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domingo, 15 de fevereiro de 2015

10 ANOS SEM SILA... UMA CANGACEIRA DE LAMPIÃO.


No dia 15 de Fevereiro de 2005, há dez anos atrás, falecia na cidade de São Paulo-SP, a ex-cangaceira Sila, companheira do cangaceiro Zé Sereno, e uma das sobreviventes de Angico.

Outra foto da Sila

Fonte: facebook


Acervo Youtube
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ENQUANTO OS CANGACEIROS PULAM O CARNAVAL - 7 CASOS SURPREENDENTES DE ROUBOS DE OBRAS DE ARTE - PARTE I


Ano: 1911

Valor: 720 milhões de dólares (com correção monetária).

Este sorrisinho maroto sempre fez sucesso entre os reis da França – já esteve até no quarto de Napoleão. Uma das mais icônicas pinturas do mundo, a Mona Lisa de Leonardo da Vinci, foi concluída na Itália entre os anos de 1503 e 1506, mas não demorou muito a se tornar um tesouro da coroa francesa – a obra passou a integrar o acervo quando Francisco I governou o país, entre os anos de 1515 e 1547. Desde 1797, a pintura está em exposição no Museu do Louvre, em Paris, mas, no dia 20 de Agosto em 1911, seu espaço de destaque amanheceu vazio. 

Guillaume Apollinaire

O crime, realizado na calada da noite, chocou a França e causou intrigas – o poeta Guillaume Apollinaire foi preso como suspeito; ele, por sua vez, acusou Pablo Picasso de roubar o quadro. Ambos foram descartados como suspeitos, mas o quadro permaneceu sumido por outros dois anos.

Pablo Picasso

O mistério só foi resolvido em 1913, quando autoridades prenderam Vincenzo Perugia. O italiano, antigo funcionário do Louvre, tentava vender a icônica peça na Galeria Uffizi, em Florença, quando foi descoberto. 

Vincenzo Perugia

Para levar para casa a peça de valor inestimável, Vincenzo não precisou de um plano muito engenhoso: ao final do turno, na noite anterior, o funcionário simplesmente se escondeu no armário de vassouras; ao amanhecer, saiu com o quadro escondido debaixo do casaco. A segurança, pelo visto, não era lá muito rigorosa no início do último século. 

O crime foi considerado um ato patriótico (Vincenzo, que cumpriu uma pena de poucos meses, tentava devolver o quadro ao seu país de origem), mas teria sido também bastante lucrativo – na década de 1962, o seguro da obra foi avaliado em 100 milhões de dólares, valor que hoje ultrapassaria a marca dos 700 milhões. Uau!

CONTINUA...


http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/7-casos-surpreendentes-de-roubos-de-obras-de-arte/

Se você gosta de ler histórias sobre "Cangaço" clique no link abaixo:

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FOTOS IMPORTANTES!


A sobrinha de Maria Bonita - Dona Ada reside em Jeremoabo, no Estado da Bahia. Possui um hotel cujo nome é “Bandeirante”. Seu pai, Zé de Déa, era irmão da rainha do Cangaço. Foto De Abreu Mendes, sempre viajando ao sertão. 

Cortesia do amigo Abreu Mendes.


Punhal que pertenceu ao Coronel José Osório de Farias, o celebérrimo Zé Rufino, um dos maiores matadores de cangaceiros da grande saga nordestina. Zé Rufino, entre outros, foi o responsável pela diligência que assassinou Corisco, o "Diabo Louro", em 25 de Maio de 1940. 

Cortesia do amigo Abreu Mendes

Fonte: facebook
Página:  Abreu Mendes

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PROVAVELMENTE ESTA É A ÚLTIMA FOTO DE LAMPIÃO


Essa foto, provavelmente seria a última foto de Lampião em vida.  Ele posa para foto, fumando seu velho cigarro de papel desfiado com a Revista "O Globo" em mãos.

