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sábado, 26 de março de 2016

CONHECENDO OS RASTEJADORES DA HISTÓRIA CANGACEIRA.

Por ANTÔNIO VILELA (GARANHUNS/PE)

Professor, escritor e pesquisador, autor de vários livros sobre o universo cangaceiro, entre eles os Livros O INCRÍVEL MUNDO DO CANGAÇO – VOLUMES I e II, LAMPIÃO – DE MOCINHO A BANDIDO, A OUTRA FACE DO CANGAÇO, entre outros.

Na fotografia abaixo estão os antigos cangaceiros Candeeiro (Manoel Dantas Loiola) à esquerda, Vinte e Cinco (José Alves de Matos) à direita e ao centro o escritor/pesquisador Antônio Vilela em imagem realizada durante encontro promovido entre os dois Cabras do bando de Lampião.
ANTÔNIO VILELA DE SOUZA... UM RASTEJADOR DA HISTÓRIA.

CONHEÇAM SEUS TRABALHOS E TENHAM ACESSO A UM TRABALHO SÉRIO E RESPONSÁVEL SOBRE A SAGA CANGACEIRA PELOS SERTÕES DO NORDESTE.

Fonte: facebook
Página: Geraldo Júnior 
Grupo: O Cangaço
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A CASA DA BARONESA DE ÁGUA BRANCA/AL


Assaltada por Lampião e seu bando em 26 de junho de 1922. Na ocasião foram levadas jóias e grande quantidade em dinheiro, sendo esse um dos maiores saques e também o de maior repercussão efetuado por Virgulino Ferreira “Lampião” e seus comandados.

Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador do Grupo)

Fonte: facebook
Página: Geraldo Júnior
Grupo: ‎O Cangaço

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LAMPIÃO - A MEDICINA DO CANGAÇO (ASPECTOS MÉDICOS DO CANGACEIRISMO)


De: Antônio Amaury Corrêa de Araújo e Leandro Cardoso Fernandes

Tive a oportunidade de ler pela terceira vez essa obra e posso afirmar que se trata de um excelente livro que traz em suas páginas, além de particularidades da vida de Lampião, curiosidades e a “medicina” alternativa utilizada por aqueles que se embrenharam na lida do cangaço e pelo povo sertanejo nordestino de um modo geral.

O Livro custa apenas R$ 50,00 com frete incluso para todo o País.

Para adquirir essa e outras obras do autor entrem em contato diretamente com o Pesquisador/Escritor Antônio Amaury Corrêa de Araújo através do e-mail aamaurycangaceiro@gmail.com

VALE A PENA TER ESSA OBRA EM SUA COLEÇÃO.
ADQUIRAM.
Geraldo Antônio de Souza Júnior


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A VERSÃO DO EX CANGACEIRO VOLTA SECA SOBRE A MORTE DO CANGACEIRO SABIÁ.

Por Jornal “O GLOBO” em 08 de novembro de 1958.

O depoimento (abaixo) foi prestado ao Jornal “O GLOBO” em 08 de novembro de 1958.

CAÇA AO SABIÁ

Além de religioso, Lampião tinha-se na conta de homem decente. Gostava de mostrar isso quando se tratava de mulheres violentadas. Ele podia admitir as crueldades de José Baiano, mas nunca admitiu que um “cabra” violasse uma mulher e continuasse vivo. O amor era livre, mas o amor correspondido, nunca o amor forçado, amor de violência...

Vou, aliás, encerrar este capítulo contando um fato desses, que se deu com o bando em Lagoa do Rancho, no interior da Bahia. O bando estava acampado nesse local, quando, após alguns dias, estourou um escândalo: o dono da fazenda onde estávamos queixou-se a Lampião de que um de seus “cabras” havia estuprado sua filha. Lampião, seguido pelo bando, foi ver a filha do fazendeiro, e o quadro a que assistimos era triste: a mocinha (pouco mais de treze anos), horrorizada, chorava e estava num estado lamentável. O autor do ato bárbaro fora Sabiá, um rapaz forte, com seus dezoito anos, mais ou menos, e novo no bando.

Praticado o atentado, Sabiá, provavelmente caindo em si, fugira para o mato a uns quinhentos metros da fazenda, quando muito. Lampião, depois de ver o estado em que ficou a filha do fazendeiro, falou secamente: 

- Volta-Seca e Gavião... Vão buscar Sabiá!.

- Eu e Gavião saímos à procura de Sabiá, e fomos encontrá-lo entrincheirado atrás de uma pedra grande. Não quis fugir para longe, e estava apavorado. Quando nos aproximamos, ele gritou:

- Não avancem mais um passo que abro a cabeça dos dois a bala!

Olhei para Gavião e certifiquei-me de que faria mesmo o que prometera, mas felei-lhe: 

- Sabiá... O capitão quer lhe falar, e nos mandou buscar você. 

A resposta não tardou:

- Pois eu não vou e vocês não se aproximem. Se o capitão quer falar comigo, que venha ele mesmo me buscar.

- Achei muita ousadia, mas não tentei capturá-lo. Seria loucura, pois estando num ponto ideal para defender-se, matar-nos-ia facilmente. Olhei para Gavião e retornamos à fazenda. Lampião, quando nos viu sozinhos, perguntou intrigado: 

- Cadê ele? Fugiu?

– Não, senhor, respondi. Sabiá está entrincheirado ali embaixo, atrás de uma pedra. 

– Por que não trouxeram ele? Retornou Lampião. 

– Porque ele nos mata. Nós dissemos pra ele se entregar porque o capitão queria falar com ele. Mas ele disse que o senhor vá buscar ele, se quiser.

Foi a conta! A testa de Lampião franziu-se, os lábios se comprimiram e, trilhando os dentes, falou: 

- Cachorro, pois vou buscar esse cão... 

E mandou que eu e Gavião o guiássemos até o local onde Sabiá se encontrava.

Sabiá estava ainda no mesmo lugar, como se nos esperasse. Quando já estávamos a uma boa distância, distância esta aconselhada pela prudência, eu e Gavião paramos, mas Lampião continuou andando no mesmo passo, sem se abalar e sem dar a menor importância a nós dois. 

