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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

TRADICIONAL VAQUEIRO NORDESTINO-TIPO RARO

Por: Rostand Medeiros

“Bom vaqueiro nordestino
Morre sem deixar tostão
O seu nome é esquecido
Nas quebradas do sertão”

A Morte do Vaqueiro – Luiz Gonzaga
Vemos na foto que abre este texto, produzida na metade do século passado, um encourado vaqueiro nordestino, uma visão cada vez mais rara nos sertões potiguares.
A roupa era feita para enfrentar os espinhos da mataria da caatinga nordestina. O vaqueiro corria célere pela mata, com a cabeça escorada no pescoço do seu animal, em busca de uma rês desgarrada.
Quem confeccionava estas peças eram verdadeiros mestres e no Rio Grande do Norte havia vários deles. Sobre isto tenho uma história interessante.
Em 4 de abril 1921 desembarcava no Rio de Janeiro a chamada “Missão Internacional Algodoeira”, sob o comando do Secretário Geral da International Federacion of Máster Cotton Spinner’s & Manufacturers, o inglês Arno S. Pearce e mais dois técnicos.
Pearce desejava ver a maneira como o Brasil tratava esta malvácea e queria ir até os produtores. As visitas iniciaram-se pelo estado de São Paulo, depois foram de trem para Minas Gerais, seguindo no Rio São Francisco para a Bahia e depois em direção a Pernambuco, Paraíba e Rio grande do Norte. Sempre visualizando os tipos de fibras, os solos onde o algodão era plantado, as prensas, as fazendas.
A chegada a terras potiguares ocorre em 5 de julho de 1921, quando os integrantes desembarcam de trem na capital, às cinco da tarde, sendo recebidos pelo Delegado Regional do Serviço do Algodão no estado, Antídio Guerra, e ficando alojados na “Villa Cincinnato” ([1]).

No outro dia ocorreram visitas ao governado Antônio José de Melo e Sousa, a Escola Doméstica ([2]), a redação de “A Republica” e outros locais. Os jornais apontavam Pearce como uma “autoridade mundial em assuntos referente a algodão” e sua visita despertava vivo interesse nas classes dirigentes e econômicas do estado ([3]).
Mas como o gringo não estava para salamaleques, no dia 7 parte para o ressequido sertão potiguar, acompanhando de várias autoridades locais.
Vamos encontrá-los dias depois saindo de Mossoró por um tortuoso caminho, o grupo segue para o Brejo do Apodi, atualmente distrito do Brejo, zona rural do município de Felipe Guerra, onde os familiares maternos de Antídio, onde são regiamente recebidos pelo coronel Antônio Gurgel do Amaral ([4]).
Então os técnicos agrícolas suíços Max Syx e F. Genny, que acompanhavam Pearce na sua missão, acompanhados de Antídio Guerra e alguns de seus parentes, foram visitar a pequena vila de Pedra de Abelha, atual cidade de Felipe Guerra.
Os estrangeiros estavam desejosos de levar para Europa um souvenir da região, então lhes é mostrado a selaria de João Inácio. Consta que os europeus se mostram extremamente interessados na forma como o analfabeto João Inácio consegue lhes tomas as medidas para a confecção das roupas, utilizando métodos então em desuso na Europa de 1921. Eles se impressionam com a confecção utilizando couro de veado e se encantam com a beleza das peças. Max Syx encomenda por 350$000 réis, um traje completo de couro que será enviado pelos amigos brasileiros quando estivesse pronto. Já o artesão Inácio se impressiona com a estatura e as largas medidas que apura no suíço Syx, chamando a atenção de todos que moram no lugarejo ([5]).
Conheço bem Felipe Guerra e suas cavernas e sempre vou por lá. Ao descobrir este texto, em uma visita posterior que fiz a esta cidade eu procurei, melhor, pelejei para encontrar um Cristão que me desse o mínimo fiapo de notícia deste Mestre na arte da confecção do couro. Fui até no cemitério, mas não encontrei nada, nenhuma informação.
Realmente o seleiro João Inácio chamou a atenção dos estrangeiros, mas não de sua gente.
Mas este esquecimento não é restrito aquele município. É raro ver um vaqueiro encourado nos sertões potiguares da atualidade.
Além do mais, hoje em dia os vaqueiros do nosso estado não precisam usar esta roupa, pois quase não temos mais caatinga que justifique seu uso. Pois esta vegetação típica está sendo sistematicamente desmatada para abastecer olarias, caieiras e outros fins econômicos que utilizam lenha.
Como foi comentado, antigamente as peças que compunham este tradicional vestuário eram confeccionadas com pele de veado, pois tinham resistência e eram maleáveis. Hoje não dá. Se alguém matar um veado para arrancar o couro e fazer uma roupa de vaqueiro, o IBAMA vai tratar o vaqueiro e o artesão como bandidos. Se um vaqueiro quiser criar uma pequena quantidade destes cervídeos em um curralzinho, para também aproveitar a carne para sua família e fornecer as peles para a roupa de trabalho, se lascou de novo. Pois está criando sem autorização, sem papeis, sem seguir os mandamentos dos burocratas que vivem na cidade grande, que se acham superiores por serem “Federais” e possuírem títulos acadêmicos.
Mas vamos em frente…
Acredito que hoje, encontrar vaqueiros encourados nos sertões potiguares, como estão aqui apresentados nas fotos, só na festa da pega do boi da Fazenda Pitombeira, em Acari.
Fico feliz com o sucesso desta importante iniciativa. Recentemente vi e fiquei admirado com um documentário que mostra este evento. A produção teve a teve a narração forte e vibrante do batalhador jornalista e amigo Alex Gurgel, com filmagens realizadas pelo grande Hélio Galvão.
Ainda bem que na Pitombeira a tradição existe.
P.S. – Posso até estar errado e em muitas áreas do nosso Rio Grande do Norte os vaqueiros encourados estão correndo nas caatingas. Se assim for, tenho tido azar, mas não sou cego.

