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terça-feira, 3 de julho de 2012

Corisco, o Diabo Loiro


A partir deste ano de 1928 até maio de 1940 muitos crimes foram perpetrados pela horda assassina. A maioria era crime de vingança, como o assassinato do Delegado Herculano Borges.  Contudo, no dia 03 de Maio de 1940, Corisco já considerado o novo Rei do Cangaço, devido à morte do seu Chefe e amigo Lampião em 28 de junho de 1938, – dois anos antes da sua – resolve fugir com a mulher Dadá e apenas uma criança de 10 anos que os acompanhava. Corisco planejava fugir para Mato Grosso ou Goiás, pois tinha muito ouro guardado e negava-se se entregar à volante, pois sabia que com certeza seria morto, pois ali a única coisa que interessava à polícia era o seu dinheiro.

E foi no que se deu. O tenente Zé Rufino, policial pernambucano que prestava serviço à Bahia, estava no seu encalço. Corisco, devido às diversas escaramuças e fugas da volante, estava debilitado e seus dois braços ficaram inutilizados por força de ferimentos à bala em tiroteio recente. Dadá, sua mulher, passara a usar o fuzil no seu lugar. A volante alcança-o em Barra do Mendes, município de Brotas de Macaúbas, na fazenda Pulgas, onde se escondia.

A volante toma posição, cercando a tapera em que o cangaceiro se escondia.

O tenente Rufino grita:


- Aqui é o Tenente Zé Rufino! Se entreguem que eu agaranto a vida de voceis!

Na saída do casal de dentro da casa o que se ouve é uma fuzilaria infernal. Era Dadá, que atirava com o fuzil por sobre o ombro do marido aleijado e impotente. A resposta é imediata.

Corisco, metralhado na barriga, tomba desfalecido, com as vísceras expostas. Dadá, ao seu lado urra de dor com um dos pés dependurado nos tendões.


A volante se aproxima. Um soldado coloca para dentro os intestinos do velho cangaceiro, dizendo:
- Tenente, esse aqui já era! Tá fedendo a merda, e fedeu a merda é morte certa, não é?
Zé Rufino se apresenta para Corisco e pergunta:
- Pru quê num si intregô, Rapaiz?
- Tô sastifeito. Sô homi pra morrê, não pra sê preso! Respondeu Corisco.
Corisco, após este episódio, veio a falecer algumas horas depois. Dadá, levada presa, teve a perna amputada. O tenente Zé Rufino, se transformou num herói, por ter sido o responsável pelo fim do cangaço no sertão nordestino, fechando assim um ciclo terrível que lavou o sertão de sangue e desgraça. Ciclo este só comparado às entradas dos Bandeirantes, que chacinavam índios indefesos dentro de suas próprias terras, em nome do processo de colonização. Mas esta já é outra estória!

O cangaceiro Antonio de Engrácia

Por: Juarez Conrado - Jornalista
Foto:Lampiaoaceso.blogspot

Nascido na Feira do Pau (hoje Macururé), no alto sertão baiano, Antonio de Engrácia foi outro tenebroso bandido.
Em plena feira de Chorrochó, onde residia no povoado Caraíbas, cometeu o seu primeiro crime, quando sangrou João Carpina. Pouco depois, no mesmo município, matou, sempre a punhalada, dois irmãos do coronel José Ribeiro, da Jocosa, deputado estadual em Sergipe.
Ele, como todos os outros sangrentos matadores, não deixava de trucidar suas vítimas a punhal, como uma maneira de poupar munição, que poderia lhes faltar em combates com as volantes.
Ao ingressar no cangaço levou os irmãos Cirilo e Luiz (estes eram tios dos cangaceiros

Da esquerda para direita: Mané Moreno, que era esposo de Áurea, Zé Baiano, esposo de Lídia e Zé Sereno, esposo de Sila

Mané Moreno, José Baiano e Zé Sereno), além do sobrinho Linaldo. Estes, porém, não tiveram longa vida, mortos que foram pela tropa de Rufino.

Tenente Zé Rufino 

Os três irmãos bandidos eram verdadeiros monstros, e muitos crimes praticaram em suas atividades, principalmente

Cirilo está no centro da foto, mas já estava morto. A cabeça foi recolocada no lugar para fazer a foto.

