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segunda-feira, 7 de março de 2022

FAZENDA DOIS RIACHOS - JESUÍNO BRILHANTE - O PRINCÍPIO DOS CONFLITOS.

Por Cangaçologia 

https://www.youtube.com/watch?v=grAudLTo6Ro

Os fatos que motivaram a entrada no cangaço do célebre cangaceiro Jesuíno Brilhante (Jesuíno Alves de Melo Calado). O princípio das desavenças. INSCREVAM-SE no canal e ATIVEM O SINO para receber todas as nossas atualizações e publicações. Forte abraço... Cabroeira! Atenciosamente: Geraldo Antônio de S. Júnior - Criador e administrador dos canais Cangaçologia e Arquivo Nordeste. Seja membro deste canal e ganhe benefícios: https://www.youtube.com/channel/UCDyq...

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A VINGANÇA DOS LIMÕES E A FÚRIA DE JESUÍNO BRILHANTE.

 Por Cangaçologia

https://www.youtube.com/watch?v=qhwHl1hlfpE

Após desaforar o pai de Jesuíno Brilhante e levar uma surra, José Limão parte em busca da Fazenda Dois Riachos (Catolé do Rocha/PB) e após contar sua versão sobre o ocorrido para seus irmão e dona Felícia Maia, recebe o apoio desses para realizar a vingança. Selando para sempre a vida do até então pacato fazendeiro Jesuíno Alves de Melo Calado o afamado Jesuíno Brilhante.

Assistam e conheçam essa parte intrigante da história daquele que é apontado por alguns como um cangaceiro romântico, cavalheiresco e que cujas atitudes o aproxima aos feitos praticados pelo lendário Robin Hood.

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OUTROS CARNAVAIS EM NOVA FLORESTA - PARAHYBA

Por Kydelmir Dantas

O carnaval em nossa terra no princípio foi nas Ruas, passou pelo Nova Floresta Clube e retornou às Ruas... Foram blocos diversos, foliões variados, Escolas de Sambas, bloco do ‘eu sozinho’ e alegria constante. E as mais conhecidas Marchinhas carnavalescas faziam parte do repertório: Ó abre alas (Chiquinha Gonzaga), Bandeira Branca (Max Nunes e Laércio Alves), Ta-hí (Joubert de Carvalho), Cidade maravilhosa (André Filho), Mamãe Eu Quero (Vicente Paiva – Jararaca), Jardineira (Benedito Lacerda - Humberto Porto), Allah-La Ô (Haroldo Lobo - Nássara), Está chegando a hora (Carmen Costa), Cachaça (Lúcio de Castro - Heber Lobato - Marinósio Filho), Saca Rolha - As águas vão rolar (Zé da Zilda), Me dá um dinheiro aí (Ivan, Homero e Glauco Ferreira), Cabeleira do Zezé (João Roberto Kelly e Roberto Faissal), Máscara negra (Zé Keti - Pereira Mattos) e tantas outras, além dos sambas do momento, daqueles cantore(a)s que fazem sucesso até hoje... Benito di Paula, Clara Nunes, Luiz Airão, Beth Carvalho, Demônios da Garôa, Alcione, Luiz Américo, Martinho da Vila, Paulino da Viola... Foi um rio que passou na minha vida...











Fotos: 1 – Turma de foliões de Nova Floresta (1956); 2 - Bloco dos Piratas (1958); 3 - Bloco dos Sujos (1977); 4 - Mexa-se meu bem e Liberais (1977); 5 – Liberais do Samba (1979); 6 - As Incrédulas (1981); 7 - Bloco do Motor (1983); 8 - Liberais Mirins (1985); 9 – Barco do Capitão Chiquinho Aleijado; 10 – Nova Floresta Clube e Foliões na Rua (datas indefinidas).

https://www.facebook.com/josemendespereira.mendes.5/

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FRASES BOBAS EM PENSAMENTOS LOUCOS

 *Rangel Alves da Costa

Criaram o amor. Não ensinaram a amar. Quanto mais se deseja aprender a amar, mais se erra por avistar somente o espelho do prazer, e não a profundidade do verdadeiro querer.

A solidão é melhor, muito melhor que a multidão. O silêncio é melhor que o grito, a janela fechada é melhor que a ventania entrando. Perante o outro a paz não existe, pois o encontro interior e a autoestima sempre pedem o exílio interior.

O sexo, ou ato sexual em si, é impuro e asqueroso. Na vida social ou em seu cotidiano, a maioria das pessoas também é impura e asquerosa, mas sempre fingindo seriedade, caráter e até inocência. Como os seus pensamentos sempre agem de modo contrário, de forma pervertida e lasciva, o sexo se torna apenas na confirmação daquilo que verdadeiramente é.

Pobreza, carência, miséria, tudo com um nome só: a desvalia na vida. Mas não há desvalia maior que fazer de sua condição econômica uma chama à submissão, à humilhação, à escravização. Onde há retidão e caráter não há lugar para que o cabresto do voto lhe tire o desejo de mudança e da escolha do que achar melhor.

A puta de hoje é a mesma rampeira de ontem. Uma no shopping e outra no cabaré. A puta de luxo de hoje é a mesma prostituta do bordel da luz vermelha de ontem. A garota de programa de hoje é a mesma piranha de esquina escura de ontem. Michê, garoto de programa, ontem era o mesmo rapaz que fazia o mesmo negócio. Nada mudou, apenas progrediu e se desenvolveu em número assustador.

Não há como atender aos apelos do mundo moderno. O ser humano não possui a mesma propulsão que a máquina, não possui a força do motor, não se torna novamente novo com um simples reparo. Desse modo, não adianta ser moderno e avançado dentro de um corpo que não é tecnológico nem agindo por comandos informatizados. Ademais, até o ferro enferruja.

Não há decisão maior do que deixar de votar. Não votar em mais ninguém, e pronto. Liberta-se de uma vez do remorso de um voto errado, de uma escolha que mais adiante traga entristecimento. Lavar as mãos. Mesmo que os frutos das más escolhas não recaiam apenas nos que escolheram, ao menos haverá o conforto de dizer que sofre sem ter ajudado a causar tanto sofrimento.

A nudez é uma coisa engraçada. A vestimenta também. Inegavelmente que é muito mais bonito e atraente uma pessoa com roupa que lhe caia bem, que seja até vista como sensual. Na sensualidade do corpo vestido há todo um jogo de encanto, de fascinação e de imaginação. Logo se imagina a beleza daquele corpo em plena nudez. Mas na nudez avista-se apenas um corpo nu, e já sem aquele despertar da imaginação.