Fonte: facebook

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A SINISTRA AUTOBIOGRAFIA DE UM SICÁRIO

Foto de Sebastião Pereira (Sinhô Pereira) e Luiz Padre

Aos vinte e quatro dias do mês de Janeiro de mil novecentos e vinte e três (1923) às dezoito horas, nesta cidade do Crato, no Paço da Câmara Municipal, presentes o primeiro suplente de delegado de polícia em exercício, major Raimundo de Moraes Brito, comigo escrivão de seu cargo, abaixo nomeado, os senhores capitão José dos Santos Carneiro e o tenente Antônio de Mattos Dourado, ai compareceu, em virtude de Portaria nesta data, desta delegacia, o indivíduo Ulisses Liberato de Alencar, de vinte e nove anos de idade, natural do município de Pombal, Estado da Paraíba, filho legítimo de Francisco Liberato de Alencar, almocreve; sabe ler e escrever, casado. Interrogado pelos diversos motivos porque se acha preso, respondeu: “Que residia na fazenda “Estrelo” do município de Pombal, Estado da Paraíba, tendo se retirado daí no mês de outubro do ano de mil e novecentos e dezoito (1918), por motivo de questões com o chefe do município, doutor José Queiroga, vindo residir na fazenda “Trapiá”, município de Milagres, neste Estado, debaixo da proteção do “major”José Ignácio; que residiu no “Trapiá”, até o mês de outubro de mil novecentos e dezenove (1919); que durante o tempo que esteve na companhia de José Ignácio, nunca tomou parte em combates ou ataques a pessoa alguma, a não ser ter ido deixar a importância de quatrocentos mil réis (400$000), enviada por José Ignácio a ser entregue a Luiz Padre e Sebastião Pereira, no lugar São Francisco, no Estado de Pernambuco; que ao chegar a São Francisco, no dia seguinte ao da sua chegada, foi o grupo atacado pela força de Pernambuco, morrendo nessa ocasião nove (9) soldados; que de São Francisco, voltou ao “Trapiá”; que assistiu ao tiroteio, que determinou a morte de João Flandeiro, sendo autores desse assassinato Sebastião Pereira, Tiburtino, filho de José Ignácio e José Nogueira; que não sabe se atirou, mas conduzia no seu bornal sete caixas de balas e que no final do tiroteio, restavam-lhe trinta balas; que estavam presentes neste tiroteio Sebastião Pereira, Tiburtino, José Ignácio de Sousa, Raimundo Agostinho, Raimundo Tabaqueiro, Raimundo Patrício, Patrício de Tal, filho de João Raimundo, Cornélio, vulgo Chico Caixão, ou ainda Parafuso, José Nogueira Deodato, vulgo Rouxinol, Satyro, vulgo Meu Primo, Manoel Vaqueiro, Manoel Sant’Ana, Firmino Miranda, Manoel Benedito, Antônio Dino, vulgo Pilão, José de Genoveva, José Pedro, tendo ainda a presença dele, respondente; que relativamente ao fogo de Coité, tem a dizer que, estando no “Barro”, assistiu a saída para Coité, de quarenta e oito homens chefiados por Sebastião Pereira, Tiburtino e José Nogueira; que o fim principal era, atacando Coité, seguirem depois pelo município de Milagres e nos lugares circunvizinhos àquele município forçando assim a força pública a sair de Milagres, para atacar o “Barro” aproveitando-se o grupo da ocasião, e atacar Milagres; que no “Barro” existiam duzentos e sessenta (260) homens, todos em armas, prontos a agir contra a força pública; que a ordem sobre o ataque de Coité era determinação de José Ignácio de pegarem o Padre Lacerda, obriga-lo a dar trinta contos de réis........ (30:000$000); que ele, respondente, não assistiu ao tiroteio por estar doente; que do Coité o grupo dirigiu-se à fazenda “Queimadas” sendo ali atacado pela força, morrendo o “Pitombeira”; que isto soube por Sebastião Pereira; que dois dias depois mais ou menos depois do fogo de “Queimadas”, veio até “Barreiros” o “major” José Ignácio, acompanhado dele, respondente, e mais outros companheiros; que estiveram em casa do doutor Floro Bartolomeu da Costa, regressando ao “Barro” no mesmo dia, e que no caminho José Ignácio disse a ele, respondente, que devido ao acordo havido entre o doutor Floro e Manuel Chicote, ele, José Ignácio, baixava as armas; que já no “Barro”, José Ignácio, estando ele, depoente, em casa de Almindo Lourenço, no lugar “Carnaúba” perto do “Barro”, foi convidado por José Ignácio a fim de ir até a Paraíba, acompanhando outros companheiros, a fim de, no modo de dizer de José Ignácio, tirar ali as despesas da questão; que depois de dizer que não podia ir à Paraíba devido aos motivos atrás alegados, resolveu satisfazer o pedido de José Ignácio