Por Francisco de Paula Melo Aguiar
A história não
é invenção sem pesquisa, fato e acontecimento.
Francisco de
Paula Melo Aguiar
Quem é metido a historiador
deve viver pesquisando os fatos que envolvem o lócus em sua historicidade,
sempre que possível retratando a verdade até onde a mesma é possível sua
comprovação por dedução racional e lógica dos fatos, inclusive por analogia
dentro da tese da aproximação dos acontecimentos. Isso é o mínimo que um
historiador pode oferecer aos seus leitores presentes e futuros. Assim sendo, o
disse me disse em Santa Rita de que o Vigário Padre Manoel Gervásio Ferreira da
Silva, que aqui chegou em 1874 para tomar conta de nossa freguesia católica
apostólica romana. Aquele que fundou a primeira escola de educação de adultos
do sexo masculino, conforme transcrevemos que o jornal Gazeta da Parahyba, ano
1, editado na Parahyba do Norte, sexta feira, 21 de dezembro de 1888 – nº 187,
folha diária, publicou na primeira página: “Club Amigos do A.B.C. Com este
título acaba de fundar-se na povoação de Santa Rita uma associação, cujo fim é
propagar a instrucção por meios de aulas nocturnas. Teve logar a primeira reunião
no domingo ultimo, a que compareceram 43 sócios, sendo eleita a directoria que
ficou composta dos Srs. : Vigário Manoel Gervasio Ferreira da Silva,
presidente; Dr. Chrispim Antonio de Miranda Henriques, vice presidente; Amaro
Gomes Ferraz, 1º secretario; Galdino Ignacio de Vasconcellos, 2º secretario.
Mais louvaveis não podem ser os intituitos da nova associação a qual desejamos
vida longa e que consiga o fim que tem em vista. No próximo domingo realisa-se
a segunda reunião para discussão dos estatutos”(Transcrevemos com a ortografia
da época do referido jornal). Esse acontecimento histórico municipal aconteceu
em 21 de dezembro de 1888, portanto, há sete meses da libertação dos escravos
nos termos da Lei Áurea assinada pela princesa Isabel em nome do Segundo
Império Brasileiro. Santa Rita era apenas um povoado agregado ao município da
capital da Paraíba do Norte. Isso é fato e contra fato não se tem argumento.
Ressaltamos de que em 19 de março de 1890, através do Decreto nº 10, foi
emancipado o município de Santa Rita, sendo Antônio Gomes Cordeiro de Mello,
empossado Presidente do Conselho Municipal de Intendência com a instalação do
município em 29 de março de 1890. Tudo bem. Depois o disse me disse, sem
comprovação histórica fala de que no período de janeiro de 1893 a setembro de
1897, o Padre Manoel Gervásio Ferreira da Silva, se elegeu deputado estadual de
Santa Rita, sic, e influenciou a restauração da emancipação política de Santa
Rita, graças ao presidente Antônio da Gama e Mello. A restauração da autonomia
municipal aconteceu realmente em 1897, porém, o nome do Padre Manoel Gervásio
Ferreira da Silva, como deputado estadual eleito em 1896, sic, não consta em
nenhuma legislatura da Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba, inclusive
na “3ª LEGISLATURA - 1896-1899”, pois na época eram os seguintes deputados
estaduais: “Abdon Odilon da Nóbrega; Adelgício Cabral de Albuquerque
Vasconcelos; Antônio Tomás de Araújo Aquino – faleceu; Apolinário da Trindade
Meira Henriques; Apolônio Zenaide Peregrino de Albuquerque – renunciou; Ascendino
Cândido das Neves; Augusto Alfredo de Lima Botelho; Augusto Gomes e Silva; Cláudio
César Freire; Francisco Antônio da Silva Araújo Pereira; Francisco Claudino de Lima e Moura; Francisco
de Gouveia Nóbrega - eleição complementar; Francisco de Paula Pessoa da Costa –
faleceu; Francisco Targino Pereira da Costa; Graciliano Fontino Lordão; Gustavo
Mariano Soares de Pinho; Higino Gonçalves Sobreira Rolim; Inácio Evaristo
Monteiro Sobrinho; João Leite Ferreira Primo; João Lourenço Porto; João Pereira
de Castro Pinto - eleição complementar; José
Alves Cavalcanti de Albuquerque; José Bezerra Cavalcanti de Albuquerque; José
