Por: José
Mendes Pereira
Meu amigo e
irmão Raimundo Feliciano:
Se a Casa de
Menores Mário Negócio foi para nós um divertimento de bagunças, sem
prejudicarmos ninguém, igualmente foi o Tiro de Guerra,
Tiro de Guerra
de Mossoró - jotamariatirodeguerra.blogspot.com
que nos
divertíamos a cada momento, muito embora lá não só foi flores, passamos por
provas difíceis, como os chutes nas nossas canelas, que vez por outra nós
recebíamos dos sargentos quando errávamos os passos nas sofridas marchas, e os
treinos de guerra nas imediações do campo de futebol Afonso Leonardo Nogueira.
O futuro
Nogueirão de Mossoró - http://www.robsonpiresxerife.com
No ano de
1970, todas as madrugadas, de segunda a sexta, você e eu saíamos da Casa de
Menores Mário Negócio em direção ao Tiro de Guerra, para cumprirmos aqueles
malditos ensaios de guerrilheiros, administrados pelos sargentos: Moura,
Everaldo e Gumercindo.
O sargento
Moura (1º. sargento), tinha uma aparência meio
esquisita, alto, magro, de olhos azuis, de cor agalegada, e mantinha a ordem
com severidade, mas na verdade, quando estava apaisana, era uma boa pessoa, que
nos atendia como se nós fôssemos seus amigos.
Este fora apelidado pelos atiradores de "Cogumelo", e pelas suas
aparências, já passava dos 50 anos de idade. Era encarregado da 1º.
turma de atiradores e residia na sede do TG.
O sargento
Everaldo (2º. sargento), era baixo, de corpo largo, moreno, irritado e bastante
moralista. Pouco falava com nós, atiradores. Qualquer erro praticado por um
recruta, aquele já estava escalado para fazer faxinas no TG, limpando janelas,
varrer a quadra, limpar banheiros etc. E um dos que mais fez aquele trabalho,
sem dúvida foi você. Meia volta, volta e meia, você estava escalado para fazer
faxinas. Mas você não deve culpar ninguém, merecia, devido as suas
brincadeiras.
O sargento Everaldo ganhara o apelido de "Toco de amarrar onças".
Aparentava ter menos idade do que o sargento Moura, e era encarregado da
2º. turma, com 50 atiradores. Além do sargento Moura ele também residia
na sede do TG.
O sargento
Gumercindo (3º. sargento), este estava no começo da vida, com 25 anos de idade,
e de estatura média, meio atlético, moreno claro, de voz grossa e lenta, amigo
de todos os recrutas, e que algumas vezes ele escondeu falhas de atiradores.
Residia no antigo Grande Hotel em Mossoró. Por duas vezes eu fui incumbido de
levar do TG uma de suas pastas, que me parece que à noite anterior ele havia
dormido por lá.
Grande Hotel
- telescope.blog.uol.com.br
O sargento
Gumercindo era encarregado da 3ª. turma de atiradores, sendo nós dois,
comandados por ele, e que muitas vezes se irritou com alguns recrutas, mas logo
estava de bem com todos nós. Ganhara o apelido de "É UM PÃO",
pseudônimo dado pelo atirador Luiz Mauro, amigo mais próximo seu.
"É UM PÃO" era uma expressão que dava a entender que o jovem era
quente mesmo, criada pela juventude feminina, nos anos sessenta e se
estendeu até a década de setenta. Quando as jovens viam um rapaz lustroso,
vamos dizer assim, de boa pinta, bonito, a moçarada o chamava de "É UM
PÃO".
Sendo o
atirador Luiz Mauro muito cheio de graça e gostava de imitar bichas (apenas ele
se fazia), e como o sargento Gumercindo era jovem, com uma aparência de artista
de cinema, ele deu esta alcunha, cuja, servia para acalmá-lo quando se irritava
com a gente. Logo alguém dizia descaradamente: "É UM PÃO". Mas
essa era a forma de ludibriarmos o sargento quando alguém ultrapassava os
limites.
Com isso, o sargento Gumercindo se rendia e se desmanchava em risos, deixando
os nossos erros para trás, sem nos entregarmos ao sargento Moura, que era o
manda chuva do TG.
