Delmiro
Gouveia; O Industrial que Revolucionou o Sertão
Em meados do
século XIX, nascia na fazenda Boa Vista, em Ipu, diocese de Sobral, a 291 km de
Fortaleza, Delmiro Gouveia. O menino, filho do cearense Delmiro Porfirio de
Farias e da pernambucana Leonila Flora da Cruz Gouveia, veio ao mundo no dia 5
de junho de 1863 para ser o pioneiro da industrialização do Nordeste: foi o
primeiro empresário a empregar a energia hidráulica da queda do Angiquinho, na
cachoeira de Paulo Afonso, para colocarem funcionamento as máquinas de sua
indústria - a Companhia Agro-Fabril Mercantil, no Recife.
O feito
histórico ocorreu no dia 26 de janeiro de 1913. No ano seguinte, Gouveia
inaugurou sua fábrica de linhas que, com as marcas Estrela (nacional) e
Barrilejo (estrangeira), passou a dominar o mercado brasileiro, conseguindo
também forte atuação nas praças argentina, chilena e peruana, desbancando os
produtos similares estrangeiros. A expansão continuou até atingir a Bolívia, a
colônia inglesa de Barbados, as Antilhas e a América do Norte. Ainda no mesmo
ano (1914), o empresário iniciou a construção de estradas para a circulação de
riquezas até Vila da Pedra (AL), atual Delmiro Gouveia, onde residia, findando
por abrir 520 km de vias carroçáveis. Com isso, também foi o pioneiro na
introdução do automóvel no sertão.
Usina
de Angiquinho em Alagoas
Mas até chegar
à condição de industrial de sucesso, Gouveia enfrentou muitos desafios e
inimigos. A história rumo ao sucesso começa com a mudança de sua família do
Ceará, em 1868, para Pernambuco. De bilheteiro na estação do trem urbano de
Olinda, passando por despachante de barcaças, Gouveia começa, aos 20 anos, a se
interessar pela compra de peles de cabras e ovelhas para exportação, servindo
de intermediário entre produtores de couro e comerciantes estrangeiros: No
mesmo ano, 1883, casa-se com Anunciada Cândida de Melo Falcão, a Iaiá.
Em 1886, passa
a trabalhar por conta própria e por comissão, estabelecendo-se como negociante
de couros, vindo a tomar-se, 11 anos depois, no Rei das Peles, acabando por
assumir, em 1897, a presidência da Associação Comercial de Pernambuco. Dois
anos depois, à frente da Usina Beltrão, de refino e embalagem de açúcar,
implanta no Recife o que hoje seria chamado de centro de diversões. Constrói um
mercado modelo sem similar no Brasil.
O projeto,
denominado Mercado Coelho Cintra, inaugurado a 7 de setembro de 1899, foi o
primeiro do Recife a utilizar luz elétrica e incluía carrossel, retreta,
teatro, regatas, hotel, bares e velódromo. Com preços baixos, o Mercado
incomodou a concorrência, gerando inimigos poderosos, como o prefeito
Esmeraldino Bandeira e o todo poderoso da política pernambucana, o presidente
do Senado Federal e vice-presidente da República, Francisco de Assis Rosa e
Silva. No ano seguinte, seus inimigos políticos incendeiam o complexo e Gouveia
é jurado de morte pelos oligarcas da família Rosa e Silva (rosistas). No ano
seguinte, 1901, perseguido, foge para a Europa.
Já separado da
mulher, em 1902, o empresário rapta e volta para o Brasil com a adolescente
Carmela Eulina do Amaral Gusmão - filha do governador de Pernambuco do período
1899-1900, o desembargador Sigismundo Antônio Gonçalves, um rosista de destaque
-, estabelecendo-se em Alagoas. Quando Gouveia chegou a Pedra, a 280 km de
Maceió, em 1903, havia ali pouco mais de cinco casebres em torno de um terminal
da ferrovia que unia Piranhas a Petrolândia (AL), pela qual circulava um trem
por semana. Ele contava então com 40 anos. Em 1904, nascem três filhos da união
com Eulina.
Delmiro
Gouveia viajou diversas vezes à Europa e aos Estados Unidos e viu de perto os
efeitos revolucionários que a utilização da energia elétrica tivera na
indústria. Quando conheceu o distrito da Pedra, sua proximidade da cachoeira de
Paulo Afonso e as possibilidades de explorar racionalmente toda aquela região
teve a idéia de realizar ali um grande projeto. Assim, em 1909 o empreendedor
dá início aos estudos para a utilização econômica da cachoeira de Paulo Afonso,
com aproveitamento parcial de capitais e know-how estrangeiros. O interesse
estava voltado ao abastecimento de energia elétrica para funcionamento das
máquinas importadas para a Companhia Agro-Fabril Mercantil. Com a indústria
inaugurada em 1914, o distrito passou a contar com uma população de cerca de 5
mil pessoas.
As residências
eram servidas de luz elétrica, água corrente e esgotos. Havia oito escolas,
sendo duas profissionais. Dali partiam cinco estradas de rodagem e as terras em
redor, beneficiadas pela irrigação, produziam algodão, mandioca, feijão, milho
e arroz. Havia criação de gado zebu e holandês e estavam sendo realizadas
experiências com novos cruzamentos. A região de Pedra, na confluência de quatro
estados, servida por ferrovia e banhada pelo São Francisco, funcionava como
corredor de todo comércio do sertão. Tropas de burros pertencentes à firma Iona
e Cia., com sede em Maceió, traziam peles e couros do Ceará, Rio Grande do
Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia e Sergipe. Em Pedra, elas eram
tratadas e enfardadas. Seguiam de trem até Piranhas, desciam o São Francisco
até Penedo e por mar chegavam a Maceió, de onde eram exportadas. Em pouco
tempo, o empresário recuperou a fortuna (perdida quando fugiu do Brasil) e o
título de Rei das Peles. A firma -com dois sócios italianos, Lionelo lona e
Guido Ferrário - chegou a possuir 200 burros de carga.
Três anos
depois da inauguração da fábrica, isolado na cidade que ajudou a construir, o
pioneiro da industrialização do Nordeste foi assassinado a bala, no dia 10 de
outubro, aos 54 anos de idade, em seu chalet, sob circunstâncias misteriosas e
nunca esclarecidas, até o pesquisador Gilmar Teixeira, se debruçar em uma
pesquisa séria e corajosa, onde desvenda esse misterioso crime, que já
perdurava quase 100 nos, e que está no seu livro "Quem matou Delmiro
Gouveia", para saber a verdadeira história do assassinato desse grande
homem nordestino, só lendo o livro do escritor Gilmar Teixeira
Fonte:https://www.facebook.com/coroneldelmiro.gouveia/posts/1399846880292453
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