Campelo de Albuquerque Galvão; José Fernandes de Carvalho; José Francisco de
Moura; José Francisco de Paula Cavalcanti (Coronel Cazuza Trombone); Manoel
Dantas Correia de Góis; Manoel Joaquim de Sousa Lemos; Manoel Soares Sarmento; Waldevino
Lobo Ferreira Maia; Walfredo dos Santos Leal - eleição complementar; Wenceslau
Lopes da Silva”, conforme pesquisa¹. Portanto, cai por terra o argumento de que
Padre Manoel Gervásio Ferreira da Silva, foi deputado estadual por Santa Rita
na terceira legislatura de 1896 a 1899 da Assembleia Legislativa do Estado da
Paraíba. Isso não é verdade. Ressaltamos de que a Almanak Administrativo,
Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro - 1891 a 1940 - PR_SOR_00165_313394,
publicou em 1901 os Estados da República, inclusive cita textualmente as
páginas 1346, 1347 e 1348², onde consta: “Governo do Estado – Presidente: José
Peregrino de Araújo, Desembargador; 1º Vice Presidente: Affonso Lopes Machado,
Dr.; 2º Vice Presidente: Manoel Gervasio Ferreira da Silva, Padre” (p. 1346). Por
outro lado, é importante também afirmar de que o Padre Ferreira, apesar de ser
um homem influente com vigário, chefe político e vice Presidente do Estado da
Paraíba no período de 22 de outubro de 1900 a 22 de outubro de 1904, não
assumiu o cargo de governador interino estadual por um grau de segundo, tendo
em vista o que consta das mensagens e ou relatórios administrativos anuais
enviados pelo presidente José Peregrino de Araújo nos anos de 1901³, 19024,
19035 e 19046. Mesmo assim, o padre coronel na religiosidade e na gestão
pública santaritense, foi um dos idealistas ao lado de Antônio Gomes Cordeiro
de Mello, dentre outros para fazer Santa Rita livre do domínio político e
administrativo da capital do Estado da Paraíba. A política circulava em suas veias como o
sangue a procura da oxigenação, exerceu por diversas vezes funções públicas
eletivas, dentre as quais a de Presidente do Conselho Municipal, órgão
equivalente a atual Câmara Municipal no período de 1907 a 1910, tendo como vice
presidente o Capitão Clementino Augusto de Oliveira e como secretário Terêncio
Ferreira. Neste período o prefeito era o
coronel Francisco Alves de Souza Carvalho e o vice prefeito era Olynto Gil de Freitas.
O cargo de juiz de paz era preenchido por eleição em Santa Rita e no resto do
Brasil naquele tempo.
Para se ter uma noção geral da
historicidade de Santa Rita no período de 1907 a 1910, fim da primeira década do século XX, passaremos
a transcreve, inclusive com a ortografia da época o que diz o Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (1891 a 1940), a
respeito de Santa Rita-Paraíba7 em 1909,
“ESTADO DA
PARAHYBA DO NORTE
Santa Rita
Município
pertencente á comarca da capital. Comprehende os districtos da cidade e Livramento. Por decreto de 14 de
junho de 1890 foi creado comarca. E em janeiro de 1903 foi supprimida a comarca
e o município. Por lei 79 de 24 de setembro de 1897 foi restabelecido o município.
O transporte é feito por via ferrea, estradas de rodagem em animaes e
automoveis.
Possue 868
casas cobertas de telhas e 2936 de palha. Sua população é de 17:643 almas,
sendo 8086 homens e 9557 mulheres (1909).
Administração
municipal:
Prefeito:
Francisco Alves de Souza Carvalho, cor.
Sub-prefeito:
Olynto Gil de Freitas”.
O Conselho Municipal
Legislativo estava assim constituído:
“Presidente do
conselho: Manoel Gervário Ferreira da Costa, pad. (em vez da Costa, da Silva,
correção nossa).
Vice –
presidente: Clementino Augusto de Oliveira, cap.
Secretario:
Terencio Ferreira.
Procurador
thesoureiro: E. Ferreira do Monte Falco.
Conselheiros:
Ernesto
Rodolpho Cavalcanti de Albuquerque.
Joaquim P.
Ferraz de Carvalho.
Manoel Justino
de Andrade”.
Os serviços de fiscalização, portaria e de
guardas municipais estavam constituídos assim:
“Fiscal:
Henrique da Silva e Albuquerque.