seguindo em companhia de Sebastião Pereira e mais vinte companheiros, à Paraíba, levando a ordem de José Ignácio, que era a seguinte: que deviam atacar Valdevino Lobo, Adolfo Maia e Rochael Maia, residentes, o primeiro em Dois Riachos, município de Catolé do Rocha; o segundo e o terceiro noutras fazendas, perto do primeiro; quando o respondente e seus companheiros ao chegarem perto e Jericó, foram atacados por autoridades do lugar, forçando o grupo a entrar no povoado, fazendo roubos, depredações, etc.; que nesse lugar seguiram para a casa de Antônio Saldanha, no município de Catolé do Rocha, fazenda “Santana” dormindo li; que no dia seguinte seguiram fim de atacar a casa de Valdevino; que chegando adiante uma légua distante da casa de Antonino, Sebastião Pereira disse a ele, respondente, que a ordem de José Ignácio era fazer o que Santa Cruz havia feito anteriormente, merecendo isto a aprovação dele, depoente; que ao chegarem na casa de Valdivino, roubaram, conforme declaração de Sebastião Pereira, cerca de dois contos e oitocentos mil réis......(2:800$000) e cento e vinte (120) libras esterlinas, cometendo toda a sorte de depredações; que ele, respondente, nada tirou desta casa; que sendo separados, dois grupos ficando m casa de Valdivino, Sebastião Pereira, a fim de seguir atrás, ele, respondente, seguiu por uma vereda com o plano de passar na casa de Adolfo Maia, de passagem; que ao chegar em frente da dita casa já encontrou Sebastião ali, onde já haviam depredado tudo, não sabendo quanto roubaram desse senhor; que ainda garantiu a vida de Adolfo Maia, que não chegaram a ir à casa de Rochael Maia, resolvendo o grupo voltar ao “Barro”; que ali chegando no dia seguinte José Ignácio o recompensou com a importância de duzentos mil réis (200$000); que não sabe avaliar a quanto montou o roubo na Paraíba, sabendo porém que todo o produto adquirido na viagem , foi todo entregue a José Ignácio, que, depois de tudo, refugiou-se em Juazeiro onde passou cerca de dois meses; eu dentro destes dois meses recebeu um recado de dona Rosa Amélia residente nesta cidade do Crato, filha do senhor João Alves, por intermédio de José Terto, que ele, respondente, caso não pudesse vir até esta cidade à sua residência, lhe mandasse um rifle de oito tiros; que em vista desse recado e por não poder vir até aqui, mandou o rifle por intermédio do referido José Terto; que tendo ido ao “Canto do Feijão”, Paraíba, onde demorou quinze (15) dias, regressando ao Juazeiro recebeu ele, respondente, uma carta da referida prima Dona Rosa Amélia, convidando-o a vir até esta cidade, que, atendendo ao pedido veio em companhia de José Terto, desarmado, à noite, chegando cerca das oito (8) horas da noite, apeando-se ambos em casa da mesma prima; que isto se deu no mês de Agosto, não se lembrando a data nem o dia da semana; que ali chegando, esta mesma sua prima lhe declarou que precisava e insistia que ele tomasse a sua defesa, pois, havia pessoas que dirigiam a ela pilhéria e indiretas motivando isto ela estar muito mal satisfeita; que a sua prima não chegou a declarar os nomes das pessoas de quem ele, respondente, devia se vingar; que sabe que eram duas, e que tinham sido sócios de seu marido a quem conhece por Nênêm; que a mesma sua prima nunca lhe declarou os nomes dessas pessoas; que ele, respondente, esteve em casa de Dona Rosa Amélia seis vezes, dizendo ela todas as vezes que a ocasião era quando passassem as pessoas em frente à casa dela, e quando dirigissem pilhérias, ele, respondente, sair e dizer aos mesmos que não deviam fazer aquilo, pois podiam se dar mal, de outra vez; que o plano de Dona Rosa Amélia e seu marido era invadir a casa de negócio do Senhor Antônio Fernandes, retirar da mesma um dinheiro, que diziam a eles pertencer, sendo autor, dessa empresa ele, respondente; que José Terto estava nesta ocasião dizendo, depois a ele, respondente, que há tempo já havia sido convidado para tal empresa, escusando-se o mesmo José Terto de isso fazer; que da casa onde se hospedava, Rosa Amélia mostrava quase em frente uma casa grande, que dizia ser de uma pessoa sua inimiga rica e que era muito fácil de roubá-la; que não se lembra do nome deste, mas sabe que essa pessoa é farmacêutico nesta cidade; que também tinha uma outra pessoa que se devia assassinar, sabendo ele, respondente, ser um advogado, conhecido por José Bernardino; que