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sábado, 15 de dezembro de 2018

CENAS DE SANGUE NA INAUGURAÇÃO DA LUZ ELÉTRICA DE POMBAL

Jose Tavares de Araújo Neto

O ano era 1928. Noite de 28 de outubro. Enfim, havia chegado o dia do prefeito Francisco de Sá Cavalcante entregar à população de Pombal o tão propalado motor de luz elétrica, que iria garantir, em curto prazo, a eliminação definitiva da precária e limitada iluminação pública feita através de lampiões a querosene. Para tanto, o prefeito Sá Cavalcante havia adquirido um moderno gerador de energia elétrica, movido a óleo diesel, uma revolucionária tecnologia que garantia aposentar os velhos motores a vapor. “O primeiro com esta tecnologia a chegar na Paraíba. Das poucas cidades do Estado que dispõe de luz elétrica, em todas, o motor gerador é movido a vapor”, dizia orgulhosamente o prefeito.

Em 1927 o prefeito Sá Cavalcanti, instala a luz elétrica em Pombal. O motor internacional era movido a óleo diesel. A inauguração foi um grande acontecimento e marcou época, com fotografias, festas e desfile da banda de música pelas principais ruas da cidade. Lembro que antes da energia elétrica, toda sociedade pombalense era nivelada por uma iluminação a bico de lamparinas, candeeiros, velas e lampiões. Na foto, o prefeito de gravata borboleta é Sá Cavalcanti, e Hermínio Monteiro, de chapéu, foi responsável pela manutenção e gerenciamento de todo o sistema elétrico.
Créditos: Texto e Foto dos arquivista de Verneck Abrantes de Sousa

O possante e barulhento gerador foi abrigado na casa das máquinas, denominada “Estação de Luz Municipal”, imóvel onde hoje está instalada a Câmara Municipal de Pombal. Nas principais vias das cidades, em locais estratégicos, foram implantados alguns postes de madeira, para receber as instalações elétricas e as lâmpadas para a iluminação pública. A grande inauguração da energia elétrica atraiu uma verdadeira multidão às ruas da cidade de Pombal, só vista durante a Festa do Rosário, o mais tradicional evento religioso da cidade, que havia ocorrido há apenas doze dias atrás. Seria uma festa para entrar para história.

Casa construída pelo prefeito Sa Cavalcante exclusivamente para abrigar o Motor Gerador de Energia Elétrica. - Foto: Arquivo de Verneck Abrantes de Sousa

Dentre os que integravam essa massa humana presente ao grande evento, encontravam-se dois destacados cidadãos da sociedade pombalenses: os senhores Noé de Seixas Gadelha e Lindolfo Vicente de Paula Leite Júnior que, no melhor estilo da aristocracia algodoeira, trajavam ternos de linho e portavam vistosas bengalas. Naqueles anos, nos eventos sociais, o homem na moda sempre segurava uma bengala ou um guarda-chuva fechado como sinal de elegância, poder e autoridade masculina.

1928. Um Poste de Madeira na via pública da cidade de Pombal marca a expansão da energia elétrica (movida a óleo diesel) com horas marcadas para acender e apagar suas luzes. O Poste estava por trás da antiga Rua Nova, hoje Rua Padre Amâncio Leite. - Créditos: Texto e foto do arquivo de Verneck Abrantes de Sousa

Noé, irmão de José de Seixas Gadelha, o delegado da cidade, era um excelente flandeiro, denominação que a época se dava ao profissional que trabalhava com flandres; funileiro. Era ele mesmo quem comercializava os utensílios que fabricava; a exemplo de canecos, baldes, latões, chaleiras, e principalmente lamparinas (ou candeeiro), o mais popular dispositivo para iluminação artificial de uso doméstico, que consistia em um pequeno recipiente em forma piramidal, abastecido por querosene que umedecia um pavio feito de algodão, em cuja extremidade externa se colocava fogo para gerar a iluminação do ambiente.

Igreja Matriz com apenas uma torre.  - Foto: Arquivo de Verneck Abrantes de Sousa

Lindolfinho era filho de Capitão Lindolfo Leite, abastado fazendeiro, herdeiro único do seu tio Padre Amâncio Leite, que lhe deixou de herança as fazendas Várzea Comprida dos Leite, José Rodrigues e Pedra D’água, esta última deu origem ao município de Condado/PB. Além do nome, Lindolfinho herdou do pai parte da Fazenda Pedra D’água e o seu temperamento forte, autoritário e truculento. Um dos irmãos de Lindolfinho, Vicente de Paula Leite, conhecido por Major Sinhô, foi o fundador, neste mesmo ano de 1928, do Itajay Futebol Clube, primeiro time de futebol, cujo campo de futebol era em frente a sua residência, onde hoje se localiza a Praça do Centenário. Capitão Lindolfo e seu filho Major Sinhô exerceram o cargo de subprefeito de Pombal, sendo que o ultimo chegou a assumir temporariamente o cargo de Prefeito.

