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terça-feira, 8 de abril de 2025

MARIA BONITA - SUA REPRESENTAÇÃO NA SÉRIE DA DISNEY POR ISIS VALVERDE.

 Por Albin de Souza

Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Bonita, nasceu em 1911 na Bahia e tornou-se uma figura central no cangaço, um fenômeno social que ocorreu no Nordeste do Brasil entre o final do século XIX e início do XX. O cangaço envolveu grupos armados que, em muitos casos, buscavam desafiar as condições sociais e políticas da época, embora também estivessem associados a atividades criminosas.
Em 4 de abril de 2025, o Disney+ estreará a série "Maria e o Cangaço", que aborda os últimos anos de vida de Maria Bonita. Isis Valverde interpreta a personagem principal, enquanto Júlio Andrade dá vida a Lampião. A narrativa explora os conflitos internos de Maria, dividida entre a vida no cangaço e o desejo de formar uma família.
As gravações ocorreram em locações no Nordeste, incluindo Cabaceiras, na Paraíba, conhecida como a "Roliúde Nordestina". Esses cenários buscam recriar o sertão da década de 1930, proporcionando autenticidade visual à produção.
A série oferece uma perspectiva sobre a história do cangaço, destacando a trajetória de Maria Bonita e sua luta por liberdade e identidade em um contexto social complexo.

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A REVOLTA DO JUAZEIRO: INTERVENÇÃO FEDERAL E O SIMBOLISMO DO PADRE CÍCERO NO SERTÃO CEARENSE.

 

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Introdução

A Revolta do Juazeiro, ocorrida no sertão cearense em 1914, foi um evento marcante na história política do Brasil. A revolta foi desencadeada pela intervenção do governo federal na política dos estados durante a Primeira República. Neste contexto, o Padre Cícero Romão Batista emergiu como um símbolo de resistência e liderança para os revoltosos. Este artigo científico tem como objetivo analisar os principais eventos, causas e consequências da Revolta do Juazeiro, bem como o papel desempenhado pelo Padre Cícero nesse movimento.

Abstract

The Juazeiro Revolt took place in the hinterlands of Ceará in 1914, stemming from the intervention of the federal government in state politics and featuring the prominent figure of Padre Cícero. During the First Republic, Brazilian politics were dominated by oligarchic groups that held power in their respective regions. The transition to a republican system in Brazil also led to the establishment of a federalist state, wherein each state enjoyed certain powers and autonomy in decision-making, albeit under central government control. To secure the necessary political support for governing the country, President Campos Sales devised the so-called "politics of the governors," granting autonomy to oligarchic groups in each state in exchange for their support in electing a president favorable to their interests.

Em 1914, o Brasil estava sob a presidência do Marechal Hermes da Fonseca. Sob o seu governo, foi implementada a "política das salvações", que expandiu ainda mais os limites dos monopólios de poder estruturados pela política dos governadores. Com essa medida, o presidente ganhou a capacidade de interferir na política dos estados e impedir que grupos de oposição assumissem posições indesejáveis, como os governos estaduais.

Como consequência dessa medida, Hermes da Fonseca procurou impedir que oligarquias opositoras no estado do Ceará assumissem o controle do governo estadual. Esses grupos eram liderados pelo senador José Gomes Pinheiro Machado, que, apesar de estar baseado na parte mais ao sul do país, exercia uma influência significativa sobre os coronéis do Norte e Nordeste. Essa ação causou insatisfação entre os políticos cearenses, tendo como figura proeminente o Padre Cícero Romão Batista liderando a oposição.

O conflito entre Padre Cícero e o presidente teve início em 1911, quando ele procurou manter a família Acioly no poder na política do Ceará. No entanto, o governo nacional interveio em 1912 e os retirou do cargo. No entanto, Padre Cícero ainda ocupava os cargos de prefeito de Juazeiro do Norte e vice-governador do estado.

Foi em 1914 que o coronel Marcos Franco Rabelo, o interventor federal nomeado, começou a perseguir Padre Cícero, destituindo-o de seus cargos e ordenando sua prisão. Essa medida foi imediatamente recebida com desaprovação dos grupos oligárquicos do Ceará, que, liderados por Floro Bartolomeu, organizaram um batalhão composto por jagunços (trabalhadores rurais armados) e romeiros para defender Padre Cícero.