Cirilo que, mesmo em pouco tempo de cangaço, deixou em seu histórico um número incalculável de assassinatos, todos com muita frieza.

Extraído do livro:
Lampião Assaltos e Morte em Sergipe
Autor: Juarez Conrado - Jornalista
Páginas: 40 e 41
Ano de publica
Ano: 2010
Aracaju - Sergipe.

blogdomendesemendes.blogspot.com 

LAMPIÃO NA SERRA DOS CAVALOS

Por: João de Sousa Lima

A região nas proximidades da cidade alagoana de Água Branca foi muito visitada por Lampião e vários outros cangaceiros, inclusive alguns depoimentos relatando que foi nessa cidade que nasceu o cangaceiro Corisco.

Quando Lampião se mudou com a família saindo de Serra Talhada por questões de desavenças com o vizinho Zé Saturnino, eles vieram residir em Santa Cruz do Deserto, bem próximo a água Branca e lá viu seu pai ser assassinado por Zé Lucena.

Lampião deixou definitivamente gravado seu nome na história de Água Branca quando vasculhou os aposentos do casarão da Baronesa Joana Torres saqueando-a e arrecadando um verdadeiro tesouro com esse ataque.

O coronel Ulisses Luna, da fazenda Cobra foi um dos grandes coiteiros de Lampião entre os munícipios de Água Branca.

O povoado Pariconhas foi outro que sofreu ataque dos cangaceiros.

O emaranhado de serras que circundam  Água Branca transformaram-se naturalmente em esconderijos dos cangaceiros. Com suas terras sempre verdejantes e úmidas aquelas paragens  era um vale rico em diversidades de frutas e grãos e suas nascentes tinha as  mais límpidas corredeiras de  águas potáveis do nordeste.

A Serra dos Cavalos era um dos paraísos na diversificação das frutas e Lampião mandou um recado por um dos seus inúmeros coiteiros para o senhor Joaquim Flor dizendo que iria lá um dia conhecer o lugar.

Promessa feita, promessa cumprida: Eis que chega à Serra dos Cavalos Lampião e seu grupo. O bando se dirige para uma casa de farinha. Na casa estava morando Maria Vieira com suas quatro filhas pequenas: Iraci Vieira da Silva, Maria de Jesus (Nenê), Maria José Vieira e Rosa Vieira da Silva. Lampião bateu na porta e Maria Vieira não abriu, o cangaceiro se dirigiu para a casa vizinha onde se encontrava Joaquim Flor e sua esposa Minervina. A casa foi tomada pelos cangaceiros. A visita causou uma grande confusão entre a família com a visita daqueles estranhos e tão temidos homens.  Na casa os cangaceiros se fartaram de pinha, jaca, banana e  manga, porém nada fizeram de mal aos ocupantes da residência. Os cangaceiros agradeceram as frutas e foram embora. Minervina ainda assustada seguiu até a casa de farinha e chamou Maria Vieira, reclamando:

- ÊÊ comadre, você ouviu o barulho e não foi ver o que era!
- O que foi que aconteceu?
- O que foi que aconteceu o que, você ouviu o barulho na porta da casa de farinha e não teve a coragem de abrir a porta?
- Eu só ouvi uma pisada!
- QUEM VÊ EU CHORAR ESSE ANO CHORA COMIGO TAMBÉM  E QUEM NÃO CHORAR ESSE ANO CHORA NO ANO QUE VEM!

Minervina deixou essa frase enigmática, deu as costas e saiu com raiva da comadre.

Da casa de Minervina e Joaquim Flor os cangaceiros seguiram até a casa  do comerciante Limeira que se encontrava com sua esposa Zizi e seus filhos pequenos. Na casa de Limeira uma cangaceira viu uma caixa na mesa se dirigiu pra ver o que era. O conteúdo da caixa era uma máquina Singer, de mão. A cangaceira pegou a máquina pra levar e um dos cangaceiros mandou devolver, o que foi de pronto atendido. Lampião olhou pra Limeira e falou:

- ÔÔÔ Limeira você sabe o que é que vai aqui com nóis?
- Não!
- Lenço Branco, Facarina e Sergipana!
- HÔÔÔ Lampião, esses são meus burrinhos de fazer a feira! Quando é que você devolve?
- Só quando eles criar cabelos brancos!

