Não há flor mais bela que a flor do mandacaru. Mas não há flor de mais triste que a flor do mandacaru. Nasce ao entardecer, vive em pujante beleza por uma noite inteira, para já desfalecer ao amanhecer.
Que coisa mais estranha na natureza. Durar tanto para brotar e se formar, e depois florescer e durar apenas uma noite. Mas assim é a vida tão efêmera da flor do mandacaru. Não há exemplo maior de transitoriedade, de fragilidade, de existência tão curta quanto bela.
Ainda assim, majestosamente bela é a flor do mandacaru. Não há flor mais admirável que a flor do mandacaru. Em tons de pétalas esbranquiçadas, ornados pelo amarelo-alaranjado dos filamentos e o esverdeado das sépalas. Mas depois tudo recurvado em si mesmo, sem flor.
Pelos sertões, onde os mandacarus vivem de braços estendidos rogando chuvas aos céus, soltos no meio do tempo e ao querer das tantas luas e tantos sóis que sobre si se derramam noite e dia, será no silêncio noturno que as flores matutas surgirão como estrelas.
As flores do mandacaru esperam o luar sertanejo para se abrirem. Nos noturnos sertanejos, lentamente vão irrompendo de seu casulo esverdeado para desabrocharem em beleza sem igual. Abrolham ao clarão da lua e recolhem suas pétalas ao primeiro sol.
Recolhem e recurvam suas pétalas para não mais se abrirem em flor. Muitas flores existem que se repetem nas manhãs seguintes, que novamente se abrem com a mesma beleza, mas não com a flor de mandacaru. É de vingar único e por poucos instantes da vida.
Ao nascerem, logo as pétalas se abrem em majestade. E certamente o olho dirá que ainda assim estarão no dia seguinte e no outro dia. No primeiro raio de sol, contudo, as pétalas já estarão definhando e assim continuarão até novamente se recolherem, murchas, ao casulo.
E eis outro paradoxo na tão bela flor e seu ventre, entre a flor do mandacaru e o próprio mandacaru. Qual sentimento de um ventre que, em meio a tantos sacrifícios e dificuldades, vai lentamente gestando aquilo que vai morrer poucas horas após nascer?
Que estranha sensação no mandacaru. De seu ventre magro, seco, ossudo, sobre sua pele rija e espinhenta, e de repente o nascer da mais bela flor entre todas as flores. Porém sem tempo sequer de se alimentar de sertão e encontrar no meio a mesma força de sobrevivência.
Mas é mesmo um nascer destinado à morte. O broto vai lentamente surgindo na magreza do mandacaru, formando um fruto ovalado e esverdeado, até que vão sendo divididas as sépalas que recobrem as pétalas, e então a noite chega e logo cuida de desabrochar a flor.
Já nasce bela, grande, majestosa, pois as pétalas rapidamente despontam como encantamento. E num instante, o que era apenas como um fruto ovalado, irrompe de seu ventre uma magia sem igual. A flor que resplandece como lua cheia em meio à escuridão.
Um mistério a ser desvendado pela natureza. Enquanto o mandacaru dura um século inteiro em meio ao calor escaldante, ao sol abrasador, perante as secas mais devastadoras, de seu ventre surge a flor que não dura sequer um segundo da vida inteira do próprio mandacaru.
E também o mistério do florescimento naquilo que já se imagina sem vida. Ora, chega um tempo que o mandacaru está tão magro e tão seco que ninguém imagina existir ali senão espinhos. Mas em meio as espinhos vai brotando a vida tão belamente transformada em flor.
O olhar sertanejo conhece o padecer eterno do mandacaru e por isso mesmo ainda mais se encanta quando avista a flor tão viva em seus braços abertos. Talvez por isso mesmo tanto acredite no poder de transformação de seu mundo: a secura da terra e logo a trovoada.
Contudo, há também na flor do mandacaru uma desalentadora simbologia: a efemeridade da vida. E, neste sentido, a curta duração das coisas, a fugacidade das situações, a transitoriedade dos fatos e das existências. Tudo nasce para morrer, numa sina, num destino.
A flor do mandacaru como uma lição do Eclesiastes: há um tempo de tudo, tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de sorrir e tempo de entristecer. Assim também no tempo de muitos amores: um amor tão amado e na manhã seguinte já simplesmente desamado.