A expedição ordenada pelo Interventor Franco Rabelo seguiu em direção a Juazeiro do Norte para prender o padre, mas encontrou uma imensa muralha cercando a cidade. Essa defesa era conhecida como o "Círculo da Mãe de Deus" e foi construída em apenas sete dias. Foi suficiente para repelir as tropas do governo, que tiveram que recuar e reunir reforços.

Ao longo de vários confrontos, a vitória permaneceu com o grupo de rebeldes organizados em Juazeiro do Norte. Floro Bartolomeu então viajou para o Rio de Janeiro em busca de apoio, enquanto os rebeldes se dirigiram a Fortaleza com o objetivo de depor o interventor. No Rio de Janeiro, eles obtiveram o apoio de Pinheiro Machado, e em Fortaleza, Franco Rabelo foi realmente removido do poder.

Após a revolta e a deposição do interventor no Ceará, o presidente Hermes da Fonseca convocou novas eleições para o governo estadual, resultando na eleição de Benjamim Liberato Barroso como governador e no retorno do Padre Cícero como vice-governador.

Devido ao seu envolvimento nesses eventos políticos, Padre Cícero foi excomungado pela Igreja Católica no final da década de 1920. No entanto, sua influência no Ceará e na região Nordeste garantiu que sua imagem como homem santo permanecesse intacta. Até os dias atuais, ele é venerado pela população local e continua a atrair milhares de pessoas para Juazeiro do Norte.

Desenvolvimento

Contexto histórico da Primeira República e a política dos governadores

A Primeira República, também conhecida como República Velha, foi um período da história brasileira que se estendeu de 1889 a 1930. Esse período foi marcado pela transição do regime monárquico para o republicano e pelas profundas mudanças políticas, econômicas e sociais que o país vivenciou. A política da Primeira República era dominada por grupos oligárquicos que detinham o poder em suas respectivas regiões. Essas oligarquias eram compostas por grandes proprietários de terra, cafeicultores e membros da elite agrária.

A política dos governadores foi uma estratégia adotada durante a Primeira República para garantir a governabilidade do país. Nesse sistema, o presidente da República concedia autonomia aos governadores estaduais, permitindo que esses líderes locais exercessem amplo controle sobre a política de seus estados. Em troca, os governadores se comprometiam a apoiar o presidente nas eleições presidenciais e a manter a estabilidade política no país. Essa troca de favores entre o presidente e os governadores foi fundamental para a consolidação do poder das oligarquias regionais e para a estabilidade do regime republicano.

Os governadores, por meio dessa política, exerciam controle sobre os poderes executivo e legislativo dos estados, indicando seus aliados políticos para os cargos-chave. Essa prática resultava na concentração de poder nas mãos de poucos grupos políticos e na perpetuação de uma estrutura de poder oligárquica. Dessa forma, a política dos governadores, embora tenha contribuído para a estabilidade política durante a Primeira República, também reforçou a exclusão política e a falta de representatividade para grande parte da população brasileira.

No entanto, essa estratégia política gerava uma série de problemas, como a corrupção e o nepotismo, além de dificultar a participação política de grupos não alinhados com as oligarquias. Essa falta de abertura política contribuiu para o fortalecimento do poder local e a perpetuação de práticas clientelistas e autoritárias. A política dos governadores foi um dos principais pilares da Primeira República, moldando a dinâmica política do país e estabelecendo as bases para as tensões e conflitos que surgiriam ao longo desse período.

A política das salvações e a ampliação do poder do presidente na política dos estados

Durante a Primeira República no Brasil, a política das salvações foi uma medida implementada com o objetivo de fortalecer o poder do presidente e ampliar sua influência sobre os estados. Essa política consistia em estender os limites de intervenção do governo federal na política local, permitindo que o presidente interferisse diretamente na indicação de governadores e em outras decisões políticas dos estados.