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[1] Então residência oficial do governo, localizada na Praça Pedro Velho. 
[2] Era prática comum na década de 1920, as autoridades locais agendarem visitas de pessoas ilustres que estivessem em Natal a Escola Doméstica. Localizada então na Praça Augusto Severo, esta escola era uma referência no ensino feminino no Brasil.
[3] Ver “A Republica”, de 7 de junho de 1921, pág. 1.
[4] O coronel Antônio Gurgel do Amaral será capturado pelo bando de Lampião em 12 de junho de 1927, quando do ataque deste cangaceiro a Mossoró e ficará prisioneiro dos quadrilheiros por vários dias.
[5] Sobre a missão Pearce no Brasil ver; Pearse, A. S., “Brazilian Cotton, being the Report of the Journey of the International Cotton Mission through the Cotton States of Sao Paulo, Minas, Geraes, Bahia, Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Parahyba, Rio Grande do Norte”, pág. 10, 1ª Edição, 1923, Manchester, Inglaterra.

Extraído do blog:
"Tok de História" do historiógrafo Rostand Medeiros

Game sobre Cangaço em construção

Demonstração do desenvolvimento de um jogo eletrônico sobre o cangaço. Em 1ª pessoa com elementos de RPG. 
 
Nossa sessão Games que há muito estava solitária ganha mais um item. Aqui você é um soldado de Volante na caça aos cabras de Lampa. Aliás, tem cangaceiro africano e até "morto-vivo".

Bem que poderiam projetar um jogo realmente fiel, onde o jogador assumiria a mira do próprio Lampa; As fases obviamente seriam as principais batalhas; encerrando em Angico com direito a dois finais: Dependendo da habilidade do jogador, Lampião seria surpreendido como de fato, só que poderia morrer fuzilado ooooooou simplesmente se safar do cerco, aniquilando Bezerra e toda a sua tropa. - Amigo Paulo Britto, é apenas no mundo virtual rsrsrsrs.

Mas... é o que tem pra hoje, tá valendo e o Cangaço inspira mais um ramo de diversão.

Estágio inicial
Navegação e jogabilidade básica.
Prévia 2

O que já foi implementado: Sistema de missões, diálogos, Inventário, NPCs, Itens e armas.
Feito com o Unity, Blender e GIMP (ferramentas freeware)


Prévia 3

Aprimoramento Novo inimigo - Cenário repaginado (texturas e modelos: chão, montanhas, acampamento dos cangaceiros, - Movimento da arma ao se locomover e atirar - Os tiros agora emitem luz e rastro - Os sistemas de missões e inventário foram integrados


Prévia 4

Recorte de cenas onde os soldados da volante enfrentam os cangaceiros na cidade de Riacho Raso. Detalhes técnicos: Inteligência Artificial implementada, os NPCs podem se engajar em combate com um ou mais inimigos ao mesmo tempo. Cada modelo possui 3 texturas diferentes, como por exemplo, o cangaceiro: nerd, zulu e zumbi, e o soldado: loiro, moreno e negro.


Curtiu?

Acompanhe o andamento e conclusão no:
www.leocesarbsb.xpg.com.br/Cangaco3D.html


PRESERVAÇÃO DA HISTÓRIA

Por: Rostand Medeiros
Photo

Carlos Augusto de Miranda Gomes – Escritor e Advogado

Tenho ocupado o meu resto de vida com as coisas que dizem respeito à preservação e ao resgate da nossa história.
Neste mister não estou só, mas conto com o auxílio de pessoas idealistas, que colocam à margem os interesses especulativos, capitalistas, ou políticos e se voltam para a busca de uma memória que deve, porque merece, ser preservada.
Perdemos a batalha do Machadão, do que só se ouve os lamentos, mercê das primeiras demonstrações do engodo da expressão: “legado da Copa de 2014”, eis que já publicam notícias do cancelamento da licitação para a contratação milionária de consultorias, no exato momento em que o Tribunal de Contas se preparava para tomar uma decisão, conhecemos problemas de financiamentos e de aprovação de alguns projetos de mobilidade urbana, já confessado pelo Dr. Demétrio.
Os badalados “Presépio da cidade”, bem assim o outro, “Parque da cidade”, não se tornaram realidade e agora existem obstáculos para a conclusão do prolongamento da Prudente de Morais, em nome do meio ambiente, quando 90% da mata atlântica já foi destruída, quando é possível encontrar uma solução mais inteligente e menos danosa, evitando-se mais um elefante branco.
O prato do dia é o “leilão do Juvenal Lamartine”, contestado com veemência por alguns jornalistas, pelos blogueiros (eu me incluo) e pela corajosa pena da
Professora Eleika Bezerra Guerreiro, enquanto a Governadora faz ouvido de mercador, sob o manto de uma suposta legalidade defendida pelo Procurador Geral do Estado, algumas vezes até com expressões de desdém, pontuando que de nada adianta o tombamento por lei municipal, pois isso não impedirá mais um desmanche de parte da nossa história.
Um Governante, um Secretário e, mais precisamente, quando Procurador, deve ter uma visão macro das coisas do Estado, aconselhando as melhores atitudes do Governo, como o fez a ex-Consultora
Tatiana Mendes Cunha, que emitiu Parecer contrário às pretensões do Governo no caso da inspeção veicular, terminando por entregar o seu cargo, não perdendo a sua dignidade.´
É sempre bom lembrar que o Estado é uma ficção jurídica, resultado da vontade do povo – estes os legítimos criadores. E a criatura não pode se voltar contra a vontade do criador.
Por enquanto é válido gritar, enquanto vamos pensando em uma ação popular ou outro meio que possa impedir mais esse despautério que se pretende impingir ao povo do nosso Estado.