Lamparina ou Candeeiro, antes da Luz elétrica era o equipamento de iluminação artificial mais popular nas residências dos sertanejos.

Havia entre o flandeiro Noé e o fazendeiro Lindolfinho um recíproco sentimento de repulsa, que eles não faziam a mínima questão de esconder de ninguém. A verdadeira motivação do surgimento da inimizade entre ambos se perdeu no tempo, ninguém lembrava o porquê, no entanto, todos sabiam que no sertão essas questões, por menores que pareçam, geralmente não terminam bem. Era um barril de pólvora prestes a explodir a qualquer momento.

Capitão Lindolfo, fazendeiro, ex-delegado e ex-subprefeito de Pombal, pai de Limdolfinho e de Major Sinhô. - Foto: Arquivo da família.

Hora da inauguração. Noite escura. Após a ligação do motor gerador, luzes acesas, palmas e vivas, discursos, mais palmas e vivas. A multidão caminhou em procissão em direção a Igreja Matriz, na época apenas com uma torre, a fim de assistir a missa em ação de graça, celebrada pelo padre Valeriano Pereira de Sousa, chamado carinhosamente pelos fiéis de “Padrinho Vigário”.

Padre Amâncio Leite, ex-pároco de Pombal e deputado provincial por três legislatura deixou sua fortuna para o sobrinho Lindolfo Leite.

Após a missa, na pracinha da cidade, em frente a matriz, acontecia a retreta da Filarmônica Municipal, sob a regência do maestro Francisco Ribeiro, que, anos mais tarde, compôs em parceria com Newton Seixas o belo hino da cidade de Pombal. A multidão se acotovelava em torno da banda, que, sob aplausos, apresentava antigos e inéditos dobrados, compostos pelo maestro especialmente para a data festiva.

ITAJAY FUTEBOL CLUBE. O primeiro time organizado de Pombal, em 1928, pelo fazendeiro, Vicente de Paula Leite. O campo de futebol era onde hoje é o Bar Centenário. Formação da Esq./Dir. 1- Toinho de Dr. Ireneu; 2- Chateaubriand Pereira; 3- (?); 4- Dr.. Benedito; 5- Rosil Guedes; 6- Neuzinho, irmão de Dr. Jeferson; 7- Luiz Vieira; 8- Edson de Manoel Honório; 9- Toinho de Dona Querubina; 10- Toinho de Dona Anália; 11- Zé Campina. 12- Goleiro (?). - Fonte: Verneck Abrantes
Foto: Acervo de Verneck Abrantes

Tudo corria muito bem até o momento em que na tentativa de melhor visualizar a apresentação da banda, os dois inimigos se esbarraram. Ao se reconhecem, olharam-se com cara de ódio e desprezo, iniciando uma rápida troca de agressões verbais e logo em seguida partindo às vias de fatos, através de troca de bengaladas.

No o espaço antes utilizado como campo de futebol, o prefeito Sá Cavalcante construiu a Estação da Luz, destinado a abrigará o motor a óleo, gerador de energia elétrica. Depois este imóvel foi reformado para funcional a Prefeitura, depois e até os dias de hoje funciona a Câmara de Vereadores. Localizada na Rua Coronel José Avelino-Centro. - Créditos: Texto e foto dos arquivos de Verneck Abrantes de Sousa

A confusão gerou um grande tumulto no local, chamando a atenção dos que se encontravam um pouco mais distante, a exemplo de Jose Gadelha, delegado da cidade, que na intenção de manter ordem, às pressas, dirigiu-se ao local do embate. Entretanto, quando percebeu a aproximação do irmão do seu inimigo, Lindolfinho sacou da cintura uma arma e desferiu um tiro contra o delegado, que caiu imobilizado sob o chão. Ato contínuo, Noé sacou de sua arma e disparou quatro tiros certeiros contra o agressor do seu irmão, pondo fim instantaneamente a vida de Lindolfinho, no vigor dos seus 37 anos de idade. No meio do tumulto, Noé evadiu-se do local, tomando rumo ignorado.

Francisco de Sá Cavalcanti foi o primeiro Prefeito de Pombal eleito diretamente pelo povo, sua administração destaca-se pela eficiência do seu trabalho e a honestidade com que tratava o dinheiro público. Quando da sua primeira administração, em 1927, instala a 1ª Empresa de Luz (a diesel) de Pombal, na época a única cidade do sertão paraibano contemplada com tal benefício. Na administração iniciada em 1936, constrói o Coreto e a Praça Rio Branco, hoje, denominado de Bar Centenário e Praça José Queiroga. Edifica a Coluna da Hora, constrói a Praça Getúlio Vargas, o Açougue Público, inaugura a usina de luz do então distrito de Malta, são criadas várias escolas do ensino primário e o Código de Postura Municipal. Determinou, em Decreto Lei, e depois oficializado pelo Estado, os limites de Pombal com outros Municípios, fez aquisição de um terreno e instalou um horto florestal para educação agrícola e arborização da cidade, entre outros trabalhos na sede e nos distritos. Em se tratando de investimento pelo Governo Estadual, destaca-se a construção da Ponte do Areal sobre o rio Piranhas, concluída em 1939. Sá Cavalcanti casou-se com Mirinha Queiroga no dia 24 de julho de 1923, ela com 14 anos de idade e ele com 27. Ele faleceu em 19/02/1968, com 72 anos de idade. Quando consideramos os investimentos estruturais e urbanísticos da cidade, ele mantém a insígnia do melhor Prefeito de Pombal. - Créditos: Texto e foto do arquivo de Verneck Abrantes