Com a política das salvações, o presidente adquiriu maior controle sobre a composição dos governos estaduais, podendo nomear interventores federais para atuarem como representantes do governo central nos estados. Esses interventores tinham o poder de destituir governadores e impor medidas que fossem do interesse do presidente, garantindo assim uma maior centralização do poder político.

Essa ampliação do poder do presidente na política dos estados gerou uma série de tensões e conflitos com as oligarquias regionais. O presidente passou a exercer um papel determinante na escolha dos governadores, interferindo nas disputas políticas locais e impedindo a ascensão de opositores. Isso resultou em insatisfação por parte das oligarquias e em resistência aos interventores federais, o que culminou em conflitos e revoltas em diversos estados brasileiros, como foi o caso da Revolta do Juazeiro no Ceará, em 1914.

Em suma, a política das salvações representou um marco na consolidação do poder presidencial durante a Primeira República. Essa medida contribuiu para a ampliação da influência do presidente sobre os estados, mas também gerou tensões e conflitos com as oligarquias locais, evidenciando a centralização do poder político e as disputas pelo controle dos governos estaduais.

A tentativa do presidente Hermes da Fonseca de impedir a ascensão de oposicionistas no governo do estado do Ceará

Durante o governo de Hermes da Fonseca, presidente do Brasil na Primeira República, houve uma clara tentativa de impedir a ascensão de oposicionistas ao controle do governo do estado do Ceará. O presidente, utilizando-se da política das salvações, ampliou seus poderes e interferiu diretamente nos assuntos políticos dos estados, visando garantir a lealdade de seus aliados e evitar que adversários políticos ocupassem cargos importantes.

No caso específico do Ceará, grupos oposicionistas liderados pelo senador José Gomes Pinheiro Machado, mesmo baseados no extremo sul do país, exerciam grande influência sobre os coronéis do Norte e Nordeste. Esses grupos representavam uma ameaça ao controle político do presidente e de suas alianças regionais.

Como resposta, Hermes da Fonseca adotou medidas para impedir que esses oposicionistas assumissem o governo do estado do Ceará. Essas ações incluíram intervenções diretas, nomeando interventores federais e exercendo pressão política sobre as oligarquias locais, a fim de manter o controle dos cargos políticos do estado alinhados aos seus interesses. Essa interferência do presidente gerou insatisfação entre os políticos cearenses e desencadeou a Revolta do Juazeiro, liderada pelo emblemático Padre Cícero Romão Batista.

A figura do Padre Cícero como líder e símbolo da Revolta do Juazeiro

O Padre Cícero Romão Batista desempenhou um papel fundamental como líder e símbolo da Revolta do Juazeiro, ocorrida em 1914 no sertão cearense durante a Primeira República. O padre era uma figura muito influente na região, exercendo não apenas um papel religioso, mas também político e social. Sua posição de destaque na revolta foi resultado de seu envolvimento em questões políticas e de sua defesa dos interesses do povo sertanejo.

Padre Cícero era conhecido por sua atuação em prol dos menos favorecidos e dos camponeses, que encontravam na figura do padre um líder e protetor. Sua popularidade na região e sua capacidade de mobilizar as massas foram fundamentais para a organização e sucesso da Revolta do Juazeiro. Ele se tornou o símbolo da resistência contra a interferência do governo federal na política local e da luta contra as oligarquias dominantes.

A liderança carismática e a devoção popular a Padre Cícero contribuíram para que ele se tornasse uma figura emblemática não apenas durante a revolta, mas também ao longo da história do Ceará e do Nordeste. Mesmo após a revolta, mesmo após sua excomunhão pela Igreja Católica na década de 1920, sua imagem como homem santo e defensor do povo permaneceu intacta. Até os dias atuais, Padre Cícero é venerado pela população da região e sua cidade, Juazeiro do Norte, atrai milhares de peregrinos em busca de sua proteção e intercessão.