Poesia melosa, floreada demais, não é poesia. Poesia tecida na rima forçada não é poesia. Poesia cuidando dos mesmos elementos do coração, do mesmo amor impossível e da mesma paixão desenfreada não é poesia. Poesia é o belo com simplicidade. É o dizer de outra forma aquilo que o leitor se sensibiliza ao folhear.

Tem muita gente sofrendo neste momento. Na Ucrânia, na Síria, na África, bem ali. Tem gente sofrendo tanto neste momento que é até impossível imaginar o tamanho do sofrimento. A dor corporal, a dor da fome, a dor da indignação, a dor do abandono, a dor da desumanidade, a dor da perda da pátria e do lar, a dor de não ter pra onde ir e de sequer saber se terá um amanhã. Uma dor tamanha, uma dor tão forte, que é impossível imaginar a capacidade de o ser humano suportar.

Ontem choveu e hoje mais cedo também. Sem ter muito que fazer, então eu peguei um lenço e saí enxugando tudo, as ruas, os horizontes, até as nuvens. Quando mais eu enxugava mais eu me sentia encharcado. Eu quis enxugar o mundo e não percebi que estava chorando. Esqueci-me de enxugar as lágrimas de meus próprios temporais.

  
Escritor
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MANOEL VITÓRIO E O FILHO BENJAMIM FORAM CASTIGADOS PELOS CANGACEIROS ZÉ FORTALEZA, SUSPEITA, MEDALHA E LIMOEIRO.

Por José Mendes Pereira

O escritor Alcino Alves escreveu em seu livro “Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico” que Manoel Vitório dos Santos era proprietário da Fazenda Cassussu, e era casado com uma moça do ribeirinho do Bom Sucesso. O casal construiu numerosa prole, Temistocles (popularmente chamado de Temisto das Queimadas), sendo este famoso coiteiro de Lampião, Benjamim, Geminiano, Alice, Porcina, Bela, Júlia e mais dois filhos, uma menina e um menino. Os dois últimos eram filhos de Manoel Vitório com Maria das Virgens, que era a esposa de um senhor chamado Cante e, sendo esta, mãe do cangaceiro Canário.

Em fins de 1934 o cangaceiro Zé Fortaleza que já era chefe de um bando de cangaceiros, ficou arranchado juntamente com os seus comandados aos arredores da fazenda Cassussu, e lá, uma rês foi morta. Como precisavam cozinhar a carne, alguns cangaceiros foram até a pequena fazenda pedir uma panela emprestada. Com desejos de agradar aqueles delinquentes, o próprio Manoel Vitório foi até ao coito deixar a panela.  Mas o catingueiro não sabia que aquele gesto de humildade, iria trazer problemas terríveis e cruéis, tanto para ele, como sua generosa e amada família.

Ao chegar, entregou a panela e animadamente conversou com os bandoleiros sem temer nada. Recebeu um agrado (gorjeta), e por Zé Fortaleza, foi advertido que, não espalhasse na região que eles estavam ali, arranchados.

Elesbão que era filho de Maria das Virgens com o seu pai Manoel Vitório, estava passando uns dias com os seus irmãos, filhos da moça de Ribeirinho de Bom Sucesso, vendo os cangaceiros na casa do pai, ao retornar para Poço Redondo, contou o que viu, isto é, a presença dos cangaceiros na fazenda Cassussu do seu pai. E logo, a notícia se espalhou, e a partir daí a desgraça estava preste a acontecer.

Os desocupados fuxiqueiros que não faltam em uma comunidade qualquer, correram e foram contar a Zé Fortaleza o que estava se passando. Raivoso, o facínora põe toda culpa em cima do fazendeiro Manoel Vitório, e com desejo de vingança, disse que o Manoel Vitório iria ter o seu castigo, pela sua fraqueza de ter espalhado a sua presença com os seus comandados aos arredores da sua fazenda.

Como o sertão nordestino estava em dificuldades, devido à grande seca que assolava aquelas regiões, Geminiano foi morar no Estado de Alagoas, e lá, arrumou um pequeno trabalho numa fazenda chamada de “Soledade”, de um senhor chamado Neco Brito. E como as dificuldades continuam lá na Fazenda Cassussu, Geminiano levou o seu irmão Benjamim para sua companhia, e arranjou um trabalho para ele, numa fazenda de nome “Horizonte”, que ficava perto de onde ele morava. Benjamim havia se casado com uma moça de nome Mila, uma das filhas do renomado alagoano Joãozinho Correia.

No ano de 1935, o inverno foi muito bom em toda região nordestina, farturas e mais farturas estavam nas mesas dos camponeses. O mês de junho, o mês das festividades juninas, e Geminiano convidou o seu pai Manoel Vitório para passear pelas aquelas belas terras alagoanas, que tão bem haviam o acolhido e o seu irmão Benjamim.

Uns quinze dias das festas de São João seu Vitório chegou à fazenda “Soledade”, O baile, as fogueiras e os fogos foram na Fazenda “Mata Grande”, de um senhor chamado Pedro Cadeira, um dos seus parentes alagoanos. Os dias se aproximavam para os festejos, e seu Vitório nem se lembrava, que os festejos seriam no dia seguinte. 

Geminiano conversava com o pai, e o avisou que as festividades juninas seriam no dia seguinte:

- Papai, amanhã nós vamos para a Mata Comprida. Vamos para o São João de lá.

O velho põe-se a pensar nas festividades de Poço Redondo, e sem querer ir para as festividades de Mata Comprida, de imediato, disse para o filho Geminiano:

- Vá, meu fio, vá! Pode ir! Vá que eu cuido dos afazeres da fazenda.- Garantiu ele ao filho.

E ali, o velho ficou sozinho. 

Bem perto da Fazenda em que ele estava, trabalhava o seu filho Benjamim, na Fazenda “Horizonte”. A sua esposa tinha ido às festividades, mas ele permaneceu em casa, na propriedade, junto com um dos seus amigos, um senhor de nome Pedro Serafim.

Nesse dia, era um domingo. Manoel Vitório foi cuidar de apartar os bezerros. A noite chegou, e o velho foi para o telhado cuidar de lavar os pés. Depois, cuidou de um café, assou carne de bode e ali mesmo comeu misturada com farinha, e de costume, procurou dormir.

Por volta da meia noite, deste domingo, seu Manoel Vitório, foi convidado para abrir a porta. Mesmo não sendo daquelas terras, abriu-a sem nenhum receio, e viu de cara os velhos cangaceiros Zé Fortaleza, Limoeiro, Suspeita e Medalha.