Os cangaceiros desceram a Serra e Limeira ficou lamentando a perda dos burros de estimação: Lenço Branco, Facarina e Sergipana.

Ao amanhecer chegou à Serra dos Cavalos um dos amigos de Limeira e disse:

- Limeira, acabo de ver seus burros lá em Pariconhas, os cangaceiros deram um fogo com a polícia e na fuga deixaram os burros!

Limeira desceu a Serra e foi buscar seus animais que o auxiliavam no transporte de mercadorias, produtos que garantiam seu sustento e de sua família. Os cangaceiros continuaram andando naquelas terras, ora de passagem em fuga, ora na casa de algum coiteiro. A terra continuou dando seus frutos, e Limeira continuou trafegando por muito tempo transportando seus produtos nos lombos de Lenço Branco, Facarina e Sergipana.

As quatro filhas de Maria Vieira ainda residem nas Serras de Água Branca e guardam em suas lembranças uma noite de medo quando nos braços da mãe ouviram Lampião bater na porta da casa de farinha onde elas residiam.

João de Sousa Lima
Escritor e Historiador.

*Pesquisa realizada no dia 01 de julho de 2012, nas Serras de Água Branca, na companhia dos amigos Maria Zélia Vieira, Cícero Soares Pereira (Pelé) e Joseane Vieira.

Iraci, joão, Rosa e Cícero (Pelé), elas eram pequenas quando Lampião passou no terreiro de sua casa na serra dos cavalos.


Maria José, Nenê, Rosa e Iraci, quatro irmãs que estavam com a mãe quando Lampião passou na Serra dos Cavalos. Elas ainda residem nas Serras que circundam a cidade de Água Branca, Alagoas.


A casa de Iraci, na serra de Água Branca, sempre em festa para receber os amigos e os familiares. Na foto: Pelé, Zélia e sua mãe Iraci. Detalhe da foto: Um burro e seu condutor vendendo produtos de limpeza.


Iraci e Zélia

Cícero (Pelé) nasceu na Serra dos Cavalos e hoje reside em Paulo Afonso.


No dia de nossa entrevista a chuva castigou as estradas e só conseguimos chegar até certo ponto depois que o carro atolou subimos o resto caminhando.

Extraído do blog do escritor e pesquisador do cangaço: João de Sousa Lima

APRESENTAÇÃO DO LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE

Por: Alcino Alves Costa
Apresentar aos amantes da história cangaceira e da saga de Lampião o livro "LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE", especial obra literária de nosso estimado companheiro e amigo Archimedes Marques, um dos nossos vaqueiros da história, é uma honra muito grande para mim.


O título do livro explica o desejo ardoroso e forte de Archimedes em contradizer as ineficazes afirmativas que estão nas páginas do livro "LAMPIÃO O MATA SETE".


Os registros de responsabilidade do senhor Pedro de Morais foram escritos sem nenhum embasamento e há anos luzes de distância da verdade da história. Infelizmente, não se sabe por qual razão, o juiz aposentado, apesar de sua dignidade pessoal e funcional, num instante de total opacidade mental, procurou de todas as maneiras possíveis e imagináveis, construir a sua obra literária com azedume extremado em relação à


Virgulino Ferreira da Silva, colocando-o nas condições de gay e impotente e a Maria Bonita, taxando-a de adúltera.

Além dessas duas descabidas e ferinas acusações da masculinidade de Lampião e da obsessiva infidelidade de Maria Bonita, existem outras colocações e fatos que se encontram longe, muito longe, da realidade e do que realmente aconteceu.

Nesta minha apresentação me recuso a nem pelo menos opinar sobre a versão delirante de que Lampião era homossexual. Louca afirmativa do Dr. Pedro Morais que, eu tenho certeza disso, pois o conheço pessoalmente e sei o quanto ele sempre foi, na sua vida de juiz e em seu viver pessoal, um homem decente e digno, sem nunca apresentar rompantes de grandeza e vaidade.