Quem dera durasse mais a flor do mandacaru. Que na manhã, mesmo com o sol já alto, ela ainda brilhasse em seu fulgor, ela ainda encantasse com a plenitude de sua beleza. Mas não. Apenas nasce para morrer.
Zé Peixe. José Martins Ribeiro Nunes, mais conhecido como Zé Peixe (Aracaju, 5 de janeiro de 1927 - Aracaju, 26 de abril de 2012), foi um prático brasileiro que se tornou uma figura lendária no estado de Sergipe, devido a seu modo incomum de exercer sua atividade...
Um homem franzino, de 1,60m, que se achava uma pessoa simples e igual a todo
mundo e não se deslumbrava com seus feitos nem com suas manias e bravuras.
Uma pessoa que não gostava de reportagens, pois dizia que não fazia nada
diferente dos demais práticos.
Mas fazia sim,
o trabalho de um prático é receber os navios em alto mar e os guiar até a
atracação no porto e vice-versa, evitando as armadilhas dos canais. Diferente
dos demais, Zé Peixe pegava carona nas embarcações e saltava ao mar na chamada
Boca da Barra, de lá nadava para uma bóia de sinalização, onde esperava o navio
chegar. Depois disso, era içado para assumir a pilotagem e levá-lo até o porto.
Quando o navio
saía do porto, era onde Zé conseguia ser ainda mais impressionante. Ele não
levava um barco de apoio para retornar a terra firme, como seus colegas de
profissão. Ele seguia com o navio até a Boca da Barra e voltava nadando, o que
dá 13 km de natação em alto mar.
Mais que um
prático, Zé Peixe sempre foi reconhecido por sua enorme bravura e coragem.
Alguns grandes fatos marcaram a carreira desse grande homem. Um deles foi
quando o navio Mercury estava em chamas em alto mar, vindo das plataformas da
Petrobras e com os funcionários a bordo. Zé Peixe chegou ao navio com a ajuda
de um rebocador, tomou a cabine e conduziu a embarcação, que poderia explodir,
até um local onde todos pudessem saltar e nadar para a terra firma.
Publicado originalmente no jornal Tribuna do Norte, Natal-RN, edição de domingo, 20 de agosto de 1982, página 12.
A defesa da honra e moral da família é tão antiga quanto a própria história. O interesse pelo crescimento da família desde os primórdios dos tempos, não é apenas um fator ligado ao trabalho. Paralelo a isso, a honra e proteção de bens e pessoas. Então as questões familiares marcaram presença no Nordeste do Brasil a partir de sua organização social e política até os nossos dias. Essas questões não deixaram como consequências apenas larga margem de mortandade, em ambos os lados e quase extinção de algumas delas, mas deram origem a bandidos famosos. Folheando as páginas da história do cangaço no Nordeste ou conversando com os mais velhos, vendo o s nomes dessas famílias repetidas vezes:
ALVES E LIMÕES: PATU-RN; FERREIRAS E SATURNINOS DE BARROS – VILA BELA (SERRA TALHADA-PE); CARVALHOS E PEREIRAS – PE; ROCHAS E PEREIRAS – SÃO GONÇALO-PB; NITÕES LACERDAS E GINIPAPOS: ITAPORANGA-PB; e as mais badaladas nos dias atuais (1982), SARAIVAS E ALENCAR – EXU-PE.
Quando não eram causas políticas, eram sociais, porém o fim era sempre o mesmo — crime de vindita.
O binômio viuvez e orfandade se associavam para se equacionarem com extinção de dinastia. A figura venerável e heroica de Jardelina, esposa de Chico Pereira, viúva desde os 17 anos vem comprovar a veracidade dos fatos:
— Estado civil? — Viúva.
— Pai? — Assassinado.
— Esposo? — Assassinado.
— Sogro? — Assassinado.
— Cunhado? — Assassinado.
E meio a tantas cordilheiras de inimizades que floresciam, tornava-se quase impossível a vida no sertão. E o povo lamentava: aqui no sertão, quando não é ano de seca é ano de Cangaço. Numa região em que a vingança era um dever sagrado, o homem era infeliz mais pelo próprio homem que pela natureza, (livro Vingança não – P. Pereira Nóbrega).
