Por Raul Meneleu Mascarenhas
Hoje 28 de
agosto celebra-se a lembrança de um dos maiores crimes cometidos por Lampião e
seus cangaceiros. Trata-se do assassinato de uma família quase em sua
inteireza, onde apenas um dos filhos do patriarca escapou por não se encontrar
em casa, Cassimiro Gilo, com 15 anos de idade. Ontem, 27 de agosto de 2016, foi
celebrado a missa marcando 90 anos da chacina da família, onde o Grupo
Florestano de Estudos do Cangaço - GFEC, organizou a Missa de 90 anos da
chacina da família Gilo.
Cassimiro
Gilo sobrevivente da chacina (com o neto Djalmir - filho de D. Dejinha) Foto do livro As Cruzs do Cangaço
Estiveram
presentes os membros remanescentes da família e os amigos João de Sousa
Lima, Marcos de Carmelita, Cristiano Ferraz, Manuel Serafim, Lourinaldo Teles,
Betinho de Numeriano, Giovane Macário e Ana Amélia, que atuam na história
do cangaço, relembrando através de seus escritos as perversidades de Lampião e
seus cangaceiros. A família Gilo e convidados ouviram o Padre italiano
Giovanni Malacrida, da paróquia de Floresta realizar a Missa de 90 anos da
chacina da família Gilo.
A MORTE DE
MANOEL DE GILO
Quando estive
no local do ataque de Lampião à casinha de pau a pique onde Manoel Gilo residia
com familiares, encontrei apenas um desvão cavado, onde vim a saber que era um
compartimento tipo porão, onde era usado para armazenar gêneros alimentícios e
sementes. Segundo nossos guias, os amigos Marcos Antonio de Sá e Cristiano
Ferraz, autores do livro "As Cruzes do Cangaço", já havia pouca
munição restante e os "rifles esquentaram tanto que chegaram a queimar a
coronha e tinham de ser colocados dentro de um coxo com água, para tentar
resfriá-los. Lampião percebeu a posição de onde os tiros estavam sendo
disparados, passando perto deles, e ordenou que os cangaceiros atirassem mais
na direção das telhas, conseguindo atingir os que estavam naquele local,
chegando a derrubar a linha da casa. A aflição e o desespero tomaram conta de
todos. A casa de barro feita de pau a pique já se encontrava completamente
destruída, devido à quantidade de tiros. A luta estava chegando ao fim, os Gilo
não tinham mais a quem recorrer. A artilharia pesada em cima deles não dando
trégua pouco a pouco foi tirando o ânimo dos sitiados. A morte com seu
cajado anunciava a sua chegada. Do outro lado, Lampião e sua horda de
malfeitores cantavam gritos de vitória, anunciando o fim da batalha. Por volta
das onze horas a munição dos Gilo acabou e o tiroteio foi cessado. O silêncio
dominou o ambiente. Dentro da casa os homens estavam mortos, restando apenas
Manoel Gilo, que estava ferido e com as mãos em carne viva, devido ao
aquecimento das armas. As mulheres não foram atingidas pelos disparos e estavam
todas dentro do aloque. Pacífica segurava o filho pequeno, Manoel, que chorava
muito. Dona Alexandra, Lulu e Maria Pequena estavam em prantos, vendo seus
familiares e amigos mortos. Lulu ainda não sabia que o seu pai, João Gabriel de
Barros, o Janjão, tinha sido assassinado pelos bandidos, junto ao amigo Chico
de Rufina. Os cangaceiros derrubaram a porta da casa, retiraram Manoel e o
levaram à presença do chefe. Lampião olhou para Manoel e disse: - Manoel de
Gilo, se você garantir de andar comigo eu garanto o resto da sua vida. E Manoel
respondeu: - Eu num garanto não, porque a minha família já se acabou toda e eu
num posso andar com você não. Manoel, segurado pelos cangaceiros, perguntou a
Lampião o motivo de ele ter atacado a sua família, dizendo que nunca fora seu
inimigo. Lampião, sentindo a fibra e a coragem do sertanejo, então falou: -
Você pensou que podia mangar de mim, Mané de Gilo? Quem fez, eu vim aqui foi
essa carta que você mandou pra mim. Lampião apresentou a famigerada carta, e
Manoel defendeu-se, dizendo: - Essa carta é uma mentira, por que eu num sei ler
e nem escrever, como é que eu ia escrever? No que Lampião disse: - Rapaz, cuma
é essa história? E Manoel de Gilo virou-se para Horácio e continuou: -
Isso ai tudo foi por conta desse bandido, desse ladrão safado, que me jogou
nessa ratoeira. Nesse momento Lampião já começava a acreditar nas palavras. Foi
quando Horácio, sem dar tempo ao seu desafeto defender-se, chegou
sorrateiramente por trás de Manoel e fez disparo com seu parabélum, atingindo-o
mortalmente na altura do pescoço. Lampião percebeu então o que tinha se
passado, a trama na qual ele tinha sido envolvido, fora usado por Horácio para
concretizar a sua traiçoeira vingança. Os cangaceiros arrastaram os corpos,
colocaram no terreiro da casa e saquearam todos os objetos de valor que
enconiraram. Lampião, revoltado com a atitude de Horácio, pensou em matá-lo.