Porteiro:
Antônio F. da Nobrega.
Guardas:
Joaquim
Teixeira de Vasconcellos.
Manoel de
Sousa Maciel”.
Os serviços processuais
municipais estavam assim organizados, segundo a legislação pertinente em vigor:
“Administração
judiciária:
1º districto:
Santa Rita.
Supplentes do
juiz substituto seccional:
1º Clementino
Augusto de Oliveira.
2º Olinto Gil
de Freitas.
Ajudante do
procurador da República:
Terencio
Ferreira”.
E através de eleições livres
a população habilitada escolhiam os,
“Juizes de
paz:
1º Dr. Thomaz
Gomes da Silva.
2º Antônio
Gomes Cordeiro de Mello.
3º José
Gonçalves do Nascimento.
4º Pedro
Serapião de Araujo.
Supplentes:
Chrysanto
Ribeiro P. de Lacerda.
Elias Gomes da
Silveira.
Genuino Thomaz
de Mello.
Pedro Teixeira
de Vasconcellos.
Official de
registro civil e escrivão de paz: Duval Gonçalves do Nascimento”.
Tanto a sede Santa Rita,
quanto o Distrito de Nossa Senhora do Livramento tinha seus juízes de paz:
“2º districto:
Livramento.
Juizes de paz:
1º Hypolito de
Sousa Falcão;
2º José Emilio
P. de Carvalho.
3º Belino
Alves de Vasconcellos Duarte.
4º Joaquim da
Silva P. Ferreira.
Supplentes:
Eduardo
Marques Guimarães.
José da Costa
e Silva.
Losé Moreira
dos Santos (Losé em vez de José).
Paulo Canuto
da Paz”.
A segurança pública
também se fazia presente assim:
“Administração
policial:
Delegacia:
Delegado:
Alexandre Benicio de Carvalho.
Supplentes:
1º Terencio
Ferreira.
2º Marcelino
Cavalcanti de Albuquerque.
3º Feliz de
Mello Azedo.
1ª
Sub-delegacia:
Joaquim Gomes
da Silveira.
Supplentes:
1º João
Ferreira de Deus.
2º Constantino
José de Medeiros Correia.
3º Olynto Gil
de Freitas.
2ª
Sub-delegacia:
Sub-delegado:
João Braz Ferreira.
Supplente:
João B. de Vasconcellos Maia.
Districto do Livramento,
3ª Sub-delegacia:
Sub-delegado:
Henrique Chrisostomo de Carvalho.
Supplentes:
1º Anthero
Lopes de Mendonça.
2º Ulysses
Toscano de Brito.
3º Elysio
Lopes de Mendonça.
4ª
Sub-delegacia:
Sub-delegado:
Carlos Hilario de Carvalho.
Supplentes:
1º Manoel
Chaves de Carvalho.
2º Francisco
da Cosa Guarim.
3º Manoel
Valerio de Carvalho”.
No período de 1907 a
1910, Santa Rita tinha duas grandes educadoras,
“Instrucção
publica e particular:
Professores
minicipaes:
D. Joanna Gomes
da Silveira.
D. Maria Vita
Ferraz de Carvalho”.
A mesa de renda
estadual também já existia entre nós,
“COLLECTORIAS:
Collector
estadoal: Francisco Moniz de Medeiros.
Escrivão:
Manoel Valerio de Carvalho”.
Os serviços dos
correios e telégrafos também já estavam implantados,
“Correio:
Dona Ana
Carolina Cordeiro de Mello.
Telegrapho:
Chefe: Mnaoel
Moniz de Medeiros”.
A Igreja Católica
Apostólica Romana ainda era a única instituição religiosa existente no âmbito
municipal em funcionamento, haja vista que durante o período imperial a mesma
era a igreja oficial,
“Religião:
Vigário
collado: Manoel Gervasio Ferreira da Silva”.
Os serviços religiosos
eram divulgados e propagados na comunidade através das
“Irmandades:
Conceição.
Dores.
Coração de
Jesus.
Rosario.
Santo Antonio”.
A cidade também
tinha “Sociedade Musical Carlos Gomes”,
que com o passar foi extinta por seus fundadores.
O comércio local já
era próspero e tinha diversos estabelecimentos comerciais, dentre os quais,
“Commercio:
Fazendas,
seccos, molhados, ferragens, etc.
Antonio Thomaz
Gomes da Silva.