Bem no início da segunda década do século (07/05/1921) cresce o expoente máximo de todos os conflitos: Lampião. Foi um tipo que se encarnou perfeitamente nessa era (Vingança Não – P. Pereira Nóbrega). “Assassinou mais de mil vidas, incendiou umas quinhentas propriedades, matou mais de cinco mil rezes, violentou a mais de duzentas mulheres e tomou parte em mais de duzentos combates. E assim é que só em Pernambuco, foram mortos e presos mais de mil cangaceiros, pertencentes às hordas de Virgulino”. (LAMPIÃO – OPTATO GUEIROS 4° EDIÇÃO – PÁG. 16).
Não se podia esperar paz e prosperidade nos sertões nordestinos onde o rifle e o punhal eram sempre as respostas às agressões e o luto era substituído pela indumentária do cangaço.
A reportagem vai a Patu e procura um sobrinho de 2° grau de Jesuíno Brilhante.
Sentado na calçada de um armarinho, o vereador Antonele Rodeiro cumprimenta os que passam. Depois, levanta-se e vai até o carro atendendo ao chamado. Conta toda história do conflito ALVES X LIMÕES desde o início, como o garoto sabido repete a lição. O repórter ouve com atenção e faz anotações. No final o Alves diz: Olha; vá a Janduís-RN, que lá você encontra Chico Alves sobrinho legítimo de Jesuíno Brilhante e converse com ele, pois ele sabe mais a história de que eu. O carro já ia partir quando o repórter lembra-se de uma pergunta importante:
— Ei, espere aí, e os Limões?
— Ah! Não existem mais; Jesuíno acabou com todos.
Depois, coçou a cabeça e falou surpreso: Ah! Sim; ainda tem um descendente deles por aqui. Dioclécio Barbeiro.
Mas não ficou só por aí. Após a morte de Jesuíno na fazenda Santo Antônio, município de Brejo do Cruz-PB, a viúva foi para o Amazonas com os cinco filhos e nunca mais se teve notícias. A fazenda Tuiuiu não deixou marcas da passagem da influente família Alves de Melo Calado. Até o casarão foi derrubado.
Quanto ao Camucá onde moravam os Limões a 3 km. do Tuiuiú — Os Limões do Camucá — assim conhecidos, não se tem notícias. A reportagem interrogou várias pessoas e ninguém dá notícias. Uma habitante assim falou: Quem sabe, talvez seja o Pelego. Se assim o é, significa que até o nome da fazenda mudou.
As causas mais simples trouxeram graves consequências. Uma simples reclamação do velho João Alves pai de Jesuíno ao garoto empregado dos Limões por está com o pé em cima de uma cadeira, provocou uma resposta do “moleque atrevido”. Depois, a surra dada por Jesuíno no “moleque” para aprender a respeitar os mais velhos.
Depois o desaparecimento de uma cabra do alpendre da fazenda dos Alves, atribuído aos Limões. Depois a represália dos Limões a ofensa. Vem a surra do Honorato Limão em Lucas Alves, irmão de Jesuíno numa festa em Patu. Enfim, a vingança de Jesuíno matando Honorato Limão. Agora, Jesuíno Cangaceiro.
Para o sertanejo, o herói dos cinco irmãos, pois o herói não é aquele que perdoa, mas sim aquele que se vinga. Agora não é mais Jesuíno Alves de Melo Cardoso, o poeta romântico, agricultor, boiadeiro, hábil equestre e sim Jesuíno Brilhante (homenagem a seu tio, o Cangaceiro José Brilhante de Alencar, avô do falecido Padre cearense Antônio Alves de Alencar, conhecido por Pe. Brilhante).
Os Alves de Melo tinham uma coisa contra si; pertenciam ao desprestigiado Partido Liberal e, enquanto os Limões pertenciam ao Partido Conservador, que lhe dava ampla cobertura. A perseguição ao Alves era intensa.
A história não muda se repete. O que muda são as datas e os personagens. Na segunda década do século, o desaparecimento de uns bodes da família Ferreira, na fazenda Passagem das Pedras, em Vila Bela (Serra Talhada-PE), atribuído a um morador de José Saturnino de Barros, trouxe de início apenas pequenas represálias; — troca de palavras e vingança em animais. Depois tiroteios, incêndio e grandes emboscadas.
Depois, o assassinato do velho José Ferreira pelo Zé Lucena, tenente da polícia alagoana, em Piraconhas – AL (22/04/1920). O resto foi citado. E as mortes serviram de inspiração para o poeta Zabelê que fazia parte do bando.