então ele, respondente, declarou à Dona Rosa Amélia que não podia e nem devia fazer isto, pois ela era pessoa de responsabilidade e não devia fazer isto; que depois desse dia ele, respondente, ainda estando no Juazeiro, recebia constantemente pedido da mesma, a fim de fazer o “trabalho”; que depois disto ainda ela, Rosa Amélia, pediu a ele, respondente, que escrevesse a Tiburtino, filho de José Ignácio, a fim de que ele mandasse seus homens a executar o plano acima referido; que ele, respondente, mandou dizer a Rosa Amélia que não escrevia o que ela pedia; que ainda em Juazeiro, recebeu outra carta de D. Rosa Amélia para jantar em sua companhia, nesta cidade; que, atendendo ao pedido, ao chegar fizeram ciente que o dr. Audálio, encarregado da luz desta cidade, queria se avistar com o respondente, negando-se ao pedido; que disseram-lhe que o mesmo queria conhecer ele, respondente; que o que deu motivo a Rosa Amélia chamar o respondente à sua casa e propor-lhe os planos acima referidos, fora aconselhado por Arsênio Araruna, genro de José Ignácio, conforme declarações da mesma Rosa Amélia a José Terto; que um dia, quando estava nesta cidade, passou pela frente, ou na alçada do sr. Antônio Fernandes; que ao passar na frente de casa, foi até adiante e depois passou novamente pela calçada; que voltando resolveu não fazer o que ia fazer, por ordem da mesma dona Rosa Amélia; que nesta ocasião estava armado com um revólver e um punhal; que o plano era passar em frente à casa do Sr. Antônio Fernandes e assassiná-lo; que isto era conforme as ordens de Dona Rosa Amélia; que, como já disse, ao passar em frente à casa do mesmo senhor e chegando adiante refletiu e resolveu não fazer o que estava incumbido de realizar, pois nunca tinha assassinado pessoa alguma para ganhar dinheiro; que tendo sido chamado nesse dia, ao chegar à casa de dona Rosa Amélia, esta lhe disse que tinha sido intimada a pagar ao senhor Antônio Fernandes cerca de 18 contos, dizendo mais ela que, daquele dia não passava; que o que resolveu é o declarado atrás de ter resolvido não levar a efeito a ordem; que a casa do sr. Antônio Fernandes foi indicada a ele, respondente, pelo sr. Neném que de uma esquina apontou onde e como era localizada a casa, dizendo-lhe que era um senhor idoso e que costumava, à noite, sentar-se com sua família na calçada da casa; que, de posse destas informações, foi ao ponto indicado atrás, resolvendo fazer o que já disse: nada cumprir a respeito da ordem recebida; que na ocasião em que ele, respondente, estava em casa de don Rosa Amélia, esta e seu marido descreveram as casas, dizendo que sendo o Crato atacado pelo grupo pedido a ele, respondente, seriam ocultos no muro da sua casa (dela) e quando já toda a cidade adormecida, sairiam à rua e atacariam as casas já referidas, inclusive a do “Coronel” Antônio Luiz, onde se encontraria muito dinheiro, inclusive barras de ouro; disse mais que uma das vezes em que esteve na cidade, em casa de dona Rosa Amélia, ao retirar-se, esta meteu em seu bolo uma nota de cem mil réis, dizendo ser para ele, respondente, comprar de charutos; que ao pensar em não realizar mais o plano combinado com dona Rosa Amélia, voltou à casa desta e ai declarou à mesma que não podia fazer o que ela pedia, retirando-se imediatamente para o Juazeiro, dizendo ainda à dona Rosa Amélia que o não mandasse mas chamar; que, no dia 5 de setembro o ano passado, d. Rosa Amélia mandou um portador ao Juazeiro deixar um cavalo ao respondente e acompanha-lo ao sítio “Baixio”, no município de Santana do Cariri, onde reside o pai dela, sr. João Alves de Oliveira; que no dia 6 de setembro, à noite, cerca de 8 horas, saiu de Juazeiro, acompanhado pelo mesmo portador de nome José Izidoro da Costa, passando em Baixa Dantas, deste município, chegando em casa de João Alves a 7; que no outro dia chegava ao “Baixio” um portador conduzindo um telegrama de Rosa Amélia avisando a seu pai que se preparasse que ia ser atacado por um grupo e cangaceiros; que no dia 8 chegava ao “Baixio” um senhor de nome Raimundo Valentim, acompanhado por cerca de 15 homens armados que, com outros já reunidos, formavam um grupo de 25 homens; que, dois dias depois, retirava-se ele, respondente, com destino a Aurora; que de Aurora foi até Barreiros, de Barreiros segui até S. João (na Paraíba) e, de S. João indo a Alagoinha, foi preso pela polícia.