Extraído do Blog Tok de História, do historiógrafo Rostand Medeiros

Acadêmico e professor da UNIASSELVI de Paulo Afonso participam do III Cariri Cangaço


Cristiane Guimarães
Articuladora Uniasselvi
Pólo Presencial Fasete EAD
Paulo Afonso-BA
Contato: (75) 3501-3545 / (75) 3501-3520
Aconteceu, no final do mês de setembro deste ano, o III Cariri Cangaço, com o tema: Da Insurreição a Sedição.
O evento tem a curadoria de Manoel Severo e ocorreu nas cidades cearenses de Juazeiro, Crato, Barbalha, Aurora, Missão Velha e Barro.
O acadêmico da UNIASSELVI e escritor, João de Sousa Lima, além de ser um dos conferencistas, lançou a segunda edição da biografia de Maria Bonita.
Na oportunidade foi homenageado por suas pesquisas e livros e também foi empossado no Conselho Consultivo do Cariri Cangaço. O professor-tutor da UNIASSELVI e Paulo Afonso-BA, Alcivandes Santos, também lançou seu livro sobre o Beato Pedro Batista.
O Cariri Cangaço é um evento com impulso de preservação cultural e a pontual divulgação das diversas áreas de nossa nordestinidade. O Cariri Cangaço, por sua participação direta de uma grande leva de estudiosos, escritores, pesquisadores e interessados nos temas cangaço, messianismo, coronelismo e história nordestina em geral, tem a grandiosidade de ser o maior evento sobre as questões sociais com ligação direta com a sociedade brasileira.
Aluno da FASETE EAD e UNIASSELVI, escritor e conferencista marca presença no III Cariri Cangaço.
Os temas debatidos, as questões analisadas, as teses apresentadas e as histórias levantadas, ajustadas e expostas, transformam o Cariri Cangaço no maior centro de pesquisa e divulgação da atualidade. De modo que se tornou um disseminador das políticas Públicas, por suas divulgações, inserindo a sociedade no contexto do conhecimento de nossas raízes culturais e históricas. Tem ainda, a missão de preservar nossos fatos reais acontecidos, assim como o dever de cada vez mais socializar nossos temas, mesmo sendo eles polêmicos ou não.
“A missão do Cariri Cangaço é a propagação da história, a apresentação dos novos artistas e seus trabalhos literários, a conservação dos relatos dos velhos vaqueiros da história e a perpetuação e preservação cultural dos diferentes seguimentos de nossa Nordestinidade” declarou João de Souza Lima.
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Enviado pelo escritor e pesquisador do cangaço: João de Sousa Lima. administrador do Blog João de Sousa Lima

IFCE--Juazeiro do Norte homenageia Imperador Pedro II

(transcrito de Blog do Juaonline – Juazeiro do Norte)
Homenagem ocorre no dia do nascimento do Patrono da Astronomia Brasileira
“Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro.”
A frase proferida por Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga, ou, como é mais conhecido, D. Pedro II, Imperador do Brasil, reflete bem o espírito culto do homem que nasceu no Palácio de São Cristóvão (Quinta da Boa Vista), Rio de Janeiro, RJ, em 02 de dezembro de 1825.
Sua paixão pela maior das ciências, a Astronomia, levou a comunidade astronômica nacional a conferir-lhe o titulo de Patrono da Astronomia Brasileira e a data do seu nascimento inspirou instituições científicas, pesquisadores e admiradores do céu a comemoram em todo o país, o Dia Nacional da Astronomia, ou Dia do Astrônomo.
Comemorações em Juazeiro do Norte
Para festejar a data em Juazeiro do Norte, nesta sexta-feira, dia 2, a partir das 18h30, a equipe do Núcleo de Astronomia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, com a total colaboração da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FUNCAP, promoverá sessão pública de observação do céu com telescópios defronte ao Auditório dos Kariris no Campus Juazeiro do IFCE.
Dois telescópios refletores serão colocados a disposição da população para a observação da nossa Lua, do planeta Júpiter e de seus principais satélites.
Além de desfrutarem da bela visão do gigantesco planeta gasoso, de suas nuvens e de 4 de suas 64 luas, de deslumbrarem-se com as imensas crateras, mares secos e escuros de lavas e canyons lunares, os visitantes que comparecerem ao IFCE também poderão apreciar os belos painéis fotográficos da Exposição “Paisagens Cósmicas” que juntar-se-ão aos instrumentos astronômicos, cercando-os, para serem melhor contemplados.
Nessa noite de comemoração, também serão sorteados entre o público presente, exemplares do livro “O Fascínio do Universo” - organizado pelos professores da USP Augusto Damineli e João Steiner e editado pela Odysseus Editora, com apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia, CNPq e Sociedade Astronômica Brasileira.
"O livro busca dar um panorama geral da astronomia, incluindo um capítulo dedicado à produção astronômica no Brasil. São textos sobre pesquisas atuais em astronomia, escritos por pesquisadores da área, refraseados em linguagem jornalística e dirigidos ao público leigo ou a quem está tendo os primeiros contatos com a astronomia."
Venha esta noite para o IFCE!Participe das comemorações do Dia da Astronomia!
IMPORTANTE: A sessão de observação do céu dependerá das boas condições atmosféricas. O evento será cancelado em caso de ocorrência de chuva, mau tempo ou céu totalmente nublado.

Valmir Martins de Morais - valmirmmorais@yahoo.com.br
N-ASTRO Núcleo de Astronomia
-
http://www.juazeiro.ifce.edu.br/astronomia/index.php
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - Campus Juazeiro do Norte

Inauguração da Praça Bento Praxedes em Mossoró - 02 de Dezembro de 2011

Por: Gerlado Maia do Nascimento

Hoje, 02 de dezembro de 2011, Mossoró reinaugura uma de suas principais praças: a Bento Praxedes ou, como é mais conhecida, a Praça do Codó. 