Sabiá, ao vê-lo cada vez mais próximo, berrou: 

- Pare, capitão, que eu atiro... Pare! Pare! 

Lampião só parou a uns cinco metros da pedra. Segurava o fuzil com as duas mãos, na posição de soldado que se prepara para uma carga de baioneta. 

Eu e Gavião, à distância, estávamos admirados com o que víamos e, por mim, digo que julguei ter chegado o fim de Lampião, pois Sabiá era um rapaz valente.

VOCÊ NÃO ATIRA EM NINGUÉM

- Não avance nem mais um passo, capitão, que eu atiro! Ninguém vai me pegar!, dizia Sabiá.

Lampião olhou-o por um momento e, de repente, falou: 

- Você não atira em ninguém, menino. 

E avançou. Avançou resoluto, com Sabiá fazendo pontaria para ele. A todo instante eu esperava o estampido assassino do fuzil de Sabiá, mas o tiro não saiu. Frente a frente com Sabiá, Lampião gritou: 

- Atira, cachorro! Atira! 

E Sabiá não atirou... Pelo contrário, arriou o fuzil. Foi seu fim, pois Lampião, rápido, deu a coronha de seu fuzil na cara do rapaz, que rolou pelo chão, ensanguentado.

Eu e Gavião aproximamo-nos depressa do local e Lampião mandou que o levássemos a fazenda. Desarmei Sabiá e, eu de um lado e Gavião do outro, levamo-lo de volta, enquanto Lampião ia à frente, a passos rápidos. Sabiá estava tonto, com a boca arrebentada e todos os dentes da frente quebrados. Sangrava muito e vinha amparado por mim e Gavião.

Na fazenda, todos se acercaram de nós. Eu sabia que a coisa ia ter um trágico, pois Lampião estava furioso. Foi feito um círculo de gente e, no meio dele, Sabiá, ladeado por mim e Gavião, com Lampião na frente, que olhava sem afastar por um segundo sequer os olhos de Sabiá. Olhava-o com ódio, sem dizer nada, e o silêncio era completo, pois ninguém ousava falar. Sabiá mal se aguentava em pé. Estava vencido. Vencido e convencido.

Lampião, então, pôs-se a falar:

- Vais morrer porque não prestas, cão. É por causa dessas coisas que falam mal da gente por aí. Mas eu te dou um exemplo, pra todos saberem que o bando de Lampião tem vergonha.

FUZILADO

E, apontando para dois empregados da fazenda, ordenou: 

- Vocês dois aí, cavem um buraco para enterrar esse Cabra. 

Os homens obedeceram e, de enxada em punho, puseram-se a abrir a cova. Sabiá não falava, e tenho até a impressão de que não compreendia o que se passava.

Depois de alguns minutos, a cova pronta, isto é, dada como pronta por Lampião, apesar de não ter mais de dois palmos de profundidade, mandou ele, que os dois homens parassem e, apanhando uma “Berbere”, apontou para a cara de Sabiá, que nem moveu a cabeça. Quem estava atrás de Sabiá correu para se abrigar. Lampião fez a pontaria e gritou: 

- Vai-te pros infernos, cão! E deu no gatilho! 

Sabiá caiu morto, mas Lampião continuou a atirar. Houve quem contasse quinze tiros... Aquela expressão: 

- Vai-te pros infernos!” 

Era muito comum a Lampião, quando matava alguém naquelas condições. Saciada sua fúria assassina, Lampião ordenou aos dois empregados que abriram a cova:

- Joga este peste aí! Cachorro se enterra de qualquer jeito!

Mas a coisa não acabara ainda. Lampião virou-se para mim e Gavião e disse: 

- Vocês dois são os culpados, pois eu mandei vocês vigiarem Sabiá. Eu sabia que esse rapaz era malucão.

Enquanto falava, segurava ameaçadoramente sua “Berbere”, e eu senti que ele pretendia matar-nos. Mas eu não morreria como Sabiá, pus logo a mão no parabélum e respondi: 

- Nós estávamos tomando conta dele, mas ele fugiu. Que é que podíamos fazer? 

O fazendeiro, pai da moça, talvez horrorizado com o que assistiu, veio em nossa defesa dizendo que, de fato, ninguém deu pela coisa, pois Sabiá agira premeditadamente...

Todo mundo foi enganado, seu capitão... disse o fazendeiro.

Parecia que já tinha passado o ódio de Lampião, pois ele deu as coisas e afastou-se. Eu respirei aliviado. Sabia muito bem o que significava a sua frase: “Tanto faz matar um como mil”. Ele não parece ter ficado zangado comigo, pois no dia seguinte já me dava ordens. Aliás, a morte de Sabiá foi dramática, mas não foi a única motivada por estupro. Outros “cabras” encontraram o mesmo fim, uns nas mãos de Lampião diretamente, e outros nem essa chance tiveram, pois Virgulino mandou que outros os exterminassem.

Fonte: Jornal O GLOBO
Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador do Grupo)


 Fonte: facebook
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SENSACIONAL A NARRATIVA DA TRAGÉDIA DO 'DURO', PELA ÍMPAR

Por Sálvio Siqueira

SENSACIONAL A NARRATIVA DA TRAGÉDIA DO 'DURO', PELA ÍMPAR FORMA DE CONTAR OS FATOS DO ILUSTRE AMIGO Manoel Severo Barbosa, ONDE CHEGAMOS A "OUVIR", "SENTIR", E 'CAÍMOS', ADENTRAMOS, À PARTICIPAÇÃO EM NOSSA IMAGINAÇÃO, SUPER ATIVADA PELO GRANDE NARRADOR. MARAVILHA!! ARREBENTOU, COMO SEMPRE, ILUSTRE MESTRE.


Não bastou um só tiro para tirar a vida do coronel. Ao ser baleado o velho coronel Joaquim Wolney despencou do cavalo. Estava lúcido. Seus olhos brilhavam. Osmilitares assassinos não perderam tempo. Puxaram seus punhais e deram-lhe quatorze punhaladas. A voz do patriarca cala de repente. O coronel Joaquim Wolney estava morto. O saque é feito. Em um dos bolsos do gibão é encontrada a vultosa quantia de 30 contos de réis. A volante sanguinária retorna. Carregam numa rede os corpos dos dois cadáveres. E, segundo registros contidos no livro de Nertan Macedo, Abílio Wolney, pagina 45, prendem um irmão (Wolney Filho) e um sobrinho, ainda menor de idade (Oscar Wolney Leal), e ainda Voltaire Ayres Cavalcante.Todos os que fizeram parte daquela macabra missão foram assassinos. Porém, a história registra como verdadeiros matadores o cabo Justiniano Ferraz e o anspeçada Marcelino Néri que foram posteriormente assassinados. Uma tragédia acontecera. Outra estaria por chegar.