O confronto entre o interventor Marcos Franco Rabelo e os revoltosos cearenses

O confronto entre o interventor Marcos Franco Rabelo e os revoltosos cearenses durante a Revolta do Juazeiro, em 1914, foi um episódio marcante na história do Ceará e da Primeira República. Rabelo, nomeado pelo governo federal, buscava controlar a região e reprimir a resistência liderada pelo Padre Cícero e seus seguidores. Enquanto isso, os revoltosos cearenses, liderados por figuras como Floro Bartolomeu, organizaram uma defesa em Juazeiro do Norte para proteger o padre e resistir à intervenção do governo.

A expedição liderada por Rabelo rumou para Juazeiro do Norte com o intuito de prender o Padre Cícero, mas encontrou uma forte resistência. Os revoltosos haviam construído uma muralha defensiva chamada "Círculo da Mãe de Deus", que cercava a cidade e impediu a penetração das tropas governamentais. Essa barreira defensiva foi construída em apenas sete dias e se mostrou eficaz para repelir os ataques iniciais.

Ao longo de vários combates, os revoltosos cearenses conseguiram manter a vitória em Juazeiro do Norte, frustrando os esforços do interventor. Floro Bartolomeu, líder rebelde, empreendeu uma viagem ao Rio de Janeiro em busca de apoio político, enquanto os revoltosos avançaram em direção a Fortaleza com o objetivo de depor Rabelo. No Rio de Janeiro, conseguiram o apoio de José Gomes Pinheiro Machado, importante político e líder influente na região. Em Fortaleza, o interventor Marcos Franco Rabelo foi finalmente deposto, selando a vitória dos revoltosos cearenses na luta contra a intervenção federal e garantindo a retomada do controle político local.

A resistência e a vitória dos revoltosos em Juazeiro do Norte

A resistência e a vitória dos revoltosos em Juazeiro do Norte durante a Revolta do Juazeiro em 1914 são episódios marcantes na história do Ceará e da Primeira República. Liderados pelo carismático Padre Cícero, os revoltosos se organizaram em uma defesa firme contra a intervenção do governo federal, representada pelo interventor Marcos Franco Rabelo.

Ao cercar Juazeiro do Norte com o chamado "Círculo da Mãe de Deus", uma muralha defensiva construída em tempo recorde, os revoltosos conseguiram repelir os avanços das tropas do governo. Essa muralha, erguida em apenas sete dias, mostrou-se eficaz ao proteger a cidade e frustrar as investidas iniciais do interventor. A resistência determinada dos revoltosos cearenses demonstrou sua disposição em lutar pelo controle político e resistir às interferências externas.

A vitória dos revoltosos em Juazeiro do Norte foi um marco significativo na revolta. A liderança firme de Padre Cícero, aliada à mobilização popular e ao apoio de figuras políticas influentes, como José Gomes Pinheiro Machado, garantiu a força necessária para enfrentar o interventor e suas tropas. A derrota de Rabelo em Fortaleza, culminando em sua deposição, consolidou o triunfo dos revoltosos cearenses e marcou um ponto de inflexão na Revolta do Juazeiro. Essa vitória reafirmou a resistência do povo e a importância do protagonismo local na luta contra a intervenção do governo federal. A busca por apoio político no Rio de Janeiro e a deposição do interventor em Fortaleza. As eleições e o retorno do Padre Cícero ao posto de vice-governador. A excomunhão do Padre Cícero pela Igreja Católica e sua posterior veneração pela população.

Conclusão

A Revolta do Juazeiro foi um importante episódio da história política do Brasil, ocorrido em 1914. Marcada pela intervenção do governo federal na política dos estados, essa revolta teve como símbolo e líder o Padre Cícero Romão Batista. O evento evidenciou a resistência das oligarquias locais às interferências do poder central e demonstrou a força política e a devoção popular em torno do Padre Cícero. Apesar de excomungado pela Igreja Católica, sua influência perdurou e sua imagem como homem santo continua atraindo peregrinos e devotos até os dias atuais. A Revolta do Juazeiro representa um capítulo significativo da história do Ceará e do Brasil, destacando a luta pelo poder político e as dinâmicas regionais durante a Primeira República.

Bibliografia

Zaluar, Alba (1986), "Os Movimentos 'Messiânicos' Brasileiros: Uma Leitura", in Anpocs, O Que se Deve Ler em Ciências Sociais no Brasil. São Paulo, Cortez/Anpocs.