A Praça Bento Praxedes ganha agora a sua versão urbanística definitiva. A reinauguração se dará às 17h, com várias atrações musicais.
Geraldo Maia do Nascimento
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Insensibilidade e descaso até na morte dos nossos policiais

Por: Archimedes Marques
 
A árdua missão policial fielmente desempenhada e tão cobrada pela sociedade brasileira continua sendo incompreendida por muitos. Os caminhos tortuosos e espinhosos seguidos pelas policias parecem ser intransponíveis e intermináveis.
Infelizmente há ainda uma tradição arraigada no âmago do povo em generalizar que a Polícia é ineficiente e corrupta, que os nossos policiais são ignorantes, irresponsáveis, arbitrários e criminosos, por isso muitos até torcem pelo nosso fracasso.
Para boa parte da população policial é sinônimo de bandido, de algo imprestável, um reles ser do submundo da sociedade e pouco se importam com os seus problemas, ou seja, são tais pessoas insensíveis na vida e até na morte dos nossos policiais.
Quando morre um policial na maioria dos países desenvolvidos ocorre um verdadeiro desfile de despedida pelas principais avenidas da cidade em agradecimento aos seus relevantes serviços prestados à sociedade, com o seu caixão exposto em caminhão do Corpo dos Bombeiros, sirenes e batedores dos carros policiais ligados, seus colegas trajando farda de gala, com a presença dos chefes de Polícia, Prefeito, Governador e demais autoridades, além da cobertura da imprensa local. A população pára tudo o que está fazendo e aplaude homenageando a passagem do féretro do herói morto com muita comoção.
A viúva e seus filhos nunca são desamparados pelo Estado, muito pelo contrário, além da pensão justa relativa ao próprio digno salário do morto, ainda recebem bons seguros de vida que obrigatoriamente são feitos pelo poder público e, quando morrem em serviço defendendo o povo, aí é que esses valores duplicam.
Entretanto, quando morre um policial aqui no nosso País, mesmo em serviço, defendendo a sociedade dos criminosos não aparece autoridade alguma, somente a presença dos seus familiares, amigos ou colegas de profissão e, em ocasiões especiais os chefes de Polícia. Imprensa só de quando em vez faz a cobertura do evento fúnebre.
Até o próprio povo se impacienta e se chateia quando os colegas do policial morto querem lhes prestar uma condigna última homenagem, como foi um caso recente ocorrido aqui na nossa região em que um policial civil ao interferir num assalto fora abatido pelos marginais e, no seu cortejo fúnebre bem organizado com a Polícia Militar parando o trânsito até o cemitério, escutei perfeitamente de um motorista apressado que estava numa rua paralela sem poder passar por alguns instantes e que falou em alto e bom som: QUANTA PALHAÇADA. ATÉ NA MORTE ELES ATRAPALHAM O TRÂNSITO!... Outros motoristas, motociclistas ou transeuntes apenas assistiam com semblante alheio, raivoso, indiferente ou insensível o cortejo passar “atrapalhando o trânsito” e atrapalhando os seus preciosos tempos...
Nossos policiais e seus familiares não são apenas abandonados, desprezados e renegados por grande parte da sociedade, são de igual modo, tratados em descaso pelo Poder público. Em vida são humilhados e desvalorizados profissionalmente com salários não condizentes com a importância do cargo. Na morte, além dos desprezos citados, os herdeiros que possuem direitos aos seus baixos salários transformados em pensões são até diminuídos com a perda de certas gratificações, fato que também ocorre quando os policiais são feridos em batalha contra o crime e ficam inválidos para o resto das suas vidas. De pronto perdem logo o adicional noturno e a gratificação de periculosidade, quando o certo, por uma questão de gratidão e justiça era incorporar tais gratificações nas suas pensões.
O policial vê mais sofrimento, sangue, problemas e alvoradas do que qualquer outra pessoa. Trabalha independente das condições de tempo ou de lugar, mas a sua maneira de ver a vida em proteção da sociedade continua a mesma apesar dos percalços na sua caminhada. Na maioria das vezes é entristecido por conta das desilusões encontradas, mas no fundo é um forte, sempre esperando por um mundo melhor.
A sociedade brasileira precisa confiar mais na sua Polícia. Tem que ver e sentir a Polícia à luz do valor da amizade, pois os nossos policiais lutam o morrem por ela em busca paz social, enquanto que, por sua vez, o poder público deve ver a Polícia como valorosa instituição pagando salários dignos aos seus membros, como já ocorre em raros Estados da Nação, assim valorizando e respeitando-os na vida e na morte.

Autor:
Archimedes Marques (delegado de Policia Civil no Estado de Sergipe. Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Segurança Pública pela UFS) - archimedes-marques@bol.com.br -

Enviado pelo autor: Dr. Archimedes Marques

Onde Lampião se apaixonou

 Por Vitor Rocha
Fotos: Walter Carvalho | Ag. A TARDE

Era primavera de 1929 quando o ousado coronel do sertão, Virgulino Ferreira da Silva, chegou num casebre de taipa, com três cômodos, de onde se veem os belos Picos do Tará. Acompanhado do fazendeiro e parceiro Odilon Café, ele se apresentava para um dedo de prosa com Zé de Felipe no distante povoado de Malhada de Caiçara, em Paulo Afonso. O intuito era reforçar seu rol de amigos no trajeto dos cangaceiros entre Bahia, Alagoas e Sergipe.
Virgulino já era Lampião e conquistava, na lábia ou na faca, os moradores dos locais por onde passava. Tudo contra a delação. Era o reinado no cangaço, bando exclusivo para homens. Até então.
Naquela tarde e naquela casa de taipa, o destino do cangaço haveria de mudar. Odilon Café apresentou Lampião à sua sobrinha Maria Gomes de Oliveira, segunda filha de dona Déa e Zé de Felipe.


A filha do casal era conhecida como Maria de Déa. Tinha então 18 anos, era casada, mas havia brigado com o marido. Sua beleza amoleceu o temido Lampião e o fez levá-la a tiracolo para amenizar as durezas da batalha na caatinga. O coração fez o chefe romper as regras, e, a partir dali, as mulheres começaram a integrar o bando sob a batuta de Maria Bonita.
A partir daquele ano, eles seguiram errantes pelo Nordeste por uma década, até suas cabeças serem expostas nas escadarias da Prefeitura de Piranhas, Alagoas, em 28 de julho de 1938 – data que, depois de amanhã, completa 71 anos.

