Por José G. Diniz
Quero cantar meu sertão
A bela paisagem do campo'
Por José G. Diniz
Quero cantar meu sertão
A bela paisagem do campo'
Por Ernane Santana Santos
Nos anos de
1930, as famílias do sertão e do agreste nordestino viviam assombradas com
os ataques e as atrocidades praticadas por Lampião e
seus cangaceiros. As notícias corriam de boca em boca dando conta da audácia e
das estripulias dos bandidos, que mesmo perseguidos pela polícia,
percorriam os Estados nordestinos, já há uma década.
O imaginário
popular, a literatura de cordel, os violeiros e repentistas enalteciam seus
feitos, relatando sua trajetória de fora da lei ou de vingador dos
sertões. Quase sempre era elevado à categoria de herói do povo
nordestino, impressionado com suas façanhas e astúcias para conseguir enganar as
forças policiais.
Foi ao
amanhecer do dia 28 de julho de 1938, que Lampião foi emboscado, após
ser traído por um dos seus coiteiros, segundo alguns
historiadores. Assim, Lampião, Maria Bonita e parte do seu bando sucumbiram aos
tiros de metralhadora disparados pela volante policial alagoana
comandada pelo tenente João Bezerra, numa grota existente na Fazenda
Angicos, na margem do Rio São Francisco, município de Porto da Folha em
Sergipe.
Todos tiveram
suas cabeças decepadas a golpe de facão e colocadas em latas contendo
querosene. Esse troféu macabro foi exposto ao público de várias
cidades alagoanas, antes de chegar à Maceió, onde foram levadas ao
Instituto Médico Legal Estácio de Lima para comprovação da identidade dos
mortos.
As rádios transmitiam diariamente o ocorrido e os jornais estampavam em suas primeiras páginas as fotografias das cabeças decepadas dos cangaceiros. Todos queriam comprar o jornal como lembrança e para saber dos detalhes da empreitada que culminou com a morte e o esfacelamento do bando. Não havia jornal para todos.
Colônia
Leopoldina
Em 1938,
Leopoldina era uma pequena cidade cortada por umas poucas ruas de barro batido.
A Rua 15 de Novembro, mesmo sendo a principal artéria da cidade,
também não tinha pavimento.
Nessa rua
morava meu avô materno, o comerciante e agricultor Francisco Santana, mais
conhecido como Chiquito. Proprietário de fazendas e negociante de secos e
molhados. Também era dele uns quartinhos de duas portas e apenas uma
janela, que eram alugados aos bodegueiros, sapateiros, tamanqueiros,
barbeiros e vendeiros.
O juiz
municipal, Dr. Jerônimo Accioly Lins, mais conhecido como Dr. Gila,
era auxiliado pelo oficial de justiça Pedro José de Souza, o
polivalente Pedro Alfenim, que também era o único coveiro da
cidade, fabricante dos doces alfenins, feirante e dono do carrossel.
Foi exatamente
nesse período efervescente da histórica desarticulação do bando liderado
por Lampião que o inefável Pedro Alfenim teve a brilhante
ideia de procurar Chiquito para que ele lhe alugasse um de
seus quartinhos. Pedro expôs que queria o espaço por apenas um
domingo, para mostrar ao respeitável público da terrinha as famosas cabeças
dos cangaceiros.
Meu avô ouviu
a proposta e ficou desconfiado de que ali existia mais uma presepada
do Pedro, afinal já o conhecia de outras histórias e sabia do que ele
era capaz de fazer para defender alguns réis. Após alguma relutância
inicial, Chiquito foi convencido a alugar o imóvel.
O boato de
que Colônia Leopoldina iria receber espetáculo de tal magnitude, logo
correu pela boca do povo da cidade e da redondeza. Só se falava
no evento mórbido organizado pelo nosso Pedro Alfenim.
No domingo seguinte,
dia de feira, Colônia estava em ebulição. Era um acontecimento histórico.