Abílio consegue fugir. É tenazmente perseguido. Homizia-se na Bahia. Ali têm muitos e influentes amigos. Solicita ajuda de dois poderosos chefes de jagunços, Roberto Dourado e Abílio Araújo. É formado, então, um exército de jagunços. Marcham sobre o Duro. É a hora da desforra e da vingança. A morte do velho Wolney não ficaria sem uma dura resposta. O juiz Calmon é esperto e treiteiro. Sabe o que lhe espera. Termina o processo e deixa a povoação. As informações que chegam ao Duro são estarrecedoras. Amedrontados, os policiais procuram meios para intimidar os agressores que já se encontram no Buracão. Os Abílio (Wolney e Araújo) e Roberto Dourado estão de bote armado. O Duro será inevitavelmente invadido e os militares trucidados. A desgraça ronda o lugarejo. Um rio de sangue irá correr.Os do governo, acovardados e impotentes, tomam uma estarrecedora e tenebrosa providência. Aprisionar e amarrar num tronco (antigo objeto de tortura usado pelos senhores das senzalas contra os escravos) o major João Batista Leal (Janjão), cunhado de Abílio Wolney; o capitão Benedito Pinto de Cerqueira Póvoa, seu filho João Pinto Póvoa (Joca); o capitão João Rodrigues de Santana e seu filho Salvador; ainda Wolney Filho, irmão de Abílio que estudava no Rio de Janeiro.

O tronco estava fincado no sobrado onde a polícia havia se aquartelado. Num quarto, no mesmo casarão, estavam presos Messias Camelo, sobrinho de Benedito Póvoa; Nilo Rodrigues de Santana e Nazário Bomfim, filho-agregado de João Rodrigues.Apenas sete pessoas podiam ficar aprisionadas no tronco, motivo pelo qual o capitão Benedito Póvoa foi substituído daquele instrumento de tortura por Messias Camelo Rocha.O terror dominara por completo aquele triste lugar. O desespero destroçava até os mais negros corações. Dona Ana Custódia, irmã de Abílio e de Wolnei, esposa do capitão João Batista e mãe do jovem Oscar; está em estado de choque. Enlouquecida de tanto sofrimento e agonia, monta num cavalo e corre, aflita, para o Buracão. Seu irmão terá que salvar os seus entes queridos da medonha morte que os espera. Dona Ana não tem êxito em seu aflitivo pedido. O irmão não pode decidir sozinho. Agora tudo terá que passar pelo crivo dos outros dois chefes. Abílio Araújo e Roberto Dourado se negam em mudar os planos de ataque. Agoniada, a mãe e esposa se revoltam com o irmão, e num gesto de supremo sofrimento, puxa um revolver que trazia escondido na saia e aponta-o para o corpo do mano. Rápidos, os jagunços agarram-na, impedindo-a do gesto extremo.

Chega o dia do ataque: 16 de janeiro de 1919. A jagunçada estar entusiasmada e sedenta, louca e faminta. O que mais deseja é matar, ver a terra empapada de sangue, saquear e roubar o que for encontrado pela frente. Roberto Dourado avança pela pracinha. Está indo para o sobrado. A sua intenção é libertar os prisioneiros e os que estão amarrados no tronco. Duas feras da polícia goiana vigiam os detentos, são eles o cabo José Lourenço d’Abadia e o soldado Pedro Francisco da Cruz que diante do ataque iminente dos jagunços se preparam para fuzilar os presos, no que é impedido pelo alferes Ulisses. E a jagunçada ataca ferozmente. Debocham da soldadesca. Chamam os do governo para a luta como se os mesmos fossem pintinhos. O que se escuta é o piu, piu, piu, atemorizante dos capangas, convidando os militares para o medonho e encarniçado corpo a corpo.

Família Wolney:

1. Wolney Filho (morreu em 1919 na chacina dos nove era um dos reféns);
2. Josefa (Nenzinha) esposa de Abílio Wolney;
3. Cel. Joaquim Ayres Cavalcante Wolney (morreu na véspera da chacina);
4. Maria Jovita (mariazinha) esposa do cel. Joaquim Ayres Cavalcante Wolney;
5. Ana Custódia Leal Wolney esposa de Janjão, irmã de Abílio e Wolney Filho;
6. Janjão (morreu no tronco em 1919 na chacina dos nove era um dos reféns);
7. Edmundo (filho de Janjão e Ana Custódia);
8. Oscarzinho (filho de Janjão e Ana Custódia, morreu no tronco );
9. Mireta esposa de João Correia de Mello;
10. Jaime (filho de Abílio Wolney)
11. Diana Póvoa;
12. Palmira;
13. Diana Wolney;
14. Josélia e
15. Wolney Neto (filho de Janjão e Ana Custódia).

O nunca imaginado acontece. São três horas da tarde. A tropa está perdida. A fúria dos jagunços é incontrolável. Então, o alferes Ulisses dá uma inacreditável e medonha ordem. Executar os que estão presos no tronco. Os sanguinários José Lourenço d’Abadia e Pedro Francisco da Cruz são os executores da macabra sentença. Entram no quarto onde está o objeto de suplício e o massacre é indescritível. Cada um dos prisioneiros recebe tiros na cabeça, no coração e na barriga. Ainda era pouco, são sangrados de faca e baioneta.