O chefe do grupo, o Zé Fortaleza que não tinha a mínima ideia aonde estava morando Manoel Vitório, e o reconhecendo, mas mesmo assim, lhe faz uma pergunta:

- O senhor é o Manoel Vitório, lá da Fazenda Cassussu?

Manoel Vitório não temendo nada, respondeu-lhe:

- Sim senhor, sou eu mesmo, o Manoel Vitório!

- Que bom! Fazia um bom tempo que nós estávamos a sua procura. No seu rasto.

Zé Fortaleza, que estava querendo vingar aquele boato que saiu, que eles estavam acoitados próximo à sua Fazenda Cassussu, perguntou-lhe:

- O senhor tá lembrado quando nós fizemos coito perto da sua fazenda, e lhe pedimos uma panela emprestada, e espalhou a fofoca onde a gente estava, e se esqueceu que nós lhe pedimos que não dissesse nada a ninguém?

- Seu Zé Fortaleza, o senhor pode acreditar que eu não falei nada a ninguém! – Respondeu o Manoel Vitório.

- E quem contou?

- Deve ter sido o meu filho Alesbão. Eu me recordo que naquele mesmo dia, ele foi pra Poço Redondo. – Responde ele com desespero.

O Manoel Vitório mais ou menos já estava sabendo o que iria acontecer com ele, vez que marginal, principalmente cangaceiro, não perdoa nada de ninguém.

Apoderado de ódio, o Zé Fortaleza perde o seu controle emocional, dizendo-lhe:

- Está conversando, velho safado! Só porque se complicou, agora Está quereno colocar o rabo de fora, e com isso, acusa o seu próprio filho, hein?!

E em seguida, ordenou a um dos seus comandados:

- Medalha, amarre esse miserável traidor!

Agora, o velho sertanejo Manoel Vitório estava amarrado, e iria passar por coisas que, até o momento, não tinha acontecido com ele. Os facínoras levaram-no até à fazenda onde o seu filho Beijo (Benjamim) trabalhava. 

Beijo é um rapaz fortíssimo e destemido. Como a sua esposa Mila tinha ido para as festas juninas, e ele estava acompanhado do amigo Pedro Serafim, Beijo está dormindo na sala, sobre um banco, apoderado de um travesseiro, o chapéu e um faca peixeira, esta, iria ser o instrumento de sua desventura.

Os bandidos estão ali, e logo um bate em sua porta, fazendo acordar os moradores. O primeiro a atender é o Pedro Serafim, e sem ter como reagir, o alagoano ficou totalmente dominado por dois cangaceiros, Limoeiro e Suspeita. Os outros dois, o Zé Fortaleza e Medalha tomaram de conta da casa, invadindo-a.

Despreocupadamente, ou possivelmente ainda não havia percebido o que ganhara naquele momento, Beijo continuava deitado sobre o banco. Medalha vai e por uma das pernas, o fez cair do banco. Os facínoras não esperavam a reação do Beijo que era dono de muita força física, sem medo, o enfrentou, e o Medalha é dominado.

O cangaceiro Zé Fortaleza que acompanhava a luta do Beijo e do Medalha resolveu ajudar o seu companheiro. Vendo a faca do Beijo no chão, apanhou-a, e aproximou-se dos dois lutadores, e cortou os órgãos genitais do pobre Beijo. Feito esta castração, Beijo deu um enorme grito, e em seguida, ficou totalmente desacordado.

O pai, o Manoel Vitório continuou amarrado, e nada pode fazer em favor do filho. E acreditava que ele está sendo judiado, sangrado pelas mãos dos perversos, mas sem nunca imaginar, que o filho tinha sido castrado.

Desesperado, fez pedido aos que se diziam justiceiros:

- Pelo amor de Deus, não mate meu filho! Ele é um inocente! Não fez nada! Deixe meu menino viver!...

O companheiro de Beijo o Pedro Serafim que estava na sua companhia não sofreu nada, e o Beijo estava estirado como morto. O Manoel Vitório estava enlouquecido, urrando como uma rês. A dor que sentia o Manoel Vitório era maior do que a dor que sentia o seu filho.

O Manoel Vitório iria pagar pelo o que não fez. Os cangaceiros acreditavam que foi ele quem espalhou o boato, que eles estavam acoitados lá nas terras de Cassussu.

Zé Fortaleza estava escalado para eliminá-lo deste planeta, e sem nenhuma piedade, misericórdia ou outra coisa semelhante, com a mesma faca que castrara Beijo desferiu 13 facadas, e um tiro no infeliz sertanejo das terras de Poço Redondo. Feito a vingança, a malta saiu da fazenda “Soledade”, e foi embora, feliz por ter justiçado um homem injustamente.

Pela manhã, a triste notícia tomou rumo a todos os lugares do sertão alagoano. Geminiano levou os amigos e transportaram o Beijo para cidade de Pão de Açúcar, para os devidos procedimentos médicos.

Infelizmente, Beijo ficou sexualmente inutilizado, mas tinha em casa, a Mila, uma senhora honrada, e que nunca desrespeitou o seu nome e nem manchou o nome do marido; cuidava dele com carinho e muito amor. Beijo e Mila só se separaram quando a morte os levou para seu mundo desconhecido.

Depois das perversidades feitas pelos os 4 cangaceiros, Zé Fortaleza, Limoeiro, Medalha e Suspeita não sabiam que o destino iria lhes cobrar o que fizera com aqueles pobres inocentes. Ao chegarem ao município de Mata Grande, encontraram a morte juntamente com o civil Félix Alves.

Fonte de Pesquisa:

Livro: "Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico"

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HERÓIS DA RESISTÊNCIA

 Por Geraldo Maia do Nascimento

Uma das características dos índios Moxorós, que são apontados pelos historiadores como os originários da história do povo mossoroense, era o espírito guerreiro. Essa cultura da resistência acompanhou todo o desenvolvimento da nossa história. O maior exemplo deste espírito de luta verifica-se na guerra travada por estas bandas contra o mais famoso cangaceiro do Nordeste, o Lampião, que encontrou um povo lutador e acabou sendo expulso dessas terras.

O feito se deu em 1927 (século XX), segundo a história. Nosso município vivia um período de prosperidade econômica. Estávamos em pleno expansionismo comercial e industrial. Possuíamos o maior parque salineiro do país. Tínhamos três firmas comprando, descaroçando e prensando algodão, casas compradoras de peles de cera de carnaúba. Além disso, a cidade ainda dispunha de um porto, de onde eram exportados os seus produtos atendendo cidades da região Oeste do Rio Grande do Norte e até mesmo municípios dos estados do Ceará e Paraíba.