A multidão ansiosa se aglomerava na porta da improvisada e minúscula casa de
show, querendo o início da função.
Pedro tocava o
seu realejo e anunciava em voz alta e estridente que logo
daria início a apresentação. Com essa conversa ia ganhando tempo para vender
os últimos ingressos. Era gente empurrando gente numa fila enorme formada na
rua principal da cidade. Os mais exaltados já ameaçavam abrir a porta
na marra.
Pedro segurou
a pressão até que o empurra-empurra ficou incontrolável. De repente,
as portas foram escancaradas, ao tempo em que o promotor do evento gritava:
— Avança minha
gente, venham ver as cabeças de Lampião e Maria
Bonitinha.
A correria
para entrar transformou-se num grande atropelo. Era gente gritando, aos
empurrões, com os mais fracos espremidos nas paredes e os
menores pisoteados.
Aproveitando a
esperada confusão, Pedro escapuliu, atravessando a ponte do Rio
Jacuípe em direção à Pernambuco, onde sua esposa já o esperava para
ficarem uma temporada longe da clientela.
Enquanto isso,
na salinha da Rua 15 de Novembro, os pagantes — depois de não
encontrarem cabeça alguma de cangaceiro — perceberam que tinham sido vítimas de
mais uma armação do coveiro. Quando a calma parecia ter sido
restabelecida, alguém gritou:
— Olha aqui as cabeças de Lampião e Maria
Bonita.
Foi
outro alvoroço. Mas logo se descobriu que Pedro havia se superado na
arte de pregar peças.
Conforme ele
anunciara e prometera, ali estavam as cabeças dos bandidos. O
detalhe é que eram as cabeças em fotos, que haviam sido estampadas nas
páginas do Jornal do Comércio e que agora estavam coladas na
parede.
Os espectadores enganados foram alvo de gozação na cidade por muito tempo. Chateados, prometeram se vingar daquela brincadeira que Pedro lhes havia pregado. Semanas depois, Pedro estava tranquilamente de volta para vender os alfenins, enterrar defunto morto e intimar gente a mando do Dr. Juiz de Direito.
*Publicado originalmente
no livro Encruzando Espadas, 2011.
https://www.historiadealagoas.com.br/as-cabecas-de-lampiao-e-maria-bonitinha.html
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Por João de Sousa Lima
"Há anos,
durante minhas pesquisas, em uma das visitas à Santa Brígida, fui com o irmão
de Maria Bonita, o senhor Ozéias Gomes de Oliveira, entrevistar o soldado João
Calunga. Foi João Calunga o homem que prendeu a Cangaceira Ana Bandida.
A conversa
entre nós três rendeu algumas horas, e quando solicitei os documentos de João
para fotografar, do meio da carteira caiu uma pequena fotografia de uma mulher
e quando perguntei quem era, ele falou que era de Maria Bonita antes de ser
Cangaceira. Junto com Ozéias ficamos por minutos apreciando a imagem e Ozéias
achou mesmo parecido com a irmã.
O João
perguntou se eu queria a fotografia e de imediato aceitei o presente.
Essa foto eu
disponibilizei para sair em alguns jornais e livros, outras pessoas divulgaram
a imagem sem citar a fonte de quem era.
Passamos em
torno de uns 13 a 15 anos divulgando essa imagem.
Em uma das
visitas a dona Hilda Gomes, irmã da Cangaceira Durvinha ela havia dito que
aquela moça da foto era irmã dela e não sei porque não me aprofundei na
informação. Em recente visita a minha amiga Marileide Gomes, no povoado Juá e
que é sobrinha da Cangaceira Durvinha, observei a tão falada fotografia exposta
em uma estante e quando a indaguei porque aquela imagem estava lá, ela me falou
que estava exatamente naquele local porquê era a mãe dela, a senhora Santina
Gomes de Sá, irmã da Cangaceira Durvalina Gomes de Sá.
Estava o
mistério desvendado, a foto que foi tão divulgada como sendo Maria Bonita, na
verdade é Santina Gomes de Sá irmã da Cangaceira Durvinha.