O filho de Dona Ana Custódia (Oscar Wolney) que estava preso em um dos quartos do sobrado foi executado pelo alferes Catulino. Consumada a grande tragédia os militares correram. A debandada foi geral. Alguns, na ânsia de salvar-se da sanha assassina dos invasores, se vestem de mulher e fogem mataria adentro. Correm. Correm. Pulam cercas e valados. Desaparecem nas brenhas. Na terra ensanguentada da pracinha do Duro ficaram os corpos mutilados e sem vida de João Rodrigues de Santana, Salvador Rodrigues de Santana, Nilo Rodrigues de Santana, Nazário Bomfim, Benedito Pinto de Cerqueira Póvoa, seu filho João Pinto Póvoa (Joca), Messias Camelo Rocha, João Batista Leal (Janjão) e Wolney Filho.A tragédia do Duro é uma das maiores do Brasil.

O sangue de seus mártires que ali pereceram serviram de adubo para a criação desta comovedora história. No local da chacina foi construída uma humilde casa de oração. O povo dos Gerais. Os moradores do Duro. Os familiares e os patrícios chamavam aquele sagrado lugar de “Capelinha dos nove”.A história sangrenta do Duro nasceu da força, poder e valentia dos coronéis. Do arbítrio, arrogância e brutalidade de militares sanguinolentos e de uma justiça capenga e mal intencionada. Também da barbárie de ferozes jagunços que não temiam os perigos e brincavam com a morte e do sangue e martírio de seres humanos que viviam a mercê de tantos desmandos e injustiças de um Brasil sem lei.
Alcino Alves Costa no blog do Cariri Cangaço !!!



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O SOBRADO DE BELÉM DO BREJO DO CRUZ PB E, JESUÍNO BRILHANTE...!

Por Epitácio de Andrade Filho

Construção arquitetônica do século XIX, o sobrado de Belém do Brejo do Cruz, na microrregião do Catolé do Rocha, no Sertão Paraibano, também é guardião de parte da história do legendário cangaceiro Jesuíno Brilhante (1844-79), morto nas proximidades, em fatídica emboscada comandada pelo cabo Preto Limão, no Serrote da Tropa, na Comunidade Rural Santo Antônio, margens do Riacho dos Porcos, no vizinho município de São José de Brejo do Cruz, terra natal do cantor Zé Ramalho.

Abandonado há vários anos, a relíquia imperial de fantásticas estórias, contadas de geração para geração, mantém-se como testemunha da história do sertão, resistindo às intempéries no meio da caatinga.


O poeta José Augusto Araújo, em “De Grão em Grão, Belém é Contado”, registrou em versos a sua existência: “Logo depois o Sobrado/A mais velha construção/Que desejamos um dia/O tempo dá solução,/E das ruínas nascer/Um sobrado de lição”.

O cordelista Augusto Araújo, das glebas do Patu, também registrou a vizinhança do velho sobrado, com o lugar de nascimento do famanaz Jesuíno Brilhante: “Seus vizinhos são assim:/Ao leste Jucurutu/Que pouco temos contato,/Diferente de Patu/Que costumamos dá as mãos/Lá no sítio Tuiuiú”.


Filho do belenense Epitácio Andrade, autor de “A Saga dos Limões – Negritude no Enfrentamento ao Cangaço de Jesuíno Brilhante”, conclui lançando um apelo: “Salvemos o Sobrado do Belém!”

Texto: Epitácio de Andrade Filho, Médico Psiquiatra e Pesquisador Social.
Fonte: Blog Patu em Foco (Claudiomar Dantas)

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A INDÚSTRIA DO CANGAÇO

 Por Raul Meneleu Mascarenhas

Será que Lampião foi um marionete nas mãos dos coronéis do Nordeste? Para sabermos a resposta temos que analisar criteriosamente a origem e as atividades de Virgulino Ferreira. Precisamos enxergar o mito que foi criado como sendo Lampião um cangaceiro oriundo da miséria social que se abatia nos sertões nordestinos. Os pais dele não eram pessoas miseráveis e tampouco passavam fome.

Muitas pessoas ainda hoje pensam que Lampião era um bandido pobre, talvez por não conhecerem sua verve de comerciante e empreendedor, quando rapazinho e negociava nas feiras das cidades próximas de onde morava. Era sim, filho de uma família da classe dos humildes proprietários rurais, situada entre os ricos donos de terras, fazendeiros poderosos e de uma massa de lavradores sem terra. Mas não eram pobres de "marré deci".

Quando jovem 'tomava de conta' da pequena criação de seu pai e depois participando da condução de mercadorias, em um pequeno empreendimento da família, que o pai ao adquirir mulas para transporte, trabalhava transportando gêneros variados para os comerciantes. Antes de ser conhecido como "Lampião", Virgulino Ferreira já rapazinho, juntamente com seus irmãos, incursionava em grupos de bandidos, assaltando os pequenos fazendeiros. Não entraremos em detalhes sobre sua querela com Zé Saturnino pois não foi isso que o encaminhou para o cangaço.

Essas peculiaridades pessoais ajudam a entendê-lo melhor quando enveredou no banditismo. Era um bandido que progrediu. Tornou-se grande proprietário e um homem de negócios organizado, levando-se em conta seu tipo de vida. Conta-se que no ano de 1928 associou-se ao coronel Petronilo de Alcântara Reis e comprou duas fazendas na Várzea da Ema, na Bahia. Poucos meses antes tinha vendido outra fazenda em Vila Bela. Quase no fim da vida adquiriu mais duas em Porto da Folha, perto de Angico, onde foi morto.

Seus parentes mais próximo, irmão e irmãs chegaram a comprar terras e residências nas cidades e é difícil saber se foram presenteados por Lampião ou usados como testas-de-ferro.

Lampião era um homem rico e possuía muito dinheiro e ouro. Dizem que ao morrer, carregava cem contos de reis, valor de três fazendas no Nordeste. Nos seus bornais encontravam-se cinco quilos de ouro e também dizem que estavam destinados a prover o futuro de sua filha com Maria Bonita. Além dessa fortuna, tinha muitas jóias como cordões e anéis de ouro.

Isso era parte de sua fortuna, que carregava costumeiramente. O grosso de seu capital, em ouro e dinheiro, enterrava em vários esconderijos, dentro de botijas. Um desses esconderijos ficava no Raso da Catarina, numa série de locais marcados por ele com o nome das notas musicais cifradas cuidadosamente em mapas que se combinavam e que muito serviram em sua fuga para a Bahia.

