Por: Alcino Alves Costa
Apresentar aos amantes da história cangaceira e da saga de Lampião o livro "LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE", especial obra literária de nosso estimado companheiro e amigo Archimedes Marques, um dos nossos vaqueiros da história, é uma honra muito grande para mim.
O título do livro explica o desejo ardoroso e forte de Archimedes em contradizer as ineficazes afirmativas que estão nas páginas do livro "LAMPIÃO O MATA SETE".
Os registros de responsabilidade do senhor Pedro de Morais foram escritos sem nenhum embasamento e há anos luzes de distância da verdade da história. Infelizmente, não se sabe por qual razão, o juiz aposentado, apesar de sua dignidade pessoal e funcional, num instante de total opacidade mental, procurou de todas as maneiras possíveis e imagináveis, construir a sua obra literária com azedume extremado em relação à
Virgulino Ferreira da Silva, colocando-o nas condições de gay e impotente e a Maria Bonita, taxando-a de adúltera.
Além dessas duas descabidas e ferinas acusações da masculinidade de Lampião e da obsessiva infidelidade de Maria Bonita, existem outras colocações e fatos que se encontram longe, muito longe, da realidade e do que realmente aconteceu.
Nesta minha apresentação me recuso a nem pelo menos opinar sobre a versão delirante de que Lampião era homossexual. Louca afirmativa do Dr. Pedro Morais que, eu tenho certeza disso, pois o conheço pessoalmente e sei o quanto ele sempre foi, na sua vida de juiz e em seu viver pessoal, um homem decente e digno, sem nunca apresentar rompantes de grandeza e vaidade.
Realmente fiquei estarrecido com os dizeres que estão nas páginas do "LAMPIÃO O MATA SETE" que, infelizmente, além dessa aberração de Lampião ser gay, existem outros tremendos equívocos que eu não entendi como uma pessoa tão letrada, cuidadosa e estudiosa como Dr. Pedro, fosse capaz de cometer tantos disparates como os que estão em seu livro.
Vejamos alguns deles: nas páginas do "LAMPIÃO O MATA SETE", constam várias citações sobre o livro "LAMPIÃO", de Ranulfo Prata. No entanto, para não se contradizer sobre a alegação de que Lampião era impotente o juiz aposentando "esqueceu" de registrar que nas páginas 73 e 74, do livro de Ranulfo, está registrado que no município de Porto da Folha, uma senhora já idosa participava do casamento de uma jovem quando na véspera do matrimônio Lampião chegou à casa da noiva e aprisionou o dono da residência, que era avô da noiva, exigindo dinheiro.
As mulheres, inclusive a noiva, haviam se escondido em um dos quartos da casa. Olhando pela fechadura da porta a neta via a agonia de seu avô. Aflita abriu a porta e ofereceu 600$000 em troca da liberdade do velho. Lampião atendeu, porém observando a beleza da moça, mais que depressa a agarra, empurrando-a até um quarto onde uma velha estava escondida e a estupra sem piedade. Após o ato bestial, Lampião ordena que a velha limpe seu órgão genital " e este homem era impotente?
O Dr. Pedro de Morais registra na página 219 de seu livro que o cangaceiro Penedinho matou um companheiro em 1932 e entregou a cabeça do morto ao comandante Zé Lucena.
Não foi assim. Penedinho, que era um dos filhos de Poço Redondo que foi para o cangaço, matou o cangaceiro
Canário, em 1938, logo após a morte de Lampião e foi se entregar a Zé Rufino, na Serra Negra.
O célebre comandante imediatamente viajou com sua volante e o cangaceiro até a fazenda Cururipe, em Poço Redondo, aonde Canário havia sido assassinado, decepou a cabeça do assecla e levou-a até Serra Negra. Portanto, os informes que ensejaram a criação do "LAMPIÃO O MATA SETE" carecem de credibilidade.
É de se lamentar que um livro que despertou tanta curiosidade em meio à população brasileira seja responsável por registros sem nenhum crédito, sem nenhuma nesga de verdade, numa demonstração total da falta de conhecimento do autor. Como último e simples exemplo, dentre muitos outros, existe aquele que está contido à página 283, afirmando que o
cangaceiro Criança morreu no tiroteio do Cangaleixo e que a sua companheira, a cangaceira Adelaide saiu gravemente ferida.