Monteiro, Duglas Teixeira (1977), "Um Confronto entre Juazeiro, Canudos e Contestado", in S. B. de Holanda (dir.), História Geral da Civilização Brasileira. Tomo III, vol. 2. Rio de Janeiro/São Paulo, DIFEL.

DELLA CAVA, Ralph. (1975), "Messianismo Brasileiro e Instituições Nacionais: Uma Reavaliação de Canudos e Juazeiro". Revista de Ciências Sociais - UFC, vol. VI, nº 1 e 2.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. (1980), Os Deuses do Povo. São Paulo, Brasiliense.

http://www.historiabrasileira.com/brasil-republica/revolta-de-juazeiro/

http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Floro+Bartolomeu

Publicado por: João Paulo dos Santos

 https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/historia-do-brasil/a-revolta-do-juazeiro-intervencao-federa-e-o-simbolismo-do-padre-cicero-no-sertao-cearense.htm#:~:text=Foi%20em%201914%20que%20o,cargos%20e%20ordenando%20sua%20pris%C3%A3o.

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EXPEDIÇÃO ROTA DO CANGAÇO 2023 - O PLANO PERFEITO PARA ELIMINAR ZÉ BAIANO E SEU BANDO - 13

Vídeo Aderbal Nogueira

https://www.youtube.com/watch?v=yys2CfBo6Gc

O facínora foi morto por Antônio de Chiquinho + 5 companheiros, lá na zona rural do povoado Alagadiço/SE. Veja no vídeo, o exato local/monumento e as explicações do escritor Antonio Porfírio, que teve um tio (Pedro) que participou do evento.

Décimo terceiro vídeo da Expedição Rota do Cangaço realizada em Janeiro de 2023. Nesse vídeo Porfírio fala sobre o plano para eliminar o cangaceiro Zé Baiano e seus homens. Eliminar a Fera de Chorrochó não era tarefa fácil, mas eles conseguiram obter êxito nessa tarefa quase impossível. Veja também Vinte Cinco falando sobre Zé Baiano    • O Ferro de Zé Baiano   Para participar da Expedição Rota do Cangaço entre em contato pelo e-mail: narotadocangaco@gmail.com Seja membro deste canal e ganhe benefícios:    • Expedição Rota do Cangaço 2023 - Pira...  

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20 DE DEZEMBRO DE 1913: TROPA DO GOVERNO ESTADUAL TENTA INVADIR JUAZEIRO.


Há exatos 100 anos, no dia 20 de dezembro de 1913, tropas rabelistas tentaram invadir Juazeiro do Norte (à época grafada apenas como "Joaseiro") pela primeira vez. Inicialmente sob a alegação de que o Governo do Ceará (sob o comando do militar Franco Rabelo) estava unido ao estados fronteiriços — Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte — na missão de "varrer do território" os jagunços e cangaceiros, que eram sinônimo de "terras sem lei", de territórios entregues ao banditismo.

Juazeiro já convivia há anos com a pecha de "terra de arruaceiros, cachaceiros, cangaceiros", inclusive com o Padre Cícero sendo acusado de acobertar tais práticas, sendo acusado pelos seus detratores de dar guarida a criminosos de diversas partes do Nordeste que iam se refugiar no município.

Mas é preciso deixar claro que havia muito mais por trás dessa ofensiva rabelista em terras caririenses. Na verdade, desde 1911, quando o Padre Cícero selou um acordo de paz entre diversos prefeitos caririenses, numa reunião que entrou para a história como o "Pacto dos Coronéis"  — alcunha questionada por Daniel Walker em artigo que pode ser lido clicando aqui: segundo o professor-pesquisador, autor de vários livros sobre o Padre Cícero e o Juazeiro, outras reuniões daquele tipo aconteceram na época, mas apenas a do patriarca do Juazeiro ficou marcada na história como um grande conchavo do coronelismo — estava decretado o apoio de Padre Cícero e Floro Bartolomeu (o baiano que era seu grande aliado na política) à oligarquia de Nogueira Accioly (ainda presidente do Ceará em 1911).