Realmente fiquei estarrecido com os dizeres que estão nas páginas do "LAMPIÃO O MATA SETE" que, infelizmente, além dessa aberração de Lampião ser gay, existem outros tremendos equívocos que eu não entendi como uma pessoa tão letrada, cuidadosa e estudiosa como Dr. Pedro, fosse capaz de cometer tantos disparates como os que estão em seu livro.

Vejamos alguns deles: nas páginas do "LAMPIÃO O MATA SETE", constam várias citações sobre o livro "LAMPIÃO", de Ranulfo Prata. No entanto, para não se contradizer sobre a alegação de que Lampião era impotente o juiz aposentando "esqueceu" de registrar que nas páginas 73 e 74, do livro de Ranulfo, está registrado que no município de Porto da Folha, uma senhora já idosa participava do casamento de uma jovem quando na véspera do matrimônio Lampião chegou à casa da noiva e aprisionou o dono da residência, que era avô da noiva, exigindo dinheiro.
As mulheres, inclusive a noiva, haviam se escondido em um dos quartos da casa. Olhando pela fechadura da porta a neta via a agonia de seu avô. Aflita abriu a porta e ofereceu 600$000 em troca da liberdade do velho. Lampião atendeu, porém observando a beleza da moça, mais que depressa a agarra, empurrando-a até um quarto onde uma velha estava escondida e a estupra sem piedade. Após o ato bestial, Lampião ordena que a velha limpe seu órgão genital " e este homem era impotente?

O Dr. Pedro de Morais registra na página 219 de seu livro que o cangaceiro Penedinho matou um companheiro em 1932 e entregou a cabeça do morto ao comandante Zé Lucena.


Não foi assim. Penedinho, que era um dos filhos de Poço Redondo que foi para o cangaço, matou o cangaceiro


Canário, em 1938, logo após a morte de Lampião e foi se entregar a Zé Rufino, na Serra Negra.


O célebre comandante imediatamente viajou com sua volante e o cangaceiro até a fazenda Cururipe, em Poço Redondo, aonde Canário havia sido assassinado, decepou a cabeça do assecla e levou-a até Serra Negra. Portanto, os informes que ensejaram a criação do "LAMPIÃO O MATA SETE" carecem de credibilidade.

É de se lamentar que um livro que despertou tanta curiosidade em meio à população brasileira seja responsável por registros sem nenhum crédito, sem nenhuma nesga de verdade, numa demonstração total da falta de conhecimento do autor. Como último e simples exemplo, dentre muitos outros, existe aquele que está contido à página 283, afirmando que o


cangaceiro Criança morreu no tiroteio do Cangaleixo e que a sua companheira, a cangaceira Adelaide saiu gravemente ferida.

É deveras impressionante este registro. Os cangaceiros que morreram no Cangaleixo pelas balas da volante de Zé Rufino foram


Mariano, Pavão e Pai Véio, e ainda, o coiteiro João do Pão. Adelaide jamais esteve no Cangaleixo, ela já estava morta há muito tempo, pois havia morrido de parto nas proximidades do povoado Curituba. Quem estava no coito era Rosinha, companheira de Mariano e irmã de Adelaide. Rosinha não sofreu nenhum ferimento, estava, isto sim, em alto estado de gravidez.

É com essa enxurrada de enganos e equívocos que Archimedes está, como se fosse uma espécie de protesto, contestando nesta sua obra literária as aberrações contidas no "LAMPIÃO O MATA SETE", que tem como pano de fundo as injustas e desastrosas acusações no sentido de mostrar loucamente, e sem a mais tênue possibilidade de Lampião ter sido gay, impotente e se dava ao desplante de formar um triângulo amoroso com Luís Pedro e Maria Bonita.


Em um total delírio, o autor do livro assevera que Messias de Caduda era também amante de Maria Bonita. Eu conheci e fui muito amigo de Messias de Caduda, Em meu livro


"Lampião além da versão", Messias faz um relato de sua viagem para Propriá levando, a pedido de Lampião, Maria Bonita que doente de um olho iria procurar um médico, através do Dr. Hercílio Britto, para na grande cidade do Baixo São Francisco se tratar de sua enfermidade. Viagem acontecida na canoa "Tereza Góis" de Moisés Tambangue. Até a fazenda Belém, de Antônio Britto, toda cabroeira viajou na canoa. Ali, Lampião e seu bando ficaram e Maria seguiu para Propriá na companhia de Messias de Caduda e de Moisés Tambangue.