Assim, com um saldo de um morto e um ferido, as festividades em comemoração à chegada da luz elétrica em Pombal, ocorridas naquela noite de 18 de outubro de 1928, foram ofuscadas por cenas de sangue que abalaram a sociedade da região, deixando uma indelével cicatriz na história da cidade.


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ENTRE DOIS

*Rangel Alves da Costa



Acaso o fazer poético se volte ao amor, à descrição amorosa, à louvação do desejo ou como demonstração de afeto pelo outro, somente a dois é possível demonstrar toda a força do sentimento. Não significa, contudo, que a escrita seja lado a lado, mas na perspectiva do outro.
Enquanto construção literária, como arte moldada pelos sentimentos, a poesia sempre nasce da perspectiva íntima e pessoal do poeta. Neste sentido, a poesia não pode ser impessoal nem dividida.
Contudo, enquanto construção amorosa, quando passa a simbolizar o amor, a paixão, o querer, o desejo, o namoro, a união, a poesia passa a denotar outras formas de construção: o amor sentido enquanto poesia e a própria poesia contextualizando a união.
É neste último sentido que se afirma ser o amor a mais bela poesia da existência, ser o amor a mais vívida forma poética, ser o amor a perfeição da escrita nascida de sentimentos. Tão belo e tão perfeito é o amor que não haveria outra definição senão como poesia.
É também neste sentido a afirmativa de que há poesia que só se escreve a dois. Não que os enamorados sejam poetas ou que um se inspire no outro para sua construção poética, mas a união ou o relacionamento entre os dois se afeiçoando ao mais belo poema de amor.
Há poesia que só se escreve a dois por ser o amor verdadeiro, forte, pujante, cativante e tão enobrecedor que somente um jamais seria capaz de dar vida a uma só linha, verso ou estrofe de qualquer poema. Cada linha – como num destino – depende do outro para ser escrita.
Há poesia que só se escreve a dois porque o contexto unindo os dois é de real e verdadeira poesia. Como numa moldura, basta que se aviste o retrato para logo se imaginar que ali existam pessoas que se amam e que são comprometidas com o além do meramente fotografado.
Há poesia que só se escreve a dois. Por que o amor só se ama a dois. Por que a felicidade só é compartilhada a dois. Por que a vida em dois não se compraz em ser apenas em um. Por que em dois há a soma e na divisão ainda resta o somado para ser mais amado.
Há poesia que só se escreve a dois. Um lábio só não beija outro lábio. Um corpo só não abraça outro corpo. Um olhar de mar não navega sem outro olhar chamando a navegar. Um desejo num só não é capaz de se transformar naquilo que só pode ser feito a dois. Um amor sozinho é um amor sozinho, mas o amor em dois é um amor amado.
Há poesia que só se escreve a dois. Quando se ama, não há como não ter poema perante a poesia do outro. Quando se gosta, quando se deseja, quando há o encontro de desejos e quereres, não há como não ser poesia desde o encontro ao abraço.
Há poesia que só se escreve a dois. Na distância, a saudade quer reencontrar a face do outro. Na presença, o corpo inteiro quer tocar e sentir o outro corpo. Não há um só instante de um amor onde o desejo não queiro ser acrescido pelo que o outro prazerosamente possa ofertar.
Há poesia que só se escreve a dois. Quando se está sozinho, qualquer poema surge na folha descompromissada e solitária. Não há pensamento vivo nem certeza de estar amando nem de ser amado. Outra poesia surge quando a escrita apenas reproduz aquilo inspirado pelo coração.
Há poesia que só se escreve a dois. Assim como um feijão com arroz, o amor precisa ser misturado para ter sabor. Coração de um e coração de outro, desejo de um e desejo de outro, e assim vai se somando e enraizando a semente da mais bela flor.
Há poesia que só se escreve a dois. Sozinho não sou nada senão um poeta triste e maldizendo o mundo. Sozinho não sou nada a não ser aquele que sempre rima tormento e sofrimento. Mas se surgido o amor, eis que a canção da dor vai se transformando em doces e suaves madrigais.
Há poesia que só se escreve a dois. Aprendi com ela, com o meu amor, que poesia há que só se escreve a dois. E que lindos versos nascidos em nós.