Mas pouco tempo depois Accioly foi deposto do cargo e o Ceará passou a ser comandado por Franco Rabelo. Padre Cícero, que era prefeito de Juazeiro durante essa troca de governantes, acabou por assumir um dos cargos de vice-presidência do Estado (acumulando ainda a função de prefeito juazeirense), devido a um acordo entre rabelistas e a oligarquia Accioly. Mas depois de algumas semanas, o novo Presidente do Ceará começou a empreender medidas contra o Padre Cícero — a primeira delas foi a exoneração do Padre do cargo de prefeito juazeirense.

A tensão entre os aliados do Padre Cícero e o Governo do Estado aumentava cada vez mais. Então Floro Bartolomeu resolveu tomar a frente das tratativas e logo estaria arregimentando um exército de jagunços para defender o Padre Cícero e Juazeiro. Ficou claro que o confronto armado seria apenas questão de tempo quando, na madrugada chuvosa do dia 9 de dezembro de 1913, Floro Bartolomeu e um grupo de jagunços invadiu o destacamento policial de Juazeiro e passou a contar com um arsenal de armas ainda maior.

Por ora deixaremos de lado detalhes das ameaças políticas e tentativas de golpes (que se sucederam de 1911 a 1913). Muitas dessas questões trataremos em futuras postagens sobre a Sedição de Juazeiro. Nesta postagem nos interessa falar da primeira ofensiva das tropas rebelistas em território juazeirense. Mas antes cabe um parêntese sobre a construção do Círculo da Mãe de Deus: como o ataque a Juazeiro era iminente (estava nítido que centenas de homens fortemente armados tentariam invadir a terra do Padre Cícero),l restou aos juazeirenses a união em prol de um plano mirabolante (aconselhado por Antônio Violanova, um ex-combatente de Canudos que residia em Assaré): a construção de um fosso cercando a cidade, um grande valado. A ideia era que o fosso impossibilitasse a invasão dos soldados adversários. A respeito de tal fato, nos conta Lira Neto:

"Parecia maluquice de um guerrilheiro aposentado. Mas Floro e Cícero concluíram que  a ideia, por mais esdrúxula que pudesse ser à primeira vista, podia funcionar. Aos primeiros raios do sol do dia 15 de dezembro, conforme prescrevera o padre, a multidão de juazeirenses estava a postos com ferramentas diante da igreja. Durante seis dias ininterruptos, debaixo de sol e chuva, pelas manhãs, tardes, noites e madrugadas, rezando ave-marias, pai-nossos e cantando benditos, a população inteira da cidade se entregou à tarefa. Os homens cavavam a terra. Mulheres e crianças transportavam a areia em baldes e panelas, para depois empilhá-las em montes de dois metros de altura, bem contíguos às valas que iam sendo abertas, formando uma inexpugnável trincheira. Naqueles morros gigantescos de areia fresca, eram introduzidos canos de rifles em direção ao inimigo. Na falta de pás e enxadas para todos os braços, muitos ajudavam a revolver o solo com o que estava mais à mão, como machados e facões. As crianças menores e algumas beatas acudiam raspando o chão até mesmo com garfos e colheres trazidas da cozinha de casa.

O grande fosso, de nove quilômetros de extensão, com oito metros de largura e em alguns locais com até cinco metros de profundidade, ficou praticamente pronto ao fim do sexto dia de trabalho. A malha central do Juazeiro estava protegida pela trincheira, que serpenteava terreno adentro até alcançar a serra do Catolé. Em volta da casa do padre, no alto da colina, erguia-se uma poderosa muralha de pedra. Era, sem dúvida, uma obra engenhosa, extraordinária do ponto de vista da engenharia militar, principalmente se levados em conta o tempo exíguo e as ferramentas precárias com que foi construída.

Cícero abençoou o grande valado e resolveu batizá-lo com um nome que fizesse jus à fé com que fora edificado. Aquele não era apenas um fosso descomunal e uma imensa trincheira, que passara a envolver defensivamente o Juazeiro.

Era, nomeou Cícero, o 'Círculo da Mãe de Deus'."

