Publicado em 05/02/2014 por Rostand Medeiros
Revelação
inédita da autópsia de D. Pedro I aponta para a sua saúde frágil e livra seu
médico particular da acusação de envenenamento.
O médico e o
doente. Mas não era um médico qualquer, era daqueles que acompanham o paciente
por anos, conhecendo seus hábitos, suas aflições, suas fraquezas. O doente
também não era comum: um jovem que se tornou imperador aos 26 anos, boêmio, um
tanto fogoso, e que enfrentou guerras, acidentes e uma série de percalços de
saúde. Dr. João Fernandes Tavares e D. Pedro I se encontravam nos momentos mais
vulneráveis do monarca. Dos sintomas aos diagnósticos, a relação de confiança
se fortalecia e fazia o médico conhecer ainda mais o paciente. A prova está no
registro de autópsia feita pelo Dr. Tavares. O médico expõe os diversos
problemas de saúde que debilitaram a vida de D. Pedro.
Mas a forma
como o documento é escrito extrapola as notações técnicas da função. Linha por
linha, o médico narra a história de cada órgão, como personagens de um grande
drama. E sofre. Quando descreve o estado dos rins, por exemplo, põe-se no lugar
do enfermo: “E que transtorno e perturbação não devia causar na regularidade
das funções dos demais órgãos tão aturado, e tão intenso padecimento!”.
Tanto
sofrimento e intimidade também tinham um quê de defesa, já que as más línguas
suspeitavam de que o médico havia envenenado D. Pedro, como conta Claudia Thomé
Witte. Seu artigo nos brinda com este documento exclusivo e apresenta o
complexo contexto da morte de D. Pedro, mergulhado na disputa familiar pelo
trono português.
Em 2012, o
corpo de D. Pedro I começou a ser estudado pela primeira vez com todos os
recursos da atual medicina. Esse trabalho, conduzidopela arqueóloga Valdirene
do Carmo Ambiel para o Museu de Arqueologia e Etnologia da USP com o fim de
preservar os corpos, confirmou que nosso primeiro imperador fraturou quatro
costelas ainda em vida e que seu coração foi retirado do corpo logo após
falecer.Um documento histórico inédito, publicado nas próximas páginas, traz a
versão da morte de D. Pedro I por meio do relato de seu médico particular, Dr.
João Fernandes Tavares (1795-1874), que assinou o atestado de óbito e realizou
a autópsia do ex-imperador do Brasil.
Até agora se
conheciam apenas as informações que D. Amélia de Leuchtenberg, viúva de D.
Pedro, relatara em uma carta para sua enteada Januária. O resultado da
autópsia, impresso avulso em 1834, foi localizado em uma coleção particular no
Brasil e seu proprietário gentilmente concordou em divulgá-lo. Com isso, temos
finalmente acesso ao relato completo da morte de D. Pedro e das semanas que a
antecederam, além de um histórico de sua saúde. Nas entrelinhas, percebe-se que
o médico João Fernandes Tavares foi bastante explícito e detalhista ao narrar
as causas da morte. Procurava, com isso, justificar sua conduta e afastar as
suspeitas que recaíam sobre ele.
Quando D.
Pedro I faleceu em Portugal, em 1834, o Dr. Tavares foi acusado de tê-lo
envenenado. Era natural que se buscasse um bode expiatório, afinal, a morte ocorria
pouco após D. Pedro vencer uma guerra civil contra seu irmão, o absolutista D.
Miguel. Todas as esperanças de reconstrução de Portugal repousavam sobre D.
Pedro. Havia dúvidas de que a nova rainha, D. Maria II, com seus 15 anos, fosse
capaz de assumir as grandes responsabilidades que exigia um país recém-saído de
uma guerra. A morte de D. Pedro podia significar uma nova oportunidade para os
miguelistas.
São artigos
que provam que história se faz também – e principalmente – com sentimento.
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
http://tokdehistoria.wordpress.com/2014/02/05/autopsia-de-d-pedro-i/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com