Clementino
Augusto de Oliveira.
Ernesto
Rodolpho C. de Albuquerque.
Genuino Thomaz
de Mello
Horacio de
Mendonça Furtado.
José Kurth.
Luiz Correia”.
A história do Brasil registra que na Paraíba,
o primeiro engenho de fabricação de açúcar foi o Engenho Tibiri, desde o
período do Brasil Colonial, o solo santaritense foi logo ocupado com a
construção de diversos engenhos de cana de açúcar, não ficou apenas no sonho
realizado pela primeira fábrica do gênero, porém, Santa Rita também recebeu da
iniciativa privada a primeira fábrica de tecidos do Estado da Paraíba em 1892,
a “Companhia de Tecidos Tibery Parahybana”, bem como registramos em 1909 a
existência de,
“Engenhos:
Angelo
Custodio Correia, Santiago e Torrinha.
Antonio C. de
Carvalho, Joburu (joburu não, Jaburu).
Antonio
Cordeiro de Mello, Capellinha.
Antonio
Furtado, Santo André.
Antonio Lyra,
cor, Cumb..
Antonio da
Silva Mello Filho, Unna.
Caetano Gomes
de Almeida, cor., Gargaú, Pau Dases e Clara Netto.
Companhia
Commercio (sede Rio de Janeiro), Central S. João.
Guilherme
Gomes da Silveira, S.Guilherme.
Francisco
Alves de Sousa Carvalho, cor., Rio Preto, Coiongo, Pureza e Pameza.
Francisco
Marques da Fonseca, Santo Amaro.
Dr. Francisco
Barbosa Aranha Monteiro da França, S. Francisco e Medo.
Dr. Lindolpho
de Assumpção , Tibery.
D. Maria
Pedrosa, Engenho Velho.
Fabrica de
álcool e assucar: João Augusto Moreira”.
Entre os proprietários
rurais também em 1909, encontramos em Santa Rita,
“Agricultores
e lavradores:
Alypio Gomes
da Silveira.
Antonio da
Silva Mello Filho.
Cypriano
Gonçalves do Nascimento.
Francisco
Alves de Sousa Carvalho, cor.
Dr. Francisco
Barbosa A. Monteiro da Fonseca.
João Victorino
Raposo.
Terencio
Ferreira”.
Como não poderia faltar a
presença dos principais,
“Criadores:
Caetano Gomes
de Almeida.
Francisco
Alves de Sousa Carvalho, cor. (coronel).
João Victorino
Raposo.
Dr. Lindolpho
de Assumpção Santiago.
D. Maria
Pedrosa”.
E por fim o Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (1891 a 1940), que
menciona em suas páginas a existência de figuras importantes no mundo econômico
e financeiro,
“Capitalistas:
Dr. Agostinho
Netto.
Antonio
Furtado da Motta.
Caetano Gomes
de Almeida.
João Victorino
Raposo”.
Enfim, essa é a Santa Rita até
1910 do Padre Manoel Gervásio Ferreira da Silva, falecido em 1916, que passou
por morte o comando supremo da chefia política municipal ao coronel Francisco
Alves de Souza Carvalho.
¹ Cf.: José
Ozildo dos Santos. Deputados Estaduais por legislaturas. In.:
<http://ozildoroseliafazendohistoriahotmail.blogspot.com.br/2011/01/assembleia-legislativa-da-paraiba.html
> . Acessado em 03/04/2015.
² Cf.: Edição
digitalizada A00058, fls., 1169, 1170 e 1171. In.:
<
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=313394&PagFis=20729
> . Acessado em 03/03/2015.
³ Cf.:
Paraíba. Mensagem de 1901. In.:< http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u534/index.html
> . Acessado em, 03/04/2015.
4 Cf.:
Paraíba. Mensagem de 1902. In.: < http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u535/index.html
> . Acessado em, 03/04/2015.
5 Cf.:
Paraíba. Mensagem de 1903. In.:
< http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u535/index.html > . Acessado em, 03/04/2015.
6 Cf.: Paraíba.
Mensagem de 1904. In.: < http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u537/index.html
> . Acesado em, 03/04/2015.
7 Cf.: Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro - 1891 a 1940 -
PR_SOR_00165_313394. Acessível in.:
<http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=313394&PagFis=44413
> . Acessado, em 03/04/2015.
Enviado pelo poeta e escritor Francisco de Paula Melo Aguiar
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