No lugar por onde passa,
o bando de Virgulino;
o sacristão da igreja,
vai logo bater no sino.
O rifle de Lampião,
dá cem tiros num minuto;
já fez aqui no sertão,
muita gente botar luto.
A Bahia está de luto,
Pernambuco de sentimento;
Sergipe de porta aberta,
e Lampião sambando dentro.
Querendo fazer sapato,
inté sou bom sapateiro;
querendo entrar no cangaço,
inté sou bom cangaceiro;
qui esse negócio de matar gente,
é serviço mais maneiro.
Lá na Tapera alguém às vezes sente dificuldades em dormir.
O ódio e o desejo de vingança parece que aproveita o silêncio das caladas da noite para perturbá-lo. É Cassimiro de Gilo, único sobrevivente de uma família assassinada por Lampião e seus cabras. O fato passou-se assim: O cangaceiro Horácio Novais tinha uma inimizade com Manoel de Gilo por conta de uns burros. Escreveu uma carta com assinatura de Manoel de Gilo a Lampião, cobrindo-o de desaforos e concluindo que estava disposto a recebê-lo à bala. O chefe do banditismo descansava com os cabras em Floresta do Navio e ao ler a carta, seguiu com o bando para Tapera.
Cercou a casa e abriu fogo. Manoel de Gilo resistia ao cerco e pedia explicação. Lampião mostrava a carta. Gilo negava. Quando parecia convencer Lampião foi tarde. Estava ferido mortalmente por uma bala de Horácio Novais. No final, 14 inocentes corpos estendidos ao solo Lampião ao saber não gostou e expulsou imediatamente Horácio Novais do bando. Hoje ele é fazendeiro em Goiás.
Começou a terceira década do século. E naquela fatídica tarde-noite de 11 de setembro de 1922, Zé Mutuca, Zé Dias, Chico Dias e um Campineiro armaram uma cilada e assassinaram o Coronel João Pereira na sua venda em Nazarezinho-PB. Apenas um filho estava presente: Aproniano viera em defesa de seu pai com Nobilino e seu irmão João Fernandes.
Só Nobilino morreu. Quando aos inimigos, Zé Dias escapou ileso, Chico Dias desapareceu com o ventre de fora, o Campineiro e Zé Mutuca faleceram depois. O verdadeiro assassino entre os quatro foi Zé Mutuca. No final da luta, ferido, fingiu-se morto. O coronel confiante passou por ele julgando-o cadáver. Ele aproveitou-se e disparou uma arma ferindo-o mortalmente. O coronel caiu por cima dele. Veio a falecer na fazenda Jacu ao lado da esposa e de seus filhos pedindo para não se vingarem.
Mas os comentários do povo incomodavam o filho mais velho Chico Pereira, que trabalhava na construção do açude São Gonçalo-PB. Siziam “Ô vingança demorada!”. “Fosse meu pai não ficava por isso mesmo”. “Chico? Abdon? Abdias? Aproniano? “De que vale a pena quatro homens dentro de casa”. “Era melhor vestir saia”. Como a polícia se omitisse, Chico Pereira foi atrás de Zé Dias, uma vez que Chico Dias era figura apagada e pouco interessava. Chegaram a Delegacia, Zé na frente, Chico Pereira atrás e o revólver no meio (Livro Vingança Não). Não foi preciso muito tempo para Zé Dias estava perambulando pela rua, livre desimpedido.
E agora?
Chico Pereira preferia as palavras do pai “Não se vinguem”. Mas não queria ficar desmoralizado, era uma questão de oportunidade. Armou a emboscada. Zé Dias, parecia adivinhar tudo e deixou o esconderijo apontando do outro lado da serra. Chico Pereira, porém, era bom na canhota de modo que a distância não era problema. Não acabou-se apenas o pobre Zé Dias que nada tinha a ver com a encrenca. Acabou-se também o almocreve, o conquistador, o dançarino, o romântico, o hábil cavaleiro, o herdeiro da fazenda Jacu, o comerciante (Chico comprava cal no Rio Grande do Norte e vendia na Paraíba). Agora, Chico Pereira, Cangaceiro, despatriado, considerado fora de ordem pelas autoridades, que só tinham a lhe oferecer uma dura perseguição e até a morte.