Em tempo: achava-se presente à audiência o sr. Dr. Alberico Ribeiro Salles Guimarães, promotor de Justiça da comarca.
E por nada mais haver declarado, deu-se por concluído o presente auto que, lido e achado conforme o assinou o Delegado, o respondente, os oficiais presentes e o dr. Promotor de Justiça, Eu, José Carvalho, Escrivão, o escrevi. (Ass.) Raimundo de Moraes Britto, Ulisses Liberato de Alencar, Alberico Ribeiro Salles Guimarães, José dos Santos Carneiro, Antônio Mattos Dourado.

FONTE: Alencar, U. L. – 1923 – A sinistra autobiografia de um sicário. Correio do Ceará, Fortaleza, (2424) : 1. (Edição de 04 de abril de 1923).

Enviado pelo  professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso.

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“O GLOBO”- 21/11/1958 - PARTE XVI

Material do acervo do pesquisador Antonio Corrêa Sobrinho 

COMO SE FORJA UM CANGACEIRO

LAMPIÃO MORREU DORMINDO

Onde Está a Verdade Acerca do Fim do Rei do Cangaço? – Fidelidade de Maria Bonita e Brio de Luiz Pedro – Ferocidade da Força Que Dizimou o Bando – Impossível, Hoje, o Reaparecimento do Cangaço

EIS um capítulo que eu preferia não incluir nesta narrativa. Trata-se de assunto de grande repercussão e que é contado de diferentes formas. A maior parte dessas descrições foram dadas por soldados e, naturalmente, com cautela, pois os que estão do lado bom não gostam de mostrar certos detalhes. A morte de Lampião foi um alívio para o Nordeste, mas não creio que, com seu desaparecimento, cessassem todas as violências por aquelas bandas. Os abusos dos poderosos sobre os fracos, o desleixo do Governo, deixando o povo daquelas regiões no analfabetismo e no desamparo, serão sempre incentivos para o crime. A morte sempre estará rondando esses lugares, muito embora o cangaço seja difícil de renascer nesta época de aviação e exército bem equipados. Mas o povo que vive por lá ainda é o mesmo do meu tempo, só o armamento dos soldados evoluiu, pois a miséria ainda está bem viva, e, de quando em vez, temos a oportunidade de ver um pouquinho dela aqui na Capital Federal, representada pelos paus-de-arara, essas infelizes vítimas do flagelo das secas.

HISTÓRIA CONTADA

A MORTE de Lampião, na época, era o desejo de todo o país, razão pela qual as formas empregadas para concretizá-la não pediam justificativas. O fato é que Lampião morreu e está bem morto. Vejamos, porém, como isso se deu. O que sei da chacina de Angicos foi-me contado por Bananeira, um “cabra” que esteve preso comigo na Penitenciária de Salvador, e que cumpriu pena curta, graças às acusações que fez contra mim. Muitas das “acusações”, ele nem presenciou, afirmou por ouvir dizer, inclusive a matança de soldados em Queimada, na qual, conforme já esclareci, eu não tomei parte.