Parte dessa história seria muito menos palpável se a casa onde Lampião e sua amada se conheceram – e onde a Rainha do Cangaço nascera – não tivesse sido totalmente recuperada. Deve-se o feito ao esforço do escritor João de Sousa Lima.
Morador de Paulo Afonso e fanático pelo tema, João encontrou o casebre totalmente destruído. Restavam as estacas erguidas. Conseguiu apoio do poder público local e fez a reconstituição com ajuda de pessoas que conheciam o imóvel.
A casa de Maria Bonita está localizada no povoado de Malhada de Caiçara, distante 40 km do centro da cidade de Paulo Afonso. A estradinha é de terra e é preciso pagar R$ 2 pela entrada.

Açude: REVISTA MUITO
Extraído do blog João de Sousa Lima, do escritor e pesquisador do cangaço João de Sousa Lima

Meia Noite e o fogo da casa de farinha do sítio Tataíra

Por: José Romero Araújo Cardoso


Cangaceiro remanescente do bando de Sinhô Pereira, Antônio Augusto Correia ganhou o apelido de "Meia Noite" em razão que após as tarefas diárias nos engenhos de rapadura do "Major" Floro Florentino Diniz, em Princesa, Estado da Paraíba, ganhava a caatinga altas horas da madrugada, assaltando propriedades rurais localizadas nas quebradas do sertão.
Na composição do grupo bandoleiro que passou a ser liderado por Virgulino Ferreira da Silva,
depois do ano de 1922, quando o vingador do Pajeú saiu em direção ao Estado do Goiás, para se encontrar com o primo Luiz Padre, encontramos "Meia Noite" entre destacados cangaceiros que acompanharam o novo chefe.

Sinhô Pereira e Luiz Padre
"Meia Noite" compôs o grupo de dezessete cangaceiros enviados por Lampião do valhacouto nos Patos de Irerê, localizado a dezoito quilômetros de Princesa, a fim de realizar vingança pretendida por humilde bodegueiro de nome Chico Lopes, da localidade de Nazarezinho, então distrito de Sousa, Estado da Paraíba.
Humilhações perpetradas por poderoso oligarca local, de nome Octávio Mariz, contra o até então inofensivo sertanejo, motivou ousado ataque bandoleiro à cidade de Sousa, em 27 de julho de 1924.
Quando o grupo de cangaceiros chegou ao sítio Jacu, em Nazarezinho, reduto da família Pereira, foi engrossado por mais gente, perfazendo total de oitenta e quatro homens, entre os quais se encontrava pessoa da região, conhecida por "Paizinho", cujas queixas contra o juiz de Sousa, Dr. Archimedes Soutto Maior, eram por demais repisadas.
"Paizinho" acusava o juiz de tê-lo, em certa ocasião, o condenado injustamente. Foi a casa do magistrado que grupo de cangaceiros, liderado por "Paizinho", em um total de dezessete bandidos, alvo principal da vingança pretendida pelo atrevimento da horda bandoleira. "Meia Noite" estava entre os invasores, sendo o mais afoito, pois o juiz foi retirado de casa ainda em roupa de dormir, humilhado, espancado e, comentam, coisas piores aconteceram. O bandido do grupo de Lampião cavalgou o homem-da-lei, enfiou-lhe as esporas e obrigou-o a ensaiar galopes pelas ruas de Sousa.
O destacamento policial, comandado pelo então Tenente Antônio Salgado, nada pôde fazer, resumindo-se a assistir passivamente aos atos de vandalismo patrocinados pelos cangaceiros. Saques, depredações, humilhações e muita bagunça foram feitos naquele fatídico dia 27 de julho de 1924 na cidade de Sousa.
O juiz foi salvo graças à intervenção oportuna de Francisco Pereira Dantas, que se tornaria o famoso cangaceiro Chico Pereira, pois os homens comandados por "Paizinho" intuíam assassinar o magistrado, como ato final da vingança acalentada pelo desacatado sertanejo.
Lampião dispunha de eficaz rede de informações e logo as notícias do ocorrido em Sousa chegaram ao Saco dos Caçulas, propriedade de Marcolino Pereira Diniz nos Patos de Irerê.

Enlouquecido com o que havia sido feito, Lampião rodopiava pelo calcanhar ferido pelos disparos da tropa volante do Major
Teófanes Ferraz Torres, na certeza de que a ousadia e a ferocidade contra o juiz de Sousa seriam motivos de perseguição sem trégua das forças militares paraibanas, até então acomodadas por ordens superiores.

Dr. Archimedes Soutto Maior declarou guerra particular aos cangaceiros, elegendo os invasores de sua residência, responsáveis pela humilhação passada, como alvos prioritários de suas investidas. "Paizinho" caiu varado de balas em São João do Rio do Peixe, enquanto os demais eram literalmente caçados por ordens do juiz.
De regresso à região de Princesa, o grupo bandoleiro foi demovido por Marcolino Pereira Diniz de continuar sob sua proteção. Era o que Lampião pressentia quando soube da forma como tinha sido realizada a investida contra o magistrado lotado em Sousa.
"Meia Noite" regressou com o grupo, mas foi expulso quando reclamou a Lampião que Antônio Ferreira lhe havia "roubado". O chefe cangaceiro exigiu do bandido a entrega de armas e munição, ao que retrucou dizendo que se no bando houvesse homem fosse tomar. Ninguém se atreveu, pois bem conheciam a fama de valente que acompanhava imemorialmente "Meia Noite".

Raptando moça da localidade, conhecida apenas por Maria, o cangaceiro estava de saída para destino ignorado quando foi interceptado descansando em uma casa de farinha no sítio Tataíra, fronteira com a cidade pernambucana de Triunfo. Dezoito "cachimbos", civis contratados para dar caça a cangaceiros, foram inicialmente ludibriados por "Meia Noite", pois ao disfarçar a voz buscava tempo para se equipar a fim de enfrentar prova inaudita de fogo que o imortalizaria nas crônicas do cangaço, tornando-o respeitado entre seus antigos companheiros.
A tropa de "cachimbos" foi surpreendida por tiroteio intenso vindo de dentro da casa de farinha, o qual despertou a atenção da força volante comandada pelo então Tenente Manuel Benício, famoso por guardar rosário de orelhas de cangaceiros mortos em combates.

