Por Beto Rueda
Lucas
Evangelista dos Santos, filho de Jejes Maria e Ignácio, nasceu no dia 18 de
outubro 1807, na fazenda Saco do Limão, arredores da freguesia de Nossa Senhora
dos Humildes, Bahia.
Escravizado,
pertenceu a D. Anna Pereira do Lage. Após o falecimento dela, passou ao domínio
do padre José Alves Franco. Cresceu em meio ao terrível drama da servidão e
sofreu repetidas crueldades dos feitores. Era negro, forte e canhoto.
Devido a sua
rebeldia, foi enviado pelo seu proprietário a sede do Arraial de Santana para
aprender o ofício de carpinteiro pelo mestre criolo João Batista Pereira.
Entretanto, não satisfeito, correu para as matas tornando-se um fugitivo. Em
meados do ano de 1828, juntou-se a uma quadrilha formada por Flaviano, Nicolau,
Bernardino, Januário, José e Joaquim.
Em pouco tempo
passou a liderar o seu próprio bando formado por negros e mulatos, todos
escravos fugidos e sedentos por vingança. Por quase vinte anos agiram nas
estradas próximas e na região da fazenda Santana dos Olhos D'água. Atacavam
tropeiros que iam e vinham das Feiras de Gado, roubavam e raptavam mulheres,
inclusive filhas de comerciantes e fazendeiros, o que era considerado uma
ousadia para a época.
Quando invadiu
a as terras de Francisco Correia, desvirginou suas três filhas, além de matá-lo
quando tentou defendê-las. Entre todos os membros da família, apenas o filho do
fazendeiro de nome Joaquim Cordeiro, não foi molestado.
O bando de
Lucas da Feira era muito temido, um assombro e pesadelo para os sertanejos da
região. O Governador da Província estipulou um prêmio de quatro mil réis pela
sua captura e morte. Segundo estudiosos, seus atos incitavam outros negros a se
rebelarem contra os seus senhores, inspirando mais tarde os movimentos
abolicionistas.
Com o passar
do tempo e a constante atividade, depois de muitos combates com as forças
policiais e a repressão dos fazendeiros, seu grupo foi diminuindo com a morte
de alguns, prisões e deserções de outros e acabou por extinguir-se. Lucas
acabou sozinho.
Um dia foi
traído por seu amigo e compadre Cazumbá. Este, foragido depois de ter matado um
homem na "Ladeira do Nage", com a promessa de perdão do crime e de
olho no dinheiro do prêmio, o perseguiu. No combate, Lucas foi atingido por um
tiro no braço esquerdo, mas conseguiu fugir para a localidade da Tapera, em uma
gruta próxima de São Gonçalo. Depois de alguns dias foi feita uma nova
emboscada no local chamado Poço Gurunga. Lucas, atingido novamente no mesmo
braço, depois de muito resistir, foi capturado no dia 12 de janeiro de 1849 e
conduzido a Vila do Arraial de Feira de Santana.
Considerado
chefe quadrilha, permaneceu preso até o enfrentar o Tribunal do Juri, onde foi
condenado à morte. Por medida de segurança foi levado para Salvador.
Na prisão em
Salvador, devido ao agravamento dos ferimentos, seu braço esquerdo teve que ser
amputado.
Enquanto
aguardava a sua execução, o Imperador D.Pedro II ouviu falar de sua fama e
manifestou o desejo de conhecê-lo. Em segredo foi enviado ao Rio de Janeiro
para satisfazer a vontade do Regente do Brasil.
No dia 26 de
setembro de 1849, Lucas da Feira foi executado em praça pública no Campo do
Gado, na Vila do Arraial de Feira de Santana, aos 41 anos de idade. Seu
carrasco foi Joaquim Cordeiro, o único sobrevivente da família de Francisco
Correia.
Dizem que nesse
dia, aliviados e em êxtase, os comerciantes locais deram uma grande festa,
distribuíram bebidas e soltaram fogos.
REFERÊNCIAS:
AMARAL, Braz
Hermenegildo do. História da Bahia do Império à República. Salvador: Imprensa
Oficial do Estado, 1923.
MOTA, Leonardo.
No Tempo de Lampião. 2.ed. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1967.
FERREIRA, Vera
; ARAÚJO, Antônio Amaury Corrêa de. De Virgolino a Lampião. São Paulo: Idéia
Visual, 1999.
https://www.facebook.com/josemendespereira.mendes.5
http://blogdomendesemendes.blogspot.com