Ele entesourava riquezas através de roubos e assaltos. Mas Lampião revelou talento empresarial. Foi, por exemplo, fornecedor de outras quadrilhas. Revendia armas compradas de traficantes comuns, com cem por cento de lucro. Isso criou inclusive uma dependência econômica de alguns chefes de bando inclusive gerando queixas por sua exploração.

O mais exótico empreendimento comercial de Lampião foi a sua entrada no ramo de transportes. Acabou fundando uma companhia de caminhões e automóveis, que lhe deu bons lucros. Fornecia o capital para a compra dos veículos e os sócios cuidavam da administração. Retiravam o necessário para a continuidade da empresa e dividiam o lucro com ele. Muita gente ficou feliz com sua morte pois não tinha nada registrado no papel e apenas seus sócios andavam direitinho, com medo de perderem a vida.

Lampião também empreendeu os famosos  salvo-condutos, transformando esse expediente como altamente rendoso, a ponto dele encomendar ao mascate-cineasta Benjamin Abrão a confecção de centenas de cartões de visitas, usados para esse fim.

Investiu também numa frota de canoas que faziam a travessia do rio São Francisco, usando o mesmo processo de aliciar sócios. Pessoalmente, esses fatos diferenciam Lampião de seu grupo social de origem. Foi um cangaceiro-empresário bem-sucedido.

Mas nada o distingue tanto desse meio, que hipoteticamente tinha nele o representante de sua revolta, como o fato sabido e consagrado de que ele jamais matou alguém realmente importante. Havia um compromisso rigorosamente observado entre cangaceiros e coronéis para que isso não quebrasse o pacto estabelecido entre eles. O deputado Floro Bartolomeu, falando na Câmara Federal, amenizou o cangaço destacando justamente o fato de que não matava gente de "posição":

"...no sertão é raro um homem de posição ser assassinado, mesmo de emboscada, nas estradas desertas; sempre estes fatos ocorrem entre os cabras, cangaceiros ou não, gente que não faz falta." Em pronunciamento na Câmara dos Deputados.

O cumprimento fiel desse pacto, aliado a um terrorismo implacável como meio de controle social, fez de Lampião um bandido de sucesso.

Conforme registra em seu livro "A derradeira gesta" a escritora, antropóloga, professora e historiadora
Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros mostra-nos que a origem e as atividades de Virgulino Ferreira, o Lampião, destrói o mito do cangaceiro como expressão da miséria social e transforma o mais importante símbolo do banditismo rural do país em um braço direito dos coronéis.

A pesquisadora também defende que seu assassinato, em 1938, foi motivado por questões econômicas que envolviam a transferência das verbas de combate ao cangaço para a indústria açucareira do Nordeste.

Segundo a professora, Virgulino Ferreira vivia uma vida dupla, antes de se entregar definitivamente ao cangaço, em 1922. "Em Pensambuco. ele era um proprietário, com sua tropa de burro, e fazia comércio com a vizinhança" afirma. De acordo com Luitgarde. essa série de crimes em que Lampião se envolve, como invasões a cidades e troca de tiros, é o caminho que conduz seu pai à Morte. - Em 1921, Lampião vai com os Porcino para um lugarejo em Alagoas e ali eles matam um rapaz cego e promovem uma série de roubos. Escondem o dinheiro roubado em uma pequena fazenda próxima onde o pai dele estava vivendo, o que fez o coronel Lucena chegar ao local e que "... entrou atirando, esperando surpreender Lampião. Lucena acabou matando seu pai."

Com a morte do pai, Luitgarde de fende que Lampião apelou para o código sertanejo de vingança para justificar suas ações. "Essa legitimação dos próprios atos utilizando elementos da cultura sertaneja, como valentia e obrigação de vingança para limpar manchas desonrosas ou corrigir injustiças, foi amplamente utilizada por todos os cangaceiros, principalmente Lampião."

A partir de 1922. já com seu próprio bando, ele passa a envolver os coronéis que se tornam seus  grandes protetores. Entre eles, desembargadores, juízes de direito e altos industriais. Luitgarde destaca também a corrupção na policia. "Quando um destacamento policial ia perseguir os cangaceiros, eles eram avisados por membros corruptos e registra no texto nomes de juízes e políticos que recebiam o cangaceiro em suas residencias e o apoiavam para que suas fazendas fossem poupadas.

Alguns. como o governador de Sergipe Eronildes de Carvalho. chegaram a lhe fornecer armas. "Existem entrevistas em que Eronildes afirma ter dado uma pistola para ele, negando ter lhe vendido armamentos. Ele foi o principal coiteiro de Lampião", denuncia.

A relação de "amizade" entre Virgulino Ferreira e os grandes proprietários de terra é mostrada por Luitgarde como um jogo de interesses. O esquema fazia com que Lampião atacasse apenas os adversários de seus padrinhos. "Depois os grandes proprietários compravam por quase nada as terras dos concorrentes, arrasadas por ele. Assim, eles refazem o latifúndio do Nordeste".

Para Luitgarde. esse sistema de favores não beneficiava Lampião pois apenas alimentava a "indústria do cangaço". "Ele assaltava os pequenos e médios proprietários e esse dinheiro era usado para comprar amas, munição e polícia corrupta. Mas quem poderia vender armamento para ele sem ser punido? Só pessoas muito importantes tinham o monopólio do comércio com o cangaço. E como Lampião não poderia regatear preço com o governador, já que só este lhe poderia vender armas, era obrigado a continuar a vida de crimes para pagar os altos preços cobrados. Realmente Lampião que se julgava o Senhor dos Sertões, perdia feio para os Coronéis, que o usava com métodos maquiavélicos.

Alimentada por verbas do Governo Federal, essa "indústria" do banditismo chega ao fim em 1938, por questões econômicas, conforme afirma a professora. "Naquele ano, o presidente do Instituto do Açúcar e do Álcool. o pernambucano Barbosa Lima Sobrinho, informa aos governadores de Alagoas e Pernambuco que a verba para o subsídio da produção açucareira vinha sendo destinada ao combate ao cangaço, e que isso ia acabar. "Depois dessa notícia, o governador de Alagoas, Osman Loureiro, incumbe o coronel Lucena de comandar o extermínio do bando de Lampião em um período de um mês. Lucena convocou seus homens e afirmou que se eles não cumprissem a tarefa no prazo seriam demitidos. Em 30 dias acabou o cangaço".

