Um ano e três
meses antes do seu falecimento, o cronista Zózimo Lima fez publicadas, no já
extinto jornal “Gazeta de Sergipe”, de 26.10.1972, aquelas que seriam as suas
últimas considerações a respeito do cangaço em Sergipe, tema por ele, quando em
vez, abordado nos seus sempre bons escritos, muito embora e apesar de ter
estado pessoalmente com Lampião, em 29, na capela, tenha destinado,
relativamente, pouco tempo à pesquisa e ao estudo deste importante e fascinante
tema.
Algo a se
lamentar.
Porque este
intelectual e brilhante jornalista, de notável inteligência e de grande
perspicácia, irônico além da conta, tinha as relações humanas e os
acontecimentos importantes em Sergipe, naqueles tempos, durante e pós-Lampião,
sob completo e total domínio, vez que conhecia a tudo e a todos; era homem que
circulava com desenvoltura nos meios sociais, pobres e abastados, eis que
gostava de andar pelos bairros periféricos de Aracaju, frequentar feiras livres
e mercados públicos de carnes e cereais, tratar com os mais humildes; visitar
cidades do interior, para estar e conversar com as gentes e seus mandatários,
os chefes políticos; descansar em sítios e fazendas de amigos; ao mesmo tempo
em que acessava livremente palácio, amigo que era de governadores, de um Leandro
Maciel, Lourival Batista, Luiz Garcia, e mesmo o médico Eronildes de Carvalho,
do qual, se não o tinha como amigo deixou claro em seus artigos, que o
considerava e com ele se relacionava de forma amistosa e cordial. Zózimo, que
era, por sinal, correspondente de um jornal da Bahia; que escrevia praticamente
sobre tudo, todos os dias, sendo a sua coluna "Variações em Fá Sustenido"
uma das mais concorridas naqueles dias; Zózimo que dirigiu a repartição em que
trabalhava como telegrafista, os correios e telégrafos, como também, presidiu a
Academia sergipana de letras (ALS) e a Associação dos Jornalistas de Sergipe
(ASI). Portanto, era um verdadeiro receptáculo.
Lamentar,
porque Zózimo sabia muito mais dos coitos, passos, tratos e interação de um Lampião,
de um Zé Baiano e de muitos outros cangaceiros, que por aqui pintaram e
bordaram, igualmente, do que realmente pensavam, faziam e pretendiam as
volantes e os maiorais do Estado no contraponto destas perigosas presenças, do
que se dispôs a dizer.
Lembrei-me
agora de algo, que ilustra estas minhas mal traçadas considerações de lamento.
Certa feita -
contou-me um dos seus filhos - Zózimo, quando de passagem por uma certa fazenda
localizada na zona sertaneja sergipana, avistou, na propriedade, como se
tivessem acabados de chegar, sujos, cansados, discretos, alguns cangaceiros, e
Lampião estava presente
Portanto,
imaginem vocês o quão rica seria a historiografia do cangaço em Sergipe, se
este capelense, que tão bem lidava com os idiomas, o inglês, o francês, o
latim, tivesse traduzido o tanto que viu e ouviu a respeito de volantes e
cangaceiros, coiteiros e coronéis, e, principalmente, do povo que tanto sofreu
nas mãos destes algozes.
Sinto por
isto.
AINDA SOBRE
LAMPIÃO
Por Zózimo Lima
Uma das
melhores obras que conheço é “LAMPIÃO, CANGAÇO E NORDESTE”, de Aglae Lima
Oliveira, 2ª edição, 448 páginas, porém com falhas que jamais foram cometidas,
em narrativa por Joaquim Góis, em seu "LAMPIÃO, O REI DO CANGAÇO",
editado pela Sociedade de Cultura Artística de Sergipe, com 222 páginas.
Na 2ª edição, já promovida por Nertan Macedo, o que não se realizou porque
Joaquim Góis faleceu antes de completar a obra, seria publicada com muitas
páginas inéditas e acontecimentos horrorosos.
Eu entretive longas palestras com Lampião, na Capela, das 7 horas da noite às 3
da madrugada, e as repetirei, sem aspas e sem parágrafos.
Joana Gomes, que, com os bandidos, percorrera os sertões de Pernambuco, Rio
Grande do Norte, Ceará, Alagoas, Bahia e Sergipe, amasiada com Cirilo de
Engrácia, desde 1930, com quem teve quatro filhos, cansada da vida errante e
das lutas, resolvera entregar-se à Polícia de Alagoas, em Mata Grande, em 1937,
depois de ter passado, aos 24 anos, pelos braços de Inácio, Jacaré, Mariano,
Corisco, Português e Sereno, sobrinho de Corisco.
Também dormiu com Ângelo Roque, Zé Baiano, Jacaré, José Mariano e Nevoeiro. Era
meretriz muito disputada pelos cangaceiros. Disse-me Lampião que o seu grupo,
que era de 60 homens, dividiu em quatro turmas, depois da derrota nas
imediações em Canguaretama, e a um seu chamado urgente ou apito conseguia
rapidamente reuni-los em seu grupo.
Jacaré, último amante de Joana Gomes, lhe dissera que fugiria antes de entrar
em combate em Mata Grande. E morreu mesmo num combate em alagoas. Não se sabe
mais o que ocorrera com Joana Gomes que se entregara à Polícia em mata Grande.
Lampião elogiou sempre o DIABO LOURO, antonomásia de Corisco, que em certa
época pertencera à polícia sergipana. Corisco foi morto pelo coronel José
Rufino, que eu conheci, nas imediações de Jeremoabo, sendo ferida sua amásia
Dadá, que amputou uma perna, e ainda vive em Salvador, recordando o seu passado
de aventuras criminosas.
Volta Seca, que também conheci, é hoje servente da Estrada de Ferro Leopoldina,
casado, arrependido, bom chefe de família.
Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho
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