Zé Dias, guarda do IFOCS, (hoje DNOCS), morreu sem descobrir o autor intelectual da sua morte. Mas fica sem duvidar que um dos autores indiretos fosse João Rocha, ligado ao Dr. Otávio Mariz. Uma vez João Rocha fora a venda do Cel. João Pereira e não o encontrando, destratou Aproniano. A simpatia do Cel. João Pereira, ameaçara o prestígio político de João Rocha. Já o Dr. Otávio Mariz, por sua vez, era um homem temperamental, tinha uma grande dívida para com os Pereiras. A inimizade com a família o fez surrar impiedosamente o pobre Chico Lopes, comerciante de Nazarezinho, no meio da rua de Souza – PB. No final falou: Agora vá chamar os Pereiras para apanhar também.
Chico Lopes era protegido do falecido Cel. João Pereira. Chico Lopes foi mesmo chamar Chico, mas também alguém mais forte, que estava escondido numa serra em Pernambuco, se curava de um ferimento provocado por uma bala: Lampião: Este não podendo vir mandou 40 cangaceiros liderados pelos seus irmãos. Faltava unir-se ao bando de Chico Pereira, Ele chamou sua mãe aflita e falou; Mamãe, os irmãos de Lampião estão aí. Este é Antônio Ferreira, este é Levino.
— Meu filho! O bando de Lampião em minha casa?
— Não fui eu quem chamei, mas também não vou botar pra fora. (Livro Vingança Não).
Aproniano incentivava: Vá Chico; pegar Otávio Mariz. Esta surra estava preparada para você.
Logo o bando que desaparecia nos cordões da Serra cantando: Olé muié Rendeira, olé muié Rendá (composição feita por Lampião em homenagem a sua avó paterna, a velha Jacosa Lopes que fazia renda). Dona Maria Egilda, por sua vez, ficava amargurada: — Meu Deus! Que horror! Meu filho no bando de Lampião! Que vergonha! Ontem eu era esposa de um coronel pacato, hoje, mãe e tia de cangaceiros. Eu bem que dizia que depois que João morreu a desgraça entrou nesta casa (Livro Vingança Não).
Se Chico pereira queria vingança, os cangaceiros de lampião queriam matar, assaltar e roubar moça. O cangaceiro “Meia Noite” estava mais interessado em joias. Paizinho tinha uma rixa com o Juiz e se regozijava com a oportunidade de matá-lo. E dizia: o juiz de direito não mais vai condenar ninguém.
O resultado foi um ataque que marcou a História de uma das principais cidades da Paraíba e toda a culpa do episódio recaiu sobre Chico Pereira, que nunca mais encontrou paz e anos depois foi assassinado no Seridó Potiguar, em um fato vergonhoso para a História da Polícia Militar do Rio Grande do Norte e do então governador Juvenal Lamartine.
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
Nesse local
estão abrigados os restos mortais do casal cangaceiro Moreno (Antônio Ignácio
da Silva) e Durvinha (Durvalina Gomes de Sá), ambos antigos membros do bando de
Lampião.
Moreno e Durvinha que fugiram do Nordeste nos primeiros meses do ano de 1940,
vieram para em direção ao estado de Minas Gerais, onde residiram em algumas
cidades até finalmente se estabelecerem na capital Belo Horizonte, onde
terminaram seus dias de vida.
Moreno
e Durvinha (1936)
O antigo casal cangaceiro está sepultado no Cemitério da Saudade em Belo Horizonte/MG.
Na fotografia ao lado da sepultura está Neli Maria da Conceição filha do casal
que nos acompanhou, prestou toda atenção e nos concedeu entrevista durante
visita que realizamos à capital mineira em junho de 2015.
Fotografia
registrada durante as gravações do documentário "Os últimos
cangaceiros"
de Wolney Oliveira.
A história do casal cangaceiro Moreno e Durvinha é digna de filme hollywoodiano
e se vivêssemos em um país sério e comprometido com sua história e cultura,
certamente a história desse casal já teria sido repassada para as telas do
cinema e da televisão e para as páginas dos livros didáticos escolares, para
servir não como fonte de inspiração, mas de conhecimento e aprendizado sobre a
real e verdadeira história nacional. Uma história de vida fantástica que aos
poucos vai sendo "apagada" e esquecida.