Na volta, após o tratamento, Maria Bonita viajou na canoa Paulicéia, de Antônio Britto, e na companhia do próprio Messias e dos canoeiros Aurélio e João de Rosinha " dizer-se que Messias era amante e coabitava com Maria Bonita é algo saído da mente de alguém sem compromisso nem com a verdade e nem com a história " infelizmente esse alguém, no caso em tela, é um homem que caminhou a sua vida pelos caminhos da decência e do bom proceder.

O Dr. Pedro de Morais diz à página 191 de seu livro que: "As crias concebidas e paridas por D. Deia, dizem nas falas faladas da saga desses adúlteros, eram filhos de Luís Pedro ou Messias de Caduda, outro grande amor dela, talvez, o maior de todos. Nunca foram gerados pelo atrofiado e estéril roncolho. Bomfim falava disse a quem quisesse ouvir...".

Eu conheci e era amigo de Felino Bomfim Feitosa. Tivemos uma estreita amizade durante longos anos. Na minha condição de funcionário do Fisco Estadual, trabalhei muitos anos, nos tempos que existia Exatoria, no Canindé Velho de Baixo e na Nova Canindé de São Francisco. Em meu livro "O Sertão de Lampião" à página 199, está o capítulo "O CANGACEIRO E O PADRE" todo ele construído através do relato de Felino Bomfim, discorrendo sobre um encontro acontecido nas caatingas de Poço Redondo entre Lampião e o padre Lima (Gonçalo de Sousa Lima). Este padre era tio de Bomfim e o mesmo estava presente a esse encontro, sem, no entanto, escutar a conversa dos dois, mas vendo ambos conversando na mataria.

Um acontecimento deste, envolvendo um padre que era seu tio, Bomfim me contou. E por que, mesmo eu sabendo que nem ele e nem a maioria dos buraqueiros, aqueles que residiam nas ruas e praças da velha cidade-pólo do Sertão do São Francisco, não gostavam, abominavam mesmo, o cangaço e Lampião, e Bomfim nunca escondeu esse sentimento, mas, mesmo assim, ele nunca me disse, nem de brincadeira, que Lampião era gay e que Maria Bonita era amante de Messias de Caduda?

Portanto, leitor amigo, este livro de nosso companheiro e competente rastejador das coisas do sertão, do cangaço e de Lampião, o nosso Archimedes, tem como principal finalidade mostrar aos que pesquisam e se preocupam com a nossa história, a história de nosso povo, que não devemos, sob hipótese alguma, permitir que versões loucas e sem nenhum sentido, num acinte a verdade da história, sejam perpetuadas como verdadeiras.

Parabéns, Archimedes Marques, pelo seu brilhante e elucidativo trabalho literário, trabalho que tem a missão de desfazer os delírios que estão no livro "LAMPIÃO O MATA SETE".

Saudações cangaceiras
Alcino Alves Costa

comentarios/lampiao+contra+o+mata+sete

LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE (II)

Por: Clerisvaldo B. Chagas - Crônica Nº 810

O ilustre delegado (profissão motivo de orgulho de Archimedes) nem precisava de citações para defender a sua tese, todavia, ele preferiu reforçar defesa e ataque incorporando uma tropa de elite, colocando-a, ora na linha de frente ora na retaguarda dos combates contra o Mata Sete.


Estão ali os mais destacados escritores do cangaço apostos à frieza do comando. Além disso, é grande a contribuição do pano de fundo com as diversas passagens apresentadas por Marques, carimbadas pelos pesquisadores de peso do cangaço.

Alexandre de Humboldt

Dois sábios alemães deram o caráter científico autônomo da Geografia no século XIX. Alexandre de Humboldt (naturalista) e Karl Ritter (historiador e filósofo).