Discutiram, os dois titãs se encararam e por pouco não aconteceram mais
mortes. Aos pés da quixabeira que ficava no terreiro, uma cena macabra, sete
corpos espalhados pelo chão, entre eles: Gilo Donato e os filhos Manoel de
Gilo, Evaristo Gilo, Joaquim Gilo, Henrique Damião (genro), Permínio (parente)
e José Pedro de Barros (vizinho e parente). Dona Alexandra, encostada na
árvore, desconsolada com o filho Manoel no colo, afagava seus cabelos lavados
de sangue, perplexa, em estado de choque, sem conseguir acreditar no que tinha
acontecido. Um pouco afastado da casa, junto à cerca, estava morto Ernesto do
São Pedro, que pagou com a vida sua lealdade à família Gilo. Perto dali, junto
aos escombros restantes da casa de Ezequiel Damião, estavam os corpos de Chico
de Rufina e João Gabriel de Barros (Janjão). No Riacho do Arcanjo, localizado
na estrada que ligava Floresta ao povoado de Barra do Silva, embaixo de uma
quixabeira, estava Pedro Alexandre, assassinado pelo cangaceiro Barra Nova.
Alexandre Ciríaco fora deixado no local onde morreu, a cerca de duzentos metros
do epicentro da tragédia." - Trecho do livro AS CRUZES DO CANGAÇO pg
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Como vimos
nesse relato cheio de detalhes, presenciamos novamente naquele local a
tragédia, a dor sentida, usando cada um de nós de empatia, por aqueles que
passaram por tal sofrimento.
Urge que
estejamos alertas para fazermos sempre essas celebrações em lembranças dos
assassinados por tão famigerado bandido que assolou o sertão nordestino no
século dezenove. Urge que em nossos próximos encontros de estudiosos da Saga
Cangaço, façamos-nos lembrar de famílias destruídas por cangaceiros tais como
Lampião, Corisco, Gato e outros, que infelizmente alguns teimam em
"branquear" suas histórias com um manto de justiceiros, o que nunca
foram.
Lampião era um
bandido feroz e desalmado e em sua sanha assassina matou a muitos e destruiu
lares. Abaixo apenas para lembrar esses acontecimentos deixo registrado a
apresentação da tragédia feita à família Gilo e logo abaixo, outra tragédia
praticada nos estertores do cangaço, logo após a morte de Lampião, que foi o
assassinato de outra família no sertão alagoano; a família do Vaqueiro Domingos
Ventura, para que os amigos tenham conhecimento:
A CHACINA DA
FAMÍLIA GILO POR LAMPIÃO
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A narrativa
abaixo, do Senhor Celso Rodrigues, foi feita para mais de uma centena de
pesquisadores, historiadores e admiradores do tema Cangaço. Foi proferida na
Fazenda Patos, no município de Piranhas no Estado de Alagoas, Brasil, que foi o
palco de uma das maiores atrocidades desse cangaceiro Corisco para vingar a
morte de Lampião, o Rei dos Cangaceiros. Corisco matou seis pessoas e degolou
suas cabeças e as enviou para o Tenente João Bezerra, comandante das Volantes
que trucidaram Lampião, Maria Bonita e alguns cangaceiros. Eram as vítimas
pessoas inocentes que não tiveram nada com a morte de Virgulino Ferreira, o
Lampião. Foi o próprio delator quem indicou a Corisco que a traição, tinha
vindo da família do vaqueiro, o Senhor Domingos Ventura. Foram assassinados
além dele, sua esposa e mais quatro membros de sua família.
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