Os festejos
naquele ano de 1867, que atraíram pessoas de todo Seridó e de zonas vizinhas
marcaram época. Foi tão grande a afluência de visitantes que se construíram
centenas de ranchos, de folhas e palhas, para abrigá-los. O aluguel de cada
unidade chegou a aproximadamente R$ 200,00 em valores atualizados. Estiveram
presentes mais de oito mil pessoas.
Era vigário o padre Tomás Pereira de Araújo. Compareceram mais de 18 padres de
diferentes freguesias inclusive o Vigário de Natal, Padre Bartolomeu da Rocha
Fagundes.
À noite, as festividades religiosas, eram encerradas com morteiros, foguetes
balões e fogos de artifício. O clarão e a beleza da explosão dos fogos,
deixavam os acarienses boquiabertos, a girândola pós-novena era um espetáculo a
parte e prendia a atenção de todos presentes.
Terminadas as visitas obrigatórias das famílias de destaque social, com ceias
largas e conversas animadas, principiavam as diversões populares.
De um lado, os jovens saiam em algazarra para suas serenatas com violões, ou
para suas brincadeiras espalhafatosas. Uma destas consistia em amarrar na cauda
de um cachorro, retirado cuidadosamente na casa do seu dono, um Buscapé
barulhento, acendê-lo, e soltar o animal que passava a correr por entre as
casinhas improvisadas: a graça vinha do alvoroço das pessoas em apagar os
inúmeros pequenos incêndios que o cachorro ia causando. Um dos dirigentes deste
tipo de brincadeira era José Bezerra, do Ingá, então com 23 anos.
No inicio da noite já se esperavam pela corrida incendiária dos cachorros.
Porém Joaquim Matias, nervoso e precavido, dono de uma cachorra de estimação,
não estava pelos autos. Foi pedir discretamente a tia Aninha, do Ingá, (Ana
Marcolina) senhora do maior respeito, que guardasse em seu quintal de muro alto
a cachorra de seus cuidados. E ele conseguiu as palavras de segurança.
Mais tarde, quando no meio da agitação e dos gritos da turba, corria a chispa
de fogo entre os ranchos, Joaquim Matias, saiu ao terreiro e de sorriso no
rosto e peito estufado, gabou-se: Garanto que minha cachorra não é! Mas era! A
pobre cachorra havia sido retirada da casa de Tia Aninha pelos seus sobrinhos
José Bezerra e Tomaz Pires que desfrutavam da maior liberdade e eram os
promotores das estripulias.
Joaquim Gomes, da sociedade local, mas bastante desenxabido andava desejoso de
impressionar bem a moça dos seus sonhos. Como conseguir? os sobrinhos de João
Damasceno convenceram o sempre sem-graça a sair vestido de anjo numa das
alvorada da festa. Então, mandaram a Fazenda Bulhão buscar um cavalo formoso e
ruço. Nele, ao quebrar da barra, montaram o Joaquim fagueiro, confiante, de
camisolão de seda branca e longas asas de cetim armado. 5 horas!! Tocou o sino
da igreja, a banda de música disfarçada, rebentou num dobrado, e das girandolas
subiram foguetões chiando forte.
Os planos de Joaquim foram por água abaixo nesse momento! O cavalo endoideceu e
saiu em disparada, desembestado na direção de seus pastos. Joaquim logo perdeu
as asas e agarrou-se aqui e ali como pode. Não obstante foi, encontrado mais tarde
nos galhos do mufumbal do Riacho da Juliana, riacho que hoje corre por baixo do
pontilhão que vai para o Alto da Usina.
Nas casas mais simples, distantes do centro organizavam-se bailes (que se
chamavam os sambas) cujas danças principais eram variações da Polka e da
Scottish, com músicas de violas, flautas e pífanos. As mesas de jogos na rua,
iluminadas escassamente pelas candeias de azeite de carrapato, atraiam, muitas
pessoas desejosas de diversão. O que mais se bebia era aluá de milho
acompanhado de sequilho de goma de mandioca de doce seco.
Essa festa de agosto foi certamente a maior até os dias atuais, e através dos
documentos históricos podermos ir para além da parte religiosa e visualizar o
que acontecia na parte social de uma festa no velho Acary dos anos 1800.
Villa do
Acary, Agosto de 1867
Fontes: Diário de Natal, edição 10388, ano 1957.
O Assuense, edição 00165, ano 1867
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.