Nota oficial
do GECAPE- Grupo de Estudos do Cangaço de Pernambuco, em solidariedade ao
pesquisador e escritor Antônio Amaury Corrêa de Araújo, e em repúdio aos ataques
sofridos por este.
Nos últimos dias tem-se espalhado notícias através das redes sociais sobre a
tentativa de alguém querer desqualificar o pioneiro trabalho de pesquisas e
estudos iniciado há mais de 70 anos pelo notável pesquisador e escritor Antônio
Amaury Corrêa de Araújo, no que refere-se a trajetória histórica do Cangaço nos
sertões do Nordeste brasileiro.
Não quero - falo na 1a. pessoa do singular - ser repetitivo no que outros
colegas pesquisadores já disseram, porém, julgo necessário discorrer sobre
algumas coisas.
Dr. Antônio Amaury e dona Mocinha irmã de Lampião.
O doutor Antônio Amaury Corrêa de Araújo não obstante o fato de ser originário
da cidade paulistana de Boa Esperança do Sul trilhou um melhor caminho que
muitos nordestinos, e isto no que toca a sua formidável valorização da história
regional e Cultura nordestinas. Por que não dizer que o doutor Antônio Amaury -
paulista de nascimento, como já disse - tornou-se mais nordestino que muitos de
nós nordestinos e mais, que verdadeiramente ama a região Nordeste muitíssimo
mais que inúmeros conterrâneos nossos e oriundos dos nove estados que a compõe,
e isto através de suas atitudes e ações, e que de certo modo a desprezam?!
Dr. Antônio Amaury e o escritor Luiz Ruben.
O doutor Antônio Amaury - a quem tive o privilégio de conhecer há exatos 23
anos, em concorrido evento literário na antiga livraria Quinta do Livro, no
bairro da Boa Vista, Centro do Recife, na noite de domingo, 18 de maio de 1997,
quando lançou o livro O espinho do Quipá. Lampião, a história, escrito em
parceria com a jornalista sergipana Vera Ferreira - também é autor de mais de
uma dezena de livros importantíssimos e que integram a bibliografia
especializada do Cangaço.
Pesquisador Nasciso Dias e Dr. Antônio Amaury.
E no aspecto literário salientado por mim, o escritor e pesquisador Antônio
Amaury Corrêa de Araújo também deixou a marca do seu genial pioneirismo. Devo
citar, como exemplos, os magistrais Assim Morreu Lampião, publicado a primeira
vez em 1976 (edição bastante rara), pela Traço Editora, e ora na 4a.edição
revista e ampliada, e que notabiliza-se como sendo a obra que traz a mais
completa compilação de depoimentos orais colhidos aos personagens históricos
remanescentes da tragédia que se abateu sobre o bando de Lampião em particular
e o Cangaço em geral na grota da fazenda Angico, sertão de Sergipe, em 28 de
julho de 1938. Antes, porém, de citar a outra magistral e pioneira obra de Antônio
Amaury, acredito ser importante pontuar que, com base nas pesquisas e estudos
deste grande pesquisador, foi produzida em 1975 uma das históricas edições do
Globo Repórter e dentro da série Globo Repórter Documento, que foi o Último dia
de Lampião. Este foi um filme documental realizado com primazia, e além de ser
dirigido pelo conceituado ator, diretor e roteirista Maurice Capovilla, teve
como já salientei, a consultória histórica do doutor Antônio Amaury Corrêa de
Araújo.
Dr. Antônio Amaury e Pedro Motta Popoff.
O outro livro histórico, pioneiro e fundamental do notável pesquisador Antônio
Amaury é o Lampião, as mulheres e o Cangaço, publicado na sua 1a.edição em
1984, também pela Traço Editora, e ora na segunda ou terceira edição pela mesma
casa publicadora. Este livro é, a meu ver, o mais completo estudo sobre a
participação da mulher no universo cangaceiro, e serviu de base para os vários
outros trabalhos no gênero (não muitos, aliás), ou seja, a mulher no Cangaço e
que surgiram ao longo dos anos subsequentes.
Dr. Antônio Amaury e o escritor João de Sousa Lima
O doutor Antônio Amaury Corrêa de Araújo, pela longevidade de seus estudos e
pesquisas, como também pelo conjunto da vasta obra que produziu e publicou -
algumas delas em co-autoria com alguns prestigiados e talentosos pesquisadores
e estudiosos do fenômeno cíclico histórico e criminógeno, tais como a já
mencionada jornalista Vera Ferreira (neta do casal-mor de cangaceiros Lampião e
Maria Bonita); o médico cardiologista Leandro Fernandes Cardoso; e o economista
Luiz Ruben F.de A. Bonfim -, ao lado de outro gigante na historiografia do
Cangaço, o escritor e historiador Frederico Pernambucano de Mello, dividem a
palma como sendo os maiores Mestres no estudo e pesquisa sobre os vários
aspectos do banditismo rural nordestino denominado Cangaço, e isto
nacionalmente e mesmo internacionalmente.
Sinhô Pereira e Dr. Antônio Amaury.