Dessa forma os comandantes policiais imprensados por seus superiores, encerraram a carreira de Lampião em julho de 1938, na Grota de Angicos, Sergipe. Sem piedade na análise do cangaceiro, Luitgarde confessa a necessidade de se corrigir um erro histórico. "Ao contrário do que se acredita, no período de Lampião as populações pobres são as mais atingidas por seus atos, enquanto as classes que o protegiam ficavam cada vez mais ricas. Esses fatos ficaram obscuros porque quando se cria um mito a primeira coisa que a imprensa faz é esconder a verdade sobre sua vida!"

Mas análises como as de Luitgarde ainda não compõem a maioria dos estudos sobre Lampião e o banditismo rural nordestino, conforme comprova o sociólogo César Barreira, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador do Laboratório de Estudos da Violência. "Na academia, a interpretação da história de Lampião que ainda predomina é a do bandido social motivado pelo assassinato do pai e produto de uma sociedade com dificuldade de trabalho. O que ainda se discute é se a sua violência teve mesmo a natureza de atrocidade que lhe é atribuída e qual a participação da força policial na formação do cangaço", explica.

Barreira lembra que a maioria das pesquisas ainda vê ações positivas no cangaço. "Há um aspecto positivo nas ações de Lampião no momento em que sua violência representa a negação das condições sociais em que vivia. A ideia é que ele tenha tomado a orientação do banditismo porque a Justiça não agiu como devia na morte de seu pai. O que temos relacionada a ele é a construção de uma nova lei. A lei do cangaço".

Recentes pesquisas, contudo, apontam para a pluralidade de olhares: O antropólogo e pesquisador Jorge Villela, co-autor de "Andarilhos e cangaceiros - A arte de produzir território em movimento", desenvolve atualmente uma tese de doutorado pelo Museu Nacional, no Rio de Janeiro, onde analisa a formação do cangaço a partir da relação entre as famílias locais e a violência. "Analisando os exércitos privados formados no interior de Pernambuco, encontrei evidências de que eles são na verdade grupos de origem familiar que em função de terem cometido algum crime ou afronta caem na ilegalidade, podendo migrar ou se transformar em cangaceiros, entregando-se então ao uso das armas".

Sem se preocupar em estabelecer opiniões definitivas, Villela admite que a imagem do principal membro do cangaço ainda está sujeita a interpretações. "Os povos vitimados pelo cangaço vêem Lampião como qualquer inimigo dele veria. Alguém sem qualidades, cruel e impiedoso. Há análises dele como independente dos coronéis. O ponto de vista muda. O que não se pode negar é o valor que a vida possui no sertão, já que alguém é capaz de arriscar seus bens para vingar um aliado morto".

Locais de pesquisa para o artigo:
Civitas - Revista de Ciências Sociais
Jornal do Brasil
A derradeira gesta: Lampião e nazarenos guerreando no sertão - Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros

http://meneleu.blogspot.com.br/2016/03/a-industria-do-cangaco.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

SILVINO JACQUES, O ÚLTIMO DOS GRANDES BANDOLEIROS. TOMBA O TERROR DOS SERTÕES DE MATO GROSSO! ENCONTRADO O CADÁVER DE SILVINO JACQUES, ESTENDIDO NUMA REDE E COM O TÓRAX ATRAVESSADO POR TRÊS BALAS

Material do acervo do pesquisador Antonio Corrêa Sobrinho
Imagem de Silvino Jacques, utilizada pelo Jornal para ilustrar a matéria


Uma metralhadora entre as armas do facínora – Tentam internar-se no Paraguai os remanescentes do bando terrível.

CUIABÁ 26 (M) – O pelotão de cavalaria da Força Pública do Estado, organizado para dar combate ao bandoleiro Silvino Jacques, travou combate no dia 19 do corrente com os bandidos, na região de Triunfo, entre os municípios de Murtinho e Bela Vista. Do combate, resultou saírem feridos vários elementos do bando, inclusive Silvino Jacques. Agora, procedendo a reconhecimento no local do combate, a polícia encontrou morto o próprio Silvino. O cadáver do conhecido facínora estava estendido em uma rede, coberto com um puitã. O delegado especial do Sul, encarregado da campanha contra o banditismo na fronteira, mandou reconhecer o cadáver e lavrar o competente auto, tendo constatado que Silvino recebeu três tiros mortais na região do tórax. A polícia apreendeu uma metralhadora piripipi, vários mosquetões e (...)

ATÉ BALAS DUNDUM USAVA SILVINO JACQUES

O FAMOSO BANDOLEIRO PREPARAVA SEUS ASSECLAS PARA VERDADEIRAS BATALHAS

Reação organizada pelo Exército – A tática do general José Pessoa vitoriosa com a morte da fera humana – O GLOBO ouve o ilustre militar – Prisão do pai e da esposa do “rei do cangaço” no Oeste

Filho de um açougueiro radicado em Aquidauana, Silvino Jacques conseguiu celebrizar-se por uma macabra campanha de crime, rapina e degradação, depois de lhe terem sido oferecidos os meios de se tornar útil à humanidade, de se mirar no espelho da bravura e dos grandes exemplos de que o Exército do Brasil é fértil, fazendo um curso na Escola de Sargentos, nesta capital. Seria tarefa das mais difíceis conseguir explicar, à luz da psicologia, a transformação sofrida pelo espírito desse homem, que teve um são princípio e se transformou em poucos anos no alvo de populações inermes, no salteador covarde que atacava à noite as fazendas sem defesa, no bandido que atassalhava a honra das famílias, como um vulgaríssimo ladrão de mulheres, na personalidade, enfim, do criminoso completo, que não via obstáculos à consecução dos seus macabros desígnios.

Durante mais de uma década, o sertão de Mato Grosso viveu em estado de permanente alarme, de receio continuado, dessa personagem sem entranhas, desse homem sem o menor sentimento de humanidade. Regiões inteiras, no raio de muitas léguas, viveram dias e noites de permanente pânico, à espera do ataque noturno do bandido.

Silvino Jacques está morto. Foi, finalmente, vencido no seu próprio reduto, depois de mais de dez anos de luta permanente, de fugas, pontilhando de sangue rubro os caminhos da sua passagem.