O cenário de prosperidade foi fundamental para que atraíssemos a atenção de grupos criminosos que invadiam e saqueavam cidades, prática comum naquela época. A população estimada do município era de aproximadamente 20 mil habitantes. Nosso território era ligado por uma estrada de ferro que se estendia desde o litoral até o povoado de São Sebastião, hoje município de Governador Dix-Sept Rosado, que já pertenceu à Mossoró.

Além de todos esses atrativos, tínhamos boas estradas de rodagem, energia elétrica alimentando várias indústrias, dois colégios religiosos, agências bancárias e repartições públicas. Em pleno século início de século XX, os mossoroenses viviam situação confortável. E tudo isso atraiu o mais temido cangaceiro da época, Virgulino Ferreira, o famoso Lampião.

Hoje, sempre que um grupo criminoso vai atacar uma cidade, seja uma agência bancária ou outro tipo de estabelecimento de maior porte, é comum ouvirmos falar sobre “informações privilegiadas”. Como são bandos formados por pessoas de outros locais, eles precisam de ajuda de “gente próxima”. E Lampião tinha essa “gente próxima”.

Com o porte que Mossoró possuía, sua invasão precisava ser planejada. De acordo com as pesquisas feitas pelos historiadores sobre o bando, o “Rei do Cangaço” era apoiado por Cecílio Batista, mais conhecido como “Trovão”. Ele já havia morado em Assu, onde havia sido preso por malandragem e desordem (crimes previstos naquela época).

Além de Trovão, Lampião contava com a ajuda de outro cangaceiro, José Cesário, conhecido como “Coquinho”, que já havia até trabalhado em Mossoró e conhecia bem a cidade. Outro importante parceiro fora Júlio Porto. Este havia trabalhado como motorista de Alfredo Fernandes, personalidade rica da época e parente próximo do prefeito Rodolfo Fernandes. Além de Júlio, o “Zé Pretinho”, tinha ainda Massilon, um tropeiro que conhecia muito bem a cidade.

O plano de invadir Mossoró é colocado em prática a partir do dia 2 de maio de 1927, ainda segundo os documentos históricos. Lampião e seu bando partiram do estado de Pernambuco, em direção ao Rio Grande do Norte. Fizeram um longo percurso. Passaram pela Paraíba, próximo ao limite com o estado do Ceará, com destino à cidade de Luís Gomes, que fica logo no início do estado norte-rio-grandense, a 201 km de Mossoró (o caminho mais curto).

A viagem não foi pacífica. Por onde passavam, invadiam e saqueavam. A cidade de Belém do Rio do Peixe, na Paraíba, por exemplo, foi uma das vítimas dos bandidos. Até então, o bando estava dividido. Uma parte da quadrilha estava com Massilon, no Ceará. Seu plano era atacar a cidade de Apodi, vizinha à Mossoró, em 11 de junho daquele ano. Depois disso, o grupo de Massilon se reuniria com o restante, liderado por Lampião, para definir um plano.

Os grupos se uniram e a reunião aconteceu, como planejado, na fazenda Ipueira, que ficava na cidade de Aurora, no estado do Ceará. De lá eles partiram com destino à Mossoró. Como era prática entre os cangaceiros, aterrorizaram sítios, fazendas, lugarejos e cidades durante o trajeto. Invadiam, saqueavam, ateavam fogo, sequestravam (os mais riscos) etc.

Uma das vítimas do bando de Lampião, antes da chegada à Mossoró, segundo constam nos documentos históricos, foi o coronel Antônio Gurgel, que já havia sido prefeito de Natal. O bando ainda fez refém o fazendeiro Joaquim Moreira, dono da Fazenda Nova, em Luís Gomes, a fazendeira Maria José, da Fazenda Arueira, além de outras pessoas ricas da região.

Foi o coronel Antônio Gurgel que teve a missão de escrever uma carta endereçada ao prefeito de Mossoró, Rodolfo Fernandes, em nome dos cangaceiros. Ousados, eles fizeram uma série de exigências para que pudessem poupar os mossoroenses do terror que vinham causando noutras cidades do Nordeste. Essa era uma tática tradicional usada pelos cangaceiros.

De acordo com os estudiosos do cangaço, era comum a utilização dessas cartas. Antes disso, os criminosos adotavam uma série de providências para intimidar as autoridades e dificultar qualquer plano de resistência. Eles cortavam os serviços telegráficos da cidade, para evitar qualquer tipo de comunicação. Quando o município resolvia ceder, o bando exigia, além de dinheiro e joias, mordomias, submetendo o povo e os prefeitos a verdadeiras humilhações.

As pesquisas mostram que os criminosos exigiam festas e bebidas para farras, que geravam ainda mais destruição dos locais por onde o bando passava. Quando alguma das cláusulas exigidas não era atendida, Lampião e seus comparsas procediam impiedosamente.

Ao prefeito Rodolfo Fernandes, os criminosos resolveram pedir 500 contos de réis. Era muito dinheiro para a época. Por isso, chegaram a um consenso e pediram 400 contos, conforme carta que transcrevemos logo abaixo, na íntegra, escrita pelo coronel Gurgel:

Meu caro Rodolfo Fernandes.

Desde ontem estou aprisionado do grupo de Lampião, o qual está aquartelado aqui bem perto da cidade. Manda, porém, um acordo para não atacar mediante a soma de 400 contos de réis. Penso que para evitar o pânico, o sacrifício compensa, tanto que ele promete não voltar mais a Mossoró…”

Ao receber a carta, o coronel Rodolfo Fernandes convoca uma reunião. Convida todas as pessoas de destaque da cidade. Ele informa o conteúdo da carta ameaçadora e alerta para a necessidade da preparação de defesa contra um possível ataque dos cangaceiros.

Os convidados, no entanto, desprezando a força e ousadia do bando de Lampião, julgam que uma possível invasão não poderia ocorrer, se tratando de uma cidade com o porte de Mossoró. O prefeito ainda teria argumentado contra, mas não foi ouvido pelos participantes. Assim, ele responde a carta escrita pelo coronel Antônio Gurgel, a mando dos cangaceiros:

Mossoró, 13 de junho de 1927 – Antônio Gurgel.

Não é possível satisfazer-lhe a remessa dos 400.000 contos, pois não tenho, e mesmo no comércio é impossível encontrar tal quantia. Ignora-se onde está refugiado o gerente do Banco, Sr. Jaime Guedes. Estamos dispostos a recebê-los na altura em que eles desejarem. Nossa situação oferece absoluta confiança e inteira segurança.

Rodolfo Fernandes.

