Por Jornal Nacional
Piloto que
sobreviveu a um grave acidente, voltou às pistas e conseguiu o tricampeonato.
Ao lado da família, em Viena, foi vencido por uma complicação renal.
Morreu, na
segunda-feira (20), aos 70 anos, o tricampeão mundial de Fórmula 1, Niki Lauda.
Niki Lauda e a
Fórmula 1 - uma relação que deixou marcas na pele. O ano era 1976, na pista de
Nürburgring, na Alemanha. Durante quase um minuto, ele ficou queimando dentro
do carro, respirando fumaça e gases tóxicos. O acidente foi tão grave que um
padre foi chamado ao hospital para dar a extrema unção a ele. Mas o austríaco
sobreviveu numa época em que a morte fazia parte do esporte tanto quanto
vencer.
Quarenta e três
dias depois, ainda com as feridas por cicatrizar, lá estava ele de volta num
carro de corrida para disputar o título. Na última etapa daquele ano, com muita
chuva no Grande Prêmio do Japão, decidiu abandonar a prova pensando na própria
segurança. O inglês James Hunt foi campeão com apenas um ponto de diferença.
Uma história
tão impressionante virou filme em 2013. “Rush: no limite da emoção” rendeu uma
indicação ao Globo de Ouro de melhor ator para Daniel Brühl, que homenageou
Lauda nesta terça (21) numa rede social.
"Foi o
homem mais corajoso que eu conheci na vida", disse.
Na época do
acidente, Niki Lauda já havia conquistado o título de 1975.
Um ano depois de
quase morrer, foi campeão de novo em 1977 e se tornou tricampeão em 1984.
Nas 14
temporadas na Fórmula 1, correu com nossos três campeões: Ayrton Senna, Nelson
Piquet e Emerson Fittipaldi.
"Niki
Lauda, um grande amigo, supercampeão, supercorajoso, superdeterminado",
lembrou Fittipaldi.
Após a
aposentadoria das pistas, em 1985, Niki Lauda se dedicou à sua companhia aérea.
Voltou à Fórmula 1 nos anos 90 como consultor de equipes como a Ferrari e a
Jaguar. Mas foi na Mercedes que ele alcançou o maior sucesso, sendo parte
atuante da equipe que domina a Fórmula 1 nos últimos anos.
Contratou
Lewis Hamilton, que lamentou a morte nas redes sociais.
“Estou
sofrendo para acreditar que você se foi. Sentirei falta das nossas conversas,
risadas, os grandes abraços após vencermos corridas juntos”, escreveu.
Niki Lauda
passou por um transplante de pulmão no ano passado. Desde então, a saúde dele
nunca mais foi a mesma. Morreu nesta segunda (20), ao lado da família, em
Viena, por complicações renais.
Neste fim de
semana, todo o circo da Fórmula 1 estará em Mônaco, o circuito mais charmoso da
temporada. E não vão faltar homenagens ao tricampeão.
No Boulevard
Albert Premier, em um dia normal, o limite de velocidade é de 50km/h. Se
ultrapassar pode levar uma multa de cerca de R$ 400 ou ter a carteira
apreendida. Mas isso jamais em um domingo de GP. Os homens que escreveram e
escrevem a história da Fórmula 1 passam por mais de 200km/h. Assim como Niki
Lauda quando ganhou o Grande Prêmio de Mônaco em 75 e em 76.
No paddock,
ele era reverenciado como alguém quase sobrenatural, que venceu a morte por
teimosia e força.
“Ele tinha um
ar de quando trabalhava, de ser duro, forte, de ter uma voz muito ativa, mas
era um cara muito legal e também muito carinhoso”, contou Rubens Barrichello.
Afetuoso com
todos à volta dele, mas também frio nas decisões e na determinação. Na Fórmula
1, Niki Lauda vai ser lembrado sempre como o piloto que comprovou o poder
milagroso da força de vontade.
'Misturou
talento, agressividade e consciência e se tornou uma lenda', diz Reginaldo Leme.
A Fórmula 1
era bem diferente na época de Niki Lauda. As pessoas eram mais dóceis, o
ambiente mais amigável e o acesso mais fácil. Eu fui apresentado a ele pelo
Emerson Fittipaldi, o que fez com que o nosso relacionamento fosse sempre muito
bom.
Foram muitas
as oportunidades que tive de entrevistá-lo. Na maioria das vezes, o tom era
bem-humorado.
Como
profissional era extremamente dedicado e exigente. Imaginem um piloto tendo
chance de chegar à Ferrari, o sonho de todos, e, de cara, dizer que o carro era
ruim. Isso caiu como uma bomba na Itália toda. Quase uma heresia. Mas foi
atendendo o que ele queria que a equipe conseguiu ganhar o campeonato de 75.
No ano
seguinte ele caminhava para o bicampeonato, até acontecer o acidente na
Alemanha. O sacrifício todo que ele fez lutando para viver o transformou em uma
pessoa de decisões ainda mais seguras. Por isso, não pensou duas vezes antes de
abandonar a briga pelo título naquela corrida com chuva torrencial no Japão,
porque tinha convicção de que havia algo mais importante do que vencer no
esporte.
Viver foi sua
maior conquista. Uma atitude que a imprensa italiana chamou de fraqueza, mas eu
vi como prova de coragem. Tanto quanto aquela de voltar a um carro de corrida,
apenas 43 dias depois de um acidente que o deixou entre a vida e a morte.
Niki Lauda
representou muito para a Fórmula 1. Dos pilotos que vi em ação, foi o primeiro
a misturar talento, agressividade e consciência. Muitos pilotos têm uma ou duas
dessas qualidades. Ele somou as três.
Por isso se
tornou uma lenda.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com