A CAMPANHA DA DERROTA

Silvino Jacques teve duas grandes campanhas, em toda a sua longa vida de bandoleiro: uma de vitórias e outra de derrotas. Agora, acaba de sucumbir à segunda, iniciada há apenas, alguns meses. Foi, porém, vencido pelo inimigo que sempre temeu e de que fugiu durante toda a vida: o Exército.

Acuado no pantanal, já reduzido o afetivo dos seus sequazes a dezesseis homens, não teve como resistir à patrulha que o perseguia e esperava na serra, como a retirada fechada pela enchente do rio Paraguai, a impedir-lhe a passagem para a fronteira e a liberdade em país estrangeiro.

O INÍCIO DA CAMPANHA

A campanha contra Silvino Jacques iniciou-se, virtualmente, com a nomeação do general José Pessoa para o comando da 9ª Região Militar. Conhecedor profundo da situação de pânico da população do Estado, com as populações permanentemente ameaçadas pelo flagelo, os lares atacados, as famílias inseguras, o comandante da região, estabeleceu um programa de ação. E o Exército sob o seu comando entraria, na paz, num serviço de guerra sem tréguas aos perturbadores da segurança pública.

QUEM FOI SILVINO JACQUES

O público ainda deve estar lembrando das primeiras notícias aparecidas na imprensa sobre Silvino Jacques. Àquela época, seguido de numeroso séquito de bandidos ele desafiava as autoridades de Mato Grosso, semeando o pânico em quase todo o Estado, principalmente na zona sul, onde tiveram início as suas tropelias. Fizeram-se, então, paralelos entre ele e Lampião, que continuava no Nordeste o seu reinado de terror. Silvino resultara pior e mais brutal nesse cotejo. Não havia a seu favor nem a simpática explicação dada aos cangaceiros do Nordeste – de Cabeleiro lino – de serem vítimas de uma injustiça obrigados, pela perseguição da politicagem, à vida errante e criminosa. Enquanto no Nordeste o cancioneiro popular revelando virtudes que descobriam nos “fora da lei”, os celebrava, Silvino que se fizera bandido simplesmente pela maldade de suas ambições sanguinárias ficava desconhecido e ignorado a esta simpática mestiça. Os cantadores não o celebraram nunca, apesar de ele mesmo, admirador de todos os versos caboclos em que “Lampião” era exaltado nas suas façanhas tremendas, ter procurado a lira sertaneja para celebrar as suas proezas. Era repelido de todos. O seu nome só infundia pavor. Fazendas, sítios e cidades, à proporção que aumentava a sua malta e maior se fazia o seu atrevimento, sofreram os saques covardes e desalmados do bando que dirigia e para o qual propriedade, honra e velhice nada valiam. Para “Lampião” havia a hipótese de que fazia a justiça dos fracos. A favor de Silvino Jacques nunca se levantou uma palavra de defesa. Ele era simplesmente bandido, matando, saqueando, destruindo. Atrás de seus passos ficavam os gritos de suas vítimas apelando para o Governo no sentido de que fosse perseguido o bandido. A campanha começa, depois de alguns meses de suas razias. Silvino Jacques já estava, então, suficientemente armado e audacioso, não rareando, assim, enfrentar as forças policiais. Estas pareciam impotentes contra ele. O Exército, porém, foi chamado para destroçar o grupo sinistro. Tropas federais caíram-lhe no encalço. Algum tempo depois Silvino Jacques se viu atirado nos pântanos de Mato Grosso. Dia a dia apertava-se o cerco. Já faltavam armas e munições, além de víveres, ao grupo de bandoleiros, reduzido, também, em número. Praticamente se de desfizera, restando-lhe, apenas, a fuga para o Paraguai. O Exército a esta altura retirou-se deixando às forças do estado o fim da campanha. O telegrama que acabamos de receber de Cuiabá nos diz da atividade da polícia mato-grossense. Na última luta travada com os bandidos Silvino Jacques foi ferido e morto. Desaparecera, assim, odiado por todos, o bandido. Ao contrário do que ele quis, não há versos que lembrem a brutalidade dos seus instintos selvagens, os seus grosseiros desejos de fera.

DESARMAMENTO GERAL

De início, o comandante da 9ª Região Militar estabeleceu um programa; era necessário desarmar completamente as populações civis, que, desde 1922, eram servidas de armas do próprio exército. Nas fazendas e residências particulares existiam armamentos para várias divisões de infantaria. E o pior é que esse mesmo armamento servia como garantia dos coiteiros do grande bandido, políticos que dele se utilizavam para as suas negregadas campanhas de morticínios.

A princípio, foram desarmadas as populações urbanas. Depois, uma proclamação feita em termos os mais veementes, assinada pelo general Pessoa, foi distribuída por todo o território do Estado. Houve, como era de se esperar, as primeiras relutâncias. A ordem, porém, partiu fulminante. “Se necessário fosse, seria empregada a força em apoio do direito”. E os oficiais, sob o comando do general, em pouco regressavam à sede da Região com os caminhões carregados de armas de todos os tipos; munição a mais variada, pois até balas dum-dum foram apreendidas nas casas dos coiteiros do bandoleiro. E centenas de metralhadoras, fuzis-metralhadoras, fuzis, pistolas, revolveres, tudo aos milhares, não sendo recambiado de Mato Grosso para esta capital, numa demonstração viva da seção vigilante do Exército no grande Estado.

DESMORALIZAÇÃO DO BANDIDO

Iniciava-se, assim, a campanha contra o bandido. Os seus amigos, todos influentes, iam sendo desmoralizados, porque a força, mantida durante anos inteiros à custa de um armamento eficiente, lhe desaparecia das mãos.

Silvino não encontrava mais, nas fazendas dos seus coiteiros, as armas e os homens de que carecia para as suas campanhas de destruição. Nos seus avanços contra os povoados, já não contava mais com o apoio eficiente que sempre lhe facilitava a organização das batalhas que travava com as populações indefesas. O seu quartel Federal em Bonito, no sul do Estado, ia-se esvaziando. Desmoralizava-se aos olhos do povo, que sempre o temeu.