O Juazeiro tentaria se proteger da ofensiva do exército de Franco Rabelo, que contava com todo o efetivo policial de Fortaleza. Como segue narrando o Lira Neto, "Rabelo não queria correr o risco de ver a resistência de Canudos reeditada. A ordem era arrasar Juazeiro de um único golpe. Comandados pelo coronel do exército Alípio Lopes de Lima Barreto, mais quinhentos praças foram enviados nos vagões da companhia ferroviária até Iguatu."

De Iguatu os soldados marcharam 180 quilômetros até o Crato, onde chegaram no dia 18 de dezembro de 2013. No dia 19 o coronel Alípio telegrafou ao Padre Cícero, propondo a rendição de Juazeiro. Sem resposta, resolveu juntar a tropa e partiu para a invasão no dia 20 de dezembro. Às duas da tarde a guerra começou, com os soldados do Governo surpreendidos pelo valado. Floro estava do lado dos jagunços, atirando e provocando baixas no "exército rabelista", enquanto o Padre Cícero rezava em casa. Trechos do relato de Lira Neto contam a sequência do confronto daquele dia:

"Outra arma eficaz contra a soldadesca eram as granadas de mão, improvisadas com garrafas de vidro preenchidas metade com pólvora e metade com pregos ou pedaços pontiagudos de ferro. Ateava-se fogo em um pavio de pano e jogava-se o artefato por cima do valado o mais longe possível. Seguia-se o estrondo e os estilhaços se espalhavam no ar, perfurando a carne dos inimigos. Os soldados, sangrando, buscavam proteção como podiam, atrás de árvores e arbustos.

O coronel Alípio não contara com tal reação. Muito menos com aquele surpreendente fosso. Como não conseguia enxergar o adversário, sua tropa atirava a esmo, sem oferecer ameaça alguma ao Juazeiro. Sentindo-se perdidos, muitos soldados haviam simplesmente debandado para dentro do matagal, recusando-se a servir de alvo fácil para mira do rifle inimigo.

(...) Às cinco da tarde. sem ter conseguido avançar um único centímetro em sua posição original, Alípio resolveu reunir os auxiliares imediatos para uma análise da situação. O quqadro era desolador. Estavam sem poder de fogo. Os caixotes com cerca de 25 mil cartuchos que haviam levado para o campo de batalha estavam quase vazios. Já se contavam 82 baixas, entre mortos e feridos. Perto de escurecer, só restava uma opção: ordenar que o corneteiro fizesse soar o toque de retirada para evitar uma hecatombe.

Às nove da noite, a população do Crato não acreditou quando viu aqueles homens voltarem à cidade derrotados, maltrapilhos, com cara de espanto, como se acabassem de retornar do Inferno. Havia registro de inúmeras deserções, inclusive as de alguns soldados que simplesmente largaram a farda e passaram a combater ao lado do Padim Ciço. Outros vagavam pelo mato, perdidos ou apavorados, sem querer voltar. Quando tentou reunir os soldados para contabilizar o total de perdas, o coronel Alípio percebeu que não tinha mais uma tropa nas mãos, mas sim um amontoado de homens de moral esfrangalhado. Muitos nem sequer obedeceriam, naquela noite, ao toque de recolher. Teriam de ser caçados à base de ameaças, um a um, trôpegos de medo e de cachaça, na zona do meretrício do Crato.

Quando levaram a Cícero a notícia de que as tropas estaduais haviam dado meia-volta sem que fosse registrada nenhuma morte entre os combatentes do Juazeiro, o padre levantou as mãos para o céu em sinal de agradecimento. Nosso Senhor Jesus Cristo olhara por eles, expôs. O Círculo da Mãe de Deus resguardara os bons dos ímpios, os fracos dos fortes, os oprimidos dos opressores, concluiu."

Mas essa foi apenas a primeira ofensiva contra o Juazeiro, o Padre Cícero e a tropa comandada por Floro Bartolomeu. Em outras postagens contaremos mais detalhes sobre os conflitos, os personagens envolvidos, o desenrolar político dos episódios, etc. 

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AUTOR: JOSÉ DI ROSA MARIA



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