Karl Ritter

O primeiro viajou em pesquisa pela Europa, América do Norte, Ásia Setentrional e publicou o livro “Cosmos”. O segundo, pouco viajou.
Dedicado ao Magistério e baseado em leituras entregou ao público o livro “Ciência Comparada da Terra”. Isso quer dizer que o pesquisador tanto pode fazer pesquisas de campo, quanto usar as fontes diversas e honestas sem sair de casa. Aliás, fora outros atributos, para pesquisas in loco é preciso ganhar bem, ou dispor de boa fonte financeira e coragem para enfrentar cobras, mosquitos, sol abrasador, água ruim, péssimas estradas e não ter ojeriza à pobreza.
O juiz escritor, Morais, pode ter feito como o historiador Karl Ritter, pesquisando nos melhores livros sobre o cangaço ao alcance do seu poder aquisitivo. O seu estilo é bom, escreve bem, mas infelizmente sua inteligência o guiou para uma inovação literária que transforma água limpa, potável, cristalina, em marrons, turvas, negras lamas de barreiro.
Não sei, não quero a crítica literária, não tenho vocação para o mister. Mas, como leitor atento às citações de Archimedes, fiz algumas comparações particulares, isto é, fora do foco do seu livro para melhor entendimento sobre o cangaço. Nada que compromete o desenrolar dos fatos e que os abordaremos na sequência.


Detesto o “puxa-saquismo” para os lados de Lampião ou da Polícia, quando usado por “monstros sagrados” ou iniciantes sobre o tema cangaço com Lampião como personagem central. Isso não encontrei nos textos escritos por Archimedes Marques. O autor fala com toda clareza em vários trechos sobre a monstruosidade do bandido, porém, da mesma maneira não nega as suas qualidades. Sua atração pelo assunto, não o conduz à paixão explícita por Lampião como mais de um “grande” tentam passar ao leitor menos exigente. Talvez seja esse equilíbrio levado pelo novo escritor que vai conquistando o seu fã clube. Para melhor situar a obra do homem de Sergipe, passamos a informação: (MARQUES, Arquimedes. Lampião contra o Mata Sete. 1 ed. Aracaju, Info Graphics, 2012).
(continua amanhã).

Clerisvaldo B. Chagas

LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE 


Enviado pelo Delegado de Polícia Civil no Estado de Sergipe, Dr. Archimedes Marques, autor do livro "Lampião Contra o Mata Sete".


Outro bandido terrível - o Zé Baiano

Por: Juarez Conrado - Jornalista

Outro terrível bandido, sádico por natureza, foi o tristemente famoso José Aleixo (Zé Baiano), nascido na cidade de Chorrochó, no sertão do São Francisco, na Bahia.


Costumava, com um ferro em brasa tendo em uma das extremidades as letras JB, marcar no rosto das mulheres das quais se servira sexualmente, ou que houvessem cortado o cabelo.
São inumeráveis os crimes por ele praticados. Em Canindé, por exemplo, em uma das vezes que ali esteve, ferrou


Olindina Marques e uma outra senhora que levaram, pelo resto da vida, a marca  inconfundível do Pantera Negra, como era conhecido por sua ferocidade.
Com o punhal de cabo de prata que Lampião lhe presenteou, sangrou quatro pessoas em um só dia na cidade de Monte Alegre, tendo, pouco depois, utilizando-se da mesma arma, repetido o feito contra o jovem fazendeiro Galdino, de 35 anos, em Carira.
Zé Baiano não apenas matava as pessoas como antes as torturava cruelmente, sempre sorrindo, numa prova inconteste do prazer que sentia em ver o sangue das vítimas misturando-se com a areia do chão.


(...). Sabido é por todos, o monstruoso estupro que Lampião e seu bando praticaram em Capela, em uma senhora fato que provocou tremenda hemorragia e a maneira como Zé Baiano, por ordem do chefe, conteve o sangramento,...

Foi ele, igualmente quem, em Aquidabã, matou o louco Souza Manoel do Norte. Matava com muita satisfação, sem respeitar sexos ou idades das vítimas, não deixando, no caso de mulheres, de também estuprá-las.

Foi em Alagadiço, povoado do município de Frei Paulo, que Zé Baiano, sempre o recebia, amigavelmente, para grandes buchadas acompanhadas de muita cachaça, mas semeou o pânico e o pavor.

ADENDO

Zé Baiano foi assassinado através de um plano de populares, inclusive um dos seus melhores amigos,

o coiteiro Antonio de Chiquinho, idealizou e participou da chacina do "Pantera Negra".