PRESO ATÉ O PAI

Num dos últimos embates, as forças comandadas em pessoa pelo general que dirigia a campanha conseguiam uma das mais expressivas vitórias. Foram presos mais de trinta bandoleiros e, entre eles, o próprio pai do salteador. Nessa ocasião, foram presas as duas mulheres que acompanhava o bando: as esposas de Silvino e do seu ajudante de campo, um antigo oficial paraguaio, expulso do Exército daquele país, que se filiara ao bando. Com elas, mais três jovens, sequestradas pelos bandoleiros em ataques a localidades do sul. (...) Ficou reduzido a apenas dezessete acompanhantes, número irrisório a que se limitava o seu séquito de criminosos.

A DERROCADA

Ao mesmo tempo que os combates se travavam e o bandido perdia terreno, uma nova obra iniciava-se entre as populações até então descrestes e desesperançadas do sucesso das armas federais.
Estavam habituados os civis a assistir cenas dolorosas de barbaria, ante a impossibilidade em que se encontrava a polícia estadual de combater eficientemente o banditismo. Viam os civis, todos os anos, chegar o bando nos últimos meses e entrar a assaltar, trucidar, matar covardemente homens indefesos, roubar o gado, o dinheiro, os cavalos e as mulheres, para internar-se, depois, no Paraguai e na Bolívia, para gozar, o resto do ano, a impunidade em que sempre viviam, acobertados pela falta de policiamento eficiente, dos sertões do sul.

Agora, a situação transformava-se. O desafogo que a segurança permitia apoderava-se de todos. Os povoados já sentiam os movimentos livres para o trabalho útil e o reconhecimento à obra magnifica do general José Pessoa já se fazia sentir.

Em Bonito, por assim dizer o quartel general do bandoleiro, a população reconhecida junta-se ao contingente do Exército, no afã de auxiliar a tropa no seu trabalho civilizador. À noite, o policiamento da vila era feito pelos próprios moradores. No campo de aviação que o general ali resolvera estabelecer já trabalhavam os civis, que desejavam demonstrar o seu reconhecimento pela obra do comandante da Região. E ao inaugurar-se o campo, foi batizado com o seu nome.

BANDIDO ESTRATÉGICO...

Na figura terrível desse malfeitor que tombou varado pelas balas da lei, há traços singulares. Se uma comparação errada foi feita a seu respeito, esta será a de “Lampião” do Mato Grosso. Silvino Jacques era outra espécie de homem, outra espécie de bandido, outra espécie de aventureiro. Só havia um ponto de contato entre ele e aquele que o antecedeu ao túmulo: - a perversidade. Aí, o páreo realmente seria difícil. No mais pareciam-se tanto como a água e o azeite. 

Enquanto o bandoleiro das caatingas do Nordeste se protegia pelas defesas naturais da região em que vivia, onde o ataque se tornava quase impossível, Silvino Jacques se revelou, durante os anos trágicos em que escreveu sua página de sangue nos sertões de Mato Grosso, um estratégico. Pode-se lhe negar tudo, menos essa qualidade. Sargento do Exército, aprendera a arte das guerrilhas e de pouco em pouco, de aldeia em aldeia, pulando daqui para ali, sabia como se livrar do cerco.
LEGIÕES DE GADO

Seus ataques às fazendas e aos povoados não era obra improvisada em minutos. Estudava os detalhes, distribuía os seus homens, avaliava os riscos e as probabilidades de fracasso. Só então se lançava como uma onça sobre os infelizes habitantes. Nesses momentos, mudava completamente. Seus olhos, que em outras ocasiões eram olhos ternos como de um carneiro, segundo relatam aqueles que com ele conviveram, se transformavam em olhos ferozes.

Era um homem sedento de sangue, uma besta humana. Nem “Lampião” talvez o ultrapasse na explosão desses instintos horrorosos.
Acabada a luta, terminadas as execuções, voltava a ser o sujeito prático, que matava por prazer e ambições. E atrás dele, na retirada, seguiam legiões de gado.

SENHOR DE TODA UMA CIDADE

O apogeu da fama, Silvino Jacques reconheceu na cidade do Peixe, em Mato Grosso. Invadindo essa localidade, o bandido dominou-a inteiramente durante dois meses, só abandonando pelo seu espírito de itinerante, para ir buscar novos gados. Tinha Silvino Jaques muito do famoso corsário Morgan, apenas sem a figura legendária do pirata inglês. Não conseguiu a popularidade de “Lampião”, e este devia ser seu maior tormento. Dizem que lia avidamente, desde a sua infância no Rio Grande do Sul, onde nasceu, até sua estada na Escola de Sargentos desta capital, todos os livros de modinha sobre o rei do cangaço nordestino, pondo em prática as suas barbaridades.

A estas horas, os dois devem estar comentando, no fogo eterno, as suas tétricas façanhas...

Esperava o general a aproximação dos primeiros dias de maio para conseguir a derrocada completa do bandido. As suas tropas já haviam conseguido, nos embates anteriores, levar o inimigo de vencida até o Pantanal, onde o sitiavam. Acompanhava a tropa um contingente da Polícia do Estado, já agora adestrada no combate ao bandido.

Esperava-se o fenômeno climatérico das enchentes do rio Paraguai, que forçariam a retirada do bandido. Restava a expectativa paciente e vigilante, para não permitir uma retirada hábil de Silvino Jacques.

Essa expectativa coroou-se de êxito no dia 19, dentro das previsões do general, que já se retirara para esta capital, mas que acompanhava, com o coração, o movimento do contingente policial, que lá ficara, substituindo o grupo de soldados do Exército, cujo desengajamento estaria próximo.

SATISFEITO PELO POVO

Hoje, o general José Pessoa recebeu, por intermédio do GLOBO, a informação que os telegramas de Mato Grosso nos transmitiram. Silvino estava morto. Fora colhido na armadilha que preparara cuidadosamente.

Sua Excelência com o olhar longe, pensando certamente no povo a que se habituou a querer bem, teve uma expressão admirável:
- Sinto-me satisfeito, não pela morte desse bandido, mas pela liberdade que afinal pode usufruir o povo de Mato Grosso. Desapareceu, a meu ver, o maior flagelo daquela terra.

JORNAL “O GLOBO” – 26.05.1939

Fonte: facebook

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