A força militar foi ao encontro dos civis em armas, perfazendo total de oitenta e dois homens. "Meia Noite" lutou a madrugada inteira contra absoluto desigual número beligerante.

O fogo da casa de farinha do sítio Tataíra era ouvido nas imediações, pois como fera acuada "Meia Noite" lutava sem desanimar, carregando, recarregando e disparando contra os oponentes, sem titubear ou sem esmorecer.

A coitada sertaneja, raptada pelo intrépido cangaceiro, assistiu a tudo, a cada momento de terror passado na madrugada de fogo quando o valente cangaceiro resolveu enfrentar quem estivesse pela frente, na base das armas, como na velha tradição do sertão sangrento e violento.

Vendo que não conseguiria romper a barreira formada pelos civis e militares que o cercaram na casa de farinha do sítio Tataíra, "Meia Noite" usou estratégia do cangaço para novamente ludibriar os adversários, jogando tamborete por uma janela, fingindo pular a mesma, mas saindo por outra. Por azar, "Meia Noite" pulou em cima de moita de quipá, ferindo seriamente o pé direito. Mesmo assim, debaixo de verdadeira saraivada de balas, após ferir quinze oponentes, o cangaceiro ainda conseguiu furar o cerco e chegar ao Saco dos Caçulas, propriedade de Marcolino Pereira Diniz, grande coiteiro de cangaceiros, mas que estava de mãos e pés atados devido à forma como se processou o ataque a Sousa.
O governo João Suassuna (1924-1928) e o empenho do cunhado e tio de Marcolino, "Coronel" José Pereira Lima, eram dar combates aos cangaceiros, pois, para tanto, eram invocadas as claúsulas do convênio anti-banditismo firmado no Recife (PE), em 1922, do qual o Estado da Paraíba participou e referendou, embora só passasse a cumpri-lo eficazmente depois do ataque cangaceiro à cidade de Sousa.

Conforme Érico de Almeida, autor de livro por título "Lampeão, sua história", primeira edição de 1926, segunda e terceira de 1996 e 1998, pela Editora Universitária da Universidade Federal da Paraíba, foram recolhidas de dentro da casa de farinha do sítio Tataíra quatrocentas e noventa e duas cápsulas de balas de fuzil mauser DWN, modelo 1912. Isso atesta a razão da imortalidade de "Meia Noite" no mundo bandoleiro.

"Meia Noite" foi conduzido a um lugar ermo na serra do Pau Ferrado e executado por Manuel Lopes Diniz, conhecido por "Ronco Grosso", e por homem da confiança de Marcolino, conhecido por "Tocha", de cuja arma partiu projétil que matou o magistrado de Triunfo (PE), Dr. Ulisses Wanderley, no revéillon de 1923.

"Meia Noite" tornou-se nome tão respeitado entre os cangaceiros que em 1936, doze anos após sua morte, Lampião encontrou na área que atuava, no sertão de Alagoas, antigo companheiro de nome Joaquim Laurindo de Sousa, conhecido por "Moreno" no grupo liderado por Sinhô Pereira. Havia suspeita de que o antigo cangaceiro que lutou em Princesa, ao lado do "Coronel" José Pereira, tinha participado da morte de "Meia Noite". "Moreno" teve a casa invadida, sendo amarrado e inquirido a noite inteira sobre sua participação no assassinato do cultivado cangaceiro que enfrentou mais de oitenta homens na mais fantástica brigada do cangaço. Não satisfeito com as resposta, Lampião ordenou que bandoleiro conhecido por "Chumbinho" executasse o ex-companheiro de armas na frente da mulher e dos filhos.

Talvez "Meia Noite" tenha sido encomendado pelo juiz de Sousa, pois o empenho em buscar todos os cangaceiros que invadiram sua residência e o humilharam, quando do formidável ataque de 27 de julho de 1924, tornou-se questão pessoal a fim de fazer valer respeito à lei quando o sertão se mostrava terra de ninguém naqueles turbulentos idos dos anos vinte do século passado.
José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor da UERN.
Autor:  José Romero Araújo Cardoso

Extraído do blog: "O Cangaço em Foco"

Importante rever - Sílvio Bulhões revela

Por: Aderbal Nogueira

 Escritores do Cangaço: Paulo Gastão e Aderbal Nogueira 

REVENDO ENTREVISTA

Amigos do Cariri Cangaço: 
Segue trecho da entrevista feita com o amigo Sílvio Bulhões, Filho de Dadá e Corisco, entrevista essa que dentre as várias revelações, nos fala sobre o massacre da Fazenda Patos; narrando os fatos de acordo com o que Dadá contou para ele.

 Sérgia Ribeiro da Silva - a cangaceira Dadá
Acredito eu que ele contou a verdade que ouviu de sua mãe; já se o que ela contou é verdade, cabe aos pesquisadores tirarem suas conclusões.
 
 Antonio Amaury e Alcindo Costa
Neste mesmo vídeo temos a participação especial do Caipira de Poço Redondo, nosso amigo Alcino Alves Costa.


"Corisco! se vocês quiserem matar os meninos matem, mas primeiro eu parto você em dois com esse meu parabelum, depois façam o que quiser de mim e dos meninos"...