Escritor
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BIOGRAFIA DO MÚSICO BAIXISTA ARTHUR MAIA


FALECEU O ARTUR MAIA
Foto adquirida na página de Vivi Teclas

Arthur Maia (Rio de Janeiro9 de Abril de 1962 — Niterói15 de Dezembro de 2018)[1] foi um músico brasileiro. Iniciou a carreira tocando bateria, até ganhar um baixo elétrico, aos dezessete anos.[1]

Sobrinho do baixista Luizão Maia, com quem aprendeu as primeiras técnicas no baixo[1], e de quem herdou a peculiar sensibilidade que desenvolveu neste instrumento, antes conhecido por sua limitação, mas que teve a partir de Arthur uma nova releitura, passando a ser usado por ele como instrumento não apenas de acompanhamento, mas também de belíssimos solos. Arthur Maia iniciou também uma nova reaplicação do baixo fretless (sem trastes), que o torna frequentemente solicitado por artistas brasileiros e estrangeiros.


Participou de diversas bandas de nome e renome, como Pulsar, Banda Black RioEgotrip e o grupo instrumental Cama de Gato.[2]

Em 1990 gravou seu primeiro disco solo, que ganhou o Prêmio Sharp.

Participou dos principais festivais internacionais tais como o New York Jazz Festival, o Festival de Jazz de Paris, o Montreux Jazz Festival, o Lugano Jazz, o Free Jazz Festival e o Heineken Concerts (Brasil), entre vários outros.[1]

Seu trabalho mescla influências do jazzfunksamba, swing e reggae.
Os discos de Arthur Maia também são caracterizados pela participação de vários outros artistas do Gênero, tais como: Hiram BullockSeu JorgeMartnália entre outros.[2]

Maia faleceu em 15 de dezembro de 2018. O músico sofreu uma parada cardíaca e foi levado para UPA Mário Monteiro, em Niterói, mas não resistiu.[3]

https://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_Maia_(m%C3%BAsico)

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SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DE BREJO SANTO VIDA E MORTE DO CANGACEIRO RAIMUNDO MAXIMIANO DE MORAIS, “MUNDINHO”; POR BRUNO YACUB


Em agosto de 1928, entre os cangaceiros que se encontravam na cadeia pública da capital cearense, presos pela polícia, depois que Mozart Catunda Gondim assumiu a direção da Secretaria da Polícia e Segurança Pública, figura Raimundo Maximiano de Morais, vulgo Mundinho, que contava 28 anos de idade, de cor morena, baixo, natural de Brejo dos Santos (atual Brejo Santo, Ceará). Gabava-se Mundinho de ter vivido doze anos na espingarda no meio dos mais temíveis e importantes companheiros de luta, a exemplo de Sebastiao (Sinhô) Pereira, Luiz Padre (Luiz Pereira da Silva Jacobina - Primo do cangaceiro Sinhô Pereira), Lampião e Gitirana e de ter relação com importantes figurões da política cearense, paraibana e pernambucana, como o major José Inácio, de Barro; o coronel José Pereira, de Princesa Isabel; Yoyô Maroto (Crispim Pereira de Araújo), de São José do Belmonte; dentre outros.

Edição do jornal “O Ceará”, 1° de setembro de 1928, págs. 6 e 7.

Edição do jornal “O Ceará”, 1° de setembro de 1928, págs. 6 e 7.
Viveu em Brejo dos Santos até 1914, em companhia de seu pai, José Maximiano de Morais, a quem ajudava numa loja de que o mesmo era proprietário. No fim daquele ano, quando contava apenas 14 anos de idade, abandonou a casa do seu pai a fim de ganhar a vida sozinho, passando a trabalhar para o coronel Francisco Pereira de Lucena (Chico Chicote), político influente, que poucos dias depois o convidou a tomar parte do assalto armado a Porteiras, Ceará.

Com extraordinária satisfação, Mundinho aceitou o convite e seguiu no meio de numeroso grupo para o ataque àquela Vila, que caiu em poder de Chico Chicote. Durante a luta, Mundinho portou-se com tal valentia, que passou a ser alvo de elogios do chefe do bando e dos seus companheiros, o que encheu de orgulho e o animou a prosseguir na vida do cangaço. 
Pouco depois dessa façanha, quando se encontrava no sitio Guaribas (em Porteiras), de propriedade de Chico Chicote, tomou, por duas vezes, parte na defesa daquela propriedade, atacada por forças do governo.

Em janeiro de 1915, coligavam-se contra o coronel Raimundos Cardoso dos Santos, de Porteiras, Mousinho Cardoso, Chico Chicote e José Inácio, chefes influentes de Brejo dos Santos e Milagres. Os coligados mandaram assaltar, à mão armada, a propriedade de Raimundo Cardoso e, a seguir, expediram telegramas à imprensa de Fortaleza e do Rio de Janeiro e ao Presidente da República, clamando por providencias, já que não confiavam no Governo do Estado do Ceará.

Em abril de 1915, as populações de Porteiras, Brejo dos Santos e Milagres reclamavam providências contra assaltos iminentes por parte dos bandos armados estimulados pela baixa politicagem. Enviava o Governo destacamentos comandados por oficiais com o fim de manterem a ordem publica.