Bananeira à esquerda e Volta Seca à direita

Mas Bananeira saiu cedo da cadeia e reuniu-se a alguns “cabras” que estiveram em Angicos e que conseguiram escapar por terem fugido quando começou o tiroteio. Entre os que fugiram, estavam Corisco, Gavião, e mais alguns, inclusive Balão, Nevoeiro e Relâmpago, estes três ainda vivos. Eles contaram como o caso se passou ao Bananeira e este tornou público os fatos. É baseado nessas narrativas que vou tentar reconstituir como se deu o fim de Lampião.

Coronel João Bezerra o matador de Lampião

Seguidamente tenho ouvido descrições de parte de soldados, e a maioria dos fatos são os movimentos de tropas dos comandados do atual coronel Bezerra. Este mesmo, recentemente, detalhou o que se passou naquele dia da morte de Lampião. Infelizmente, o que ele contou não enquadra com o que me contaram os “cabras” presentes à luta. Todavia, de qualquer forma, é um depoimento. O coronel Bezerra contou algo, e como quem conta um conto aumenta um ponto...


Vejamos agora como a história se passou, observada por quem era do bando.

TUDO ERA PAZ

Lampião estava com seus “cabras” na fazenda de Angicos, acampado e bem protegido por uma teia de coiteiros. Estava tranquilo e nem de leve imaginava que aquele era seu último dia de vida. Mal podia supor que naquela data terminaria sua longa carreira de crimes. Ele tinha armado a rede e estava deitado com o fuzil no chão, bem ao alcance de sua mão. Os demais “cabras” também estavam despreocupados, descansando, deitados ou sentados no chão.

Todavia, a alguns quilômetros dali, a volante do tenente Bezerra, um dos “macacos” mais perversos que já perseguiu cangaceiros, desconfiada, fazia tudo para localizar o bando. Não sei quais os artifícios empregados por Bezerra, mas o fato é que ele conseguiu pegar um coiteiro de nome Pedro Cândido. A forma usada para fazer o homem delatar Lampião, não sei, nem creio que interesse...


Pedro de Cândido 

Os soldados de Bezerra deviam ter-se movimentado com grande classe militar, pois o fato é que pegaram todos de surpresa. Lampião dormia no momento em que as metralhadoras começaram a pipocar. Tomados assim de supetão, alguns “cabras” fugiram, mas Lampião nem acordou! É fato que foi encontrado no chão, mas já caiu da rede morto e ensanguentado, com o corpo crivado de balas. Os “cabras” que se levantavam apavorados, mal ficavam de pé, caíam mortos, pois o ataque da volante foi cerrado e organizado.

BRIO DE CANGACEIRO

ASSIM mesmo, houve retribuição de fogo e a refrega ainda durou alguns minutos, embora vários “cabras” fugissem para salvar a pele. Maria Bonita, ao ver Lampião estendido no chão, correu para junto dele e foi ferida na perna. Arrastou-se até Lampião e ficou junto do seu corpo, em pranto. E a fiel companheira de Virgulino ainda falou para Luiz Pedro: 

“Você não disse que morreria com teu compadre? Pois olhe, ele está morto!”

O cangaceiro Luiz Pedro

Luiz Pedro fitou o corpo de Lampião, encheu-se de brios e não bateu em retirada. Pôs-se a atirar contra os soldados. Durou pouco esse seu gesto de solidariedade com o chefe, pois uma bala bem endereçada o atingiu e ele tombou sobre o corpo de Lampião.

Com o chão repleto de cadáveres e alguns “cabras” feridos, a volante avançou. Quem tinha de fugir já estava longe. Os soldados ocuparam o “campo de batalha”, e o “cabra” que ainda estivesse vivo recebia tiro ou facada de misericórdia, tal como faziam os cangaceiros... Maria Bonita assistiu, sentada e ferida na perna, à chegada dos soldados. Ao ver um deles lhe apontar o revólver, falou estoicamente: “Pode matar-me! Lampião morreu e eu não quero mais viver...” Um tiro espocou e ela tombou morta ao lado do homem que tanto amou e pelo qual abandonou um lar decente e tranquilo. Com a morte de Maria Bonita terminava um dos idílios mais sinceros de que já tive notícia: amor que durou enquanto ambos tiveram vida...