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJifg7mnnObxS9Y8d4iHqkOySqJAYBHtde5o09Xgwcv_zEC1iKuiXeQF554hHl1QFZoU_qu-qsk-rKUaasmj3DmRV9JV9tz7AnmI4LJ_B8U1yrgF7pHky2wNdHzYKY57Ggxvs6budoJGo/s400/ESPECIAL6_1.jpg
Corisco e Dadá, pais de Sílvio Bulhões

O amigo Sílvio é de uma gentileza sem tamanho, extremamente educado e amável, não procura esconder nada, é bastante realista e sabe perfeitamente qual foi a realidade das coisas, não procura tapar o sol com uma peneira. E apesar da realidade cruel e cruenta em que seus pais viveram é de uma devoção sem tamanho à memória deles, o que eu respeito e admiro, porém, como já disse, ele sabe perfeitamente a realidade nua e crua do que aconteceu. 

Aderbal Nogueira 
Laser Vídeo

Amigo leitor:

Este texto foi publicado em Fevereiro de 2011, no 
blog "Cariri Cangaço", e trasladado para este no dia
28 de fevereiro de 2011.
Retorno-o novamente para esta página, 
para que você assista a entrevista do filho 
de Dadá e Corisco, Sílvio Bulhões, 
cedida ao escritor Aderbal Nogueira. 