Quem utilizou
a imagem e repassou como sendo Maria Bonita, em outra oportunidade atualizem em
seus trabalhos essa informação e vamos em frente.
Cabe a nós,
pesquisadores sérios e comprometidos com a verdade, corrigir os erros e tentar
ao máximo nos aproximarmos da verdade.
Não há culpas
e nem culpados e aqui preservo a imagem do soldado João Calunga que pode ter
recebido a fotografia tendo essa informação, sem checar a veracidade e foi
assim que ele me repassou. Não creio, em hipótese alguma, que ele tenha usado
de má fé divulgando dessa forma a fotografia que me presenteou. Guardo a honra
e a memória do soldado como também a de Ozéias Gomes de Oliveira quanto às
informações, pois além da idade dos dois já avançadas na época, a análise que
fizemos no momento foi muito rápida e houve o engano para todos.
Sigamos então
o caminho da história e da verdade".
PAULO
AFONSO-BA, 12 DE ABRIL DE 2023.
JOÃO DE SOUZA,
ESCRITOR E PESQUISADOR.
MEMBRO DA
ABLAC (ACADEMIA DE ELTRAS E ARTES DO CANGAÇO).
MEMBRO DA SBEC
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DO CANGAÇO).
MEMBRO DA ALPA
(ACADEMIA DE LETRAS DE PAULO AFONSO).
PRESIDENTE DA
IGH (INSTITUTO GEOGRÁFICO DE PAULO AFONSO).
MEMBRO DA ASLA
(ACADEMIA SANTABRIGIDENSE DE LETRAS E ARTES).
https://www.facebook.com/groups/471177556686759/?multi_permalinks=1878184345986066%2C1874670286337472¬if_id=1712619647938938¬if_t=group_highlights&ref=notif
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O casamento entre primos foi e é tabu em boa parte do mundo ocidental.
Mas não no Brasil. Aqui, segundo o Artigo 1.521 do Código Civil, é proibido o casamento entre parentes colaterais até o terceiro grau – tio(a) e sobrinha(o) -, mas os chamados primos-primeiros são parentes em quarto grau. As culturas onde se aceita o casamento entre primos defendem os seus benefícios sociais e econômicos, tais como o fortalecimento dos laços familiares, a manutenção da riqueza na família ou o amparo em quadro de miséria.
Maria Bonita um caso entre muitos no cangaço, de casamento entre primos
Citemos o caso de Maria Gomes de Oliveira, a Maria Déa, Maria do Capitão, ou Maria Bonita como ficou mundialmente conhecida, nasceu na Bahia em 1911 numa família numerosa de homens e mulheres: Ananias, Oséias, José, Isaías, Arlindo; e mais Benedita, Antônia, Dorzinha, Chiquinha, Nana, Dondon e Deusinha.
Maria de Déa seguiu uma tradição social sertaneja de amor perigoso: casou com um primo chamado José Miguel da Silva, mais conhecido como Zé de Neném. Sapateiro de profissão, mais velho e com condições de sustentar uma família. Sua irmã, Dondon, fez o mesmo, casou com um tal de Cícero, também sapateiro e irmão de Zé de Neném.
As longas distâncias entre um lugar e outro, as dificuldades de locomoção e de sociabilidade, afinidades emotivas levavam à prática da endogamia recorrente nas relações conjugais, inclusive no cangaço.
Também há relatos que indicam mais sobre as inquietações da baianinha que viria ser a “Rainha do Cangaço”. Contam que, mesmo casada, Maria de Déa teve aventuras extraconjugais. O escritor Alcino Costa atribui à Maria Bonita um caso com comerciante de tecido de Santa Brígida.
“Um romance sigiloso, com o tal comerciante de nome João Maria, tão sigiloso que ainda hoje é negado pelos seus familiares”. Este suposto romance extraconjugal não é mencionado por nenhum outro escritor.