É deveras impressionante este registro. Os cangaceiros que morreram no Cangaleixo pelas balas da volante de Zé Rufino foram
Mariano, Pavão e Pai Véio, e ainda, o coiteiro João do Pão. Adelaide jamais esteve no Cangaleixo, ela já estava morta há muito tempo, pois havia morrido de parto nas proximidades do povoado Curituba. Quem estava no coito era Rosinha, companheira de Mariano e irmã de Adelaide. Rosinha não sofreu nenhum ferimento, estava, isto sim, em alto estado de gravidez.
É com essa enxurrada de enganos e equívocos que Archimedes está, como se fosse uma espécie de protesto, contestando nesta sua obra literária as aberrações contidas no "LAMPIÃO O MATA SETE", que tem como pano de fundo as injustas e desastrosas acusações no sentido de mostrar loucamente, e sem a mais tênue possibilidade de Lampião ter sido gay, impotente e se dava ao desplante de formar um triângulo amoroso com Luís Pedro e Maria Bonita.
Em um total delírio, o autor do livro assevera que Messias de Caduda era também amante de Maria Bonita. Eu conheci e fui muito amigo de Messias de Caduda, Em meu livro
"Lampião além da versão", Messias faz um relato de sua viagem para Propriá levando, a pedido de Lampião, Maria Bonita que doente de um olho iria procurar um médico, através do Dr. Hercílio Britto, para na grande cidade do Baixo São Francisco se tratar de sua enfermidade. Viagem acontecida na canoa "Tereza Góis" de Moisés Tambangue. Até a fazenda Belém, de Antônio Britto, toda cabroeira viajou na canoa. Ali, Lampião e seu bando ficaram e Maria seguiu para Propriá na companhia de Messias de Caduda e de Moisés Tambangue.
Na volta, após o tratamento, Maria Bonita viajou na canoa Paulicéia, de Antônio Britto, e na companhia do próprio Messias e dos canoeiros Aurélio e João de Rosinha " dizer-se que Messias era amante e coabitava com Maria Bonita é algo saído da mente de alguém sem compromisso nem com a verdade e nem com a história " infelizmente esse alguém, no caso em tela, é um homem que caminhou a sua vida pelos caminhos da decência e do bom proceder.
O Dr. Pedro de Morais diz à página 191 de seu livro que: "As crias concebidas e paridas por D. Deia, dizem nas falas faladas da saga desses adúlteros, eram filhos de Luís Pedro ou Messias de Caduda, outro grande amor dela, talvez, o maior de todos. Nunca foram gerados pelo atrofiado e estéril roncolho. Bomfim falava disse a quem quisesse ouvir...".
Eu conheci e era amigo de Felino Bomfim Feitosa. Tivemos uma estreita amizade durante longos anos. Na minha condição de funcionário do Fisco Estadual, trabalhei muitos anos, nos tempos que existia Exatoria, no Canindé Velho de Baixo e na Nova Canindé de São Francisco. Em meu livro "O Sertão de Lampião" à página 199, está o capítulo "O CANGACEIRO E O PADRE" todo ele construído através do relato de Felino Bomfim, discorrendo sobre um encontro acontecido nas caatingas de Poço Redondo entre Lampião e o padre Lima (Gonçalo de Sousa Lima). Este padre era tio de Bomfim e o mesmo estava presente a esse encontro, sem, no entanto, escutar a conversa dos dois, mas vendo ambos conversando na mataria.
Um acontecimento deste, envolvendo um padre que era seu tio, Bomfim me contou. E por que, mesmo eu sabendo que nem ele e nem a maioria dos buraqueiros, aqueles que residiam nas ruas e praças da velha cidade-pólo do Sertão do São Francisco, não gostavam, abominavam mesmo, o cangaço e Lampião, e Bomfim nunca escondeu esse sentimento, mas, mesmo assim, ele nunca me disse, nem de brincadeira, que Lampião era gay e que Maria Bonita era amante de Messias de Caduda?
Portanto, leitor amigo, este livro de nosso companheiro e competente rastejador das coisas do sertão, do cangaço e de Lampião, o nosso Archimedes, tem como principal finalidade mostrar aos que pesquisam e se preocupam com a nossa história, a história de nosso povo, que não devemos, sob hipótese alguma, permitir que versões loucas e sem nenhum sentido, num acinte a verdade da história, sejam perpetuadas como verdadeiras.
Parabéns, Archimedes Marques, pelo seu brilhante e elucidativo trabalho literário, trabalho que tem a missão de desfazer os delírios que estão no livro "LAMPIÃO O MATA SETE".
Saudações cangaceiras
Alcino Alves Costa
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