A resposta seria entregue a uma pessoa enviada pelo bando de Lampião, à casa do prefeito Rodolfo Fernandes, que logo afirma que a proposta feita pelo bandido não será aceita pelos mossoroenses e manda avisar a Lampião que o povo está disposto a enfrentá-lo, caso a invasão fosse executada (o que, de fato, houve). Mas antes, resolve impressionar o mensageiro.

Rodolfo o leva até um dos aposentos onde havia vários caixões com latas de querosene e gasolina. Junto a esses caixões, existia um aberto e cheio de balas. O prefeito, na tentativa de impressioná-lo, diz que todos aqueles caixões estão cheios de munição e que já existe um grande número de homens armados na cidade, aguardando a entrada dos cangaceiros.

Diferentemente do que havia encontrado até então, Lampião deparou-se com uma resposta negativa. Ao tomar conhecimento do posicionamento do prefeito Rodolfo Fernandes, ele mesmo escreve um bilhete, segundo os historiadores, numa péssima grafia (tal qual):

Cel Rodolfo

Estando Eu até aqui pretendo drº. Já foi um aviso, ahi pº o Sinhoris, si por acauso rezolver, mi, a mandar será a importança que aqui nos pede, Eu envito di Entrada ahi porem não vindo essa importança eu entrarei, ate ahi penço que adeus querer, eu entro; e vai aver muito estrago por isto si vir o drº. Eu não entro, ahi mas nos resposte logo.

Capm Lampião.

Mais uma vez, o prefeito responde com negativa, demonstrando a coragem do povo mossoroense. Em novo escrito enviado ao cangaceiro, argumenta dificuldades financeiras:

Virgulino, lampião.

Recebi o seu bilhete e respondo-lhe dizendo que não tenho a importância que pede e nem também o comércio. O Banco está fechado, tendo os funcionários se retirado daqui. Estamos dispostos a acarretar com tudo o que o Sr. queira fazer contra nós. A cidade acha-se, firmemente, inabalável na sua defesa, confiando na mesma.

Rodolfo Fernandes

Prefeito, 13.06.1927.

Diante da situação, a invasão mostrava-se iminente e não restava o que fazer, a não ser resistir. Apesar do medo, ampliado pelas histórias aterrorizantes que circulavam a região acerca de Lampião e seu bando, os mossoroenses decidiram preparar a cidade para a defesa.

O tenente Laurentino era o encarregado de organizar o plano de resistência ao bando. Os voluntários foram distribuídos em pontos estratégicos da cidade, escolhidos criteriosamente para tentar surpreender os criminosos, utilizando a estrutura local ao seu favor.

As torres das igrejas matriz, Coração de Jesus e São Vicente foram utilizadas como pontos de referência da resistência. Do alto, tinham visibilidade e podiam utilizar deste elemento para levar vantagem sobre o bando, que viria por terra (onde também encontrariam resistência organizada). Homens armados foram instalados no mercado, correios e telégrafos, companhia de luz, Grande Hotel, estação ferroviária, ginásio Diocesano e na casa do prefeito.

Do lado de lá também havia certa organização. De acordo com os registros históricos acerca do combate, Lampião pretendia chegar a uma localidade conhecida como Saco, que ficava a uma distância de dois quilômetros de Mossoró. Neste ponto, eles abandonariam as montarias e seguiriam a pé, até Mossoró, para concretizar a temida invasão.

O cangaceiro Sabino comandava duas colunas de vanguarda. Uma das colunas era chefiada por Jararaca e outra por Massilon, enquanto Lampião liderava a coluna da retaguarda.

Em meio à preparação dos cangaceiros e dos resistentes, a população, assombrada, tentava deixar a cidade. Crianças, mulheres e idosos, em sua maioria. Estes não tinham condições de enfrentar os bandidos, de armas em punho, e precisavam fugir para se resguardar.

De acordo com os historiadores, o dia de junho ficou marcado pelo desespero da população, que tentava sair da cidade o mais rápido possível. Mulheres chorando, carregando crianças de colo, crianças sendo puxadas pelo braço, trouxas de roupa na cabeça, balaios de comida e água etc. Era uma verdadeira multidão de pessoas aterrorizadas, vagando sem rumo.

O que se via eram famílias inteiras reunidas, completamente desesperadas, lotando os raros caminhões ou automóveis que saíam disparados a caminho do litoral. Muitos, sem condição de transporte, tratavam de conseguir esconderijo dentro ou fora da cidade. A ordem dada pelo prefeito era clara: aquele que estiver desarmado, não deverá permanecer na cidade.

O desespero aumentava mais à medida que o dia avançava. Às 23h, os sinos das igrejas de Santa Luzia, São Vicente e do Coração de Jesus começaram a martelar tetricamente, o que só servia para aumentar a correria. As sirenes das fábricas apitavam repetidamente a cada instante. Foi aí que alguns, ainda incrédulos com a invasão, tiveram a certeza do que viria.

Na praça da estação da estrada de ferro, era grande a concentração de gente na busca de lugar para viajar nos trens que partiam de Mossoró. Até os carros de cargas foram atrelados à composição para que a maior quantidade possível pudesse partir. Apesar de todo o esforço, muitos não conseguiram fugir. Aqueles que chegaram atrasados caíram no desespero.

Naquela inesquecível noite de 12 de junho, não houve descanso para ninguém em Mossoró. Os encarregados pela defesa da cidade se revezavam na vigília, enquanto o restante da população esperava a vez de partir. E o movimento na estação ferroviária não parava.

O embarque de pessoal virou toda a noite e só terminou na tarde do dia 13 de junho, dia de Santo Antônio, quando foram ouvidos os primeiros tiros, dando início ao terrível combate. Mas a meta havia sido alcançada; a cidade estava deserta. Ficaram só os resistentes.

Enfim, o bando chegara à Mossoró. Diferentemente do cenário que costumavam encontrar, deparam-se com uma cidade fantasma. Sabino, um dos líderes, segue com sua coluna para a casa do prefeito Rodolfo Fernandes. A intenção era punir o atrevimento do coronel que se recusou a ceder às pressões do bando e submeter uma cidade inteira ao terror do cangaço.

Sabino posiciona-se sozinho em frente à casa de Rodolfo Fernandes, sem saber que ali havia um grupo pronto para reagir contra o bando. Os defensores da cidade ficam indecisos, sem saber se ele é um soldado ou um cangaceiro, já que não havia muito diferença entre a maneira de se vestir de um e de outro. Foi Rodolfo Fernandes que deu a ordem para o ataque.

De acordo com as pesquisas feitas sobre o assunto, os mossoroenses contaram ainda com “ajuda” do céu. Em meio à guerra, uma chuva começou a cair, afetando diretamente a visão dos cangaceiros, que estavam desprotegidos, a céu aberto, enquanto os resistentes permaneciam inertes, nos pontos que foram estabelecidos estrategicamente por Laurentino.