Sargento Exército José Mutti foi chefe de volante e casou com uma irmã de Maria Déa
O sargento do exército José Mutti, chefe de volante na Bahia, conheceu biblicamente Antônia Gomes, irmã de Maria Déa e com ela viveu e teve um filho que fez carreira nas Forças Armas. Mutti narra que conheceu Antônia através de Zé de Neném, que era festeiro, espécie de rufião nos bailes organizados por ele na Malhada da Caiçara.
Já descasada, como Maria de Déa conheceu Virgulino?
Há versões para todos os gostos e em prosa e verso. Mas segundo Oséias, seu irmão, Lampião frequentava sua casa. E o casal dançou e namorou, antes de Maria Déa tomar a decisão de seguir o novo amor, e nem a futura “rainha do Cangaço” entrou para a aventura bandoleira automaticamente.
Conta-se que entre 1929 até 1932, já convivendo com Lampião, permaneceu Maria em casas de coiteiros, familiares ou fazendeiros.
Por conta da Revolução de 1930, a repressão ao cangaço arrefeceu, as forças policiais estavam focadas no Litoral e Lampião aproveitou a oportunidade para adotar a própria mulher no bando e, por conseguinte, determinou que cangaceiros casados podiam trazer as mulheres o bando.
Maria Bonita e a presença feminina no cangaço causaram impacto. O primeiro deles: a maternidade. No primeiro casamento, devido à infertilidade de Zé de Neném, ter filhos estava fora de questão.
Relatam que Maria Bonita engravidou quatro vezes, mas só uma filha nasceu e que recebeu o nome Expedita. O parto foi assistido por uma senhora de nome dona Rosinha, e é atribuída a essa parturiente o fato de a criança ter sobrevivido, pois nos outros três partos não houve assistência alguma.
Maria Bonita não tinha bacia, diziam.
Maria Bonita foi descrita pelo Diário de Pernambuco como “Madame Pompadour” do Cangaço, uma definição de Benjamin Abraão. Na edição de 30 de julho de 1938, sobre os acontecimentos em Angico, inclui um parágrafo sobre Maria de Déa, que diz:
“Maria Bonita amava Lampião doidamente. Nunca o abandonava quando no combate. Com ele viveu, com ele morreu”.
Por fim, o relato do soldado José Panta de Godoy, da volante do aspirante Francisco Ferreira de Melo e que foi o carrasco de Maria Bonita. Diz ele:
- “Aí eu atirei nas costas dela e ela caiu; no que ela caiu, ela levantou-se; eu dei outro tiro na barriga dela, assim por trás, ela caiu e não levantou mais. O soldado Santo cortou a cabeça de Lampião, e depois me emprestou o facão para mim cortar a cabeça de Maria Bonita. Nisso nóis fiquemos levantando a saia dela com a boca do fuzil, pra vê a caçola que era incarnada”.
Como Lampião terminou seus dias todo mundo sabe. Mas como viveu e morreu Zé de Neném?
Zé de Neném, casado com Maria Bonita: organizador de bailes, casou depois com uma prima de Maria
O pouco que se sabe, Zé de Neném nunca sofreu assédio da polícia pelo fato de ter sido o ex-marido da “rainha do cangaço”; ele, que nunca chegou sequer a conhecer Lampião – arranjou outra mulher com quem casou: uma prima da própria Maria Déa, também frequentadora dos bailes organizados por ele. .
Relatam que deixou tudo para trás, casou novamente e reconstruiu sua vida; jamais deu entrevistas; migrou para São Paulo onde fez fortuna e virou industrial do ramo de calçados.
Fotos. Benjamim Abrão e de domínio público
Uma abordagem baseada em:
“Os Últimos Dias de Lampião e Maria Bonita”, de Victória Shorr.
Fonte: “Lampião Além da Versão, Mentiras e Mistérios de Angicos”, de Alcino Alves da Costa.
“Maria Bonita – Entre o Punhal e o Afeto”, de Nadja Claudino.
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