Tomadas essas medidas preliminares, finalmente, no dia 13 de junho de 1915, os colegiados à frente de cerca de 300 homens, atacavam a vila de Porteiras, defendida pelo tenente Artur Inácio, com uma força estadual composta de 40 praças e 02 oficiais. Após 11 horas de fogo, seu último reduto foi o cemitério de onde se retraiu com o chefe deposto. Esgotadas as munições, a força estadual abandonava a Vila, que ficava entregue à sanha dos vencedores.

Serenadas as coisas em Guaribas, foram dispensados os serviços de todos os cabras, tendo Mundinho seguido com diversos deles com destino a Brejo dos Santos, onde foram cercados por uma numerosa força policial, que conseguiu capturar um. Mundinho conseguiu não ser apanhado e fugiu para a vila de São José de Piranhas, Paraíba, onde, não sendo conhecido, pôde empregar-se como lavrador no sítio Picadas, de propriedade do major Andrade. Passou seis meses trabalhando naquele sítio, mas tinha saudade da vida do cangaço, e, por isso, voltou a Brejo dos Santos, sendo, logo após a sua chegada ali, cercado por uma força policial.  Graças ao auxilio que lhe prestou um seu irmão, pôde fugir, indo ter ao sítio Barro, de propriedade do major José Inácio, homem rico, de Milagres. Durante um ano, pouco mais ou menos, esteve trabalhando como agricultor naquele sitio, mas, em certo dia, José Inácio chamou-o, dando-lhe um rifle e farta munição para, em companhia de outros “rapazes”, ir fazer um serviço.

Tratava-se nada mais, nada menos, de liquidar João Flandeiro, inimigo de José Inácio.  O grupo era chefiado por Sinhô Pereira e, entre outros cangaceiros, contava Tiburtino Inácio, vulgo Gavião (filho de José Inácio), Ponto Fino, Deodato, Patrício, João de Genoveva e José Pedro. Cerca de 5 horas da manhã, o grupo cercou o sítio Pitombeiras, distante uma légua de Barro, propriedade e residência de João Flandeiro, começando, então, violento tiroteio, que durou até às 9 horas da manhã, quando a família do atacado, obteve permissão para sair de casa. João Flandeiro, apesar de ferido, resistiu ainda 15 minutos de fogo, mas, afinal, abriu a porta para entregar-se, sendo crivado de balas. Imediatamente, os assaltantes atearam fogo na propriedade. Terminado o “serviço”, o grupo voltou ao sítio Barro, ficando José Inácio muito satisfeito quando soube que o seu inimigo tinha morrido e que a sua propriedade fora incendiada.

Dois meses mais tarde, fazendo parte de um grupo de 12 homens, em que figuravam Luiz Padre, Sinhô Pereira, Mourão, Gitirana, José Dedé, João Dedé, Vicente Marinho, José Marinho e Cambirimba, dirigiu-se Mundinho para a região do Pajeú, em Pernambuco, onde morava uma filha de José Inácio.  Ali, no povoado Queixadas (atual Mirandiba), mataram, depois de sangrenta luta, o Antônio da Umburana, que havia assassinado Manoel Pereira da Silva Filho (Né Dadú ou Né Pereira), irmão de Sinhô Pereira. Cometido esse crime e sendo perseguido pela polícia pernambucana, o grupo voltou para o sitio Barro, fazendo, em caminho, vários saques. 

Depois de alguns meses de repouso, em janeiro de 1922, Mundinho entrou num grupo de 45 homens, organizado por José Inácio e do qual fazia parte Lampião e seus irmãos, para atacar o padre José Furtado de Lacerda, no lugar Coité (hoje distrito de Mauriti), a seis quilômetros do lugar citado e cinco léguas de Milagres. 

Este singular episódio da história do cangaço obteve pela primeira vez o envolvimento da figura de um sacerdote católico, o qual, para defender a própria vida, teve de trocar o breviário pelo “44” e lutar com a mesma combatividade de qualquer leigo do sertão agreste. 

Pelas 9 horas da manhã de 20 de janeiro de 1922, o numeroso bando, que se encontrava bem armado e municiado, atacou o Coité, ocupando, no primeiro embate, três casas. Ao ser atacado, o sacerdote estava acompanhado apenas de Luís Lacerda. Pouco depois, porém, num ímpeto de marcante bravura, Pedro Sampaio de Lacerda, Manoel Lacerda (Neco) e o vaqueiro Mané Gato romperam o cerco e, sob um chuveiro de balas, entraram na casa e passaram a resistir ao lado do valente clérigo, que durou seis horas. Pedro Augusto de Lacerda, subdelegado de Mauriti e sobrinho do padre Lacerda, ao ter conhecimento do assalto dos bandidos, partiu imediatamente com dez praças e alguns paisanos em socorro do tio. Esse fato foi decisivo para o recuo dos assaltantes, indo até a fazenda Araticum, do coronel André Brasiliense do Couto Cartaxo, também em Mauriti, o qual, sabendo da insegurança na região, tinha se transferido dias antes da fazenda Araticum para Mauriti, fixando-se numa de suas casas no centro da Vila, à Praça Dr. Cartaxo. A cabroeira de Sinhô Pereira passou três dias na mencionada Fazenda, destruindo móveis e objetos de estimação, abatendo animais domésticos e violando paióis.  E mais: em sua fúria criminosa, os cangaceiros chegaram até a rasgar retratos e degolar imagens, sacrilégio de que foi autor o cabra Pitombeira. E não ocorreram maiores depredações, inclusive o abate de uma novilha, devido à interferência de Gavião, junto ao chefe do bando.