Raimundo
Feliciano e José Mendes Pereira - Tibau-RN
Certa feita,
numa madrugada de 1970, já bem próximo ao final da conclusão das nossas
prestações militares com o exército, saímos da Casa de Menores já atrasados, que
deveríamos chegar ao TG antes das cinco horas da manhã. E de lá,
nós sairíamos em caminhadas até o local em que nós treinávamos tiros
ao alvo, localizado ao lado da BR que segue para Fortaleza.
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Quando nós
chegamos ao TG todos os atiradores e os sargentos já haviam seguido viagem,
apenas o sargento Moura se encontrava lá. Assim que nos viu, ficou nos xingando,
chamando-nos de dois grandes irresponsáveis, por termos chegado atrasados ao
TG.
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Como ele iria
no jeep, levando os fuzis, balas e outros equipamentos para os nossos treinos,
eu pedi que nos levássemos, já que a pé nós não chegaríamos tão
cedo.
O sargento
Moura foi curto e grosso, dizendo que não nos levava, porque os outros
atiradores haviam caminhado cedo para o locar de treino, e nós, usando
irresponsabilidades, àquelas horas, ainda estávamos no terreiro do Tiro de
Guerra. E sem mais dizer nada, ligou o jeep e deu partida em direção ao
ponto de treinamento. Eu gritei, insistindo, pedindo-lhe que nos
levássemos no jeep até ao local de treino.
Como ele e os outros sargentos já viviam irritados com você, devido o seu
péssimo comportamento, a resposta que ele me deu, que me levava, mas
o 138, você, não iria no jeep de jeito nenhum.
Como nós morávamos na mesma casa, e não querendo deixar você para trás,
respondi-lhe que se não levasse você, eu não iria com ele.
Ciente que eu
não iria novamente deu partida no jeep. Mas ele se arrependeu. Andou muito
pouco, rendendo-se, e em seguida gritou, nos chamando para irmos com ele.
O sargento
Moura era professor de Educação Física no Colégio Diocesano, e iria passar lá
para comunicar aos dirigentes que àquela manhã não iria dar aulas aos alunos,
porque estava indo para os treinos do Tiro de Guerra.
Nós
caminhávamos pela rua dos fundos do colégio, e lá, ele desceu, nos dizendo que
iria até à secretaria do colégio para fazer o comunicado da sua ausência
naquele dia, recomendando-nos que logo voltaria da secretaria.
Assim que ele
desceu e abriu o portão do colégio nos recomendou, que uma porção de vacas que
ruminava por ali, nós não a deixássemos entrar no quintal do colégio. Mas
quando ele desapareceu da nossa vista, o gado fez carreira e entrou na garra e
na marra, sem que nós pudéssemos evitar aquela invasão do rebanho.
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Ao sair do colégio e ao ver o rebanho de gado dentro do cercado, que na época
era cerca, o sargento esbravejou, e quase nos engole, exigindo que nós
colocássemos todos os animais para fora das dependências do colégio.
Sem outra solução, fomos obrigados a correr atrás dos animais, e sem muitos
esforços, finalmente conseguimos expulsá-los de lá.
Mas o pior foi
o castigo que recebemos lá no treino. Você, Raimundo, teve que passar várias
vezes em uma cerca de arame farpado, rastejando, e do outro lado, um cocô de
vaca estava te esperando, deixando-lhe todo sujo e fedorento.
Os sargentos
te marcavam Raimundo Feliciano, porque você não deixava ninguém quieto. Era um
verdadeiro capeta. Foi uma grande sorte ter terminado o serviço militar em
Mossoró, porque você foi condenado várias vezes para ser mandado para a tropa
em Natal.
Eram 64 pontos de faltas que nós tínhamos direito, e agradeça de coração, que
mesmo você dando trabalho aos patenteados, muitas vezes consideraram a
sua ausência, aliás, quase todas as suas faltas foram causadas pelo seu péssimo
comportamento, mas sem prejudicar a ninguém, apenas irritava os sargentos.
Minhas Simples
Histórias
Se você não
gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro.
Fontes:
http://minhasimpleshistorias.blogspot.com
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