Importante rever

VELHOS PROJETOS, NOVOS PROJETOS: OS ESTÁDIOS CONSTRUÍDOS PARA AS COMPETIÇÕES INTERNACIONAIS NO BRASIL

Por: Rostand Medeiros
Photo

Autor – João Malaia
O velho Castelão/Machadão em Natal, nos momentos finais - Foto - Rostand Medeiros
Em tempos de construção de estádios para a Copa do Mundo de 2014, um dos assuntos que mais chamam à atenção de todos é o custo das obras. Quando a Fifa anunciou as cidades-sede brasileiras, em maio de 2009, a soma dos custos dos projetos não chegava a R$3,62 bilhões.
Passado mais de um ano, os custos dos estádios foram elevados a quase de R$7 bilhões, as obras estão atrasadas, os operários estão fazendo greves para aumentar seus salários pífios e o pior é sabermos que nós é que estamos pagando a conta.
O site UOL montou uma reportagem sobre os estádios brasileiros e que mostra não só o aumento abusivo nos orçamentos dos estádios, mas também a massiva participação do governo no financiamento das novas arenas, seja por meio da injeção de capital diretamente efetuada pelos governos estaduais, seja por financiamento do BNDES.
Vejamos a situação de cada estádio:
Os números são estarrecedores. Em dois anos, as obras tiveram os orçamentos majorados em quase 100%. Ao analisarmos os números percebemos alguns dados interessantes. Por exemplo, o estádio Beira-Rio, de propriedade do Internacional, de Porto Alegre, é o único a ser financiando 100% pela iniciativa privada e seus gastos subiram “apenas” 64%, enquanto que alguns dos estádios financiados pelo governo (seja por financiamento direto ou via BNDES) tiveram seus orçamentos majorados em 72% (Verdão), 85% (Fonte Nova), 100% (Itaquerão) ou 120% (Maracanã). O aumento dos gastos com esses quatro estádio foi de quase 1 bilhão e meio de reais, dinheiro suficiente para reformar o Beira Rio seis vezes. Impressionante é também saber que o poder público investirá cerca de R$640 milhões para a construção de um novo estádio na cidade de São Paulo para ser de propriedade de um clube, quando outros dois clubes da cidade têm estádios próprios e um deles, o Palestra Itália, está sendo reconstruído dentro dos padrões FIFA com investimento 100% privado, ao custo de R$250 milhões e estará pronto em abril de 2013, antes do Itaquerão.
A história do envolvimento do Brasil com as competições internacionais e com a construção de arenas para abrigar tais competições não é nova. Remonta ao Sul-Americano de futebol de 1919, sediado pelo Fluminense, no Rio de Janeiro, assim como os Jogos Sul-Americanos de 1922, momento em que o estádio construído para 1919 foi totalmente reformado.
Refletir sobre esses momentos da história dos esportes no país pode nos levar a  pensar mais sobre tais projetos. Em artigo ainda inédito e que será publicado na edição de novembro de 2011 pela Revista de Economia Política e História Econômica, analiso como o Fluminense, através de seu presidente Arnaldo Guinle conseguiu a viabilização do capital necessário para a construção e posterior reforma daquele que se tornou o maior e mais moderno estádio de futebol da América Latina do período.
A construção daquele que ficou conhecido como “Estádio das Laranjeiras”, em 1919, foi feito através de um empréstimo obtido pelo clube ao Banco do Brasil de 2.000:000$000 (dois mil contos de réis). A empresa responsável pela obra foi a Companhia Locativa e Constructora, que em relatório aos acionistas publicados no Diário Oficial da União, demonstrava a importância das obras do Fluminense para a empresa. Caracterizando o período como “anormal” para a indústria da construção civil e que requeria ações prudentes em circuito restrito, os relatores colocaram a honra de construir o “stand” de tiro, as piscinas e o “grandioso Stadium”, local das competições de futebol. De acordo com o relatório, esses foram os trabalhos “que, pela urgencia que a construcção requeria, teriam absorvido toda a capacidade da nossa organização” (BRASIL. “Companhia Locativa e Constructora”. Diário Official dos Estados Unidos do Brasil, 29 de março de 1919, p. 4.188.).
Estádio do Fluminense em 1919. Fonte: Revista Careta, 1919
Três anos depois, o clube conseguiu receber a maioria das competições esportivas dos Jogos de 1922, competição organizada como parte dos festejos do Centenário da Independência do Brasil. Porém, dessa vez o clube não conseguiria novo empréstimo hipotecário. O Fluminense acumulava dívidas de 2.500:000$000 e precisaria de uma autorização especial do governo, através da assinatura de um decreto-lei, para conseguir operacionalizar uma nova captação de recursos para as reformas no clube, inclusive a ampliação do estádio. Arnaldo Guinle conseguiu aprovação junto ao governo, em decreto assinado pelo presidente Epitácio Pessoa, para contrair empréstimos através de obrigações ao portador, as debêntures, no valor de 100$000 cada uma. Poderia contrair no máximo 5.000:000$000 de dívida, ou seja, poderia emitir 50.000 títulos ao portador, pagando juros de 7% ao ano, no prazo de 30 anos (BRASIL. Decreto n. 3.955. Diário Official dos Estados Unidos do Brasil, 31 de dezembro de 1919, p. 19.350).
Estádio do Fluminense em 1922. Fonte: Revista Careta, 1922
E assim foi feito. O clube conseguiu mudar a sua razão social para poder emitir as debêntures e até 1950 continuou publicando notas no Diário Oficial semestralmente para informar aos investidores sobre o pagamento das parcelas. Ao que parece, os gestores do clube conseguiram pagar, ou pelo menos informaram que pagaram todos os seus débitos. É claro que o clube se beneficiou com esse processo. Elevou largamente seu número de sócios, melhorou sobremaneira as instalações de seu clube, seus dirigentes ganharam prestígio e projeção nacional e internacional e o clube se consolidou como uma referência nos esportes para o Brasil e para o mundo. O governo também ajudou nesse processo. Epitácio Pessoa, presidente que assinou o decreto n. 3.955 que autorizou o clube a realizar tal operação financeira era sócio honorário do Fluminense. Não quero aqui defender o Fluminense, nem os processos pelos quais o clube e seus dirigentes conseguiram os privilégios para se consolidar como um dos maiores e mais ricos clubes do Brasil. Quero é levar algumas situações que nos façam refletir um pouco mais sobre a lamentável situação em que nos encontramos às vésperas de sediar a Copa do Mundo de futebol, em 2014.
O governo brasileiro, sem dúvida, beneficiou o Fluminense em 1919 e 1922. Mas não construiu um estádio para o clube. Naquele tempo, não havia outro estádio no país em condições de receber as competições internacionais e o Estádio das Laranjeiras foi por muito tempo o maior palco do futebol brasileiro. A obra impulsionou, inclusive, iniciativas como a da Vasco da Gama em construir seu próprio estádio, ainda maior e mais moderno que o do Fluminense, inaugurado em 1927. Ademais, o estádio do Tricolor atendia a uma demanda de crescimento do mercado de espectadores nas praças esportivas e frequentemente encontrava suas dependências absolutamente lotadas. E apenas para se ter uma ideia dos valores, o investimento do Fluminense em seu estádio, em 1922, representou apenas 2,5% dos gastos do governo com as celebrações do centenário, que chegaram a 200.000:000$000, principalmente com o financiamento da Exposição Internacional no Rio de Janeiro.
E por mais que os questionamentos sobre os gigantescos investimentos nos estádios sejam constantemente feitos, nunca é demais repeti-los. Vou citar apenas um exemplo: para que está sendo feito um investimento de R$500 milhões na construção de um estádio para 48 mil pessoas em uma cidade (Cuiabá) de 550 mil habitantes e que não tem nenhum time de futebol nem na Série A, nem na série B do Campeonato Brasileiro? Para se ter uma ideia, o diretor executivo da Federação Matogrossense de Futebol, Laércio de Arruda, considerou positivos os números de público e renda da primeira rodada do campeonato estadual de 2011. Pasmem: o jogo que mais levou torcedores ao estádio foi União de Rondonópolis x CRAC, que levou singelas 2.694 almas ao Estádio Engenheiro Luthero Lopes, que geraram R$24.209,00 de renda.
O jogo da rodada na capital foi Cuiabá x Luverdense, no Estádio Presidente Eurico Gaspar Dutra, o “Dutrinha”, com capacidade para 7 mil pessoas. O Cuiabá, um dos favoritos e time mais popular da cidade, goleou o Luverdense por 4 a 0 diante de 563 testemunhas que geraram uma renda de R$3.280,00. Se esses números foram considerados “positivos” pelo diretor executivo, não quero nem saber o que ele considera negativo (dados: site da Federação Matogrossense de Futebol: http://www.fmfmt.com.br/?conteudo=verNoticia&idNoticia=8066&pagina=1).
Um cálculo bastante simplista e grosseiro pode mostrar ainda melhor a gravidade do caso. A primeira rodada do campeonato, com “números positivos”, levou um total de 7.451 torcedores aos estádios de todo o estado. Ou seja, precisaríamos de mais de seis rodadas das “boas” para que o público de todos os jogos pudesse encher o novo estádio, o “Verdão”. Mais: com uma “boa” renda total de R$45.110,00 na primeira rodada, precisaríamos da renda de mais de 10.000 rodadas desse tipo para atingirmos os valores investidos no estádio. Pensando numa hipotética situação em que todo o dinheiro arrecadado com a venda de ingressos fosse destinado a cobrir o investimento, como o campeonato tem cerca de 13 rodadas e mais quartas-de-final, semi-final e final, seriam necessários mais de 500 campeonatos matogrossenses para se pagar o estádio. Só no ano de 2.514 o estádio estaria pago.
Poderíamos fazer cálculos desse tipo com os estádios de Manaus, Brasília e Natal e as conclusões seriam parecidas. O jornalista Diego Salgado apontou as rendas e médias de público dos principais clubes dessas cidades, que podem ser vistas neste endereço:http://www.copa2014.org.br/blog/noventa-minutos/?p=190.
E enquanto isso, o Fluminense, cerca de 90 anos depois de construir seu estádio, não pode mais usar seu campo para jogos oficiais. Parte da arquibancada foi destruída após a desapropriação do terreno feita pela prefeitura para a duplicação da Rua Pinheiro Machado e o estádio ficou pequeno, “inapropriado”. O campo serve hoje apenas para o treinamento das equipes de futebol.
Estádio do Fluminense em 2010 já sem as arquibancadas em uma das extremidades do campo. Fonte: Blog do Tricolor verdadeiro.
Quem, em 1922, se arriscaria a afirmar que o maior e mais moderno estádio da América Latina que se construía, seria, menos de cem anos depois, impossibilitado de ser usado como estádio? Quem se arrisca a afirmar o que vai acontecer com a maioria dos estádios que estão sendo construídos para a Copa do Mundo de 2014?

Extraído do blog do historiógrafo Rostand Medeiros