De acordo com as recomendações de José Inácio, o grupo, ao retirar-se de Coité, deveria atacar Milagres, mas achando-se essa localidade bem guarnecida, Lampião tentou atrair a atenção da força policial para fora daquele município, para o que fingiu atacar a fazenda Queimadas, próximo a Mauriti. 

O grupo de cangaceiros passou distante de Mauriti cerca de um quilometro, no local Apanha-Peixe, e foi estacionar em casa do coronel Antônio Martins, nas Queimadas, distante meia-légua da Vila.

No momento em que efetuava o assalto a Queimadas, o bando foi surpreendido por uma força de 15 praças, vinda de Milagres. O sargento Antônio Pereira Lima, vulgo Antônio Gouveia, com bravura e destemor, escolheu vinte homens do pequeno destacamento para ir atacar os bandidos. No momento da partida, cinco soldados esmoreceram e não tiveram coragem de marchar para a luta. 

No decorrer do combate, os cangaceiros, mais numerosos e sagazes, estavam quase a envolver a polícia. Advertido do perigo, o sargento Gouveia envia uma mensagem a seu colega sargento Jonas, em Mauriti, solicitando socorro. O pedido foi lealmente atendido. A retaguarda do sargento Jonas forçou os bandoleiros recuarem para a casa da fazenda. 

No último ataque do sargento Gouveia, a Força Policial bate em retirada para Mauriti, com três soldados feridos e a perda de nove fuzis, levados pelos cangaceiros. O grupo decidiu retirar-se em direção a Conceição de Piancó. Durante a luta, morreram dois soldados, um deles apelidado de Papagaio e os cangaceiros perderam o temido cabra Pitombeira. 

Acentue-se que o grupo do qual fazia parte Lampião, teve ainda um cabra gravemente baleado, chamado “Lavandeira”, que foi levado de rede pelos seus companheiros para a casa do velho “Batista dos Valões”, tio de Sinhô Pereira e de Luiz Padre. O cangaceiro Pitombeira foi sepultado em cima da serra da Canabrava.

De Conceição do Piancó, os bandoleiros dirigiram-se para o povoado Cristóvão, do município de São José do Belmonte, em Pernambuco, onde foram homiziados por Yoyô Maroto, que lhes forneceu munição. 

Como é sabido, antes do Fogo do Coité, José Inácio havia patrocinado o assalto de Sinhô Pereira ao sítio Nazaré, em 20 de janeiro de 1919, de Dona Praxedes Furtado de Lacerda, viúva do chefe político coronel Domingos Leite Furtado (ex-prefeito de Milagres), bem assim, Luiz Padre assaltou o sítio Nascença, de propriedade do coronel Basílio Gomes da Silva, e que distava um quilometro de Brejo dos Santos, onde estacionava uma força de 100 praças sob o comando do capitão José dos Santos Carneiro. Os cangaceiros carregaram até a farda da guarda nacional do Coronel. Essa ação do ex-cangaceiro Luís Padre foi a última aqui no nordeste. Em seguida, o cangaceiro foi chamado a Juazeiro do Norte pelo Padre Cícero, ato contínuo fugiu para a região central do país.

 Casarão do Cel. Basílio Gomes da Silva, no sítio Nascença.
Após esses acontecimentos, voltaram todos ao “Barro”, de José Inácio, que mostrou a Mundinho um telegrama que lhe fora enviado pelo deputado federal Floro Bartolomeu, aconselhando-o a abandonar a vida de cangaço, visto como pretendia fazê-lo Deputado Estadual. Em virtude deste conselho, José Inácio resolveu dispensar o grupo, mandando-o para o Pajeú das Flores (atual Flores, Pernambuco). 

Os bandoleiros não quiseram ir para aquela localidade pernambucana, e rumaram a fazenda Patos (em Princesa Isabel, Paraíba) e dali a Vila Bela (atual Serra Talhada, Pernambuco), onde se acoitaram no sitio Abóboras, de propriedade do coronel Marçal Diniz.  Numa dessas viagens, o grupo dividiu-se e seis homens dirigiram-se a Olho D’água, tendo um encontro com a força cearense comandada pelo capitão José de Santos Carneiro. Os seis cangaceiros perderam as montarias e refugiaram-se em Patos, onde se encontrava Lampião.