Não posso deixar de mencionar outros grandes pesquisadores e que tornaram-se
verdadeiros mestres no estudo do tema proposto: Oleone Coelho Fontes, autor do
monumental Lampião na Bahia, certamente a mais densa obra sobre a atuação do
bando chefiado por Virgulino Ferreira da Silva naquele território; Paulo
Medeiros Gastão (in memorian), que além de escritor foi o presidente-fundador
da SBEC- Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço; João de Souza Lima, que
atualmente é o maior especialista no estudo sobre a mulher no Cangaço, sendo
também autor de vários livros especializados na temática; Alcino Alves Costa
(in memorian), autor de várias obras sobre o Cangaço, e dentre estas, o
importante e polêmico Lampião Além da Versão; Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho,
autor da magnífica e muito bem documentada Coleção Pernambuco no Tempo do
Cangaço; Honório de Medeiros, profícuo escritor potiguense; Roberto Pedrosa
Monteiro; João Gomes de Lira (in memorian); Marilourdes Ferraz, cujo livro
clássico, o Canto do Acauã, dispensa maiores apresentações; Ângelo Osmiro
Barreto; Napoleão Tavares Neves; o professor Melquíades Pinto Paiva; e Aderbal
Simões Nogueira, que não obstante dispor de algum livro publicado realiza há
quase 40 anos um grande e importante trabalho de pesquisa documental em vídeo
com os vários remanescentes e ou sobreviventes da Era do cangaço, nominado
desde algum tempo por vários estudiosos, de "lampiônico". Não posso
deixar de mencionar o escritor Sandro Leite Cavalcanti, conhecido por "Sandro
Lee", que não pelo fato de ser estreante na chamada "literatura
cangaceira" - tem um livro publicado e já um outro no prelo -,
consolida-se como respeitável pesquisador de campo e vem desenvolvendo
incansável trabalho de pesquisas na região do Raso da Catarina, Bahia, e
Estados limítrofes.
Dr. Antônio Amaury e o pesquisador do cangaço Manoel Severo
Poderia ainda citar muitos outros pesquisadores e escritores, como também
vários obras de importância basilar no estudo do cangaceirismo e que fazem
parte da mencionada bibliografia especializada. Mas, abstendo-me aqui faço as
seguintes perguntas: será mesmo que todos estes notáveis estão errados em suas
pesquisas e estudos? Os remanescentes daqueles dias duros da guerra do Cangaço,
e que concederam diversas entrevistas tanto ao doutor Antônio Amaury quanto ao
pesquisador Aderbal Nogueira, mentiram? Todos eles indiscrimidamente, mentiram?
Estariam errados em sua razão de existir os grupos de estudos sérios e
respeitados, a exemplo do GECC; GPEC; GECAPE, e outros? Como também a SBEC;
CARIRI CANGAÇO e agora a recém-criada ABLAC? Estariam todos gastando e
"perdendo" tempo à toa, em prol de mentiras e equívocos, e nada além
disso? É claro que não.
Aderbal Nogueira,
Leandro Cardoso, Antônio Amaury, Paulo Britto e Alcino Alves Costa na abertura
do Cariri Cangaço em Juazeiro do Norte em 2009
Contudo, diante da quadra difícil apresentada desde alguns dias, quando ataques
tem sido desferidos injustamente ao doutor Antônio Amaury, cuja profissão de
odontólogo tem sido negativamente salientada e de certa forma desprezada por
alguém que aparece como sendo uma espécie de guardião da verdade histórica do
Cangaço; aquele que com seu discurso parece querer ter um conhecimento
histórico invulgar e assim põe em xeque tudo e todos no que concerne o episódio
final de Lampião em Angico, adjetivando aos pesquisadores e depoentes como
mentirosos, e referindo-se à profissão do Mestre Antônio Amaury (conforme
afirmava acima) como se fora algo desprezível e incompatível com a atuação de
um pesquisador e ou historiador que realiza trabalho de estudo e investigação
sérios sobre tema histórico.
Um
dos momentos marcantes de Antônio Amaury em nosso Cariri Cangaço Crato 2011;
Debate no SESC-Cariri Cangaço - "Angico" ao lado de Alcino Alves
Costa, Paulo Gastão, Manoel Severo, Sabino Bassetti e Aderbal Nogueira
Em meio a tudo isso, quando o trabalho de pesquisas pioneiro, realizado por
décadas a fio e que serve como pilar fundamental para a maioria esmagadora dos
estudiosos, pesquisadores, historiadores, cientistas sociais e todo e qualquer
cioso que deseja realizar uma investigação séria, isenta e desprovida de
ufanismo sobre uma das mais candentes fases da História do Brasil, vem a ser
posto à prova, na tentativa descabida, equivocada e errônea de desqualificá-la
totalmente e a seu autor, o Mestre Antônio Amaury Corrêa de Araújo, que
infelizmente está convalescente e impossibilitado de defender-se, o GECAPE-
Grupo de Estudos do Cangaço de Pernambuco, aliando-se às várias e exacerbadas
manifestações de repúdio contra o pseudo pesquisador que tenta desconstruir o
trabalho realizado não apenas pelo Mestre Amaury, mas também os esforços de
outros tantos pesquisadores e estudiosos sérios que dedicam-se com denodo a
investigar e a trazer-nos uma boa análise e interpretação correta do Cangaço,
vem posicionar-se contra o que está acontecendo e a firmar-se na defesa não
apenas dos mestres aqui citados, como também da veracidade, ou seja, da verdade
histórica que todo pesquisador e historiador ético e sério deve perseguir e se
pautar.
Wasterland Ferreira Leite.
Presidente do GECAPE- Grupo de Estudos do Cangaço de Pernambuco.
Pesquisador e Acadêmico Correspondente da ABLAC- Academia Brasileira de Letras
e Artes do Cangaço.
Pesquisador e Membro Efetivo da SBEC- Sociedade Brasileira de Estudos do
Cangaço.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com