Lampião segue em direção ao cemitério da cidade, enquanto que Massilon procura os fundos da casa do prefeito. A primeira baixa significativa do bando veio com o disparo que atingiu “Colchete”, que lançou uma garrafa com gasolina contra as trincheiras feitas de fardo de algodão, na tentativa de incendiá-los. Foi morto. Em seguida, Jararaca também foi baleado. Ele tentou se aproximar do comparsa para substituí-lo e acabou sendo alvejado nos pulmões.

É nesse momento que os resistentes mostram aos cangaceiros qual é a sua saída: fugir para não serem completamente destruídos. Os soldados entrincheirados assumem o controle da batalha, encurralando os cangaceiros. Aqui, a situação já está totalmente dominada.

A ordem de retirada do bando foi dada por Sabino, um dos líderes, ainda de acordo com os registros das pesquisas realizadas acerca do tema. Ele saca sua pistola e efetua quatro disparos para cima. Fim do ataque. Este foi o som da vitória dos mossoroenses sobre Lampião.

O temido confronto com o bando do mais famoso e temido cangaceiro do Nordeste durou aproximadamente uma hora e meia. Começou por volta das 16h e acabou às 17h30. Lampião, o destemido líder do bando, fugiu. Ele deixou para trás Colchete (morto) e Jararaca, além de muitos outros, não tão conhecidos, que foram feridos ou mortos durante o combate.

Precavidos, os resistentes permaneceram aquela noite de plantão, temendo que o bando pudesse tentar recuperar-se das perdas e voltar. Os combatentes suspenderam a vigília somente com o raiar do dia, ao confirmar que o bando tinha realmente sido expulso da cidade.

A história da resistência do povo de Mossoró contra o bando de Lampião, que seguiu sua saga, invadindo e saqueando, é lembrada todos os anos, no dia 13 de junho, que é o Dia de Santo Antônio. Foi numa tarde chuvosa que os mossoroenses reafirmaram seu espírito guerreiro, dando orgulho aos índios Monxorós, aqueles que deram origem ao nosso povo.

https://defato.com/mossoro/94570/mossor-169-anos-a-histria-contada-pelo-historiador-geraldo-maia

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A MAIS ENCARNIÇADA LUTA ENFRENTADA PELO CANGACEIRO ANTÔNIO SILVINO EM TODA A SUA HISTÓRIA.

 Por Cangaçologia

https://www.youtube.com/watch?v=kP5_GKG5Fd8&ab_channel=Canga%C3%A7ologia

15 cangaceiros mortos e sangrados e uma das maiores derrotas sofridas pelo cangaceiro Antônio Silvino e seu bando em toda a sua história. Fera combatendo fera. Assistam e ao final deixem seus comentários, críticas e sugestões. INSCREVAM-SE no canal e ATIVEM O SINO para receber todas as nossas atualizações e publicações. Forte abraço! Atenciosamente:

Geraldo Antônio de S. Júnior - Criador e administrador dos canais Cangaçologia, Cangaçologia Shorts e Arquivo Nordeste. Seja membro deste canal e ganhe benefícios: https://www.youtube.com/channel/UCDyq...

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LAMPIÃO EM LIMOEIRO DO NORTE_parte 2

 Por Aderbal Nogueira

https://www.youtube.com/watch?v=0Ma57O1bk5Q&ab_channel=AderbalNogueira-Canga%C3%A7o

2ª parte da entrevista de Custódio Saraiva, juiz municipal de Limoeiro do Norte em 1927, concedida a Agenor Ferreira, da Rádio Vale do Jaguaribe, em 1977. Constam também mais 2 depoimentos gravados por mim, em 1997. Um é do irmão de Custódio Saraiva e o outro de mais uma testemunha ocular.

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LAMPIÃO EM LIMOEIRO DO NORTE

 Por Kydelmir Dantas

Quando de uma ida a cidade de Limoeiro do Norte - CE, em 26 de janeiro de 1994, conhecemos e colhemos o depoimento de José Maia Guerreiro, então Diretor do Museu Histórico Municipal, sobre a passagem do bando de Lampião após o ataque e a derrota de seu bando em Mossoró no dia 13 de junho de 1927. Para nossa surpresa, apareceram fatos inéditos com relação ao que encontramos relatados e/ou citados na literatura lampionesca. Por exemplo: Na maioria dos livros relacionados ao tema, ou que falam sobre o ataque de Lampião a Mossoró, as famosas fotos do bando em Limoeiro são colocadas como de autoria de J.Octávio. Fotos estas feitas ao lado de um prédio que faz esquina com a praça central daquela cidade. Outra coisa é de que o bandido Massilon Leite, ou Benevides, não está naquela foto, como se vê grafado nos originais da mesma revelada pelo jornalista citado. Portanto, vejamos o depoimento que a nós foi dado:
“- Massilon Leite se encontrava conversando num banco da Praça mais o seu amigo Genésio Bezerra, quando foi convidado a participar do grupo que estava se arrumando para sair nas fotografias, hoje conhecidas mundialmente, e recusou-se. Disse que era muito conhecido no RN e que não queria sua cara em fotografias para não ser perseguido pela Polícia ou por seus inimigos. Essas palavras eu ouvi várias vezes da boca do próprio Genésio Bezerra.”

As fotos foram feitas, em 15 de junho de 1927, pelo fotógrafo Francisco Ribeiro (Chico Ribeiro), que por não ter onde revelá-las levou a máquina até Mossoró, onde o fotógrafo e jornalista José Octávio Pereira, que era dono do Laboratório fotográfico, revelou-as; inclusive assinou nas mesmas.

Qual a razão de Jararaca ter identificado Massilon nas fotos? Talvez por não reconhecer, nele, algum de seus companheiros ou confundi-lo com alguém?

Há controvérsias a respeito desta afirmação.

Segundo o Dr. Francisco Honório de Medeiros Filho, que ora faz uma minuciosa pesquisa sobre a Vida e Morte de Massilon Leite, em informação colhida junto à Família deste, “Anésio, irmão mais novo, encontrou-se com Manoel Leite (o Pinga-Fogo que esteve em Mossoró) em Imperatriz – MA, na década de 60, e, por não ter conhecido o outro irmão, abordou-o com a famosa foto às mãos: ‘- Manoel. Você pode identificar Massilon aqui?’ E este foi, de imediato, com o dedo sobre a figura do irmão, o 5º ajoelhado, da esquerda para a direita, entre Virgínio e Luiz Pedro, dizendo: - É este!” Para o Dr. Honório, com esta afirmação, não há dúvidas sobre a presença de Massilon na foto.