Desse encontro nasceu o receio de que a força cearense atacasse Patos, razão porque o Dr. Marcolino Diniz, que protegia os bandoleiros, pediu auxílio do coronel José Pereira, de Princesa Isabel, que lhe remeteu mais de 100 homens armados. Enquanto enviava esse reforço de cabras, o coronel José Pereira foi ao encontro da força cearense, avistando-se com a mesma nas proximidades de Patos.    O coronel José Pereira procurou convencer ao capitão Carneiro que não havia cangaceiros naquele município, mas o aludido oficial, com cerca de 80 praças, foi até Patos, não encontrando, ali, nenhum bandoleiro, pois, de acordo com os planos do coronel José Pereira, foram escondidos todos os “rapazes”.  Isso foi uma felicidade para a força cearense, porquanto estava combinado se tentasse a mesma efetuar qualquer prisão seria repelida pelos cangaceiros, em número, então, superior a 200. No dia imediato, o capitão Carneiro se retirou de Patos. Lampião, à frente de 30 homens, dirigiu-se para o Pajeú das Flores, não sendo acompanhado de Mundinho que, com dois bandoleiros, voltou ao Ceará. 

Durante dois anos, Mundinho viveu como bodegueiro, mas, vez por outra, realizava, “expedições” de cangaço por conta própria.  Numa dessas “expedições”, chefiou um grupo composto de Antônio Padeiro, Lavandeira e dos Mateus, com os quais atacou José Amaro, no município de Aurora, saqueando totalmente a casa deste. Esta façanha custou-lhe nova perseguição da polícia, o que determinou sua fuga para o Pajeú, onde encontrou a proteção de Yoyô Maroto. Este, poucos meses depois, recebia Lampião em sua fazenda, passando Mundinho a “agir”, juntamente com o temível chefe bandoleiro.

Retirando-se Lampião, Mundinho não o quis seguir, e, com Lavandeira, passou a roubar entre Cristóvão, São José do Belmonte e Poço do Pau (Brejo dos Santos).  Depois de várias peripécias, Mundinho foi acusado da morte de Vicente Quilarino, pelo que teve de fugir, vindo para Gameleiras, no Ceará, onde foi contratado para, em companhia dos Marcelinos, perseguir Horácio Novaes. Demorou em Gameleira, mas, ali, se viu perseguido por Júlio Pereira, por não querer trabalhar com ele em furtos de gado. Júlio Pereira, com diversos homens, atacou-o no dia 12 de maio de 1926, mas não conseguiu matá-lo.

Mundinho foi para Olho D’água do Santo, em Brejo dos Santos, onde pediu a proteção do coronel Joaquim Inácio de Lucena, conhecido por Quinco Chicote, prefeito municipal, que prometeu acoitá-lo, dando-lhe uma casa. Depois de poucos dias, em maio de 1926, o mesmo coronel Quinco Chicote mandou mata-lo por um grupo de 12 civis, que faziam parte João Chicote (João Gomes Sobrinho), filho do coronel Manoel Inácio de Lucena (Manoel Chicote), então prefeito de Milagres, Antônio e Pedro Gomes Granjeiro, Manoel Salgueiro e Ferrugem.  Mundinho entrincheirou-se em casa e resistiu ao ataque desde 10 horas da noite até 8 e meia da manhã seguinte, quando recebeu duas balas na perna direita. 

Além desses ferimentos, a sua munição acabou-se, não podendo mais resistir. O primeiro a entrar em sua casa foi o Manoel Salgueiro, a quem Mundinho comunicou que estava ferido.   

Minutos depois, penetravam na casa mais três homens que queriam matar Mundinho, que apelou para Manoel Salgueiro, mostrando que era covardia assassinar um homem ferido e sem armas. Manoel Salgueiro ficou ao lado de Mundinho, não consentido que lhe tirassem a vida. Ferrugem e os outros insistiram em dar cabo do ferido, mas Manoel Salgueiro botou bala na agulha do rifle e tomou posição, disposto a defender a vida do homem, que tinha ido matar.  Ferrugem e os outros homens não quiseram entrar em luta com Manoel Salgueiro, retirando-se da casa resmungando. 

Conduzido à cidade, onde foi alvo da curiosidade dos antigos companheiros de infância, o bandoleiro submeteu-se a uma dura operação efetuada por Dr. Caminha, que lhe amputou a perna com facas e serrote de açougue. Após aquele martírio, Mundinho solicitou um confessor. Padre Raimundo Nonato Pita ouviu-lhe por mais de uma hora. Passados alguns meses, Mundinho foi posto em liberdade, seguindo para Missão Velha, onde encontrou a proteção de Isaias Arruda, que lhe deu cama e mesa.  Passou a viver tranquilamente em Missão Velha, mas, em agosto de 1928, quando menos esperava, foi preso e removido para a Capital. 