O que se passou a seguir, foi o degolamento de todos os cadáveres. Explicou o tenente Bezerra, depois, que ordenou aquilo porque era mais fácil transportar cabeças do que corpos. Num saco caberiam doze cabeças... Tinha razão o tenente. Era o espírito prático e objetivo do nordestino que mais uma vez se manifestava...

EXPOSIÇÃO MACABRA

FOI grande o show com as cabeças dos cangaceiros, que até hoje estão expostas no Museu da Bahia. A chegada da volante a Salvador foi um verdadeiro carnaval, e as cabeças, já em princípio de decomposição, foram colocadas como troféus, na escadaria da chefatura de Polícia. Dava asco ver aquele espetáculo, mas o povo estava curioso e queria ver as cabeças de Lampião e Maria Bonita. Ante a fisionomia alterada da companheira de Virgulino, as mulheres comentavam:

“Como ela era feia!...”

A cabeça de Lampião era a mais impressionante. Ele estava com a fisionomia zangada, de quem morreu com raiva, nem parecendo que fora apreendido dormindo. Mas aquela era a sua fisionomia ultimamente, pois os “cabras” que o seguiram até o fim contavam que cada vez ele estava mais mal-encarado.

Bezerra, o perverso Bezerra, estava feliz e contava a todos a sua façanha. Ele só tratava Lampião de “Cego”, e fartou-se de contar como surpreendeu o bando. Recentemente, porém, deu uma entrevista e contou tudo bem diferente daquela época. Em ambas as ocasiões, esqueceu-se de dizer que, após a degola, deu cabo do coiteiro Pedro de Cândido, conforme é do conhecimento de todos. Nesta sua última entrevista ele disse que eu não prestava e era um cangaceiro sanguinário. Concordo com ele... Mas que lucrei eu? Fiz tudo isso e aqui me encontro, depois de cumprir vinte anos de cadeia, na mais completa miséria, com mulher e quatro filhos, vivendo com salário-mínimo. Ele, Bezerra, não foi menos ruim do que eu, e hoje está rico, é Coronel e dono de várias fazendas...

O mundo como é... Uns fazem maldades, matam e nada lucram, outros também matam, fazem maldades e acabam ricos e considerados.

O ÓDIO DO CORONEL

NESSA entrevista, o coronel Bezerra referiu-se a mim com ódio e indignação. Nem parecia que da minha prisão até hoje haviam passado quase trinta anos. Parecia que tudo acontecera ontem. “Esse sujeito não presta!”, disse o coronel, sem atender que eu só tinha quatorze anos naquela ocasião, nem à forma pela qual me tornei cangaceiro.

Não levou em conta também a cadeia que paguei; minha dívida, já saldada com a sociedade, foi excessivamente cobrada, pois, sendo eu menor, não poderia ficar tanto tempo preso. Não quis, finalmente, o Coronel respeitar sequer a desgraça de quem não tem onde cair morto e precisa sustentar mulher e quatro filhos.

Nada disso, o Coronel quis saber quando me atacou. “Macaco” infeliz! Ignoras por acaso que, se tenho pecados horrendos, tu também os tens? Pensas que só eu irei para o inferno? Que ingenuidade!... 

Depois que o bando de Lampião foi dizimado, o cangaço ainda durou mais uns anos, e Corisco continuou com seu próprio bando, como já disse. Mas, exterminado Corisco, a vontade de organizar cangaços foi arrefecendo, até que terminou por completo.

É verdade que tenho falado pouco de minhas façanhas, mas podem os leitores ficar certos de que não estão perdendo nada. O que havia de mais interessante no bando não eram os meus crimes, pois esses constituem uma nota triste, visto não passarem de façanhas de um garoto pervertido por gente que só conhecia uma lei – o ódio, e um único direito – o de matar!

Material do acervo do pesquisador Antonio Corrêa Sobrinho

CONTINUA...

Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho

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