Em Limoeiro Lampião e seu bando foram recebidos com festas, pelas maiores autoridades locais, o prefeito, o padre e o juiz municipal. A Polícia se ausentou, para evitar confronto. O jantar foi servido a Lampião e seu bando no Hotel Lucas, hoje demolido para alargar uma das avenidas da cidade, ao lado da Igreja Matriz.

Quem foi o fotógrafo responsável pelas fotos famosas, existentes no Museu Histórico Lauro da Escóssia, em Mossoró? Ei-lo: Francisco Ribeiro de Castro ou CHICO RIBEIRO, como era mais conhecido, foi quem fez as duas fotos famosas do bando em Limoeiro do Norte, a 15 de junho de 1927. Sendo apenas fotógrafo, trouxe os filmes para serem revelados em Mossoró; este serviço foi feito no laboratório do Atelier Octávio. Como o laboratorista fez anotações nos negativos revelados e os assinou, até hoje, em quase todos os livros que estas fotos aparecem, dá-se crédito das mesmas ao jornalista José Octávio.

E o jornalista que assinou as fotos?

José Octávio Pereira Lima – (1895 – 1958), poeta, fotógrafo, diretor-proprietário do “Correio do Povo”, foi o responsável pelo trabalho de revelação e reprodução do documentário fotográfico feito por Chico Rodrigues, acima mencionado. Além das fotos que foram colhidas em Limoeiro, que ele levou ao cangaceiro Jararaca (José Leite de Santana) para identificar seus companheiros e grafou a data de 16 de junho daquele ano, J. Octávio foi também o responsável pelas outras que fez de Jararaca e outros cangaceiros que por aqui estiveram detidos. Deixou, assim, um preciosíssimo documentário iconográfico do famigerado bando.

Graças ao seu trabalho, o Museu Histórico Lauro da Escóssia tem o mais fiel acervo fotográfico do grupo de Lampião e das trincheiras da resistência, à época da tentativa de assalto a nossa cidade. É o patrono da Cadeira nº 04 da Academia Mossoroense de Letras – AMOL. Publicou entrevistas de cangaceiros e escreveu longos artigos sobre banditismo. Escreveu em versos populares: “A Derrota de Lampeão em Mossoró”“A Vida e Morte de Jararaca”, e outros episódios.

Agora , uns adendos:

- Já vimos várias publicações com aquelas fotos, que colocam-nas como se fosse José Octávio o autor, e com uma parte rasgada. O que faz as pessoas colocarem haver apenas 3 prisioneiros (José Moreira, Coronel Antonio Gurgel e D. Maria José) no grupo em Limoeiro do Norte. A original, do acervo do Museu Histórico Lauro da Escóssia, em Mossoró, está completa e aparece o nome do quarto prisioneiro: Manoel Barreto Leite.

- No livro - Nas Garras de Lampião - de Antonio Gurgel & Raimundo Soares de Brito, foi incluído, pela primeira vez, uma pequena biografia do autor das fotos em Limoeiro do Norte, o fotógrafo FRANCISCO RIBEIRO (Chico Ribeiro), em pesquisa realizada naquela cidade e citações de livros de autores cearenses.
- Algumas publicações, - revistas de história, revistas culturais e/ou livros - principalmente nos últimos anos, que fazem e apresentam reportagens, e artigos sobre Cangaço, colocam as fotos como pertencentes ao acervo da Família Nunes Ferreira.

Menos a verdade! Que nos consta, estas fotos pertencem ao acervo da Família do fotógrafo Francisco Ribeiro e, noutro caso, ao acervo do Museu Histórico Lauro da Escóssia, de Mossoró e da Família do José Octávio Pereira Lima. Esta é que é a nossa impressão e certeza.

(*) Pesquisador e poeta. Ex-presidente da SBEC.

http://lentescangaceiras.blogspot.com/2008/07/lampio-em-limoeiro-do-norte.html

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BANDO DE LAMPIÃO EM FUGA

 

A história do cangaço é revivida hoje, em Limoeiro do Norte, após 80 anos da passagem do bando pelo município

Limoeiro do Norte. Poucos acontecimentos de apenas algumas horas perpetuam na história do Ceará, como a passagem de Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”, por Limoeiro do Norte, há exatamente 80 anos. O cabra foi posto para correr de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde até hoje festejam a resistência ao cangaceiro. Depois de receber a “chuva de balas” dos potiguares, aceitou os cumprimentos “tensos” dos limoeirenses, no dia 15 de junho de 1927. O rebuliço foi consolado pela “visita em paz” do rei do cangaço nas terras de seu Padim Ciço. Nunca mais Limoeiro foi o mesmo.

“Prefeito de Limoeiro, Urgente. Lampião acaba atacar Mossoró. Depois forte resistência conseguimos rechaçá-los, ficando um morto outro prisioneiro. Saudação. Rodolfo Fernandes, Prefeito Municipal”. O recado do prefeito de Mossoró chegou em telegrama às mãos de Custódio Saraiva, Juiz de Paz em Limoeiro e responsável por defender o município, dada à ausência do prefeito. Naquela hora seu Custódio almoçava, não comeu mais. Telegrafou para a Secretaria de Polícia, em Fortaleza, que devolveu a batata quente para que “agisse como pudesse”. A cidade foi evacuada imediatamente.

Como era de seu feitio, Lampião entrou no Ceará guiando os fios do telégrafo. O “cabra” cavalgou com seus quarenta e tantos homens (o número é incerto) pela Estrada da Solidão, na Chapada do Apodi. Anísio Batista, morador da Lagoa do Rocha, teria sido o primeiro a ver Lampião e, inclusive, anunciado sua chegada. “Então disse Lampião/ vá até Limoeiro/ pergunte às autoridades/ se recebe um forasteiro/ desprovido de maldades/ como um nobre cavalheiro”, poetizou Irajá Pinheiro, memorialista local e também membro da Academia Limoeirense de Letras, sobre o encontro inusitado.

Lampião fugiu de Mossoró carregando dois reféns: Dona Maria José do Catolé do Rocha e o Coronel Gurgel, sogro do gerente do Banco do Brasil potiguar. O cangaceiro queria, telegrafando de Limoeiro, cobrar de Mossoró 80 contos de réis como pagamento do resgate dos reféns. “Passei o telegrama para Mossoró, em caráter de urgência, e dentro de poucas horas obtive a resposta: ‘prefeito de Limoeiro, urgente. Seguiu portador, montado a cavalo, conduzindo numerário resgate prisioneiros’”. A informação é do próprio Custódio Saraiva, juiz de Paz, em entrevista ao boletim “Campus”, da Universidade Estadual de Londrina, em 1979, 52 anos depois da visita “ilustre”.