Já na Capital, após ceder uma entrevista ao jornal “O Ceará” Mundinho fez um pedido, afirmando ter muitos inimigos na Paraíba que desejavam sua remoção para aquele Estado, a fim de assassiná-lo, e por esse motivo queria uma intercessão junto ao Dr. Secretário da Polícia e Segurança Pública a fim de conservá-lo preso no Ceará, onde teria de responder por diversos crimes, inclusive a morte de João Flandeiro, em Milagres, a mandado de José Inácio, e a morte de dois soldados da polícia cearense.

Antes de morrer, Mundinho concordou em narrar episódios de sua vida pregressa. Em dado momento, quando se referia ao seu batismo de fogo no grupo de Sinhô Pereira (combate da Carnaúba-Pajeú) o ex-bandido expandiu-se num pranto convulsivo sem mais poder pronunciar uma só palavra.

De resto, sozinho e alcoólatra inveterado, Raimundo Maximiano de Morais, veio a falecer na mais negra miséria em 1955, em seu torrão natal.

Bruno Yacub Sampaio Cabral
A Munganga Promoção Cultural
O Brejo é Isso!

Fonte bibliográfica:
Edição do jornal “O Ceará”, 1° de setembro de 1928, págs. 6 e 7;

Esboço Histórico do Município de Brejo Santo, Otacílio Anselmo e Silva, pág. 220, revista Itaytera, Instituto Cultural do Cariri, N° 2, 1956;

Subsídio para a História de Mauriti, Otacílio Anselmo e Silva, págs. 77 a 83, revista Itaytera, Instituto Cultural do Cariri, N° 12, 1968;

Novos  Subsídios para a História de Mauriti, Otacílio Anselmo e Silva, págs. 149 e 150, revista Itaytera, Instituto Cultural do Cariri, N° 12, 1968;

Livro Fanáticos e Cangaceiros, Abelardo Fernando Montenegro, edição 2011, págs. 355 e 359;

Informações do pesquisador Sousa Neto, escritor do livro José Inácio do Barro e o Cangaço, 2011;

http://cariricangaco.blogspot.com/2018/12/a-explosiva-e-elucidativa-entrevista-do.html.

Fonte iconográfica:

• Edição do jornal “O Ceará”, 1° de setembro de 1928, págs. 6 e 7;
• Esboço Histórico do Município de Brejo Santo, Otacílio Anselmo e Silva, págs. 192 e 223, revista Itaytera, Instituto Cultural do Cariri, N° 2, 1956.

http://www.blogdomateussilva.com.br/2018/12/subsidios-para-historia-de-brejo-santo.html?m=1&fbclid=IwAR361s25INXdWPW-24PoW8mJr8yFQyYZtVmrqBys4L5DIUaKUQ6qIqXNlNA

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PRIMA DE "GATO" INOCÊNCIA FERREIRA DE JESUS, VIVE EM PAULO AFONSO, AOS 111 ANOS DE IDADE

Por João de Sousa Lima 
Inocência Ferreira de Jesus, prestes a completar 111 anos de idade (nascida em 15 de julho de 1906 e ainda lúcida tem muitas histórias para contar. Ela é prima legítima do cangaceiro Gato, o mais perverso cangaceiro do bando de Lampião.
    
Os pais de Inocência eram Cícero Pereira Leite e Teodora Vieira de Jesus. Ela hoje com 111 anos de idade revela que sente saudades da antiga Barroca (povoação as margens da cachoeira de Paulo Afonso, sendo um,a das primeiras localidades para acolher escravos fugidos dos aprisionamentos dos perversos bandeirantes paulistanos).

Mesmo tendo nascido próximo a Serra do Retiro, confessa que na antiga Barroca ficou sua felicidade. Em seu relato, falando que já conheceu o Brasil quase todo, nunca esqueceu seu pedaço de chão. Inocência quebrava pedras e as transformava em britas para vender. Trabalhava ela e a filha Maria Milda Lima, arranchadas embaixo de latadas ou ranchos cobertos com palhas. À noite continuavam o trabalho diante da luz disforme dos candeeiros.


Seu tio Antônio de Rita e seu filho Ulisses Grande, moradores do povoado Salgadinho, eram coiteiros de cangaceiros. Em uma das viagens de Inocência, ela e a prima Nenê, selaram um burro e amarraram dois "caçuás", montaram o animal e foram buscar algumas melancias na casa do tio Antônio de Rita. Quando chegaram a casa do tio encontraram os cangaceiros Gato, Corisco Bananeira, Volta Seca e muitos outros. Uma grande farra estava acontecendo na casa do tio.

Tempos depois, quando a polícia expulsou os moradores daqueles sítios, os forçando a vir morar em Santo Antônio da Glória e na Barra, o perverso tenente Douradinho, passando na Barra, prendeu o Antônio de Rita e o crucificou, pregando suas mãos em uma madeira.

Quando o policial se preparava para matar o sertanejo, Inocência correu, se ajoelhou aos pés do tenente e pediu para que ele não fizesse aquilo com seu tio pois ele era inocente.  Diante do pedido da jovem, o tenente, acreditem, libertou o moribundo rapaz.

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