles me chamar tá bom. Brinco com todos, são meus amigos.

 

Millôr - Você está com 55 anos, né? Depois de toda essa luta você tem o quê? Por exemplo, tem casa própria?
- Não, é aluguel. Eu pago Cr$ 150,00.

 

Millôr - Qual é a sua fonte de renda?
- A minha fonte é o meu trabalhozinho só.

 

Millôr - Quanto você ganha?
- Eu estou ganhando Cr$ 197,00. Eu tô encostado.

 

Millôr - Seus filhos ajudam você?
- Tão parados também. Um, por ora, é soldado; o mais velho tá parado...

 

Millôr - Estão todos educados, vão a colégio pelo menos?
- Os pequenos, ainda uns... tão. Um dia vai, um dia num vai... uns já sabe alguma coisinha. Só o menorzinho é que não sabe nada.

Jaguar - Mas os outros estão estudando em escola?...

 

...Millôr - Mas como é que vocês vivem, o seu dinheiro num dá pra pagar as despesas...
- É, mas eu tenho que viver é assim. Dando uma reportagenzinha hoje aqui, outra ali, e tal... E vou vivendo.

FIM.

Publicada na edição de nº. 221 - Setembro/Outubro de 1973, e parênteses Kiko Monteiro.


Comentário do Dr. Ivanildo Alves da Silveira, pesquisador e colecionador do cangaço.

Amigos

Uma das principais finalidades deste Blog é divulgar a "INFORMAÇÃO" relativa ao cangaço e seus personagens, sem se ater, a radicalismo, ideologias ou lado partidário ( volante x cangaceiro ).

Cumpre ao leitor/membro/estudioso do cangaço, fazer uma "Análise" séria, cuidadosa, bem como, a confrontação das fontes orais e escritas sobre determinado "FATO" exposto na literatura cangaceira, E, daí, extrair um juízo de valor.

É como muitos sabem. O cangaceiro"Volta Seca" é, ás vezes, muito controvertido em suas declarações.

Mas, saliento, que é uma personagem, que precisa ser melhor estudado. Na entrevista, que acabaram de ler, há uma gama enorme de informações, que não foram checadas por aqueles que estudaram esse famoso cangaceiro.

 Só um detalhe. Sobre a vida, dele, após o cangaço, pouco ou quase nada se tem escrito a respeito na literatura cangaceira ( ai está a lacuna ). 
Um abraço a todos, e valeu pela atenção
 

Ivanildo Silveira
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC  

http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2009/12/entrevista-de-volta-seca-jornal-o.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com