Extraído do livro:
Lampião Assaltos Morte em Sergipe
Autor: Juarez Conrado
Páginas: 40 e 41
Aracaju - Sergipe
Ano: 2010

AS CRÔNICAS DO CANGAÇO – 4 (A MENINICE DE LAMPIÃO)

Por: Rangel Alves da Costa(*)

Rangel Alves da Costa

AS CRÔNICAS DO CANGAÇO – 4 (A MENINICE DE LAMPIÃO)

Raramente os pesquisadores, os estudiosos do fenômeno cangaço, os escritores e historiadores, abordam com mais vagar e profundidade acerca da infância e meninice de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, o maior dos cangaceiros do nordeste brasileiro. Cabra afamado demais, mas que um dia piruetou nas pivetezas da vida.

Optando por desvendá-lo basicamente a partir das lides de sangue da família que culminaram com sua entrada na vida bandoleira, esquecem que todo comportamento humano, sua predisposição para as vinditas de sangue debaixo do sol, bem como a sua concepção de mundo e de ação perante este, depende em muito da sua criação e dos tipos de experiências que vai acumulando desde a mais tenra idade.

Ora, Virgulino não se fez Lampião de hora pra outra. Do mesmo modo, ninguém dá saltos na vida que a infância possa ser relegada a um plano de quase inexistência. Primeiro o nascer, o ser o menino, depois o moleque, e assim por diante. Por isso mesmo é que não se pode esquecer que este que se tornou no rei dos cangaceiros um dia foi infante, moleque traquina, sertanejinho buchudo de lamber barro da parede, perigosinho correndo descalço pelos descampados e veredas cobertas de pontas de pedras e espinhos.


Dependendo do lugar onde tenha nascido, do mundo circundante, das experiências vivenciadas nas primeiras fases da vida e principalmente das características familiares, todo menino levará consigo um tanto de reflexo disso tudo na sua caminhada adulta. O pequenino certamente seguirá o passo que lhe é ensinado, e isto faz parte do tipo de criação recebida. Fosse com Virgulino ou qualquer outro, verdade é que ninguém nasce e se cria distanciado de sua realidade familiar e do meio que o circunda.

Mas uma coisa é certa, tenha nascido em família puritana ou de relacionamentos difíceis, lastreando inimigos nas vizinhanças e por todo lugar, ainda assim a criança vive o seu mundo distanciado das preocupações próprias dos adultos. Ao menos enquanto não é apanhado pelo mundo da consciência, do senso crítico, o que muitas vezes se transforma num processo doloroso demais.

Assim, é como se um retrato antigo mostrasse o pequeno Virgulino chorando de se rasgar, lambendo barro e areia, brincando inocentemente com formigueiro e piolho de cobra. Lá adiante um grito de sua mãe para que saia dali e entre logo em casa se não quiser apanhar. O irmão passando, o pai quase não dando atenção, apenas o cachorro magro chegando para lhe fazer companhia. Coisa de berço não, nem de fraldinha na cama, mas vida de chão e de ralamento na terra agrestina.

O retrato amarelado não se apaga e ele é avistado descalço, de bucho grande e cheio de verminose, com o corpo sujo de barro dos pés à cabeça, correndo atrás de catenga, matando saúva pra botar na boca. E noutro álbum, o menino correndo na vida, brincando descalço, chutando bola de pano, tentando acertar buraco com bola de gude, de baleadeira na mão para matar passarinho, com gaiola e arapuca rumando pro meio do mato.

E não podia ser diferente, pois menino sertanejo, e criança agrestina não vive sua idade sem ser assim, diabinho malino, moleque travesso, tico de gente desnaturado, um ser simplesmente procurando viver. E mais tarde ajudar a família, cumprir as ordens do pai, tanger o gado, cortar a palma, ajeitar o tronco na cerca que está caindo, passar remédio na bicheira do bicho, seguir até a cidade comprar mantimento. O corpo já transformado, o menino vai se percebendo homem.