O bando de cangaceiros famintos foi “presenteado” com jantar no Hotel Lucas, no Largo da Igreja Matriz. A Prefeitura mandou matar um boi e sinhá Arcanja, escrava de Custódio, ficou de servir a tropa. Lampião, que não era besta nem nada, mandou gente da cidade provar da comida, pois poderia estar envenenada. Até pensaram em colocar algum negócio no “vinho”, mas desistiram, que bandido é cabra esperto. Lampião, então, admirador que era de Napoleão Bonaparte, era “gato escaldado”.

Lenços vermelhos

Dizendo estar em paz, já que em terra de Padre Cícero mal algum ele faria, Lampião passeou pela pequena cidade, e, na bodega de Getúlio Chaves, até comprou lenços vermelhos – à época adornavam a indumentária cangaceira. O bandido também levou uma ruma de perfume Quinta-Feira – tinha esse nome por fazer parte da tradição casamenteira e os matrimônios aconteciam nesse dia especial da semana.

Conta dona Lirete Saraiva, filha viva de seu Custódio, que seu pai “foi um homem forte, de encarar Lampião sem arma nem nada, defendendo a cidade”. De outro modo, o jornal “O Ceará”, de Fortaleza, reclamava “humilhação” porque passou Limoeiro por não enfrentar Lampião, enquanto Mossoró havia botado o homem pra correr sob balas.

Soar das cornetas

Lampião era destemido e temido, mas o certo é que estava cercado pelos cearenses. Do telefone do Telegrafo, do qual se “apossou” para mandar seus avisos, ouviu o soar da corneta em Russas. Era a Polícia que já estava pronta para ir para Limoeiro. Não podendo mais esperar a chegada dos 80 contos de réis de resgate dos reféns, os cangaceiros fugiram pela banda dos Morros, onde havia umas pedras identificadas como “Gruta de Lampião”.

No município de Palhano, abandonaram os dois reféns, quando do embate contra os volantes da Paraíba e Rio Grande do Norte. Em seguida, Lampião deixava a região jaguaribana rumo ao Cariri de seu Padim Ciço, dado como o “salvador” do povo de Limoeiro.

Mais informações:
Exibição de filmes sobre o cangaço
Debate com Irajá Pinheiro e Cícero Reis, NIT, em Limoeiro
(88) 3423.6900

MELQUIADES JÚNIOR
Colaborador

HISTÓRIA DO CANGAÇO
Pesquisadores locais “garimpam” memória

Limoeiro do Norte. Herói ou Bandido? Se Lampião por si só já era um caso de se estudar, a fuga de Mossoró e a passagem por Limoeiro são fatos marcantes para os dois lados da Chapada do Apodi, que divide Ceará e Rio Grande do Norte. Embora nos registros mais oficiais a passagem do cangaceiro por Limoeiro não tenha constado em mais de uma página, historiadores locais garimpam nos arquivos da memória e das estantes empoeiradas para conhecer as três horas mais longas da história limoeirense – o bando chegou às 15h, saindo por volta de 18h. Curiosa com o fato e o mito, jovem historiadora resgata material histórico sobre o “Rei do Cangaço”.

O historiador Nunes Malveira lançou, em 2002, “Lampião em Limoeiro do Norte”. E também duas pérolas históricas saem do baú e chegam à reportagem do Diário do Nordeste: trata-se de duas entrevistas de Custódio Saraiva, então Juiz de Paz à época da visita de Lampião, publicadas em 1977, 50 anos feitos da visita do “cabra da peste”. O músico Eugênio Leandro e o escritor Jorge Alan conversaram com Custódio e publicaram relato no primeiro número da revista “Kuandu”, produzida pelo Colégio Diocesano Padre Anchieta.

Monografia na Fafidam

Ainda nos dias de hoje, o assunto desperta a curiosidade das novas gerações. A estudante do curso de História da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (Fafidam), Angirlene Lima, pesquisa nos arquivos pelo Vale do Jaguaribe e até Mossoró sobre os dias de rebuliço da passagem de Lampião na fronteira dos dois Estados. “Não tinha idéia do que seria minha monografia de graduação, fiquei sabendo por minha mãe que Lampião tinha passado por Limoeiro. Hoje me apaixonei por essa pesquisa”, conta Angirlene.

“Lampião era uma verdadeira figura. A estratégia dele era o não-combate. Conseguia vencer no medo”, explica a historiadora. Pela contemporaneidade de sua pesquisa, tem a vantagem de pegar todo o material já publicado sobre o bandido (ou herói, tudo depende do ponto de vista) e confrontar as diferentes versões.

“Existem algumas informações que foram repassadas pela memória local e pouco discutidas, apenas aceitas. Diz-se que, quando chegou a Limoeiro, Lampião jogou moedas para as crianças no patamar da igreja. Também teria doado uma boa quantia para a reforma da Igreja Matriz. Mas se ele recebeu somente dois contos de réis do município, seria estranho ter gastado mais do que o que arrecadou”, questiona.

Angirlene conta que a cidade de Mossoró ficou armada por mais duas semanas após a resistência ao bando de Lampião, isso porque havia comentários de que ele poderia voltar. As tropas oficiais tinham comportamento de superioridade semelhante aos cangaceiros, até maltratando a população por onde passava. “As pessoas acabavam pensando que ainda era gente do bando de Lampião, daí ficavam com muito medo”.

Algumas das melhores fotos que se tem do bando de Lampião foi tirada em Limoeiro, na frente de uma farmácia, de frente para a igreja. Conforme o professor Irajá Pinheiro, quem fotografou foi um homem chamado Francisco Ribeiro. “Ele bateu a foto e pegou a bicicleta para revelar em Mossoró”. Nessa cidade potiguar, cada um da foto foi reconhecido pelo cangaceiro Jararaca, aprisionado pelos mossoroenses durante a batalha em Mossoró. Até os reféns do bando estão no registro fotográfico.

Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”, teria sido morto em 1938, 11 anos após sua passagem por Limoeiro. Em Angico, o cangaceiro foi pego de surpresa e decapitado, juntamente com o seu bando. O bandido ou herói virou, reconhecidamente, mito. “Costumo dizer que Lampião foi um homem que tomou a decisão de ser cangaceiro e arcou com todas as conseqüências até o fim sem meias palavras, sem meios gestos”, define Angirlene Lima.

https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/regiao/bando-de-lampiao-em-fuga-1.742189

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