Quem não vive assim no sertão nordestino não pode ser considerado como pessoa normal, quiçá no meio do mato, nas pequenas povoações, nas fazendas, nas cidades em formação. E fruto do seu tempo de criança, Virgulino certamente que era um tanto tudo disso tudo. No que se tornou mais tarde, no homem valente e destemido que se fez, nada se pode dizer da raiz inocente que cresceu e se tornou temida, pois o menino continuou seu passo normal de vida até ser transformado por outra realidade na vida adulta.  Não que o homem tenha rompido com sua infância, mas foi como se o adulto jamais tenha sido criança.

Espelho do menino que foi, retrato do homem que se tornou, assim diz o ditado popular. Neste sentido não poderia haver outro reconhecimento senão o de que Virgulino já era chegado à desenfreada valentia desde cedo na vida. E logicamente que não foi assim, pois apenas menino nordestino, molecote sertanejo, tendo uma vida normal como todos os outros e sem demonstrar desde cedo uma clara predisposição para a vida guerreira.

Contudo, nesse passo as opiniões se dividem, pois alguns, talvez num mirabolante exercício de criatividade sensacionalista e exacerbada extravagância, chegam a afirmações verdadeiramente absurdas, como as dando conta que desde os cinco anos Virgulino já carregava consigo arma de fogo e aos sete já tinha feito sua primeira vítima. Matou um homem só porque achou feio. Contudo, outros mais realistas, mas nem por isso mais verdadeiros, afirmam que o pequenino, de tão quieto e pacífico que era, chegou a ser pensado como futuro religioso, nascido que havia com uma missão divina.

Só mesmo com muita cara de pau para chegar a conclusões como tais, mas a verdade é que alguns afirmam da predisposição, da sina e do desígnio cangaceiro já nascido com Virgulino. Deslavadamente, chegam a dizer que ao nascer, ao invés do choro o pequenino deu um grito de guerra. Que jamais aceitou mingau e papinha porque dizia que comida de homem era farinha seca com jabá, que não deixava que ninguém lhe desse banho ou lhe oferecesse roupinhas de criança. Exigiu que lhe dessem calção de couro cru e nem peteca de brinquedo aceitava. Levava de canto a outro, feito brinquedinho, uma espingarda carregada.

Não se pode acreditar em nada disso, mas ainda têm coragem de relatar que uma das brincadeiras que o Virgulino menino mais gostava era mirar na cabeça de todo mundo que passasse em sua frente. Por diversas vezes varou a noite dando tiros nos rebanhos das vizinhanças, enchendo as portas e janelas de chumbo e gritando que se tivessem coragem que saíssem para morrer. E tudo isso com menos de oito anos.

Um verdadeiro terror era o menino. Gato e cachorro não chegavam nem perto dele; os irmãos evitavam o máximo possível contrariá-lo; havia jurado de morte a própria mãe porque esta tinha beliscado sua bochecha e chamado de menininho lindo da mamãe. Com seu pai não havia sido diferente, pois certa feita fez o homem ficar de quatro pés por duas horas, tendo uma garrafa por cima das costas pra ele brincar de alvo. E não era pro coitado do pai se mexer de jeito nenhum, senão erraria o tiro por conta própria.

Noutra vertente, são mentirosas também as afirmativas dando conta que um anjo desceu sobre o berço do infante Virgulino, e espargindo água benta sobre sua cabeça anunciou que sua missão na terra seria a de espalhar pelos quatro cantos a palavra do Senhor. E ainda dizendo que desde novinho o futuro Lampião chorava em terrível agonia todas as vezes que ouvia palavras como morte, violência ou sangue.


Mentirosas também as afirmativas que o pequeno Virgulino, à moda de São Francisco, enveredava pela mataria nos arredores de Vila Bela para conversar com os passarinhos e os bichos que encontrava. E muitas vezes avistaram o pequenino seguindo por estradas, sempre acompanhado de borboletas esvoaçantes ao redor, passarinhos pousando no seu ombro, caititus, onças e cobras acompanhando os seus passos para onde enveredasse. 

Tudo mentira. Nem menino violento, já sanguinário na criancice, nem um anjinho de candura na mesma época. Apenas um menino sapeca, um traquina sertanejo, cujo destino de adulto foi se contrapor às injustiças do seu tempo, lutar pela vida e tombar diante de uma guerra que nunca pôde ser vencida, ainda que jamais tenha sido derrotado. 


(*)Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com